“Se o coração bater forte e arder, no fogo o gelo vai queimar...”

            Desde aquele dia, passou-se uma semana. Nesse meio-tempo, eu e Matt ficamos várias outras vezes. Porém, eu me sentia desconfortável diante disso. Quando ele me beijava, sentia-me estranha, queria parar. Me culpava por não querer levar aquilo adiante, mas não tive um pingo de coragem de dizer isso a ele.

            Eu estava na casa de Matt. Ele estava no banho. Aproveitei essa oportunidade. Desde a semana anterior, quando declarou ser ‘o primo errado’, Dan não deu as caras. Mas, naquele dia, eu sabia que ele estava em casa. Apesar de estar trancado no quarto, não tinha saído antes que eu chegasse, como fez nos dias anteriores. Enquanto Matt tomava banho, fui até seu quarto. Bati à porta.

            - Dan, posso entrar? – Perguntei, num tom muito baixo de voz.

            - Lana? É você?

            - Sim, Dan, sou eu. Posso entrar?

            - Um minuto.

            Esperei. Sim, foi uma eternidade. Durou cerca de dois segundos.

            - Oi. – Ele me disse, com um sorriso torto, ao abrir a porta.

            - Oi. Posso falar com você?

            - Tudo bem. – Ele saiu da frente da porta e me deu passagem, apontando para a cama.

            - Então, Dan... Eu queria perguntar... O que aconteceu...

            - Como assim?

            - É que desde o dia em que você me disse aquele lance de ser ‘o primo errado’, não voltou a falar comigo. O que aconteceu?

            - Ah, foi isso! Bem... – ele desviou o olhar. – Eu sou não quis atrapalhar você e o Matt.

            - Atrapalhar o quê?

            - Vocês estão ficando... Não quis me meter.

            - E o que é que você poderia atrapalhar? Só porque estou ficando com ele, você não pode ficar perto de mim, conversar comigo, ser meu amigo?

            - Não, não posso.

            - Como assim não pode? – Perguntei, indignada. Dan apoiou-se no parapeito da janela.

            - Cada segundo que eu passava perto de você, Lana, fazia crescer ainda mais uma sensação dentro de mim. E isso vem acontecendo desde o dia em que, acidentalmente, nos conhecemos na festa.

            - Que sensação? – Levantei e me coloquei atrás dele, esperando uma resposta.

            - Sensação de que... Não existe uma distância segura. Que eu já estou... Perigosamente perto...

            - Perigosamente... Perto?

            - Estou perto demais pra não me envolver. Lana, eu não sei o que é isso aqui dentro. Eu só sei... Que você é magnética... Não posso estar perto e me manter longe.

            Lentamente, Dan se virou para mim. Levou uma mão ao meu rosto e acariciou minha pele. Fechei os olhos. Como era bom! Era incrível. As sensações entraram em ebulição dentro de mim. Ao contrário do que acontecia com Matt, meu coração pulou. Bateu forte. Ardeu.

            - Eu não posso mais... Esconder de você... Que desde o dia em que eu te vi pela primeira vez, eu tenho te amado. Em tão pouco tempo, você já me fez sentir vivo. E agora, eu preciso disso. Você se tornou a droga. E eu, o viciado. Lana, me faça sentir vivo... Outra vez...

            Com calma e carinho, ele aproximou seu rosto do meu. Senti sua respiração chegar delicadamente ao meu rosto. Meu coração deu um salto. Meu corpo tremeu. Minhas pernas quase me derrubaram. O que é que ele estava fazendo, afinal?

            Sutilmente, uniu seus lábios aos meus. Foi mágico. Perfeito. Meu coração, que antes pulava dentro de mim, ardendo, acalmou-se. Como se aqueles lábios fossem meu remédio.

            E então, magicamente, o gelo queimou no fogo.