All About Us escrita por The Huntress


Capítulo 47
Os problemas aumentam.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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63

(P.O.V de ninguém)

Nico voltou para o acampamento e ninguém falara nada, já estavam sabendo da briga, Inara contara sobre o que Nico tinha feito, mas não disse nada sobre Annabeth, Drew e Isabel, e ninguém ousou falar alguma coisa. E o que poderiam falar? Aquela briga era entre Paula e Nico, ninguém tinha que se meter. O clima estava tenso, Beatriz e Percy não tinham conseguido achar nenhuma carona e os seis já estavam naquele lugar mais tempo que o necessário. Tinham que começar a se locomoverem, pois deveriam manter os monstros o mais longe possível.

Jason e Inara já tinham terminado de arrumar as coisas e já estavam prontos para partir. Paula e Nico tentavam manter distância um do outro o máximo que conseguiam. Beatriz e Percy estavam inquietos, apressados para saírem dali o mais rápido possível. Eles se juntaram perto da estrada, teriam que seguir à pé até acharem algo com rodas. Beatriz diminuiu o passo e ficou ao lado de Jason e Inara. A filha de Zeus pediu o mapa a Inara e o segurou aberto. Ela olhou para Jason, incentivando-o a ajudá-la.

Beatriz estava tremendo um pouco quando começou a colocar seu dedo junto ao de Jason no mapa. Ela não sabia se era a vez deles, mas sentia que era o certo. Os dedos se juntaram no próximo lugar para onde iriam e letras começaram a surgir. Os dois estavam encarando atentamente, esperando que as palavras se formassem completamente. Quando estavam visíveis, eles leram. Os outros semideuses pararam, encarando-os.

— άτλας βουνά — sussurrou Beatriz.

— Marrakech, Morocco — completou Jasom, em latim.

Os semideuses estavam trocando olhares, mas Beatriz e Jason estavam apenas encarando um ao outro. Sabiam exatamente o que estavam indo buscar e a ideia pareceu absurda. Eles estavam quase tendo um ataque de pânico. O filho de Júpiter segurou a mão de Beatriz e entregou o mapa a Inara. A filha de Zeus parecia perturbada, estava tremendo mais do que nunca. Jason a abraçou por um momento, mas Percy a puxou gentilmente para o seu lado, perguntando a ela o que estava escrito.

— Nós vamos para Marrakech, no Marrocos — disse Jason, colocando uma mão na cintura de Inara e puxando-a para perto.

— V-vamos para a Montanha Atlas — gaguejou Beatriz.

Pela primeira vez Paula e Nico trocaram um olhar e pareceram entender o que o outro estava sentindo: nervosismo.

— Nós estamos indo atrás do Raio Mestre. O símbolo de Zeus — disse Beatriz, olhando diretamente para Jason.

[...]

Os semideuses foram surpreendidos por um barulho muito alto. Eles rapidamente se separaram e empunharam suas espadas. Ali, na frente deles, estava um ciclope. E não parecia estar ali para brincadeira.

Os semideuses já estavam mais do que acostumados com ataques surpresas, já tinham se divido em duplas. Sempre fora mais fácil lutar assim. O gigante os encarou lá de cima, sua cabeça enorme inclinando-se para baixo no intuíto de conseguir enxergá-los. Uma risada alta irrompeu do monstro.

— Vocês, semideuses, são patéticos! Acham que podem derrotar a mim com essas espadinhas? Sou um ciclope!

— Nós já enfrentamos monstros muito mais perigosos que você! — rebateu Nico.

O monstro encarou aquilo como uma das piores ofensas que já tinha escutado. Gostando ou não, o ciclope tinha um ego e Nico acabara de feri-lo. O gigante rosnou e atacou. Ele poderia ter acertado Inara com um golpe se Jason não a tivesse empurrado para o lado, sendo atingido no lugar dela. A filha de Hades soltou um grito estrangulado quando viu Jason caído há alguns metros dali, ela cerrou os dentes e cravou a espada no pé do gigante, o que o fez ficar ainda mais irritado. Inara estava fervendo de raiva e morrendo de preocupação.

Beatriz e Paula já tinham bolado um plano. A filha de Zeus alçou voou e começou a distrair o gigante, atacando seu rosto com golpes rápidos e precisos. Ele tentava acertá-la, mas Beatrice era ágil e conseguia voar para longe antes de ser atingida. Paula estava embaixo junto de Nico e Percy, atacando-o. Se continuassem assim, seria fácil derrotá-lo.

Mas algo atrapalhou tudo.

