All About Us escrita por The Huntress


Capítulo 46
Desentendimentos.


Notas iniciais do capítulo

Hey. Desculpem a demora para atualizar ;c, mas aí está um capítulo. Boa leitura, espero que gostem!
OBS: Coloquei a música do capítulo anterior, quem quiser ler escutando a música, fique à vontade!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/570583/chapter/46

62

(P.O.V de ninguém)

Cinco e meia da manhã o barulho de um sino acordou os semideuses. Ele tocava estridente e insistentemente. Nico foi o primeiro a colocar a cabeça para fora da barraca, os cabelos estavam desgrenhados e ele mal tinha consciência de que estava acordado. Os movimentos que fazia com os olhos e com a boca eram automáticos, pois Nico só tinha consciência do irritante sino que tocava insistentemente. Que diabo está acontecendo?, era o que o garoto pensava. O sino continuou e Nico estressou-se.

— Puta merda, ninguém pode dormir direito nessa porra — disse, pegando um casaco e saindo da barraca que estava dividindo com Paula. O sino continuou. — Enfia essa porra no cu! — gritou.

Um homem que passava pela rua olhou para Nico como se ele fosse algum louco, com certeza ele não entendia nem metade do que Nico falava. O semideus fez careta para ele e espreguiçou-se, observando o céu clarear em um tom de azul, amarelo e rosa. O filho de Hades já estava acostumado a acordar de manhã cedo enquanto estava no acampamento, mas, ultimamente, ele estava tão cansado que poderia dormir durante uma semana sem acordar nem para comer.

Ele se agachou na frente da fogueira, que agora estava apagada, apenas soltando faísca. Ele mexeu nos restos queimados com um graveto, o sino parara de tocar depois de um tempo. O garoto pensou em tudo o que estava acontecendo, pensou nessa missão, em Paula e em todos os outros que estavam ali. Será que voltariam vivos para o acampamento? Uma onda de vertigem o atingiu, jogando o filho de Hades para trás, ele caiu sentado no chão de terra da clareira. Ele não lembrava qual era a última vez que havia se alimentado, mas seu estômago estava reclamando e não demoraria muito para que uma dor de cabeça começasse.

Uma mão tocou seu ombro e Nico virou-se, assustado, ele levou a mão até o cabo da espada que pendia em seu quadril, pronto para atacar, porém o toque de sua mão suavizou-se quando ele viu que era Beatriz ali e não um monstro. A garota parecia tão cansada quanto ele, mas estava sorridente e parecia pronta para o que estivesse por vir. Ela o cumprimentou e sentou-se ao lado dele, Nico afastou-se um pouco, não conseguia imaginar o que a levara sentar-se ao lado dele. Talvez estivesse aprontando alguma coisa.

Nico olhou para o horizonte, o céu já estava bem mais claro devido os raios de sol, as barracas já estavam projetando sobras no chão, cobrindo Beatriz e o filho de Hades. Ele olhou para a menina que estava do seu lado, estava com uma expressão triste como se fosse desabar em lágrimas a qualquer momento, mas ele sabia que ela não se renderia tão fácil e começaria a chorar na frente dele, e ele apreciava isso. Então, um lampejo de memória atravessou sua mente, e ele sabia por que ela estava assim. Era por causa de Haden Stone, o filho de Hécate. Nico sentiu vontade de dizer algo a Beatriz, mas nunca fora bom com palavras, então não disse nada.

Ele pensou um pouco na situação da filha de Zeus e do ex-namorado dela. O filho de Hades já tinha quebrado muito corações, já tinha usado meninas apenas para saciar suas próprias vontades. Quando levava alguma garota para a cama não estava interessado em saber o nome dela ou de quem era filha ou se acabaria apaixonando-se por ele, Nico só queria uma coisa: sexo. E elas não se recusavam em dar a ele o que queria. Mas nunca, em toda sua vida, fez promessas que não cumpriria. Depois da morte de sua mãe e, depois, da sua irmã, fazer promessas, para Nico, não parecia certo. Então, ele não fazia. Com todas as garotas com quem ficou, ele era honesto. Levava-as para cama, tinha o que queria delas e as mandava embora. Não prometia que falaria ou a veria novamente, pois sabia que, se fizesse isso, as iludiria. Bem diferente de Haden.

