Quando fiz minha lista, não tinha pensado em que tipo de coisa que eu não sabia gostaria de entender. Não sei, a minha vida toda eu vi coisas que nunca entendi e gostaria de entender, falava isso pra mim mesma. Mas quando se trata da minha lista de despedida, não pode ser qualquer coisa.                          

            Naquela tranquila manhã de terça-feira, tentando encontrar algo que eu gostaria de entender, percebi que nunca me viria uma boa ideia. Cansada, me joguei na cama e liguei o rádio.

Ninety miles outside Chicago

Can't stop driving I don't know why

So many questions, that need an answer

Two years later, you're still on my mind

Whatever happened to Amelia Earhart?

Who holds the stars up in the sky?

Is true love just once in a lifetime?

Did the captain of the Titanic cry?

Noventa milhas de Chicago

Não consigo parar de dirigir, não sei por que

Tantas perguntas, que precisam de resposta

Dois anos depois e você continua na minha mente

O que aconteceu com Amelia Earhart?

Quem colocou as estrelas no céu?

O amor verdadeiro só acontece uma vez na vida?

Será que o capitão do Titanic Chorou?

            Eu conhecia aquela música. “Someday we’ll know”, Mandy Moore. Mais que apenas conhecer. Eu amava aquela música. De repente, me lembrei da letra. Claro, tudo aquilo que estava descrito nos versos! Aquelas eram perguntas inexplicáveis! Não havia resposta para nenhuma delas. Quer dizer, não uma resposta completa. Era exatamente isso que eu queria entender. Eu queria saber as respostas para as coisas inexplicáveis. Queria entender o que era aquele amor descrito na música, um amor que move montanhas, um amor que só acontece uma vez na vida.

Someday we'll know

If love can move a mountain

Someday we'll know

Why the sky is blue

Someday we'll know why I wasn't meant for you

Um dia nós saberemos

Se o amor move montanhas

Um dia nós saberemos

Porque o céu é azul

Um dia nós saberemos

Porque eu não fui feita para você

            E então eu decidi que aquele era o dia. Era o dia de saber se o meu amor moveria montanhas, saber se eu tinha sido feita para Dan.

Does anybody know the way to Atlantis?

What the wind says when she cries?

I'm speeding by the place that I met you

For the ninety-seventh time, tonight

Someday we'll know

If love can move a mountain

Someday we'll know

Why the sky is blue

Someday we'll know

Why I wasn't meant for you

Yeah, yeah, yeah, yeah

Someday we'll know

Why Samson loved Delilah

One day I'll go

Dancing on the moon

Someday you'll know that I was the one for you

Alguém sabe o caminho para Atlantis?

O que o vento disse quando ela chorou?

Eu estou indo em direção ao lugar onde nos conhecemos

Pela 97ª vez, esta noite

Um dia nós saberemos

Se o amor move montanhas

Um dia nós saberemos

Porque o céu é azul

Um dia nós saberemos

Porque eu não fui feita para você

Um dia nós saberemos

Por que Sansão amava Dalila

Um dia eu irei

Dançar sobre a Lua

Um nós saberemos

Que eu era única para você

            De repente, me lembrei do filme onde ouvi aquela música pela primeira vez. “A Walk to Remember”. Era meu filme preferido, mas isso apenas antes de Dan aparecer na minha vida. Agora, aquele filme contava minha história. Uma garota doente que se apaixona por alguém que a faz viver coisas irreais, coisas fora do comum. Uma garota doente que se apaixona por alguém que muda por sua causa e que a faz sentir um amor puro e bonito. Essa era também a minha história. E, como no filme, no final, eu morreria, deixando Dan sozinha. Isso era a parte mais triste da minha história de amor. Minha história não era Um Amor pra Recordar. Minha história deveria ser vivida até o último segundo. Porém, eu realmente esperava que Dan se lembrasse de minha, que ele nunca se esquecesse do que vivemos.

I bought a ticket to the end of the rainbow

Watch the stars crash in the sea

If I can ask God just one question

Why aren't you here with me, tonight?

Someday we'll know

If love can move a mountain

Someday we'll know

Why the sky is blue

Someday we'll know why I wasn't meant for you

Yeah, yeah, yeah, yeah

Someday we'll know

Why Samson loved Delilah

One day I'll go

Dancing on the moon

Someday you'll know that I was the one for you

Eu comprei um ingresso para o fim do arco-íris

Eu vi as estrelas colidirem com o mar

Se eu pudesse fazer uma pergunta para Deus

Porque você não está aqui comigo

Esta noite?