Um carro estava passando por ali. Dentro dele tinha um homem, uma mulher e uma criança. Quando passou perto do confronto, o motorista nem teve tempo de assimilar o que estava acontecendo, pois o carro foi severamente atingido e capotou diversas vezes até parar. Foi a primeira vez que Beatriz tirou a atenção do gigante e viu o que tinha acontecido. Viu o irmão desacordado e o carro de cabeça para baixo.

— JASON! — gritou, mas Inara já estava correndo até lá.

Beatriz estava descendo quando Percy foi erguido pelo monstro. Ela estava atônita encarando a cena enquanto Percy tentava se soltar, desferindo golpes com Contracorrente na mão do ciclope, mas a espada escorregou da mão do garoto e caiu. Ele praguejou diversas vezes em grego antigo. A filha de Zeus olhou uma última vez para Jason e Inara já estava lá, tinha tirado o filho de Júpiter do meio da estrada e tentava tirar a família de dentro do carro antes que o mesmo explodisse.

Ela voltou sua atenção para o monstro que estava à sua frente. Saber que Percy poderia ser engolido e digerido em questão de segundos fez uma dose extra de adrenalina percorrer pelo corpo da garota, fazendo seu corpo inteiro tremer de raiva.

— Comida — o monstro disse, olhando para Percy.

— Pode esquecer! — Beatriz gritou. — Ele vai dar indigestão, seu babaca fedorento!

Os olhos de Beatriz estavam transbordando de raiva. Seus rosto estava corado e os cabelos estavam grudados nas bochechas por causa do suor, mas ela não recuou, muito pelo contrário, foi na direção de Percy. Com uma movimento rápido e ágil, ela cravou sua espada no único olho do ciclope e o monstro soltou Percy. Beatriz arregalou os olhos.

Paula aproveitou o momento de distração do monstro e fez um corte na perna do ciclope, fazendo-o cair de joelhos no chão. Ela levantou os braços e a estrada começou a tremer. A garota estava provocando um terremoto. O monstro desequilibrou-se e caiu de peito para baixo. Paula abaixou os braços, e mesmo atordoada por ter feito tanto esforço, correu, junto de Nico, até o gigante. Eles pareciam formigas perto de um elefante. A espada dos semideuses desceram sem piedade alguma bem na cabeça do ciclope, transformando-o em pó. Os dois se encaram, mas Paula desviou rapidamente o olhar, ela não conseguia nem ficar perto dele depois do que soube, estava com tanta raiva que poderia matá-lo ali mesmo, então ela correu para pegar a espada de Beatriz que estava caída no meio da rua. Nico suspirou, sabia que não seria fácil obter a confiança de Paula de novo.

— Você foi incrível — Nico disse, chamando a atenção de Paula quando ela voltou. Ela o encarou.

— É, tanto faz. Não queria impressionar você.

Antes que Percy chegasse ao chão e quebrasse todos os ossos que tinha no corpo, Beatriz o alcançou, porém eles estavam a mais de cinco metros de altura e Percy tornara-se pesado demais por causa da velocidade em que estava caindo, ele quase levou Beatriz junto quando ela o pegou.

— Você nunca ouviu falar de dieta? — disse Beatriz, enquanto tentava, inutilmente, puxá-lo para cima. Percy olhou feio para ela.

Talvez Beatriz não se quebrasse tanto quando chegasse ao chão, já que era filha de Zeus poderia fazer um bom pouso, mas Percy sabia que com ele seria diferente, ele iria morrer. E então Beatriz fez uma coisa que deixou Percy completamente surpreso. Ela parou de tentar manter o controle da queda e trocou de lugar com Percy, de modo que ela ficou por baixo. Ela colocou suas mãos ao redor do pescoço dele e juntou seus corpos.

— O que você está fazendo? — Percy perguntou.

— Quando chegarmos ao chão, eu vou amortecer sua queda — respondeu, como se fosse a coisa mais simples do mundo.

— Nós estamos caindo de mais de cinco metros de altura. Você vai morrer! — Percy disse.

Beatriz não disse nada, apenas escondeu o rosto na curva do pescoço de Percy e fechou os olhos. Eles aumentavam de velocidade conforme se aproximavam do chão e Percy não estava gostando nada daquilo. Ele tentou mudar de posição, mas a garota estava usando seu poder de voar ao contrário. Ela estava os puxando para baixo. Percy não conseguiu mudar de posição por causa da pressão. Como ela estava fazendo aquilo, ele não tinha ideia.

— Que droga! — Percy praguejou.