Nico não sabia a história de Beatriz e Haden e não estava interessado em saber, mas tinha visto o dia em que o filho de Hécate foi embora do acampamento. Beatriz pode não ter reparado, mas Nico viu a frieza em seu olhar, não quando olhava para a garota, mas quando se imaginava fora dali. O filho de Hades não conseguia esquecer o dia em que encontraram a menina morta no acampamento, quando viu Haden encarando a cena atrás de uma árvore. Um brilho malicioso tomava conta de seu olhar e o sorriso maníaco que preenchia seus lábios. Não era difícil de perceber que Haden escondia algo e que esse “algo” era muito, muito ruim. Mas também não era difícil de perceber que Beatriz gostava de verdade dele e que ainda sofria com tudo o que aconteceu. Nico sentia pena dela. Ele nunca conversou de verdade com ela, mas sabia que ela era uma boa pessoa e que não merecia sofrer desse jeito.

Um dia Maria di Angelo, sua mãe, lhe disse que quebrar o coração de uma garota era a mesma coisa que quebrar um vidro, poderia colar todos os pedacinhos novamente, mas nunca voltaria a ser o que era antes. Ele pensou em Beatriz, sofrendo em silêncio por Haden, pensou em todas as meninas de quem quebrara o coração e, automaticamente, olhou para trás, na direção da barraca que dividiu com Paula e um sentimento de raiva o invadiu. Ele tinha sido um babaca por muito tempo, mas não queria magoar a filha de Poseidon como Haden magoou Beatriz ou como ele próprio magoou milhares de garotas. Paula não merecia. Eles não estavam em relacionamento, mas simplesmente sentia que era errado magoá-la. Nico voltou sua atenção para os restos da fogueira a sua frente, tentando reprimir a vontade que sentia de invadir aquela barraca e beijar Paula antes que ela pudesse soca-lo.

— Sinto muito, você não merece nada disso — disse Nico. Beatriz o encarou como se estivesse ficando louco, mas ele estava falando sério e esperava que ela entendesse. O canto da boca de Beatriz ergueu-se, formando um pequeno sorriso. Ela tinha entendido sobre o que ele estava falando.

— Um dia li em um livro, depois de muito tentar por causa da dislexia — Nico sorriu, ele sabia bem do que ela estava falando. —, que a gente tem o amor que merece — ela deu de ombros. Talvez eu o mereça.

Nico a encarou como se ela estivesse falando em uma língua que ele não entendia. Como ela podia pensar em uma coisa dessas? Era terrível pensar que uma garota como Beatriz merecia um cara como Haden. Ele não a merecia, nunca fora bom o bastante para ela. Então, de repente, Nico estava pensando em Paula e Ivan, em como o filho de Nêmesis fazia bem para ela e em como ele próprio não era bom o bastante para Paula. Bem, talvez ele e Haden tivessem algo em comum: nunca seriam bons o bastante para alguém.

— Você merece alguém melhor. Alguém que possa amá-la em cada batida do coração, alguém que mereça você verdadeiramente, alguém que esteja disposto a lutar por você com unhas e dentes e que envelheça ao seu lado sem arrependimentos — disse ele. Nico estava pensando em Paula, em como queria dizer todas aquelas coisas para ela.

— Você é uma pessoa boa, Nico — ela tocou no ombro dele, analisando-o. — Devia deixar que vissem a bondade em você.

