Spirit Bound - o Recomeço escrita por Bia Kishi


Capítulo 21
Capítulo 21 - Ainda um Strigoi


Notas iniciais do capítulo

- Você quer me deixar, Roza. Mais uma vez?
Eu engoli em seco – eu não o deixaria nunca.
As palavras não saíram da minha boca. Por mais que meu coração dissesse que eu não o deixaria, que ficaria com ele mesmo sendo um Strigoi, minha boca não se moveu. Nenhum um único som saiu dela.
Dimitri respirou fundo, como se ainda precisasse de ar para viver. Deslizou as mãos nos cabelos e olhou o infinito.
— Vista-se, eu vou leva-la onde quiser ir.



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Abri meus olhos para encarar uma realidade que não era não bonita quanto eu gostaria. O homem deitado ao meu lado ainda tinha vermelho carmim em volta das íris. Por mais que eu quisesse me enganar e ainda que eu sentisse um pouco do velho Dimitri ali, não seria uma tarefa fácil convencer um Strigoi de que ele precisaria voltar a ser um mortal novamente. Dimitri amava o poder, era um competidor por natureza, não seria nada fácil.

Eu olhei em seus olhos mais uma vez, e tudo que eu conseguia ver era meu Dimitri.

Dimitri virou-se e levantou em um único gesto. Eu mal havia olhado e ele já estava andando pelo quarto.

-           Como consegue? – eu perguntei esfregando os olhos.

-           Não é tão difícil quando se é um Strigoi. Eu não durmo Roza.

Enquanto ele andava pelo quarto escuro, eu me sentei na cama e tentei colocar o pé no chão. Já estava melhor, mas ainda doía como o inferno e parecia meio verde e embolorado.

-           Acha que ele vai voltar ao normal?

Eu perguntei novamente, enquanto tentava – sem sucesso – balançar o meu pé no ar.

-           Acho que sim. A infecção cedeu.

-           Pode me ajudar a ir até o banheiro?

            Dimitri não respondeu minha pergunta, ao invés disso me carregou até o banheiro em seus braços e me colocou em frente á pia.

            Sozinha no banheiro, eu fiz o que precisava. Penteei os cabelos e escovei os dentes e atendi aos chamados da mãe natureza. Quando abri a porta para sair, meu Strigoi fodão ainda estava lá. Eu não pude deixar de sorrir.

-           Não entendo o que te faz sorrir tanto – Dimitri resmungou.

Eu queria dizer, mas não sabia como. Não sabia como encontrar as palavras certas para dizer á ele que eu havia encontrado uma maneira de salva-lo. Então o que eu fiz foi ficar quieta.

Dimitri me colocou na cama e saiu. Alguns minutos depois, ele voltou com uma caixinha de rosquinhas salpicadas de açúcar e um copo de café.

-           Coma.

Desta vez, eu não resisti. Eu estava mesmo com fome e não queria discutir com ele.

            Quando terminei de comer e me deitei na cama novamente, eu suspirei e fechei meus olhos. Eu estava com saudades de Lissa e preocupada com todos. Eu precisava voltar e não tinha nem idéia de onde estava. Ainda existia o agravante de que Dimitri não me deixaria sair.

-           No que está pensando, Roza? – Dimitri falou.

Eu poderia ter mentido. Eu acho até que deveria ter mesmo mentido, mas não fiz. Não que eu fosse corajosa e quisesse enfrentar o pior Strigoi que eu conheci em minha curta vida, o que eu não queria mais era mentir para ele. Eu não podia mais. Havíamos chegado á um ponto em que não poderiam mais existir segredos.

-           Eu preciso ir embora.

            Eu esperei muitas reações de Dimitri. Esperei que ele gritasse e que me amarrasse. Que saísse do quarto e trancasse a porta, como da outra vez; mas ele não vez – ultimamente, Dimitri estava me surpreendendo muito – ele apenas olhou em meus olhos e partiu meu coração.

-           Você quer me deixar, Roza. Mais uma vez?

      Eu engoli em seco – eu não o deixaria nunca.

            As palavras não saíram da minha boca. Por mais que meu coração dissesse que eu não o deixaria, que ficaria com ele mesmo sendo um Strigoi, minha boca não se moveu. Nenhum um único som saiu dela.

            Dimitri respirou fundo, como se ainda precisasse de ar para viver. Deslizou as mãos nos cabelos e olhou o infinito.

-           Vista-se, eu vou leva-la onde quiser ir.

      E saiu do quarto.

Eu sentia como se uma navalha estivesse atravessada em meu peito. Eu não queria ir. Eu queria ficar com ele, queria ficar para sempre. E ao mesmo tempo eu sabia que tinha que ir. Calcei um pé da bota e apertei o roupão em volta da minha cintura. Segurando pelas paredes da casa eu andei pelo corredor.

