Três Corações - o Coração que Me Amou escrita por mariana_cintra


Capítulo 21
Três - Até que a morte vos separe


Notas iniciais do capítulo

Eu sei. Quatro meses ou mais... Eu levei todo esse tempo pra ter a cara de pau de vir aqui e postar alguma coisa. Mas eu juro, juro que não faço mais... Pelo menos até o fim dessa fic #apanha#

Bom, eu andei meio sem inspiração pra escrever, meio chateada, meio ocupada demais esse tempo todo. Pra ser sincera, não escrevi mais nada em fic nenhuma, e só voltei a escrever essa duas semanas atrás. Bom, agora estamos bem no finzinho da fic, o número três da lista está aí, como o prometido, e o número dois não vai depender de mim, e sim da minha queridinha Mitty, que vai escrever o próximo capítulo (isso mesmo Mitty, a batata quente está nas suas mãos MUAHAHAHAHA)...

Bom, agora que já me desculpei, quero falar algumas coisinhas (mais?? fala sério =S).

Primeiro, quero dizer que esse capítulo é dedicado a ninguém mais ninguém menos que aquele que me inspirou pra voltar a escrever. Se ele não tivesse me trazido inspiração, eu não teria voltado a escrever e esse capítulo não estaria aqui ainda. Portanto, capítulo dedicado ao meu lindo alemãozinho (nome? acho melhor nem dizer...) :DD
Segundo, quero falar que esse alemãozinho aí pra quem eu dediquei o capítulo deu uma passada pelo meu perfil aqui do Nyah!, então se quiserem dar uma olhadinha lá, talvez entendam melhor de onde surgiu minha inspiração...
Terceiro, sei que não tenho o direito de pedir nada depois de toda essa demora, mas mesmo assim, ainda quero falar. Here's the thing: eu tenho um blog onde escrevo algumas coisas reflexivas e curtinhas (em geral), coisas que não são 'postáveis' para o Nyah!... Bom, eu queria que vocês dessem uma passada por lá pra ler... e SEGUIR... Sim, seguidores, visitas e comentários... Isso que eu quero... Faço tudo pros meus leitores, e o incentivo deles é tudo que posso pedir. www.thelonelybrokenheart.blogspot.com - posso contar com vocês?

Bom, acho que acabei por aqui...

Boa leitura !



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/57415/chapter/21

         Estávamos ansiosos. A cara fechada de meu pai não dava muita esperança. Dan o encarava, assim como ele encarava Dan. Eu não conseguia fazer nada além de olhar pro chão.

         - Só uma pergunta, Lana. – meu pai finalmente falou.

         - O que quiser, pai. – concordei.

         - Você por acaso não estaria grávida, estaria? – ele ergueu uma sobrancelha.

         - Pai! Mas é claro que não! – ridículo! Um homem daquele ‘porte’, tão experiente, tão carrancudo, tão sério, pensando uma coisa dessas. Como ele podia imaginar aquilo?

         - Então por que se casar agora? – ele perguntou.

         - Pai, isso não é óbvio? – encarei-o, séria.

        

         Alguns segundos de silêncio estabeleceram-se entre nós. Eu olhei para Dan e depois para meu pai. Meu pai tomou a fala:

         - Lana, eu quero falar um instante com você a sós. Será que podemos subir pro seu quarto?

         - OK.

         Subimos, e, assim que entramos, meu pai não se deu nem ao trabalho de fechar a porta atrás dele.

         - Filha, quero que saiba que apesar da minha ausência todos esses anos, apesar de todo o trabalho que sempre me afastou de você, eu te amo muito. Quando sua mãe me deixou sozinho com uma filha nos braços, eu não tinha a menor ideia de como seria cuidar de uma menina, ensinar-lhe tudo, ser seu porto seguro. Eu tive que cuidar de você todo esse tempo, mesmo sem ter muito tempo livre, mesmo tendo o trabalho caindo sobre mim. E, de alguma forma, doía muito cada vez que eu olhava pra você. Sua mãe foi tudo que eu mais amei nessa vida. Eu poderia dizer que ela foi o grande amor da minha vida. Quando ela me deixou, quebrou meu coração em milhares de pedaços, e para que eu permanecesse forte e pudesse cuidar de você, eu mascarei meu amor por ela e transformei-o em raiva, em ressentimento. Só assim eu poderia, de alguma forma, manter-me firme para cuidar de você sem te odiar por ser fruto daquele amor. E aí eu passei a odiar a mulher que eu amava. E você foi crescendo. Mais e mais a cada dia. E cada dia mais se parecia com ela. E isso me matava por dentro. Porque quando você sorria, era ela que eu via sorrindo. Quando você falava, era a voz dela que eu ouvia. Você lembrava sua mãe em tudo. Até no seu jeito rebelde, quando ficava com raiva, quando sentia a necessidade de jogar as coisas na minha cara. Em cada gesto, em cada palavra. Você se parecia com sua mãe em absolutamente tudo. E sua presença me fazia lembrar dela. Por isso talvez eu tenha me afastado um pouco. Mas eu nunca deixei de te amar. Você é tudo pra mim. Ainda mais porque é a única coisa que restou daquele amor. Você é o fruto mais bonito disso tudo. E eu te amo muito, filha. Só quero que seja feliz. Agora, tem certeza de que quer mesmo se casar com esse rapaz? Não é arriscado fazer tudo isso tão rápido? Não é cedo demais? Não é algo para sonhadores? Às vezes manter-se ligado à realidade é bom... – seu olhar se perdeu na incerteza de seus argumentos.