Antes que ele pudesse dizer algo, Percy irrompeu pela barraca, espreguiçando-se e bocejando. Nico olhou para Beatriz, a garota encarava o filho de Poseidon com um sorriso tímido nos lábios e um brilho nos olhos. E ele entendeu que, bem ali, de pé, com olhos verdes e pele bronzeada, estava o verdadeiro motivo que ainda não tinha levado Beatriz a ir atrás de Haden ou a deixado louca de vez. Nico deu de ombros, era um casal estranho, mas não improvável.

[...]

Em alguns minutos todos estavam de pé. O clima no acampamento não estava pesado, os quatro semideuses estavam falando pouco e desmontando as barracas. Até que Paula parou, olhando ao redor. Algo estava errado. Poderia ser um monstro, algum humano curioso ou... Os olhos de Paula foram diretamente até a barraca de Inara e Jason. Ela franziu o cenho, tinham que ir embora dali a meia hora e os dois não tinha esboçado sinal de vida. Ela olhou ao redor, eles deviam ter ficado vigiando, mas Paula não conseguia enxerga-los em lugar nenhum.

— Não sei onde levar o Elmo do Terror — comentou Nico. — Espero que Inara tenha achado um bom lugar.

— Temos um problema bem maior — disse Paula.

Os três semideuses seguiram a filha de Poseidon com o olhar enquanto ela caminhava até a barraca de Inara e Jason. Ela segurou o zíper que abria o objeto para que pudessem entrar e sair e o puxou para cima. Quando já estava completamente aberto, Paula puxou um dos lados, revelando o vazio que estava lá dentro para os outros semideuses. Um lençol estava bagunçado, as mochilas deles estavam ali, mas nem sinal dos dois. Beatriz e Percy trocaram um olhar e Nico franziu o cenho.

Paula fechou o zíper rudemente. Ela estava com tanta raiva que poderia socar a primeira pessoa que visse. Como eles saíram sendo que deviam estar vigiando? E se algum monstro tivesse atacado? Deuses, quando ela os visse, arrancaria seus olhos a unhadas. Beatriz tentou ser racional, procurando alguma explicação para aquele sumiço. Entretanto, Paula não conseguia escutar nada, a raiva estava dominando seus pensamentos.

A filha de Poseidon já estava no limite da raiva quando escutou alguns passos, segundos depois Percy, Beatriz e Nico escutaram também. Os quatro levaram as mãos às suas armas, mas suspiraram aliviados quando Inara e Jason entraram em seu campo de visão. Eles estavam de mãos dadas, rindo de alguma coisa que o garoto falara. Paula franziu o cenho, a raiva borbulhando dentro dela. Ah, como ela queria esganar aqueles dois. Nico segurou o ombro dela, prendendo-a no lugar, não seria legal se ela atacasse os companheiros de missão. Tinham que poupar forças para os confrontos que estavam por vir.

— Onde diabos vocês estavam? — a voz de Paula fez o casal parar de rir para encará-la. Todos estavam encarando-os, esperando uma resposta.

— Por aí — disse Inara, percebendo a raiva da amiga. — Algum problema?

Paula cerrou os dentes, como ela podia perguntar aquilo como se eles, simplesmente, estivessem de férias e não correndo risco de morte? Era difícil Paula se irritar com Inara, mas agora queria pular em cima dela com a espada pronta para dar um golpe. Os dedos de Nico fizeram mais pressão no ombro da garota. Se ele estava tentando fazê-la relaxar, estava falhando consideravelmente. Paula estava com tanta raiva que começara ter pensamentos homicidas em relação aos companheiros de missão.

Beatriz segurou a mão de Percy antes que ele tentasse chegar perto de Inara e Paula, o garoto queria intervir, mas Beatriz sabia que, se ele tentasse, só pioraria ainda mais a situação. A filha de Zeus conhecia Paula muito bem para saber que, enquanto ela não colocasse para fora toda a raiva que estava sentindo, a situação não melhoraria em nada. Inara teria que ser paciente e conversar sem levantar a voz, se não isso poderia virar uma briga e ninguém queria isso. Percy olhou para Beatriz e ela balançou a cabeça, dizendo que era melhor ele ficar onde estava se não quisesse desandar tudo de vez.