Um dia nós saberemos

Se o amor move montanhas

Um dia nós saberemos

Porque o céu é azul

Um dia nós saberemos

Porque eu não fui especial para você

Um dia nós saberemos

Por que Sansão amava Dalila

Um dia eu irei

Dançar sobre a Lua

Um dia nós saberemos

Que eu era única para você

            Imediatamente, peguei uma caneta e um papel e comecei a escrever a letra da música. Dei ênfase nas perguntas, sublinhando-as. No final, escrevi um pouco sobre essas malditas perguntas inexplicáveis, coisas de amor que nem o mais evoluído humano e nem o mais perfeito Deus seriam capazes de responder. Dobrei o papel, coloquei-o num envelope e liguei para Dan, pedindo que ele passasse por ali. Quando ele veio, apenas entreguei o envelope a ele e mandei-o ir. Pedi que respondesse àquelas perguntas, que me falasse sobre isso, que me mostrasse aquele maldito amor inexplicável. Eu disse que queria respostas para perguntas impossíveis de responder. Fiz isso para desafiá-lo. Exatamente por essa razão.

            Pela noite, ele me visitou, me entregando um novo envelope para que eu lesse.

            - Quando terminar de ler, se quiser me ver, estarei na praça que fica aqui perto. Se não aparecer, tudo bem.

            Ele deu-me às costas e eu fechei a porta. Sentei-me no sofá e abri o envelope, desdobrando o papel contido nele. Antes de tudo, analisei bem. Dan era caprichoso com tudo. O papel não estava nem um pouco amassado, a letra era elegante, clássica, a escrita parecia regular e, convenhamos, havia seu perfume na carta. Isso eu jamais esqueceria. Iria para o túmulo sentindo aquele perfume. Guardaria aquela carta até meu último suspiro.

            Comecei a ler.

“Lana,

            Claramente, conheço essa música, e gosto dela exatamente por essas perguntas para as quais não existem respostas. Fiquei surpreso em você ter escolhido algo tão simples – e, ao mesmo tempo, tão complicado – para preencher as memórias sobre o item seis na sua lista. Porém, isso não me impede de derrubar esse item, como temos feito todo esse tempo.

            Amelia Earhart é mais uma dessas pessoas consideradas importantes pela humanidade. Por que, afinal? As pessoas consideram outras importantes porque fizeram algo bom ao mundo? Por coragem? Coragem uma ova! Qualquer coisa que os heróis tenham feito, não foi coragem. Heróis só fazem o que tem que ser feito, enfrentando as consequências que isso impõe algumas vezes. Mas que raios de coragem é essa? Heroísmo não é coragem. A diferença é grotesca: ser herói é fazer o que precisa ser feito, ser corajoso nem sempre significa isso. Às vezes, algo não deve ser feito, mas o corajoso o faz por vontade própria, enfrentando as consequências que vêm pela frente e tudo que ficou pra trás. Coragem é o que você tem, passando por tudo isso. Portanto, não sei quem é Amelia Earhart, tampouco o que aconteceu a ela. Só sei que ela morreria inveja de você, não só pelo romance que você tem na sua vida, o romance e o paraíso que você pode dar a um homem que te ama (claramente, eu), mas também pela coragem que você tem. Sua coragem, que te faz ser tão heroica.

            Bom, eu realmente não acredito que as estrelas sejam ‘colocadas’ no céu. As estrelas estão lá apenas refletindo invejosa e copiosamente o brilho dos olhos daqueles que se amam. Creio que o verdadeiro amor aconteça, sim, apenas uma vez na vida. Não é possível existirem dois amores tão fortes, tão grandiosos, tão puros numa mesma vida. E se houverem dois amores, que, apesar de tudo, não sejam dessa forma, então não foram dois amores verdadeiros. O amor verdadeiro, o amor dos romances, este só acontece uma vez na vida. Ou um amor é pra sempre, ou não é amor de verdade. Um amor não pode ser esquecido, apagado, derrubado. Como se diria no filme (que eu sei que você ama, Lana): “O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal, não se alegra com a injustiça mas regozija-se com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta...”. Em minhas palavras, Lana, um amor não pode nunca acabar. Ele pode chegar ao fim em dado momento em que os dois envolvidos não estejam mais juntos, mas se for amor verdadeiro, continuará existindo sozinho em cada um dos dois, mais sutil, talvez mais fraco, mas nunca, em nenhuma hipótese, menor. Amor verdadeiro é só uma vez.

