Três Corações - o Coração que Me Amou escrita por mariana_cintra


Capítulo 10
O Preço


Notas iniciais do capítulo

Como prometi !



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Toda vez que eu estou com Dan, sei que estou com um anjo. Melhor. Sei que estou com o meu anjo. Então, também me transformo num anjo. E, quando a noite vem, durmo com eles. Sonho com eles. Flutuo.

            Como sempre, naquela noite, dormi com os anjos. Um sono tranqüilo, embalado pelo som do amor. Em meus sonhos, eu me via, e via Dan junto comigo. Eu e ele. Ele e eu. Eu não precisava de mais nada. Podia sobreviver apenas com isso.

            Mas eu tinha um preço a pagar. Se eu realmente queria Dan, queria ser feliz ao lado dele, devia fazer do jeito certo. Matt precisava saber. E, aproveitando que minhas 24 horas estavam esgotando-se, decidi que aquele era o dia. Aquela era a hora.

            Depois de almoçar qualquer coisa que arranjei em casa, peguei um táxi e fui até a casa de Matt. Quando toquei a campainha, foi Dan quem abriu a porta.

 

 

            - Oi! Você aqui? – Ele falou, surpreso, porém, em tom quase inaudível.

            - Eu vim falar com o Matt.

            - Sobre... Nós?

            - Sim.

            - Então acho melhor eu sair. Vocês precisam de sossego. O pai dele saiu e ficarão só vocês dois aqui. E os empregados, é claro

            - Obrigada, Dan. Onde é que ele está?

            - No quarto. Acho que nem percebeu que chegou visita.

            - Tudo bem. Eu vou subir.

 

 

            Entrei e subi as escadas lentamente, enquanto Dan ia embora.

 

            - Matt, posso abrir?

            - Lana! – Uma voz clamou, surpresa, de dentro do quarto. Logo, o rosto de Matt já aparecia entre a porta e o batente, segundos antes de ele escancarar a porta e deixar uma pontada de luz do tamanho do oceano iluminar seu rosto. – Você veio cedo!

            - Ah, tudo bem... Se quiser, vou embora e volto mais tarde... – Virei as costas para ele e fingi que ia embora.

            - Não, fique! – Ele me segurou pelo braço. – Eu quero que fique.

            - Eu sei. – Sorri pra ele.

            - Sei que sabe. Você não é modesta.

            - Nem é por isso. Mas sei que você está esperando sua reposta. Eu a tenho comigo.

            - Entra aí.

 

 

            Sentei-me na cama, como de costume. Matt sentou-se bem à minha frente, segurando uma de minhas mãos e olhando para mim cheio de esperança. Aquilo me partiam o coração. Doía de verdade ver que ele gostava tanto de mim. A esperança, quando não nos faz viver, nos faz chorar. É sempre assim. A esperança acalanta, alivia, faz viver. Mas quando é uma esperança errônea, nos machuca, nos fere. E, quase sempre, a esperança que nos faz viver é a esperança errônea.

 

 

            - E então, Lana? Qual é sua resposta? Você quer namorar comigo?

            - Matt... O que eu vou dizer... – Tentei começar da melhor forma possível. Mas logo percebi que comecei do pior jeito. – Eu não quero que te magoe. Nem que você tente achar um culpado. Muito menos que brigue com alguém.

            - A reposta é não. – Matt respondeu a si próprio por mim.

            - Matt, não fale por mim.

            - Olhe pra você! Esse papinho de “não se magoe”, “não culpe ninguém”, “não brigue”... Isso é o início. Eu sei que sua resposta é não. E os seus conselhos para que eu não me magoasse são inúteis contra isso. Eu já me magoei.

            - Matt, não me diga isso. Não me fale que te machuquei.

            - Você sabe que me machucou. Eu te amo, Lana. Sabe que, não correspondendo a isso, estarei machucado.

            - Matt... Por favor... Não faça eu me sentir culpada. – As palavras falhavam, a culpa por não amá-lo como ele me amava era grande. Uma lágrima surgiu sutilmente no canto do meu olho esquerdo. Com a força do meu pensamento, tentei segurá-la ali. Meu pensamento era fraco.