— Ah, não, Inara, problema nenhum — Paula disse, deixando transpirar toda a ironia que conseguiu. — Nós estávamos correndo o risco de sermos atacados enquanto dormíamos e as pessoas que deviam estar montando guarda estavam se divertindo por aí. Qual é a porra do problema de vocês? Nós poderíamos estar mortos agora.

— Calma aí, Adams — Jason disse, trazendo Inara mais para perto em gesto protetor. — Nós não estávamos tão longe. Se algum monstro tivesse atacado, chegaríamos aqui antes que vocês percebessem.

Paula tirou a mão de Nico de seu ombro, caminhou para perto de Jason e ficou cara a cara com ele. Como o garoto era mais alto que ela, Paula teve que levantar um pouco a cabeça para encará-lo. Os olhos azul-esverdeado de Paula estavam semicerrados, as mãos dela estavam tremendo com a vontade que tinham de dar um soco na cara do filho de Júpiter. Ele encarou a garota de volta e Inara estava pronta para se intrometer caso acontecesse alguma coisa. A filha de Hades queria dar um tapa no rosto de Paula por ela estar estragando a sua felicidade com uma briguinha sem sentido. Já estava cansada daquela Paula tão temperamental. Por que ela simplesmente não calava a boca e voltava a fazer o que quer que estivesse fazendo?

— Você acha que isso aqui é diversão, Jason? — a voz de Paula estava baixa e ameaçadora. — Acha que estamos brincando de caça ao tesouro? Isso aqui é a porra da vida real e estamos correndo risco de morte — afastou-se de Jason e alternou o olhar entre o casal. — Mas se vocês acham que podem deixar suas obrigações de lado para ficarem se agarrando por aí, ótimo, podem voltar para o acampamento... Nós não precisamos de vocês.

Inara sentiu seu sangue ferver nas veias. Ela se soltou de Jason e, antes que Paula pudesse dar um passo para longe dali, Inara segurou o pulso dela, fazendo-a ficar parada no mesmo lugar. Os olhos da filha de Hades queimavam de raiva tanto quanto os de Paula.

— A profecia foi bem clara: dois filhos da morte, dois filhos dos céus e dois filhos do mar — ela recitou o primeiro verso da profecia. — Vocês precisam sim de mim e de Jason. E desculpa se estávamos tentando relaxar um pouco para não acabarmos ficando loucos com tudo o que está acontecendo, nós estávamos dando uma chance para o que sentimos. Coisa que você nunca conseguiu fazer, Paula! Porque é fria demais, porque é orgulhosa demais e porque não consegue admitir para si mesma que sua fraqueza pode ser outra pessoa!

Inara explodiu e, por um momento, ninguém falou nada, tudo o que se podia ouvir era o vento soprando. Paula cerrou os punhos, seu corpo inteiro tremia e ela não conseguia dizer nada. A filha de Poseidon avançou para cima de Inara, mas antes que pudesse alcança-la, Nico a puxou pela cintura bruscamente. Paula soltou-se dele e caminhou para longe dali, Beatriz soltou a mão de Percy e começou a segui-la, mas Nico a parou no meio do caminho.

— Deixe-a um pouco sozinha — disse. Beatriz não pôde fazer nada a não ser concordar e voltar para perto de Percy.

Inara passou as mãos pelos cabelos e Jason a envolveu em um abraço. Beatriz não sabia se estava mais surpresa com o ataque de fúria das amigas ou com o fato de Inara e Jason estarem namorando. Eles eram um casal meio improvável, mas a filha de Zeus não deixou de dar os parabéns pelo inicio do relacionamento. Era bom ver que alguém, ali naquele grupo, estava feliz.

