Eu não sabia o que estava fazendo ali. Não havia uma razão pra estar naquela festa, então eu simplesmente não deveria estar. Mas, no final de tudo, nada teria acontecido se eu não estivesse. Então, sim, desde o princípio eu estava destinada a estar. E o que aconteceu lá, o início dessa história... Isso não acontece duas vezes. Raramente acontece uma única vez... Numa existência inteira.

            Eu estava andando no meio daquele monte de gente, tentando encontrar Lucy, sem sucesso. Era nossa festa de formatura do terceiro ano, e eu deveria estar feliz. Não estava, pois sabia que tudo estava chegando ao fim cedo demais. Aqueles anos no colégio tinham me ensinado muita coisa, como a amizade, por exemplo. Apesar de não ter conhecido muita gente, nem ter feito muitos amigos, os poucos amigos que fiz foram verdadeiros. E eu nunca me esqueceria deles... Se não tivesse tido um bom motivo pra ir embora.

            Andar era algo difícil de fazer naquele espaço, onde as pessoas dançavam e os garçons passavam com bandejas cheias de drinks. Cansada, desisti. Fui para o terraço e me sentei num banco, tirando as sandálias e abraçando os joelhos com as mãos. A exaustão tomava conta e eu queria ir embora, apesar de saber que ninguém me tiraria dali naquele momento.

            - A festa parece ser lá dentro – uma voz elegante e suave falou atrás de mim, fazendo eu me virar.

            - A-a – eu estava embasbacada pelo rapaz louro, alto e... Lindo... Parado ali, me encarando. – Algumas festas acontecem dentro de nós – Disse a ele.

            - Não me parece que seu coração está festejando – ele deu um sorriso de canto e se sentou ao meu lado. – Meu nome é Matt, prazer.

            - Meu nome é Lana. E meu coração está cansado demais pra festejar.

            - Cansado? Cansado de quê?

            - De procurar.

            - O que exatamente ele está procurando?

            - Alguém.

            - Quem?

            - Eu não sei. Por isso estou procurando. Procuro alguém pra amar... De verdade. E alguém que me ame... De verdade.

            - Duas pessoas? – Matt zombou.

            - Na verdade, eu ficaria feliz se encontrasse esse alguém na mesma pessoa. – eu disse, em tom irônico.

            - Talvez sua procura não esteja longe de acabar.

            - Eu espero...

            Matt sorriu para mim e depois olhou para o céu, calmo e pensativo.

            - A lua está linda, não está? – Comentei, olhando para o céu.

            - Eu estava pensando nas estrelas. Elas se parecem... Com as luzes da cidade.

            - Ha – Deixei escapar uma risada discreta – Muito poético.

            - É que eu não acredito no brilho das estrelas...

            - Eu apenas posso dizer... Que acredito no brilho que meus olhos refletem delas... – Falei, pensativa.

            - Em algum momento, o brilho de seus olhos cegará as estrelas.

            Eu o encarei sem acreditar. Envergonhada, abaixei a cabeça e peguei as sandálias para calçar.

            - Preciso encontrar alguém pra me levar embora.

            - Sua procura já acabou. Eu posso fazer isso – Ele sugeriu.

            - Bom, então acho que vou apenas avisar minha amiga. Ela ficaria me procurando depois... Sabe como é...

            - Nesse caso, te espero por... Cinco minutos, pode ser?

            - Claro.

            Eu me levantei e andei até dentro do ginásio do colégio, deslocando-me rapidamente entre os corpos que se moviam. Quando avistei Lucy, andei mais rápido, mas, então, um garoto esbarrou em mim e derrubou um drink colorido no meu vestido perolado.

            - Hei, mais cuid... – Levantei os olhos para ele e, por alguma razão desconhecida, perdi a fala ao encarar seus olhos verdes e... Me prender a eles.

            - Me desculpe, moça. – ele sorriu, envergonhado, e eu me cativei por seu sorriso.

            Não consegui desprender meus olhos dos dele, e, por algum motivo, os dele me encararam também.

            - Lana! Lana...? Tudo bem aí? – Era Matt falando atrás de mim.

            Apesar de ter os dois garotos ao meu lado, sendo que um deles tentava falar comigo, não consegui falar, nem sequer fazer nada. Naquele momento, meu mundo tinha parado e voltado a girar. O tranco fora terrível. E ali estava eu, um coração preso a outros dois. Um olhar preso aos outros. Eu estava entre as duas pessoas que mudariam meu mundo, minha vida. Meu coração... Eram três corações enfileirados, prestes a mudar... E bater mais forte.