Porém, antes que chegassem ao chão e tivessem a “queda do ano”, alguém segurou Percy pela cintura, puxando-o para cima. Eles diminuíram de velocidade e Beatriz abriu os olhos. Ela reconheceu Jason e sorriu para ele. O filho de Júpiter ajudou Beatriz a deixar Percy no chão são e salvo. Ela abraçou o irmão assim que seus pés tocaram a estrada.

— Pensei que tivesse se machucado — ela disse.

— Consegui amortecer minha queda o bastante para não quebrar alguns ossos, mas não conseguia evitar o desmaio. Inara quer me matar por ter ajudado nas condições em que eu estou, mas era algo que eu tinha que fazer.

— Obrigada.

Ela soltou Jason, e Percy a puxou para perto de si. Ele parecia louco de raiva. Beatriz o encarou sem entender o motivo daquilo.

— Você ficou maluca? — ele praticamente rosnou as palavras. — Estava querendo se matar?

— Eu estava salvando você, Jackson! Mereço, pelo menos, um obrigada, não acha? — ela se soltou da mão dele bruscamente.

— Não vou agradecer por você ter tentando se suicidar! — ele quase gritou.

Beatriz bufou e pegou sua espada com Paula, agradecendo a amiga por ter trazido. Jason desculpou-se com Inara, e a menina não pareceu mais tão aborrecida. Os dois caminharam, de mãos dadas, até a família que sofrera o acidente, eles estavam acordando e pareciam mais confusos do que nunca.

Nico respirou fundo, tentado tomar uma decisão. O que Hazel lhe disse sobre Annabeth não estar mais no acampamento não saia de sua cabeça. Ele tinha que contar a Percy, mas não sabia como. Mas ele tinha que fazer isso antes que o filho de Poseidon soubesse de uma forma pior.

Nico tocou o ombro de Percy, fazendo-o virar-se para ele. A expressão do filho de Poseidon se suavizou quando viu Nico, ele não descontaria sua raiva em que não merecia. Nico respirou fundo, tentando encontrar as palavras certas, mas nada vinha em sua mente.

— O que foi, Nico? — ele perguntou.

— Preciso te falar uma coisa — Nico respondeu. — É bem sério.

— O que é? — Percy franziu o cenho. Beatriz estava se aproximando deles, estava perto o bastante para ouvir a conversa.

— Bem, você sabe que a Hazel me mandou mensagem de íris... — Nico engoliu em seco. Percy assentiu. — E ela me contou uma coisa que...

— Quê que foi, di Angelo? — a voz de Percy subiu uma oitava.

— Annabeth não está mais no acampamento — Nico disse, sem mais rodeios.

O cérebro de Percy não conseguiu assimilar a notícia. As palavras do filho de Hades foram como um soco e Percy não sabia como reagir. Ele trincou o maxilar e agarrou a gola da camisa de Nico.

— Como assim ela não está mais no acampamento? O que aconteceu, di Angelo? O que aconteceu com Annabeth? Pelo amor dos Deuses, responde ou eu quebro sua cara bem aqui!

Nico empurrou Percy com um soco. O garoto deu um passo para trás e Beatriz colocou-se entre os dois, tentando impedir uma briga que parecia iminente.

— Eu não sei o que aconteceu, Jackson, mas Hazel me disse que ela foi embora com Haden, satisfeito? É só o que eu sei.

Nico bufou e saiu dali pisando duro. Beatriz virou-se para Percy, ela parecia tão chocada quanto ele, mas não disse nada, nem conseguia imaginar o motivo que levara Annabeth a se juntar a Haden. Ela colocou uma mão no ombro de Percy, escorregando-a para sua nuca, mas o filho de Poseidon a tirou dali de uma forma agressiva. Beatriz sobressaltou-se com o gesto, deixando o braço pender ao lado de seu corpo. Percy estava com os olhos vidrados, os punhos cerrados e uma expressão nada boa no rosto.

— Percy, eu sei o que você está sentindo... — ela disse, mas foi rudemente interrompida.

— Sabe porra nenhuma! — ele a encarou pela primeira vez. — Seu namorado era um puta de um idiota e você era ingênua demais para reconhecer isso! Mas eu conhecia Annabeth bem demais e sei exatamente porque ela foi embora com aquele filho da puta.

— Ótimo, então me fala — ela cruzou os braços.

— Foi por causa disso aqui — ele fez um gesto indicando eles dois. — Foi por causa da gente. Você tinha razão, Beatriz, nós somos um erro. Foi uma pena termos demorado tanto para perceber.

Beatriz limpou as lágrimas que caíram de seus olhos com as costas das mãos. Ela respirou fundo, ainda encarando o filho de Poseidon.