O mais novo casal caminhou até sua barraca e começaram a arrumar as coisas. Beatriz e Percy voltaram para sua barraca e Nico estava parado, olhando para onde Paula tinha ido, certificando-se se ela não estava fazendo nenhuma loucura. Quando a filha de Poseidon se estressava podia ser um pouco imprevisível.

Beatriz tinha colocado a mochila nos ombros com a ajuda de Percy. O tornozelo do garoto parecia bem melhor depois de uma noite tranquila de sono. Ela nem tinha reparado no gesto dele, enquanto a ajudava a colocar a mochila, estava perdida demais em seus próprios pensamentos para prestar atenção nos gestos gentis de Percy. Ele tirou uma mecha de cabelo da frente do rosto da menina, mas ela não o olhou nos olhos. Aquelas grandes órbitas verdes transmitiam uma paz que Beatriz adorava. Ela se sentia instantaneamente calma apenas de ficar perto de Percy e isso, muitas vezes, podia ser desastroso.

A filha de Zeus sentiu-se instantaneamente mal por Annabeth. E se a filha de Atena sentisse a mesma coisa quando olhasse para Percy? Ela tinha o tirado de Annabeth mesmo que indiretamente. E isso não a fazia bem. Beatriz sabia como era ter algo tirado de si e a sensação não era nada boa. Ela não conseguia nem imaginar o quanto Annabeth pode ter sofrido, o quanto ela pode ter se sentindo traída e abandonada. Tudo tinha acontecido tão rápido e tinha tomado proporções imensas. Todas a vezes que beijava Percy acabava se colocando no lugar de Annabeth e sentia um aperto no peito. Deixei coisas inacabadas com Annabeth, foi o que Percy disse na noite anterior. Então, só podia significar uma coisa: ele ainda sentia algo pela loira e Beatriz estava atrapalhando o desenvolvimento daquilo. Percy acariciou o rosto da filha de Zeus, fazendo-a encará-lo. Os cantos da boca de Percy ergueram-se.

— Volte para mim — ele sussurrou, ainda acariciando o rosto da menina.

— Desculpe — ela tentou sorrir, mas falhou.

— Sem problema — ele beijou a testa dela e depois a encarou de novo. — Gosto da ruga que se forma entre suas sobrancelhas quando você está perdida em seus pensamentos.

Ele abriu um sorriso e Beatriz sentiu que seu coração se derretia dentro de seu peito. Ah, como ela queria poder beijá-lo sem nenhuma culpa. Talvez só conseguisse isso falando com Annabeth. Seus olhos brilharam, era uma ideia maravilhosa, mas que poderia nunca se concretizar.

[...]

Nico já tinha desistido de bancar a babá de Paula, ela parecia estar bem mesmo ainda estando com raiva. Ele tinha voltado até sua barraca para terminar de desmontá-la e pegar sua mochila. Beatriz e Percy tinham caminhado até a estrada, procurando alguma carona e Inara e Jason estavam desmontando sua barraca. O filho de Hades estava levando a mochila de Paula até ela, mas parou no meio do caminho. Algo tremeluziu na sua frente. Ele estava a uma distância considerável de Paula e bem próximo ao acampamento. Ele encarou fixamente o ponto tremeluzente.

O rosto de Hazel apareceu bem na frente de Nico. Era uma mensagem de íris. Ele franziu o cenho, se perguntando o porquê de Hazel querer falar com ele. Imaginou um milhão de coisas e nenhuma delas era boa. Talvez o acampamento estivesse sendo atacado, talvez alguém tivesse morrido, talvez alguém tivesse se rebelado... A lista era grande. Quando os olhos cor de âmbar da filha de Plutão fixaram-se em Nico, seu rosto ficou sério e ela não sorriu. O pânico de Nico apenas aumentou.

— Hazel? Aconteceu alguma coisa? — indagou Nico.