Lentamente, eu avistei um outro cômodo, havia uma pequena fresta de porta aberta e eu sabia que Dimitri estava lá. Eu podia sentir. Abri a porta e entrei.

-           Dimitri? – ele se virou – posso falar com você?

-           O que mais você quer garota? Eu vou leva-la de volta. Vou deixa-la livre. O que mais pode querer de mim?

            Eu me aproximei mais e levantei meu braço até que minhas mãos tocaram seu rosto.  Dimitri arqueou um pouco o corpo, como se procurasse mais contato. Eu acariciei sua pele cuidadosamente, enquanto suas mãos seguravam minhas costas.

-           Eu quero você – eu disse a ele – quero meu Dimitri de volta.

Dimitri baixou um pouco mais a cabeça e meus dedos tocaram seu rosto completamente. Eu afastei uma mecha de cabelo da sua bochecha e encarei seus olhos. Dimitri fugiu do contato.

-           Eu não posso mais ser o que você Roza. Sabe disso.

-           Não é verdade. Não é verdade. Eu encontrei um jeito. Encontrei um jeito de tentar.

            Por um momento, eu pensei que seria fácil. Pensei que algo do guardião que eu amei ainda estivesse ali. Pensei que algo do homem bom e justo ainda estivesse ali, mas me enganei.

            Dimitri endireitou o corpo, fugindo do meu contato e soltou uma risada que eu não reconhecia.

-           Você não entende mesmo não é Roza. Eu não tenho intenção nenhuma de voltar a ser um Dhampir. Não tenho intenção alguma de voltar a ser um guardião – ele segurou meu rosto entre suas mãos, sem gentileza alguma – por que eu iria querer voltar a ser um mortal fraco e sem opinião?

      Eu surtei.

-           Porque acha que um guardião não tem opinião? Antes, você pensava o contrário!

      Dimitri riu novamente. Tão perto que sua risada fez cócegas em meu nariz

-           Antes, Roza, eu era outro homem. Olhe para mim. Estou no topo do mundo! Porque eu iria querer ser outra coisa? Não me faça rir!

Eu tentei controlar, mas foi impossível. Uma a uma, as lágrimas começaram a cair, molhando todo o roupão.

-           Quando vai deixar de ser tão infantil, garota? Quando vai entender que essa idéia de vida que você tem não é minha?

Eu engoli o choro e limpei as lágrimas com as costas das mãos. Não poderia ter esperado mais nada de uma criatura como ele. Por mais que eu quisesse mentir para mim mesma, Dimitri era um Strigoi. Sempre seria.

No fundo, acho que eu esperava que ele corresse e secasse minhas lágrimas. Que dissesse que me amava e que aceitasse que eu o ajudasse. Ele não fez. O que ele fez foi vestir um casaco de couro preto e virar de costas para mim, fitando a noite gelada pela janela.

-           Vista-se Roza. Eu vou leva-la de volta.

      Eu não me movi.

-           Anda garota! Vista-se logo! Acha que posso perder a noite toda aqui? Se acha, está errada. Tenho coisas mais importantes para fazer.

Eu me virei e caminhei o mais rápido que meu pé permitia. Não que fosse rápido o suficiente – depois de tudo, o que eu queria era sair daquele lugar correndo. Correndo o máximo possível.

Entrei no quarto e me desabei de tanto chorar. Enquanto lutava com meus próprios hematomas e dores e tirava a roupa, eu pensava em como tinha sido idiota e em como eu queria sumir.

      Segundos depois, um arrepio subiu por minha coluna – Mason.

            Eu peguei o roupão o mais rápido que pude a segurei frente ao meu corpo.

-           Ficou louco garoto? Não reparou que eu estou só de calcinha?

      Mason riu.

-           Ah Rose, não se preocupe! Eu sou um fantasma, lembra?

-           Okay, mas é um fantasma de um garoto!

      Mason riu e depois sentou sobre a minha cama.

-           Porque está chorando Rose?

-           Dimitri – foi só que saiu da minha boca.

Mason me olhou com seus olhos vermelhos. Mesmo assim, era o mais perto de um amigo que eu tinha naquela hora. E eu sabia o quanto Mason me amava, porque era o mesmo tanto que o amava.

-           Rose, você sabia que não seria fácil.

      Eu baixei minha cabeça.

-           Onde está a garota forte e decidida que queria ser guardiã de Lissa? Que brigava contra tudo e todos para salvar aos que ama?

Eu sorri de leve.

-           Está na hora de lutar por você mesma agora Rose.

Eu queria correr e pular nos braços de Mason. Queria dizer a ele o quanto ele estava certo e o quanto eu o amava, mas não pude. Ele desapareceu em seguida e Dimitri entrou.

-           Pronta?

-           Quase.

-           Estou lá fora.

      Dimitri se foi e eu fiquei ali, pensando em uma maneira de ter de volta minha coragem.


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