         - Pai, você já andou de bicicleta? – perguntei.

         - Ãhn? O que quer dizer? Sim, já andei, mas o que isso tem a ver? –foi divertido ver a expressão confusa em seu rosto.

         - Se lembra de quando aprendeu a fazer isso? Se lembra como é? Quando subimos numa bicicleta pela primeira vez temos medo e, ao olhar pra frente, sentimos que ter equilíbrio em cima daquele treco é a coisa mais difícil do mundo. Parece impossível manter-se estável em cima de uma bicicleta enquanto ela corre. Quando tentamos fazer os primeiros movimentos, mantemos os pés no chão e procuramos equilíbrio. Mas as coisas não funcionam assim. Se ganhamos velocidade e os pés continuam no chão, caímos. Temos que acreditar no que vai acontecer, mesmo sem saber como acontecerá, temos que nos entregar ao momento e simplesmente tirar os pés do chão. E num piscar de olhos, veja bem, estamos correndo. Totalmente em sintonia com os movimentos da bicicleta, equilibrados sobre ela enquanto ela se move, sincronizando nossos pés nas pedaladas, sabemos que podemos ir a qualquer lugar a partir daí. Temos a sensação de que podemos pedalar por tempo infinito e ir a qualquer lugar, e tudo porque perdemos o medo e tiramos os pés do chão.

         - E o que tudo isso tem a ver com o assunto, Lana? – meu pai ainda parecia confuso.

         - Você não entende, não é, pai? – suspirei – Tudo isso que falei sobre aprender a andar de bicicleta e se entregar, sem medo de perder o equilíbrio ou o controle... Amar é exatamente assim. Temos que confiar, tirar os pés do chão e não ter medo de perder o controle ou a razão. E então, sem medo e sem o sentimento de estarmos presos ao chão, podemos ir a qualquer lugar. Ou melhor, temos a sensação de que podemos ir a qualquer lugar. E quer saber? Se seguirmos em frente sem medo, talvez possamos mesmo. Mas nunca teremos essas sensações e experiências sem tirar os pés do chão.

         - E com isso você quer dizer que acha que deve arriscar? – ele me questionou, por fim, prevendo minha resposta.

         - Não, arriscar não. Apostar seria a palavra mais correta. Eu não estou arriscando nada, não tenho nada a perder. O que eu poderia perder, afinal, se não desse certo? Perder Dan e ser infeliz pelo resto da minha vida? Mas a minha vida acabará logo. Por que então tenho que me preocupar? Eu vou apostar, vou apostar no futuro. Vou acreditar.

         - Mas Lana, você tem passado tão bem os últimos tempos...

         - Existe uma razão pra isso, e você sabe qual é. – o nome disso era Dan, mas deixei-o pensar um pouco.

         - O que quero dizer... Bem... Você tem passado tão bem os últimos tempos que todos temos a certeza de que você ainda terá muito tempo pela frente. Não acha melhor esperar mais um pouco e fazer as coisas do melhor jeito, sem se precipitar? Talvez seja melhor, talvez as coisas sejam mais bonitas, organizadas e... – ele se perdeu na própria fala. Sabia que não tinha fundamento.

         - Será que vou ter que te lembrar de tudo da sua infância, pai?

         - O que quer dizer?

