Capítulo um – Seu sorriso.

“O que?”

“Nada, eu só percebi que você não sorri muito.”

Barry Allen jamais esqueceria a primeira vez que viu Caitlin Snow.

Uma mulher estranha, certinha e mandona demais. Um verdadeiro cubo de gelo ambulante em seu jeito e principalmente em sua voz – que na maioria das vezes parecia um estrondo ao lhe chamar a atenção como se ele fosse uma criança.

Caitlin Snow – ou Dra. Caitlin Snow, como ela prefere ser chamada – era um enigma bastante intrigante diante de seus olhos. Bem, pelo menos ela costumava ser. Ele costumava vê-la como algo inalcançável, tão assustadoramente cautelosa que fazia com que se dirigir a ela fosse como pisar em ovos. E foi assim por grande parte do tempo, até o momento em que a viu sorrir.

E então, Barry descobriu que além de ter sim a capacidade de sorrir, ela também era dona de um dos sorrisos mais bonitos que já havia visto em seus vinte e cinco anos de vida. Não pode deixar de pensar o quão certo parecia vê-la sorrindo, tão agradável, tão… estonteante.

Dali em diante ele pode presenciar os mais variados tipos de sorriso.

O que ela crispava os lábios e desviava o olhar era quando se sentia envergonhada, o cantineiro era o que ela erguia apenas um lado de sua boca quando se sentia satisfeita ou orgulhosa, e tinha também o que ela usava apenas os olhos. Esse último era seu preferido e já o deixou fora de órbita por diversas vezes, admirando o brilho que aqueles olhos amendoados emanavam.

E o sorriso que ele menos gostava agora assombrava o rosto inexpressivo de sua médica particular.

“Me perdoe, eu não tive a intenção de falar daquela forma.” Ele estava sentado na cadeira giratória ao lado da dela, tentando reunir toda a sua coragem para finalmente se livrar daquela camada de culpa e remorso que envolvia seu coração como um plástico bolha.

Barry Allen estava ficando cada vez mais acostumado com a sensação de ser aquele que pede desculpas. Nos últimos dias ele havia magoado mais pessoas do que jamais magoou em um ano inteiro, e isso de certa forma o incomodava.

Assim como incomodava o fato de Caitlin olhar para qualquer parte do cômodo, menos para ele.

“Quero dizer… Eu as vezes me sinto um pouco sufocado com todos os seus cuidados. Mas eu compreendo que você se importa comigo e, Caitlin…” Seu dedo indicador levantou o queixo delicado para que ela pudesse presenciar a sinceridade em seus olhos. “Eu me importo com você também!”

“Eu não posso perder você, Barry. Não posso perder mais ninguém.”

“Você não vai.” Sua mão procurou pela dela, entrelaçando seus dedos assim que as encontrou. “Eu prometo, você não vai. Me desculpe.”

Não conseguiria imaginar um mundo onde Caitlin não estivesse presente em sua vida. Os cuidados que ela tem ao limpar seus ferimentos, o jeito mandão com que ela usa e abusa de sua autoridade, sua insistência em tentar impedi-lo de enfrentar o perigo – mesmo sabendo que ele não irá ouvi-la –, e o sorriso compreensivo que ela lhe dá quando palavras sequer são necessárias.

Antes que ele percebesse, se viu precisando de Caitlin Snow mais do que jamais pensou precisar. E estava disposto a tudo para mantê-la perto de si.

“Me desculpe… você sabe.” Seu olhar vacilou, e o sorriso que menos gostava se transformou em um dos que mais gostava: o encabulado.

“Você não tem porque se desculpar, fui eu quem te magoou com aquelas palavras.”

“Não, Barry. Me desculpe. Eu não sabia que você se sentia dessa forma, não tinha ideia do quanto eu estava te sufocando com meu medo de perdê-lo. Essa é minha batalha, não sua. Eu não-”

“Espera, você acha mesmo que essa batalha é só sua? Que você tem que lidar com a dor de ter perdido o Ronnie sozinha?” Barry ergueu o cenho, fitando-a com o divertimento brilhando em suas íris esverdeadas.

Mal sabia ela que desde o momento em que eles foram capazes de se abrir um para o outro sobre suas perdas, sobre a dor que eles compartilhavam, ela já não estava mais sozinha.

“Eu pensei que nossa conversa tinha deixado claro que você não está só.” Sua mão vagava atrevida pelas maçãs delicadas daquele rosto, já não conseguia mais sequer hesitar. “Não percebe? Eu estou aqui, Caitlin, e eu não vou embora.”

Sua pele formigava sobre a dela como se leves correntes elétricas estivessem passeando por seu corpo, exceto de que, dessa vez, ele não estava correndo pelas ruas de Central City em uma velocidade absurda.

Não, ele estava certo. Aquelas reações eram completamente normais. Eles estavam apenas em um momento íntimo em que dois amigos se desculpam e tem uma conversa sincera. No final das contas, ela ainda era sua médica, sua parceira, sua amiga.

Isso, era isso. Seu coração já não mais estava envolto em remorso quando os lábios de Caitlin se abriram em um sorriso. O primeiro sorriso verdadeiramente sincero do dia, e estava sendo direcionado para ele seguido de dois braços envolvendo sua cintura.

Antes que pudesse evitar, estava se sentindo em um daqueles dias de sorte. E pra ser honesto, Barry meio que se sentia dessa forma todas as vezes que aquela mulher sorria diretamente para ele, como se ele fosse um dos caras mais sortudos do mundo por ter a chance de presenciar aquilo.

Caitlin afundou o rosto na curva de seu ombro, e Barry se limitou a apenas aproveitar o momento, fechando os olhos para sentir melhor o calor que o corpo delicado de sua parceira de time emanava.

“Obrigada, Barry.”

“Sempre que precisar.”

E foi ao se afastarem que Barry Allen percebeu…

Cailtin Snow estava sorrindo. E cara, aquela deveria ser a oitava maravilha do mundo.