— Só estou tentando te ajudar — ela sussurrou.

— Não quero que me ajude, Beatriz! Na verdade, não quero que você faça nada!

— Sinto muito, Percy.

— Não sinta.

Os olhos de Beatriz estavam quase transbordando em lágrimas. Ela mordeu o lábio inferior e deu as costas para o filho de Poseidon, escondeu o rosto com as mãos e sentiu um braço passando por seus ombros, puxando-a para perto. Ela reconheceu Paula.

— Você está sendo um babaca, Perseu. Aquela filha de Atena não merece nem um terço disso. Se merecesse, não teria ido embora — disse Paula.

Ela caminhou junto de Beatriz até Inara, Nico e Jason, deixando Percy ali com os próprios pensamentos. Fazendo-o perceber, um pouco tarde demais, que Beatriz era a última pessoa que deveria ser o alvo de sua raiva. Entretanto, ele já tinha falado o que não devia e acabou magoando demais a filha de Zeus.

[...]

O casal e a criança estavam bem, tinham alguns ferimentos superficiais, mas nada tão grave. Inara tinha conseguido livrá-los do pior, e eles estavam agradecidos por isso, mesmo estando confusos em relação a causa do acidente. Os ânimos estavam péssimos ali e quando o casal se ofereceu para fazer algo para agradecer Inara, uma centelha de animação surgiu. A filha de Hades foi esperta, inventou uma história e perguntou se eles teriam um carro. O casal, sem hesitar, disse que sim.

Os seis seguiram à pé até a casa da família. Os únicos que estavam conversando eram Inara e Jason, os outros quatro mal olhavam um na cara do outro. Ao longo caminho, o casal foi falando que eles eram americanos, mas que resolveram morar na Turquia depois que o filho deles nasceu. Ninguém estava dando atenção para o que eles diziam, mas não queriam ser rudes dizendo que nada daquilo importava e que eles só queriam um carro e ponto final.

A casa deles não era muito longe dali, quando chegaram lá o casal entregou a chave de um dos carros e eles agradeceram. O casal ofereceu comida, os semideuses aceitaram, mas iriam comer na viajem, pois não se dariam o luxo de parar para comprar alguma coisa. Paula sentou no banco do motorista, mas Percy segurou um de seus braços, fazendo-a virar-se para ele.

— Não acho uma boa ideia você dirigir — ele disse.

Paula puxou seu braço bruscamente e colocou a chave na ignição.

— Não me importo com o que você acha, Jackson. Você acabou de ser um completo otário com uma das minhas melhores amigas e, o mínimo que eu devia fazer, era quebrar sua cara, mas estou com tanta pressa que vou deixar para fazer isso depois. Agora, entra no carro e cala a merda da sua boca!

Percy não disse nada apenas se afastou e entrou no carro. Beatriz sentou no banco do carona e o resto dos semideuses acomodaram-se no banco de trás. Paula deu a ré e pisou fundo no acelerador, ganhando as ruas de Hierápolis.

O casal tinha os ajudado a fazer um mapa do caminho que iam tomar até chegarem em Marrakech. Ao que parecia, aquela família já tinha rodado o mundo inteiro. Primeiro teriam que ir de carro até o porto de Guluk, ainda na Turquia, depois pegariam um barco até o porto de Casablanca, no Marrocos, e de lá seguiram de carro até Marrakech. Seriam quatro horas de viagem até Guluk e um dia de barco até Casablanca. E estavam rezando para que não fossem atacados em todo o percurso — o que foi em vão.

[...]

O silêncio no carro estava tão grande que o barulho das rodas dos pneus em contato com o asfalto podia ser escutado. Ninguém, além de Inara e Jason, tinham o que falar. Percy estava concentrado em qualquer coisa que não fosse Beatriz no banco do carona. Nico estava entretido observando um inseto que caminhava pela janela. Beatriz e Paula estavam prestando mais atenção na estrada no que nos próprios pensamentos. Ninguém sabia o que dizer, não depois de todas as brigas que ocorreram. Talvez a missão, as viagens e a pressão os tivessem deixando um pouco esgotados demais e o resultado eram as discussões frequentes. Os seis só queriam voltar para casa, colocar a cabeça no travesseiro e dormir por um mês.

Inara e Jason se entreolharam, eles sabiam que os desentendimentos não ajudariam em nada enquanto tivessem que trabalhar em equipe. O casal sabia que a raiva que os amigos estavam sentindo não os deixariam pensar direito quando se tratasse de trabalharem juntos e isso só atrapalharia o andamento das coisas.