            Definitivamente, o capitão do Titanic chorou. Quantas pessoas mortas, quanto desastre? E aquilo tudo estava nas mãos dele. Não, eu não posso te dar uma resposta completa, mas acredito sim que ele tenha chorado.

            Atlantis? Pra que você ia querer aquele mundinho insano e pequeno diante do mundo que você pode conseguir se acreditar no amor? Sabe, uma vez ouvi que temos duas escolhas: o mundo ou o amor. Se escolhermos o mundo, jamais teremos o amor, porém, se escolhermos o amor, conquistaremos o mundo. Pra que é que você que Atlantis? Enfim, se quiser, feche os olhos e carregue-se pra lá. Eu estarei bem no encalço dos seus passos.

            O vento, melhor consolo de todos, sempre tem sábias palavras quando o silêncio machuca dois amantes. Se ‘ela’ fosse você, a voz do vento seria a minha, e eu diria palavras de consolo. Palavras que te poriam de volta dentro do meu coração, aconchegada e protegida. Ah, e eu espero realmente, um dia, poder voltar ao centro daquele enorme ginásio, disfarçado de salão de festas, onde te vi pela primeira vez, onde te manchei com minha bebida, onde nossos olhos se encontraram pela primeira vez, onde o destino jurou que tiraria você de Matt e entregaria pra mim.

            Tenha certeza, querida, de que nunca, nunca, em qualquer ocasião, precisará perguntar a Deus por que não estou com você. Porque eu sempre estarei. Nem a morte pode nos separar, estarei junto de você todos os dias e todas as noites, até o fim da eternidade. Escolha outra pergunta e faça a ele, talvez uma dessas que não pude responder.

            Esteja certa, Lana, de que nosso amor move não apenas montanhas, como todo o universo. Que o céu é azul porque inveja a liberdade do seu coração, que você foi feita pra mim porque sempre existe uma razão maior pra tudo no mundo, que se dançasse sobre a Lua, a mesma se ressentiria com sua beleza, mas que eu seria um grande espectador, que estaria ligado á você. E não se preocupe, eu já sei que é a única pra mim, que jamais existirá nenhuma outra. E eu sei que Sansão amou Dalila pela mesma razão que eu amei você: o amor não escolhe, mas quando passa a existir, jamais existem outras escolhas novamente.

Com carinho,

                                   Dan.”

            Por alguma razão desconhecida, terminei de ler a carta com lágrimas nos olhos. Levantei num salto, passei pela porta e caminhei em direção à praça, com a carta na mão, o coração pulando mais dentro do peito, ameaçando de bater em algum lugar e quebrar-se, aquele meu pobre coração de vidro, a respiração acelerada, e aquelas abençoadas lágrimas escorrendo vagarosamente pelo meu rosto, geladas como aquela noite.

            Vi Dan sentado num banco, olhando para o vazio. Parada um pouco distante dele, disse:

            - Quer dizer que Sansão amou Dalila pela mesma razão que você me amou? – Perguntei-lhe, irônica.

            - Claro, sei que agora ele tem inveja do nosso romance, mas talvez ele tenha sentido por Dalila um décimo de tudo que sinto por você. Como eu disse, não há mais escolhas.

            - Não, não há escolhas. Você tem razão. Eu pertenço a você. Não há mais escolha alguma. Estaremos ligados por toda a eternidade!

            Corri para seus braços, em meio a lagrimas, e ele me confortou junto àquele corpo forte, seguro, quente, que sempre sabia como encaixar-se ao meu, que era capaz, mais do que nada no mundo, de me manter segura e protegida, sentindo-me bem. Afundei minha cabeça em seu peito, inalando seu cheiro maravilhoso, e ele afundou a cabeça dele sobre meus cabelos. Permanecemos em silêncio, afinal, pra que falar? Como diria Shakespeare, quando fala o amor, a voz de todos os deuses deixa o céu embriagado de harmonia.

“Você nunca vai estar sozinha

Deste momento em diante

Sempre que você sentir que está partindo

Não vou deixar você cair

Você nunca vai estar sozinha

Vou te segurar até a dor passar...”

    (Never Gonna Be Alone – Nickelback)