— Graças aos Deuses eu consegui entrar em contato com você — ela parecia um pouco aliviada. — Estou tentando falar contigo há dias, mas mandar mensagem de íris é horrível, ainda mais agora que a Deusa Íris está com problemas.

Nico sentiu um frio subir por sua espinha.

— O que aconteceu, Hazel? O acampamento foi atacado?

— Não, está tudo bem aqui e no acampamento Júpiter. Eu e Frank recebemos uma missão de Quíron, ele foi bem gentil conosco, temos que ir atrás de uma semideusa na América do Sul.

— Tem mais coisas que você não quer me contar — ele franziu o cenho.

— É, bem, hum... Não tenho apenas boas notícias.

— Fala logo, caramba! Você está me assustando.

— Certo — ela respirou fundo. — Annabeth, Isabel e Drew não estão mais no acampamento — Hazel esperou alguma reação vinda de Nico, mas o garoto não disse ou fez nada, então continuou. — Elas foram embora, Nico. Com Haden.

O quê? — Nico quase gritou. — Por quê? O que está acontecendo por aí, Hazel?

— Nico, as pessoas estão estranhas. A cada dia que passa um semideus vai embora do acampamento. Tanto do grego quanto do romano. Quíron e Reyna estão assustados, todos estão.

— Cacete! — Nico exclamou. — O que aquelas idiotas têm na cabeça? — ele encarou a meia-irmã, ela parecia um pouco abatida e até mesmo triste. E não era por causa das garotas. — Tem mais coisa, não é?

— É, tem — Nico estava escutando com atenção. — Quíron descobriu que foi você quem invocou aqueles cães infernais. Eu estou com medo das consequências, Nico, e você também deveria estar.

A mensagem de íris tremeluziu e desapareceu. Nico soltou a alça da mochila de Paula, deixando o objeto cair no chão. Seu coração estava acelerado e, pela primeira vez, ficou com medo de ser expulso do acampamento. Se isso acontecesse para onde ele iria? Nico não conseguia suportar a ideia de voltar a morar com Hades. Ele balançou a cabeça, ele não podia ser expulso de lá.

Um barulho fez Nico virar-se, Inara estava ali, com uma mão na boca e sem acreditar em nada do que tinha escutado. Nico sentiu vontade de bater a própria testa no chão até morrer. Como ele não percebera a meia-irmã chegar ali? Quanto será que ela tinha escutado? Nico fechou os olhos, pela expressão no rosto da garota, soube que ela tinha escutado tudo. Uma dor de cabeça tinha começado e Nico queria poder acordar percebendo que tudo não passara de um pesadelo. Por que ele tinha que ser tão idiota?

— Você é louco! — Inara exclamou. — Sabia que podia tê-la matado? Eu sabia que você era inconsequente, mas não tanto.

— Eu sabia das consequências — ele admitiu.

— E mesmo assim ainda fez? Puta merda, di Angelo, o que você tem na porra da cabeça?

— Eu estava cego de raiva, Inara, não pensei direito, caramba! Desculpa!

— Você não tem que pedir desculpas pra mim, Nico. Tem que pedir para ela!

— Você não está pensando em... — ele foi interrompido.

— Sim, e você vai dizer agora! Só me procura quando já tiver contado, entendeu?!

(N/A: Coloquem para tocar a música Always da banda Saliva, por favor)

Inara foi embora e Nico ficou ali, sozinho. Ele não imaginava que aquilo tomaria grandes proporções. Ela podia ter morrido, mas, caramba!, ela estava bem ali, viva. Não era isso que importava? Uma onda de náusea atingiu Nico, ele fechou os olhos novamente, tentando pensar em uma desculpa muito boa, pois sabia que Paula iria espanca-lo até a morte assim que soubesse.