— Galera? — Inara quebrou o silêncio, hesitantemente. Percy e Nico viraram os rosto para encará-la, Beatriz virou um pouco a cabeça para trás e Paula olhou para a amiga pelo retrovisor do carro. — Eu sei que os ânimos não estão dos melhores por aqui... — Paula bufou, voltando a prestar atenção da estrada. Inara prosseguiu. — Sei que todos estamos cansados e estressados, mas, por Hades!, somos uma equipe, não é mesmo?! Temos que trabalhar juntos se não quisermos morrer — ela fez contato visual com todos, menos com Paula, pois a garota não estava olhando para ela. — Se vocês estão com raiva um do outro, tudo bem, mas, por favor, pelo menos finjam que se aturam, pois se vocês continuarem assim vão estragar tudo.

Ninguém falou nada por um tempo. Inara olhou furtivamente para Jason e o garoto deu de ombros. Para a surpresa de todos, Paula pisou no freio e o carro parou bruscamente lançando todo mundo para frente. A filha de Poseidon olhou para trás e fez contato visual com todos, até com Nico.

— Eu estou morrendo de raiva — disse, como se fosse uma novidade. — Caramba, eu estou com tanta raiva que seria capaz de chegar em Zeus e dar um soco bem no meio da cara dele, mas não vou fazer isso porque a) ele pode me pulverizar em questão de milésimos e b) eu estou um pouco ocupada indo atrás da porcaria do raio dele. Então, Inara, fica tranquila, pois, se depender de mim, eu não levar ninguém para a morte. Acho que ninguém aqui vai fazer isso, não mesmo? — ela voltou a fazer contato visual com todos. — Agora, se todo mundo puder ficar calado durante o resto da viagem, eu agradeço.

Dito isso, ela voltou a dirigir. Beatriz ainda estava com a cabeça um pouco inclinada para trás e os olhos de Percy cravaram-se nos dela. O garoto mordeu imperceptivelmente o lábio inferior quando viu a tristeza que os olhos azuis de Beatriz deixavam transparecer e ela nem tentava esconder. Talvez estivesse cansada demais de tentar se forte o tempo inteiro ou simplesmente fosse tudo culpa dele por ter descontado sua raiva nela como se ela tivesse obrigado Annabeth a ir embora do acampamento. Ele se lembrou do dia em que Beatriz chegara ao acampamento, tão linda e com tantos segredos escondidos. Percy se odiou por ter dito aquelas coisas para ela, onde estava com a cabeça? Annabeth foi embora porque quis, porque escolheu assim. Ele passou uma mão pelos cabelos, bagunçando-os ainda mais. Ele tinha que pensar em jeito de pedir perdão.

[...]

Os semideuses já estavam há três horas e meia dentro do carro, Paula só tinha parado para eles fazerem suas necessidades básicas como ir ao banheiro, por exemplo. Paula dirigia no limite da velocidade... De uma pista de corrida. Assim chegariam duas horas antes ao destino. Nesse tempo, ignorando o “pedido” de Paula para que eles ficassem calados, Nico falou pelos cotovelos. O garoto podia culpar a hiperatividade, mas o fato era que ele estava morrendo de tédio e ainda tinha o ar condicionado que, em algum momento, tinha parado de fazer seu trabalho, deixando os semideuses morrendo de calor. Agora eles estavam com as janelas abertas, sentindo o vento quente da Turquia envolvê-los.

Nenhum monstro tinha atacado, e isso não deixou ninguém tranquilo. Parecia a calmaria que antecede a tempestade. Algo estava para acontecer e um sentimento ruim tomava conta dos semideuses.

Beatriz estava com os pés no painel do carro, ela movia os dedos e entre eles circulava uma nuvem minúscula, parecia que ela tinha tirado um pedaço de uma nuvem do céu para brincar. Era bonito de se ver aquele negócio branco passando pelos dedos da filha de Zeus, e Percy estava observando aquilo. A cabeça do filho de Poseidon estava apoiada na porta do carro enquanto ele observava Beatriz. Queria tanto poder falar com ela...

— Isso é bem legal, Beatriz — disse ele, quebrando o silêncio.

Todos os olhares se voltaram para a garota e ela corou, não porque todos estavam encarando-a, mas porque Percy tinha reparado no que ela fez. Um sorriso minúsculo ergueu o canto da boca de Beatriz.

— Obrigada — disse, simplesmente.