         - Se lembra de quando você era criança e existiam todas aquelas marcas de cereal que tinham no fundo da caixa algum tipo de prêmio? Pois é. Também existiam dois tipos de crianças: aquelas que comiam o cereal todos os dias e esperavam pacientemente para que acabasse para poder ter seu prêmio e aquelas que viravam a caixa de ponta cabeça e pegavam logo seu prêmio. Eu fazia parte do segundo grupo. Nunca esperei por nada. Então por que eu deveria esperar agora, pai? Porque esperar pelo prêmio, depois de tudo que já passei para encontrá-lo? Não vejo razão para isso. Depois que eu alcançar meu prêmio, ainda terei o cereal, então qual é a diferença?

         - Entendo seu ponto, Lana. Você está certa, eu nem deveria ter questionado tanto essa decisão. Mas eu ainda tenho mais uma pergunta a fazer.

         - Vá em frente, pai. – assenti.

         - Vai se casar e construir uma vida, vão morar juntos em um lugar que não será aqui, e sei que viverão ao lado de um médico, o que é muito mais saudável pra você. Vai ter uma nova vida, vai mudar tudo que tem agora. A pergunta é: você vai ser feliz, Lana?

         - Mas é claro, pai! Eu o amo! Vou ser feliz, é claro que vou.

         - Então que seja feliz em cada minuto do seu dia e em todos os dias da sua vida, filha, porque isso é tudo que posso desejar. Sei que não fui o melhor pai do mundo, mas isso não anula o fato de que eu amo você. Tudo que quero é que seja feliz. Pra sempre.

         Eu o olhei, meio boquiaberta. Não acreditava que era meu pai falando tudo aquilo, não acreditava que aquele que eu julguei minha vida toda por sua ausência estava ali, na minha frente, desejando que eu fosse feliz durante todos os dias da minha vida. Eu senti um aperto no coração, uma vontade de recuperar o tempo perdido. Se meu coração fosse forte, eu poderia viver muito tempo ainda e fazer com ele tudo que não fizemos, recuperar todo o tempo. Mas meu coração era de vidro. Isso me entristeceu, mas logo espantei esses sentimentos e alegrei-me com a ideia de que era melhor ter pouco tempo com ele do que nunca dar-lhe chance de ter algum tempo. Estava grata por passar pela provação dessa doença, porque finalmente entendera que é graças à chuva que existe o arco-íris, e se não chover, o céu nunca voltará a ser azul.

         Pensando nisso, abracei meu pai como nunca abraçara antes. Nós dois tínhamos lágrimas nos olhos. Durante aquele abraço, senti o pulsar de um coração que parecia mais frágil que o meu, o coração de um homem que fez o que pôde para dar a melhor vida à filha, mesmo querendo chorar toda vez que olhava pra ela, mesmo sabendo que aquela garota era um resto da mulher que um dia ele amou, uma mulher que foi capaz de abandoná-lo. Um homem que se escondia atrás de uma fortaleza, mas que por dentro guardava seu amor, sua devoção, seu cuidado e sua força. Que orgulho em dizer... Aquele homem... Era meu pai!

You tucked me in, turned out the light

Kept me safe and sound at night

Little girls depend on things like that

Brushed my teeth and combed my hair

Had to drive me everywhere

You were always there when I looked back

You had to do it all alone

Make a living and make a home

It must has been as hard as it could be

And when I couldn't sleep at night

Scared things wouldn't turn out right

You would hold my hand and sing to me

Caterpillar in the tree

How you wonder who you'll be?

Can't go far but you can always dream

Wish you may and wish you might

Don't you worry, hold on tight

I promise you there will come a day

Butterfly fly away

Você me colocou para dormir, apagou a luz

Me manteve sã e salva durante a noite

Garotinhas precisam de coisas como essas

Escovou meus dentes e penteou meu cabelo

Me levou para todo lugar

Você sempre esteve lá quando eu olhei para trás

Você teve que fazer tudo isso sozinho

Fez uma vida e fez um lar

Deve ter sido tão difícil quanto poderia ser

E quando eu não conseguia dormir a noite

Com medo das coisas não darem certo

Você estava lá para segurar a minha mão e cantar para mim

Lagarta na árvore

Como você sabia quem seria ?

Não pode ir longe mas você sempre pode sonhar

Desejo que você possa, e você vai

Não se preocupe, aguente firme

Prometo que vai chegar o dia

Que a borboleta vai voar

..............................................................

         O tempo passa. Impressionante é a maneira como parecemos não reparar nisso. Conforme o pêndulo do relógio balança de um lado para o outro, formamos em nossa cabeça a ilusão de que o tempo é como um pêndulo. Mas não é. O tempo não anda pra frente e pra trás. E muito menos em círculos, como no relógio. Ele segue sempre em frente. Quem fica pra trás, às vezes, somos nós.

