Capítulo três - Sua melhor amiga.

“Você não pode estar falando sério, Cisco.”

Barry suspirou, já se afogando em seu mar de frustração. Que tipo de amigo o deixa sozinho em um bar com duas mulheres, uma completamente fora de seu juízo normal? Cisco. Cisco deixava.

“Cara, eu tenho uma maratona de The Big Bang Theory me esperando em casa e ela não se assistirá sozinha. Desculpe, mas nossa amiga alegria é sua responsabilidade agora.” Ele deu de ombros, deixando um olhar apologético antes de se dirigir até a pista de dança, onde suas duas amigas se divertiam como se não houvesse amanhã.

Ele apenas observava, os cotovelos apoiados no balcão do bar enquanto bebericava inutilmente mais alguns goles de seu gin. Felicity e Caitlin se despediam de Cisco com sorrisos em seus rostos, a segunda com grandes indícios de embriaguez. Grandes? Oh não, grandes não. Enormes!

Era nesse momento que ele se agradecia mentalmente por ter chamado Felicity, que revesava nos movimentos com Caitlin enquanto Girls do 1975 ecoava por todo o recinto. Tinha de admitir, aquela havia sido uma ideia e tanto. Era grato por saber que, no final das contas, a loira sempre estaria ali quando ele precisava.

Com os últimos acontecimentos, havia alguém que precisava muito de uma presença feminina amigável. E esse alguém, com certeza, não era ele.

Felicity se acercou com uma Caitlin bastante risonha em seu encalço. Nas mãos a Dra. Snow tinha mais um de seus drinks espalhafatosos, que tinham o intuito de fazê-la esquecer o desastre que havia sido sua semana.

Barry sabia bem o que ela estava tentando fazer, e sentia inveja de não mais poder fazer o mesmo.

“Acho que está na hora de irmos embora, senhorita Pé-de-cana já está bastante fora de si. O suficiente para desencadear alguns lados que eu não conhecia e que você provavelmente não gostará de conhecer.” Ela riu, pegando sua bolsa na bancada ao lado.

Caitlin – que até então ria como se tivesse visto um passarinho verde – a olhou torto, tropeçando em seus saltos para então ser amparada pelos braços de seu colega de equipe.

Ela olhou para as íris esverdeadas de Barry por uma fração de segundos, não conseguindo evitar pensar o quanto elas eram intensas e belas. Caitlin Snow, uma mulher sempre tão estoica e politicamente correta, agora quebrava o silêncio entre eles com uma gargalhada nada característica de sua personalidade reservada.

“Oh Céus, ela está muito bêbada.” Ele ergueu o cenho ao prender seu olhar na loira a sua frente, envolvendo a cintura da morena ao seu lado enquanto ela lançava o braço em seu pescoço.

“Eu disse.” Felicity respondeu, um sorriso de canto ressaltando as maçãs de seu rosto.

“Sabe que eu vou precisar de ajuda, não sabe?”

“É para isso que eu estou aqui, Barry.” Ela depositou o dinheiro da conta sobre o balcão ajeitando sua bolsa em seu ombro logo depois.

Caitlin enlaçou o pescoço da loira com o braço livre, rindo consigo mesma.

“A Felicity não é incrível, Barry? Você deveria ter ficado com ela quando teve a chance, bobinho. Agora ela tem dono.” Ela resmungava, recebendo o olhar repleto de divertimento de Felicity como resposta enquanto ela e Barry tentavam chamar um táxi já do lado de fora do bar.

“Okey, Caitlin, já entendi que você fica falante quando está bêbada.” Ele revirou os olhos, agradecendo aos céus pelo táxi que já encostava na guia.

“Barry, a Felicity tem dono agora, e você não vai mais poder ficar com ela a não ser que queira acordar com uma flecha no meio da testa. Você pode correr o que for, mas no final vai continuar sendo lerdo. Você é tão lerdo, Barry. Por que você é assim?”

Felicity segurava o riso, tentando ajeitar a bêbada sincera no banco de trás. E quando finalmente o carro pode arrancar em direção ao seu destino, Caitlin tombou sua cabeça no ombro de Barry e a aconchegou no sweater vermelho que ela mesma havia dado a ele como presente de natal.

“Mas tudo bem, Barry. Eu gosto de você bem assim, bem do jeito que você é.”

E foi com essas últimas palavras proferidas em um suspiro, que ela pode finalmente sucumbir ao prazer da inconsciência. Feliz por não ter nenhuma ideia sobre a ressaca que a visitaria no dia seguinte.

***

Depois de muito esforço, Barry conseguiu fazer com que Caitlin se acomodasse em sua cama, se aconchegando em seus travesseiros e soltando muxoxos incompreensíveis. Felicity a cobriu com uma coberta que estava sobre a poltrona ao lado, sentindo os olhos estupidamente verdes pesarem em suas costas.

“O que foi?” Perguntou, arrumando sua postura para então virar-se para encará-lo.

Barry tinha um par de círculos levemente arroxeados em volta de seus olhos, denunciando o quão exausto ele deveria estar se sentindo nessa última semana atribulada. Ele cruzou os braços sobre o peito, jogando a cabeça para o lado em um pedido silencioso para que ela o seguisse até a sala de estar.