Um barulho de gaivotas chamou a atenção de todos. Eles olharam para cima e viram vários pássaros brancos voando. Só podia significar uma coisa: eles tinham chegado ao porto de Guluk. Beatriz tirou os pés do painel e fechou as mãos, a nuvem sumiu assim como a calma dos semideuses. Paula manobrou o carro até uma vaga e todos saíram. As inseparáveis mochilas já estavam em suas costas e as armas já estavam em lugares acessíveis. Tinham que estar preparados para tudo.

Eles caminharam pela calçada, várias pessoas passavam por eles, mas pareciam nem enxergá-los, o que era bom, pois não saberiam explicar o que seis adolescentes americanos estavam fazendo em Guluk, na Turquia. Acabariam indo presos, acusados de entrarem clandestinamente no país. O que não deixava de ser verdade.

Sorrateiramente eles entraram em um cais. Vários barcos, de tamanhos e cores diferentes, estavam parados ali. Alguns homens subiam e desciam de alguns, mas a maioria estavam vazia. Bem, eles tinham que arranjar um barco e ali tinham vários... O que os impediria? Eles correram até o barcos que parecia em melhores condições. Ele era todo branco e na lateral tinha algo escrito que ninguém conseguiu entender. Paula revirou os olhos.

Eles estavam quase jogando as mochilas para dentro do barco quando foram parados. Um homem vinha correndo na direção deles. Ele usava uma blusa com estampas havaianas, short e chinelos. Ele gritava em uma língua que os semideuses não conseguiam entender. Paula percebeu que, preso ao short do homem, estava a chave que ligava o barco. Os seis fizeram cara de paisagem enquanto o homem se aproximava.

— Sen! Olduğun yerde kal!

Os semideuses se entreolharam, o que quer que o homem estivesse falando não fazia sentido nenhum para eles.

— Ben polise götürecek! Suçlular!

O homem estava bem próximo agora, Paula tirou a mochila das costas e caminhou até ele. Ela só queria resolver aquilo logo, pegar a chave e ir embora dali. O homem estava falando descontroladamente, chamando atenção de outras pessoas que estavam por ali. O cara jogou um jornal aos pés da filha de Poseidon e ela o pegou. A garota não entendeu uma vírgula do que estava escrito, mas viu uma foto. Paula reconheceu a si mesma e os outros cinco na foto, eles estavam correndo na pista do aeroporto de Las Vegas, feito loucos. Seus rostos não estavam nítidos na foto, mas quem convivesse com eles conseguiria reconhecê-los. Paula sentiu vontade de rir ao imaginar a expressão de Quíron ao ver aquilo. Bem, eles estavam sendo procurados pela polícia. Que ótimo!

Uma sirene de carro de polícia pôde ser ouvida ao longe e Paula sobressaltou-se. Ela olhou para o homem na sua frente e não hesitou em acertar um soco bem no seu rosto, a mão dela doeu um pouco, mas foi o suficiente para o homem cair desacordado no chão. Ela pegou a chave e os seis subiram no barco. Paula correu diretamente para a cabine do comandante e tentou dar a partida, Percy chegou logo atrás. A polícia já estava perto do barco, gritando ordens que os semideuses não conseguiam entender, mas imaginavam o que poderiam ser. Os polícias começaram a atirar e as balas acerteram a proa do barco, os quatro semideuses que estavam ali abaixaram-se. Jason arrastou-se até a ponta do barco e o dessamarrou da beira do cais.

— Andem logo, vocês dois! — Nico gritou para Paula e Percy.

Dentro da cabine do comandante, Paula engatou a marcha e apertou em alguns botões. Percy apenas a encarava.

— Você sabe o que está fazendo? — ele perguntou.

— Óbvio que não. No manual de como ser uma filha de Poseidon, não vinha instruções de como pilotar um barco!

Com a ajuda de Percy, Paula conseguiu fazer o barco se mover para longe do porto. Eles trocaram um soquinho enquanto se afastavam cada vez mais. Paula se jogou em uma cadeira reclinável que tinha ali e Percy sentou-se ao seu lado. Do lado de fora, os outros semideuses estavam arrumando algumas coisas e explorando a embarcação. Paula tinha colocado o destino deles em um GPS que tinha ali e o barco ficou em piloto automático. Ela estava quase dormindo na cadeira quando Percy resolveu conversar, a garota conteu o impulso de jogar ele no mar, afinal ele não ia morrer afogado de qualquer maneira.

— Eu sou um idiota — disse.

— É mesmo? Nem tinha percebido — ela se mexeu na cadeira, procurando uma posição confortável. Percy olhou feio para ela. — Aposto que Beatriz pensa o mesmo. Quem não pensaria, não é mesmo? Você é o idiota, com ênfase no o. Só perde para o Nico.