         Naquele outono o tempo passou depressa. A maior parte do tempo eu passei ocupada planejando meu casamento. Claro, seria algo bem simples, apenas uma cerimônia religiosa durante a tarde, algo bem íntimo e rápido. Sem muitos convidados, sem nada demais. Mesmo sendo algo simples assim, tive muitas coisas a acertar. Igreja, convites, vestido, convidados e tudo o mais. Dan e eu fizemos tudo juntos, sempre com a ajuda de Matt (que depois de todas as lágrimas e toda a provação, se tornou um grande amigo, afogando seu amor e tentando transformá-lo numa simples amizade), de meu pai e até de Lucy, que voltou a participar mais da minha vida. Foi ela quem me ajudou a escolher o vestido e preparar a pequena lista de convidados. Devo admitir que ela esperava muito mais. Ela queria que fosse uma cerimônia suntuosa, que meu vestido fosse o mais lindo e mais caro, que meus convidados fossem muitos e que houvesse uma grande festa depois de tudo. Mas tudo que eu realmente queria era uma bênção religiosa para viver esse amor com Dan. Haveria poucas pessoas lá, a igreja teria poucos detalhes de decoração e meu vestido seria bem simples. O mais importante de tudo eu já tinha – Dan – e minha felicidade não seria maior se em meu casamento houvesse trezentas pessoas ao invés de trinta.

............................................................

         Tic-tac, tic-tac... O tempo continuou passando... Passando... Passando... Até que finalmente pareceu parar de passar. Na primavera daquele ano, em um dia que não poderia ser mais perfeito – com direito a um céu sem nuvens, um sol ardente e uma brisa suave -, de repente me vi na porta da igreja. O vestido que eu trajava não cobria meus pés, chegava apenas um pouco abaixo de meus joelhos; meu cabelo estava arrumado no alto da cabeça com todas as pontas enroladas e presas por uma linda cascata de pedras transparentes; no meu rosto eu trazia uma leve maquiagem propícia à ocasião; nos pés um salto um tanto quanto essencial... E no coração o mais puro desejo de entrar correndo e me jogar nos braços de Dan, dizendo sim ao padre e a quem quisesse ouvir, saindo saltitante da igreja, pronta para o meu “felizes para sempre”. Não que o meu “pra sempre” fosse durar muito tempo, mas durante aquele dia e todos os outros que se seguissem, jurei a mim mesma, não pensaria nisso. Viveria cada dia como se fosse o último, ao lado do homem que eu amava e das pessoas que me eram importantes, sem querer saber se morreria no dia seguinte ou dentro de quinze anos. Não me interessava. A felicidade não tem que depender do tempo, apenas da vontade de ser feliz. E eu tinha essa vontade. E essa capacidade.

         Dan estava no altar, dentro de seu lindo terno preto, ao lado da família de Matt. Seus pais, pelo que eu sabia naquela época, nunca poderiam estar lá, eram pessoas muito distantes e ausentes de sua vida. Ele jamais me contou o porquê disso tudo, mesmo quando eu o questionei, mas em algum momento eu desisti de perguntar e simplesmente deixei-o fazer as coisas do jeito dele. Por essa razão, seus pais não estavam presentes em nosso casamento, e nem em nenhuma outra ocasião de nossas vidas. Eu nunca os conheci.

         Enquanto eu caminhava em direção ao altar, vi os olhos de meu pai se encherem de lágrimas, e de repente vi que os meus também se encontravam na mesma situação. Não pela mesma razão de meu pai. Não porque eu estava vendo o quanto eu crescera e como estava diferente, e sim por estar caminhando em direção ao garoto que rapidamente se transformou no homem da minha vida, que mudou meu jeito de pensar, de agir, de sentir. O homem que mudou minha vida. Sim, e eu estava caminhando até o altar para dizer ‘sim’ a ele. Pra conseguir um pequeno pedaço do meu “felizes para sempre”.

        - ... Na saúde e na doença, até que a morte vos separe. – foi o que o padre disse. Mas eu sabia. Sabia que nem a morte poderia nos separar. Porque eu o amava de verdade. E não importava o que era mais forte, se era a vida ou a morte. O amor era mais poderoso que tudo. E quando eu caminhei pra fora da igreja de braços dados com meu marido, começando a viver o meu “felizes para sempre” e tendo a certeza de que, de alguma forma, eu teria Dan até o último dia da minha vida, eu acreditei nisso. Como eu queria, como que queria acreditar que era... Verdade...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews? Se não deixarem, já sabem como serão os próxmos quatro meses MUAHAHAHAHA'Brincadeirinha 66'