Enquanto caminhava da porta até o carro de Matt, minhas pernas tremeram mais que qualquer outra coisa. Ele estava encostado na porta e, quando eu me aproximei, abriu-a para mim

            Conversamos muito enquanto ele dirigia para o cinema, mas ele sempre jogava indiretas, o que me deixava envergonhada e, na maioria das vezes, rubra.

            Assistimos um drama lindo, porém, longo. Acabou quase onze horas. Na saída do cinema, ficamos andando à toa pelo shopping. No centro do shopping havia uma pista de patinação, e ele ‘resolveu’ que iríamos patinar. Pagou pelo aluguel dos patins e me deu um par. Entramos na pista e fizemos de tudo. Corremos, pulamos, demos piruetas, andamos de costas. Eu adorava patinar, e ele, pelo visto, também. Eu sabia fazer várias coisas sobre os patins, e adorava isso. Mesmo não tendo boa coordenação motora, me superava sobre as rodas.

            Matt parou de patinar por um momento, encostando-se na beira da pista. Eu terminei de dar a volta e fui em sua direção. Eu o estava vendo pelas costas, mas quando me aproximei, rapidamente ele se virou. Num movimento que me surpreendeu e me deixou sem ação, Matt me segurou pela cintura e me encaixou ao seu corpo. Nossos rostos estavam tão colados que eu podia sentir seu hálito fresco soprando em meu rosto. Aquele era um momento maravilhoso para mim. Suavemente, Matt me beijou. Era um beijo calmo, ele apenas colou seus lábios aos meus e depois me soltou. Então ele olhou nos meus olhos e me beijou novamente. Aquilo foi algo supremo, inesquecível. Algo que, naquele momento, eu achei que não poderia esquecer nunca. E isso realmente aconteceria se nada do que aconteceu depois tivesse acontecido. Mas eu também não teria sido tão feliz se não acontecesse. E não estaria viva, provavelmente.

            - Que tal conhecer minha casa, meu pai e tudo o mais? – Matt me perguntou, sorridente.

            - Humm... Agora?

            - Pra que esperar pelo amanhã?

            - Pra que ele se torne ‘hoje’, talvez?

            - Nada disso. Vem, vou te levar lá.

            - Tudo bem, vamos.

            Chegando à casa de Matt, eu descobri que não poderia chamá-la de ‘casa’. Aquilo era quase uma mansão. Era enorme, bem decorada e... Linda! As paredes eram, em sua maioria, claras, apenas com faixas ou paredes únicas de cores diferentes. Era tudo lindo! Com certeza, o pai de Matt tinha muito dinheiro.

            - Pai! Pai, você tá em casa? – Matt gritava, enquanto entrava e me conduzia pela mão.

            - Matt! – a voz de um garoto bradou do alto da escada.

            - Quem está aí? – Matt parecia confuso

            - Sou eu! – um garoto de cabelos castanhos e olhos verdes apareceu no alto da escada, apoiando-se no corrimão branco.

            - Dan!

            - Oi, Matt! – O garoto abriu um sorriso enorme. – Quanto tempo que a gente não se vê, cara!

            - Dan! Faz muito tempo, muito tempo mesmo. Hei, sumido, senti sua falta. Desça aqui!

            - Ãhn... Eu não quero atrapalhar nada. – o garoto coçou a cabeça e olhou na minha direção.

            - Ah, que nada! Deixe eu te apresentar minha amiga.

            - Tudo bem. – Dan desceu as escadas.

            - E meu pai, ele está aí? – Matt perguntou antes que Dan pudesse parar de descer as escadas.

            - Ah, ele vai fazer plantão no hospital essa noite. Tem uma paciente muito mal lá.

            - Que pena. Eu queria que ele conhecesse Lana. – Matt suspirou

            - Lana? Esse é o seu nome? – Dan me perguntou.

            Mas eu não podia responder. Porque eu tinha simplesmente perdido a fala. Cenas correram minha cabeça e me fizeram lembrar daquele garoto. Luzes fracas. Correria. Eu tentando me mover entre corpos dançantes. Um esbarrão. Um drink. Uma mancha no vestido. Uma troca de olhares marcante. E uma paralisia completa do meu mundo. E do meu coração. Tudo estava acontecendo de novo. Desde o momento em que eu vi aquele garoto no alto da escada até o momento em que ele parou na minha frente, estive sem ação. Eu não podia fazer nada. Porque ele tinha me marcado. E não foi com o drink. Foi com o seu olhar.