— Você é uma pessoa péssima — Percy fechou a cara, fazendo bico e cruzando os braços.

— Eu sei. Nem consigo dormir à noite — Paula piscou para ele.

— Eu não sabia o que pensar depois que Nico me disse aquilo sobre Annabeth. Acho que eu fiquei com tanta raiva por ela ter ido embora justamente com Haden que nem imaginei que poderia machucar Beatriz com minhas palavras. Será que eu só faço merda? — ele encarou a meia-irmã.

— Por que tá se confessando comigo? — ela franziu o cenho. — Não sou padre.

— Será que dá para você ser legal por cinco minutos? — ele lançou um olhar ferino para ela. Paula deu de ombros.

— O que você quer que eu diga, Perseu? — os olhos de Paula estavam cravado nos de Percy. — Ela está magoada, a culpa é sua. Fim da história. Agora, se me der licença, quero dormir um pouco.

— Eu queria fazer alguma coisa para melhorar a situação — disse, pensativo. — Reconheço que fui um otário. O que eu faço, Paula?

— Cara, eu posso ser tudo, mas não me faça bancar a conselheira amorosa — ela o olhou de cara feia. — Então, vai perturbar outra pessoa.

— Você é uma irmã horrível — ele disse, levantando e caminhando até a porta. Paula sorriu.

— Também gosto de você, Perseu.

Percy revirou os olhos e saiu. Paula fechou os olhos e, em minutos, seu peito subia e descia com a respiração lenta. Ela tinha dormido. Do lado de fora da cabine, os outros semideuses também procuravam algum lugar em que pudessem descansar. Nico e Inara estavam sofrendo com enjoou. De cinco em cinco minutos, eles corriam para o banheiro mais próximo. Tudo estava calmo demais, e isso nunca era um bom sinal.

64

(P.O.V de ninguém)

Beatriz já tinha conseguido tomar um banho e agora estava na proa do barco, encostada nas barras de segurança, alternando o olhar entre o céu e o mar. O noite já tinha caído, e o céu estava tão estrelado que parecia um lençol de estrelas e o mar estava calmo, a água batia nas laterais do barco provocando um barulho relaxante. Os outros semideuses ou estavam dormindo ou estavam fazendo algo mais interessante. A filha de Zeus estava pensando em tanta coisa que ficava difícil organizar seus pensamentos. Pensou em sua mãe, em Haden, em sua antiga vida, em sua nova vida, no que tinham pela frente, no que as Parcas deveriam estar reservando para o futuro deles, e, finalmente, ela pensou em Percy. Ela fechou os olhos e respirou fundo, sentindo o cheiro do mar entrar em sua narinas, ela queria tanto que aquela briga não tivesse acontecido.

Beatriz abraçou a si mesma, tentando se aquecer do vento frio que começara a soprar. Depois de tantos anos sentindo algo apenas por Haden, era difícil para ela admitir que estava gostando de Percy bem mais do que um simples amigo. Ela queria poder entrar no quarto dele nesse exato momento e beijá-lo, tentando demonstrar tudo o que estava sentindo. Quando deu por si estava sorrindo como uma idiota. Ela balançou a cabeça, tentando afastar esses pensamentos. Eram idiotas demais. Até parece que Percy Jackson conseguiria sentir alguma coisa por uma menina como ela, que vivia presa ao passado. Beatriz suspirou, quando ela ia dar-se a chance de seguir em frente?

Ela sentiu alguém abraçando-a por trás, o cheiro familiar de Percy fez Beatriz relaxar um pouco. Ele encostou a cabeça no pescoço dela e respirou fundo. Ela sentiu seu corpo inteiro se retesar quando Percy colocou os cabelos dela para o outro lado e depositou um beijo em seu pescoço. Ele demorou mais do que o necessário ali e quando afastou os lábios, Beatriz sentiu a pele sensível de seu pescoço formigar. Ele passou os lábios levemente por ali e uma mão dele foi parar dentro da camisa dela, causando arrepios no abdômen da garota. Beatriz teve que segurar as barras de segurança do barco com força para manter o equilíbrio.

— Me desculpa — ele sussurrou no ouvido dela.

Beatriz virou-se de frente para ele e tocou o rosto do garoto com uma mão. Os dedos dela percorreram a bochecha dele até chegar nos lábios, Percy fechou os olhos, completamente entregue ao toque daquela menina. Ela se aproximou mais e acabou com a distância que os separavam, selando seus lábios nos dele. Beatriz abriu a boca, deixando a língua de Percy acariciar a dela com gentileza. As mãos dele estavam nas costas dela, puxando-a para mais perto, e as dela estavam na nuca dele, acariciando seus cabelos.