“Estou feliz por você estar aqui. Depois de toda aquela situação com o Ronnie, ela ficou bastante abalada.” Ele se sentou no sofá de dois lugares, assistindo a loira sentar no de três a sua frente. “Ela estava precisando de uma amiga e um bom porre.”

“Duvido que ela pense assim amanhã de manhã.” Felicity riu, ajeitando seu vestido e pousando os olhos azuis desconfiados sobre o homem a sua frente. “Tem certeza que é só ela que precisa de uma amiga? Porque você sabe, eu tenho muitos defeitos, mas ser cega não é um deles.”

Barry desviou o olhar por alguns instantes, hesitando. Ele havia esquecido que Felicity não tinha e nunca teve problema algum em decifrá-lo como um dos seus milhares de sites criptografados.

“O que?” Perguntou, se fazendo de desentendido ao perceber o olhar insistente sobre si. “Eu não sei, estou me sentindo um pouco perdido no momento. Quando eu finalmente consigo me desprender do fantasma do assassino da minha mãe e decido fazer o que estive me impedindo de fazer todo esse tempo, eu me dou conta de que sou um total fracasso.”

“Você não poderia estar mais errado.” Ela curvou os lábios em resposta, e com aquelas palavras, Barry não pode deixar de se lembrar de sua companheira de equipe.

Felicity e Caitlin tinham aquilo em comum. Elas têm essa capacidade incrível de acreditar que algo que está quebrado pode sempre ser restaurado. Um dom notável de iluminar o que quer que esteja coberto por trevas e escuridão.

Ele não poderia se sentir mais contente e grato por tê-las em sua vida, porque se tinha algo que sempre teria certeza é que sem Caitlin Snow, seu mundo jamais seria o mesmo. Ele jamais seria capaz de ser o que sempre quis ser: um herói.

“Eu devo muito à Caitlin. Tento ser um bom amigo, mas as vezes eu acho que ela precisa de mais do que isso.” Barry murmurou, se curvando e apoiando os cotovelos em suas pernas. “E nos últimos dias eu não tenho estado em meus melhores momentos, então te liguei e vi que no final acabei fazendo a coisa certa.”

Um suspiro cansado escapou por seus lábios. Àquela altura o cansaço emocional estava tão avançado que se tornou físico.

“Caitlin é o mais próximo que eu tenho de uma melhor amiga.” Ela contou, esboçando um sorriso cúmplice. “Mesmo há alguns quilômetros de distância, é tão bom ter outra mulher com quem possa conversar. Percebi que ela está abalada emocionalmente, assim como você está, mas também percebi muitas outras coisas que… Bem, você também vai perceber com o tempo.”

Um brilho repleto de confusão dominava as íris esverdeadas, e ela não pode conter seu riso. Uma Caitlin bêbada era mais sensitiva do que dois Barrys sóbrios. Era impossível não achar aquela situação divertida, por mais drástica que estivesse no momento.

Ela conhecia uma pessoa quebrada de longe, afinal, ela lidava com uma todos os dias. Apenas uma versão mais mandona e mal humorada, mas, ainda assim, Felicity reconheceria aquele paradigma.

E Barry… Bem, Barry superaria tudo aquilo. Afinal, Caitlin estaria ali pra ele tanto quanto ela mesma sempre esteve para Oliver. E algo levava Felicity acreditar que logo aquela situação se tornaria bastante paralela a sua própria.

“Espero que não esteja passando pela sua cabeça o mesmo discurso absurdo que Oliver usa para afastar as pessoas.” Ela comentou, se arrependendo por ter mencionado o dono de seu coração.

Barry abriu a boca para respondê-la, mas ela foi mais rápida em interrompê-lo.

“Eu sei que você e Oliver não tem nada em comum além de vestirem uma máscara, mas tenho medo que isso se torne algum tipo de ‘coisa de super herói’. Você merece ser feliz, mesmo que não seja com Iris. E eu vejo que logo você perceberá que a felicidade está mais perto do que você imagina.”

O canto de seu lábio se ergueu em um sorriso repleto de satisfação, compartilhando com a mulher a sua frente um olhar cheio de clareza e percepção.

“São os pequenos detalhes, lembra? Lembre sempre dos pequenos detalhes, Barry, e então você encontrará o pote de ouro no fim do arco-íris.” Felicity lhe lançou uma piscadela, assistindo-o rir naturalmente.

E foi com a mão sobre a sua, na tentativa de passar algum conforto, que Felicity se levantou ajeitando o vestido novamente.

“Já está tarde, é melhor ir para meu hotel.”

“Precisa de uma carona?” Ele ofereceu, erguendo o cenho.

Felicity tombou sua cabeça fazendo um biquinho adorável. Sua expressão pensativa cabia à sua personalidade.

“Da última vez que você me deu uma carona, eu acabei ficando apenas de sutiã.” Ela abriu um sorriso divertido, repassando a cena em sua mente.

Ele retribuiu o gesto, compartilhando com ela a lembrança tragicamente engraçada daquele dia.

Passou toda a noite observando a dinâmica entre Caitlin e Felicity como se estivesse assistindo um de seus filmes de mistério policial. Os sorrisos vívidos, os olhares subintendidos e as conversas bobas que garotas costumam ter entre si.

Barry Allen sabia que Caitlin Snow não era uma mulher de muitos amigos, entretanto, sua única certeza era de que os poucos amigos que tinha durariam por uma vida inteira.