Capítulo dois – Seu abraço.

Caitlin havia perdido as contas de quantas vezes ela abriu e fechou o zíper de sua bolsa, muito preocupada em ter deixado algo para trás. Ela parou por um momento endireitando sua postura e cerrando os olhos por alguns segundos, respirou e vasculhou por sua mente pela milésima vez atrás de alguma evidência que ela havia deixado para trás.

Certamente, sua cabeça não estava muito no lugar nos últimos dias. Para ser sincera, ela não estava nem um pouco lugar.

Ela apoiou as mãos na bancada de computadores, deixando que seu cabelo caísse sobre seu rosto ao tentar se recompor por mais alguns instantes. Suas mãos ainda tremiam, seu rosto ainda denunciava a total calamidade em que se encontrava, e bem, seu coração não estava em situação diferente.

“Agora que sabemos que ele está vivo, nós acharemos Ronnie novamente.”

As palavras de Cisco ecoavam por sua mente, fazendo a refletir se aquilo era o que ela realmente queria. Por que eles tentariam achar alguém que não quer ser achado? Quanto mais de sua sanidade ela teria que doar para ter seu Ronnie de volta para sua vida?

Já havia se acostumado com a ausência dele. Talvez o melhor fosse mesmo deixar aquilo para trás, afinal, ela tinha dado tantos passos no caminho que usava para seguir em frente. Por que mexer em time que está ganhando?

Caitlin olhou para o teto por mais alguns segundos, sem perceber que já não estava mais sozinha no grande cômodo vazio. Não era mais só ela, sua frustração e sua bolsa bagunçada. E por um momento, ela quis praguejar quem quer que fosse, quem quer que seja que estava li impedindo sua festinha de autoflagelação emocional.

“Parece que eu não fui o único que teve um dia ruim.” O timbre de Barry quebrou o silêncio que antes era seu melhor amigo, encostado na entrada do laboratório com os braços cruzados sobre seu sweater vinho. “Quer falar sobre isso?”

Quando parava para refletir seu relacionamento com Barry, ela acaba se dando conta de que não poderia existir outra pessoa com quem gostaria mais de compartilhar toda a frustração que aquele dia havia lhe trazido.

A ligação que havia entre eles só sabia crescer cada dia mais. Desde o dia em que ele entrou com ela naquele buraco, pronto para ajudá-la a enfrentar o grande fantasma que só lhe trazia lembranças do que havia perdido, ela sabia que poderia falar com Barry sobre praticamente tudo e ele lhe entenderia como mais ninguém nesse último ano.

“Ronnie está vivo.” Ela começou, ajustando sua postura novamente e prendendo uma mecha dos cabelos castanhos atrás de sua orelha. “Mas quero deixar esse assunto pra depois, eu realmente prefiro não pensar tanto nisso agora.”

“É natal, talvez seja o momento certo pra deixar algumas coisas de lado e entrar no espírito natalino.” Ele sorriu torto, vendo-a fazer o mesmo.

E ali estava ele, o sorriso que ele menos gostava.

“Bem, eu poderia usar um pouco da gemada da vovó Esther.” Ele disse em tom brincalhão, já repensando suas palavras. “Na verdade, não faria efeito. Você poderia usar um pouco da gemada, e eu aquele drink super poderoso que você fez especialmente para mim.”

Caitlin lhe lançou um olhar crítico que logo se transformou em um repleto de divertimento. Ele definitivamente sabia como melhorar o clima, e ela adorava isso nele.

Barry Allen era muitas coisas, mas ela vinha percebendo nessas últimas semanas que a melhor de suas qualidades era ser amigo. Um verdadeiro porto seguro.

“Você parece emocionalmente exausto.”

“Você também.” Replicou, se acercando.

“Quer conversar?” Caitlin pousou as inseguras lagoas amendoadas sobre o homem a sua frente, tocando o antebraço por cima de seu sweater na intenção de demonstrar sua consideração. Ela estava ali para ele, e queria que ele soubesse sempre disso.

Claro que não era uma desculpa para tocá-lo. Jamais. Nunquinha.

Toda aquela compreensão, todo aquele carinho, aquela sensação de que não havia nada que ele pudesse esconder dela, de que ela entendia cada parte de si. Talvez ele estivesse delirando, afinal, os acontecimentos daquele dia certamente poderiam ter mexido com algo em sua mente.

Era isso, ele estava lentamente perdendo o juízo.

“Eu contei para Iris como me sinto.”

“É um grande passo.” Ela sorriu bastante satisfeita, orgulhosa pela coragem de seu colega de equipe. “E então? Como foi?”

“Um grande passo em direção ao abismo, você quer dizer?” Barry se afastou, levando a mão até a nuca. “Não é óbvio? Ela jamais vai sentir o mesmo. Está preparada para se mudar com Eddie e seguir com a vida dela, o mínimo que eu posso fazer é seguir em frente com a minha também.”

Caitlin procurou pelas mãos dele, apertando-as nas suas. Como ele conseguia ser tão cego? Como Iris conseguia ser tão cega? Como no mundo alguém poderia não se apaixonar por Barry Allen? Essas coisas ela nunca compreenderia.

“Você acha que não é capaz de fazer ninguém se apaixonar por você?” Ela questiona, procurando os olhos esverdeados sempre tão cheios de vida que logo se prenderam nos seus. Eles refletiam toda a insegurança e decepção que aquele dia havia lhe trazido.

“Não é isso…”

“Barry, você é uma das pessoas mais incríveis que eu já conheci. E tenho certeza que Iris pensa da mesma forma, ela só precisa de um tempo para conseguir enxergar tudo o que tá perdendo.”

Seu coração – que antes batida dolorido em seu peito – parecia ter encontrado naquelas palavras toda a paz que precisava. Naqueles olhos, os mesmos que o recebiam todos os dias naquele mesmo lugar, os mesmos que brilhavam como a oitava maravilha do mundo e conseguiam sorrir por si só, ele pode finalmente respirar.

Durante todo o dia, desde que soube sobre o seu inimigo na roupa amarela estava de volta, ele se sentia como se o mundo estivesse em suas costas. A sensação de ter falhado na busca por justiça pela morte de sua mãe, depois a conversa que teve com seu pai e então, o momento em que havia finalmente criado coragem para se declarar para a mulher que ama desde que se entende por gente.

Ela tinha razão, ele estava emocionalmente exausto. Mas não o suficiente para evitar a onda de alívio que lhe assolou quando ela envolveu os braços em seu pescoço e o prendeu em seu abraço.

Oh, aquele abraço. Aquele abraço era tudo o que precisava e um pouco mais.

A essência do shampoo de morango emanava dos sedosos cabelos castanhos, invadindo suas narinas, embriagando-o. Então correspondeu o gesto, enlaçando a cintura dela com seus braços como se aquele fosse seu lugar. Como se depois do dia horrível que teve, finalmente tivesse achado seu porto seguro.

Sabia que era perigoso, que toda aquela aproximação poderia acabar mal em algum ponto, que não poderia ficar tão dependente de alguém como ele vinha sendo de sua médica pessoal e colega de equipe nos últimos dias.

Mas era tão bom. Era tão bom que enquanto ele estivesse envolto naqueles braços, o mundo lá fora poderia esperar o que fosse.

Porque enquanto ele estivesse preso no abraço de Caitlin Snow, teria forças para enfrentar o que quer que estivesse esperando por ele.

Seja o medo do desconhecido, a dor de uma perda, ou a mágoa de uma rejeição.