Em algum momento do beijo, as coisas foram mais adiante. Uma mão de Percy já estava na bunda da garota, coberta pela calça jeans, e ela desliza a mão esquerda pelo abdômen dele indo até o cós de seu jeans. Ele quebraram o beijo para tornar um pouco de fôlego e quando perceberam onde suas mãos estavam sorriram um para o outro. Beatriz jogou a cabeça para trás, ainda rindo, e Percy começou a beijar seu pescoço. Ela voltou a beijá-lo, dessa vez com mais vontade, e levou suas duas mãos para dentro da blusa dele, acariciando o abdômen definido do garoto e levantando a blusa dele até tirá-la. Percy nem parecia sentir frio. Ele segurou a bunda da menina com as duas mãos, enquanto ela arranhava as costas dele levemente com as pontas das unhas. Percy já estava quase carregando-a no colo e levando-a para seu quarto quando escutaram alguém pigarreando.

Ainda rindo maliciosamente um para o outro como se tivessem compartilhado um segredo sujo, ele se separaram e Beatriz pegou a blusa dele do chão. Ali, de pé, estava Paula com uma sobrancelha erguida e as mãos na cintura. Ela encarava os dois como se fosse uma mãe que tivesse pegado seu filho fazendo travessura. Ela não sabia se estava mais chocada com o fato de Beatriz estar fazendo aquilo ou com o fato deles estarem fazendo aquilo do lado de fora do barco.

— Por Poseidon! Arrumem um quarto! — ela disse. Percy e Beatriz se olharam e riram.

— Nós só estávamos fazendo as pazes — ele disse, como se só estivessem conversando.

— Ah, claro — Paula olhou com tédio para eles. — Estavam fazendo as pazes e um filho também. Sejam mais discretos da próxima vez!

— Não atrapalhe da próxima vez! — Percy puxou Beatriz pela mão e eles saíram dali.

Paula balançou a cabeça.

— Eu hein. Tarados.

[...]

Ela não escutou nenhum gemido vindo lá de dentro, então imaginou que Beatriz e Percy decidiram dormir e não fazer coisas pornográficas. Deu de ombros, não importava. Paula estava parada, olhando para o mar, quando escutou passos atrás de si. Virou-se e viu Jason ali. O filho de Júpiter sorriu quando a viu. Ele caminhou até ela e ficaram lado a lado.

— Sem sono? — ela perguntou.

— Na verdade, Inara está vomitando de cinco em cinco minutos e não quer me deixar ajudá-la, então resolvi ficar aqui enquanto ela está no banheiro — ele deu de ombros.

Paula riu.

— Queria te pedir desculpas por aquela briga no acampamento. Eu queria falar com você e com a Inara, mas como ela está passando mal não vai querer me escutar.

— Não se preocupe, está tudo bem — ele tocou o ombro dela para assegurá-la.

— Estou feliz com o namoro de vocês. É bom saber que Inara está em boas mãos.

— Não vou magoá-la, Paula. Já prometi isso a ela e vou cumprir.

Paula assentiu. Ela realmente acreditava que Jason seria capaz de cumprir essa promessa, nunca tinha conversado direito com ele, mas só de olhá-lo conseguia perceber que era uma boa pessoa. Inara precisava disso.

A filha de Poseidon suspirou, por que Nico não podia ser uma boa pessoa? Ela franziu o cenho e balançou a cabeça para afastar esse pensamento. Que idiotice!

— Sabe, você devia conversar com Nico — Jason disse. — Ele fez algo horrível, mas parece arrependido de verdade. Por que não dá uma chance para ele?

Paula abriu a boca para responder, ou melhor, gritar o porquê de não querer nem olhar para Nico, mas foi interrompida por um barulho muito forte. Algo bateu na lateral do barco — e não tinha sido uma onda — lançando Paula e Jason para o meio do barco. O céu, outrora estrelado, estava sendo cortado por trovões e uma tempestade começava a castigar o barco. Paula correu para a ponta do barco e pôde ver que um tsunami estava se formando. Quem quer que estivesse provocando isso não gostava nenhum pouco deles e acabaria afundando o barco em questão de minutos. Um frio passou pela espinha de Paula, deixando-a em pânico. A filha de Poseidon olhou para Jason.

— Vá chamar os outros — ela estava mais assustada do que nunca. — Estamos com um problema gigante.

— E quanto a você? — Jason estava gritando, tentando ser ouvido acima da tempestade.

— Eu vou tentar evitar a nossa morte.


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Notas finais do capítulo

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