            - Não quero que se culpe. A culpa não é sua, é minha... Por gostar de você tanto assim.

            - Matt... Você é o cara perfeito. Chegou na hora certa, do jeito certo, falando as coisas certas. Me fez sentir a pessoa certa. Mas não é assim. O amor nunca surge com a pessoa certa. O amor acontece entre as pessoas erradas. Porque, com as pessoas certas, o coração não acelera.

            - Então, Lana... Existe um cara errado pra você? – Matt me perguntou, magoado.

            - Me desculpe... Ele... Existe...

            - Lana...?

            - Eu me apaixonei, Matt... Pelo primo errado...

            - Lana, eu não posso acreditar! O Dan! Eu esperava que fosse qualquer pessoa... Mas o meu primo? Lana, isso machuca o fundo do meu coração, arranha minha alma. Porque você está fazendo isso? O Dan! Meu Deus, o Dan! – Matt levou as duas mãos ao rosto, incrédulo, desapontado. Balançou a cabeça. Lutou contra os pensamentos que eu não conhecia. Internamente, eu sei, desejou ter matado Dan.

            - Me desculpe... Eu...

            - Fique calada... – Ele se levantou e me deu às costas.

            - Matt...

            - Eu te amo, Lana! – Disse virando-se furioso para mim. – Deus sabe como eu te amo... E como eu vou sofrer quando te vir com ele. Mas eu vou aceitar... E, como me pediu, eu não vou culpar nenhum de vocês dois... Mas não me peça, Lana, para abençoar a vidinha amorosa de vocês. Porque eu não vou. Eu te amo, e acho que amarei por um longo tempo. Não posso conviver com o amor de vocês.

            - Matt, de verdade... Me perdoe. Você... é tão bom... Você é capaz de olhar pra mim sem repulsa... Sem me odiar... Depois do que eu fiz.

            - Eu te amo. Faria tudo por você.

            - Nem tudo...

            - Um dia, quem sabe, nós possamos descobrir.

            - Sim... Matt, obrigada... De verdade... Por ter sido tão bom comigo e com Dan. Diante disso, eu nem mereço, mas vou pedir uma última coisa...

            - O que quiser...

            - Não me odeie.

            - Nunca...

 

 

            Como Dan havia feito algum tempo atrás, Matt se voltou para a janela e apoiou-se no parapeito. Senti pena. Que ele não soubesse disso, por favor, afinal, pena é a pior das coisas. Não amar alguém já é ruim o bastante. Daí a sentir pena dela... Há um abismo terrível.

            Tentando oferecer-lhe um último consolo, coloquei minha mão direita espalmada em seu ombro, sem poder ver seu rosto. Lancei aquelas palavras que, espero, um dia, terem feito efeito.

 

            - Quando estamos apaixonados, pulamos de um prédio implorando a Deus para que criemos asas. Mas não é assim. Temos que encontrar uma pessoa que dê a vontade de voar. Sinto muito... Por não ter sido essa pessoa. E espero que, um dia, você a encontre.

 

            Dei-lhe às costas, no intuito de sair. Quando dei um passo, ele me respondeu o que não tinha resposta.

 

            - Lana... – Parei por um instante. O vão das palavras dele pareceu durar horas. – Obrigado.

            - Eu é que devia estar dizendo isso. – Fiz outra tentativa frustrada de sair. Ele não deixou. Novamente, interrompeu-me com suas palavras. E seus vãos dolorosos.

            - Mais uma coisa...

            - Sim...

            - Cuide do meu coração. Ele ficou com você.

 

            Oh, sim, aquilo me matou. Mas eu carreguei meu corpo até a porta de saída, sem olhar pra trás. Lá fora, senti o peso de cada palavra que fora dita. E, quase sem forças, caminhei pelas ruas, levando comigo o peso gigantesco de um outro coração, que batia por mim, sem resposta. Agora, era meu dever tentar curá-lo. Será que eu podia lidar com dois corações?

 


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Notas finais do capítulo

Reviews, gnt!