Ele pegou a mochila de Paula novamente e voltou a caminhar. Quando os cabelos da menina ficaram à vista, o coração dele acelerou. Ele estava rezando para qualquer Deus que pudesse ouvi-lo para que Paula não ficasse com tanta raiva. Ele já estava cansado de tantas brigas entre eles dois. Porém, ele tinha que encarar as consequências de seus atos. Tinha que dizer a verdade a ela por mais que ela fosse querer mata-lo.

Paula estava em pé, olhando para o nada, com as mãos na cintura. Ela parecia bem mais calma, mas, como estava de costas para ele, Nico não podia garantir nada. O garoto deixou o mochila dela cair aos seus pés com um baque, Paula virou-se para encará-lo. Ela sorriu quase imperceptivelmente e Nico se odiou ainda mais naquele momento. Ela pegou a mochila e a segurou com as duas mãos. Nico queria se aproximar e beijá-la, mas não fez nada disso. Nada mudaria o que ele estava prestes a dizer.

— Obrigada por ter trazido — ela disse.

— Precisamos conversar — o tom de voz de Nico era sério e Paula franziu o cenho, sem entender o motivo da conversa.

— Sobre o que?

— Sobre aquele dia em que três cães infernais te atacaram.

— Quê que tem? — ela parecia um pouco nervosa.

Nico respirou fundo, ele não podia mentir, tinha que falar logo antes que perdesse a coragem.

— Fui eu quem convocou os cães para te atacarem.

Um minuto de silêncio. Paula não falou nada, apenas ficou encarando Nico. O garoto queria que ela esboçasse alguma reação, gritasse, voasse em cima dele, qualquer coisa, mas ela estava mortalmente calada. Ele queria poder ler os pensamentos dela, queria saber exatamente o que ela estava pensando. O tempo pareceu parar depois que Nico admitiu que tinha sido ele quem convocara os cães infernais e Paula parecia congelada. Ah, como ele queria uma bebida, bem ali, naquele momento. Se pudesse voltar no tempo, teria feito tudo diferente, não teria feito nada do que fez e teria se poupado esse momento. Paula piscou e mexeu a boca, Nico retesou a coluna, ela iria dizer algo.

— Por que está me dizendo isso só agora? — perguntou. — Quíron descobriu que foi você e você não teve alternativa a não ser contar? — Nico não respondeu. — Responde, caramba!

— Desculpa.

Desculpa? É só isso que você tem para me dizer? — ela estava se aproximando. — Eu podia ter me machucado, podia ter morrido, Nico! E você só pede desculpas?

— Eu estava com raiva, Paula. Tenta entender meu lado também, você me deixa louco vinte e quatro horas por dia.

— Você me estressa todo dia, mas eu não fico invocando monstros para te matarem. Que merda você tem na cabeça? Seu doente!

— Eu não estava pensando direito. Estava com alguns problemas, você desperta em mim muitas lembranças, garota. E isso me deixa louco! Eu não sabia o que fazer, porra!

O tapa de Paula fez a bochecha de Nico arder. Os olhos dela estavam úmidos e suas mãos tinham voltado a tremer. Ela estava ofegante, como se tivesse corrido uma maratona, e o rosto estava vermelho. Nico sabia que ela estava prestes a chorar e odiou-se por isso. Ele tentou tocá-la, mas Paula se afastou. O filho de Hades sabia que só o tempo poderia resolver as coisas.

— Não me culpe por seus problemas — ela deu as costas para ele, pegou sua mochila, mas antes que fosse embora dali, disse: — Só fingi que eu não existo, tá bom? Eu estou com tanta raiva que poderia te matar agora mesmo! Você foi a porra do meu maior errado, di Angelo e eu te odeio tanto por isso!

E ela foi embora. E Nico ficou ali, sentindo-se um completo idiota, com uma dor bem conhecida no fundo do peito. Paula não tinha a noção de que as palavras dela podiam machucar mais que uma faca, mas Nico sabia disso agora. E estava doendo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem, por favor.