Duas semanas se passaram e nada do casal achar algum apartamento que lhes servia. O dia do show com o Penetras chegou e a banda já estava reunida no local. Aos poucos, os ex-integrantes dos Penetras do Paraíso chegaram, Nando sendo o último a vir. A única pessoa que não iria tocar nada era Karina, que virou, ao longo dos anos, tiete oficial da Galera da Ribalta. Odiava que a chamassem assim e, consequentemente, Pedro constantemente a chamava de tiete nos shows.

– E aí, minha tiete, vai querer ouvir que músicas no show? - perguntou Pedro, antecipando-se para um possível soco.

– Se continuar me chamando desse jeito, a música do seu funeral.

– Nossa, calma, K. Tô falando sério. Tem alguma além de Definição de Perfeição que cê queira ouvir? Ó, tô aprendendo Kelly Key acústico, hein.

– Seu bobo. Cê acabou aquela que você tava compondo? - perguntou a lutadora, rindo.

– Pô, Esquentadinha, nem terminei, desculpa. Mas eu posso tocar um cover em sua homenagem.

– Só tocar, né? Nada de cantar.

– Pode deixar, minha linda. Ah, te contei que aqui tem área VIP?

– Sério? Que maneiro!

– E sabe quem vai tá lá?

– Sério isso, Pedro?

– Ué, tem privilégios em ser namorada do integrante da banda.

– Ai, brigada, meu guitarrista. Cê é sempre tão bom comigo. - disse Karina, envolvendo seu pescoço com os braços e fitando seus olhos. Foi aproximando-se e o casal selou os lábios com um beijo cheio de desejo. Com aquele beijo eles já sabiam que depois do show iria ter muito mais.

– Agora sobe lá, Esquentadinha. Já já os portões vão abrir e o pessoal vai entrar. Eu e o pessoal vamos pro camarim. Ah, já que você é VIP, depois do show cê pode passar lá.

Beijaram-se mais uma vez, com muito desejo, e cada um foi para seu respectivo lugar. Pedro estava certo. Menos de 10 minutos depois de despedirem-se, a casa de shows lotou. A área VIP estava com uma boa quantidade de pessoas. Não tinha muitas nem poucas. A maioria das pessoas ali eram coroas, provavelmente querendo ver o Nando. O pessoal mais novo estava lá embaixo. Haviam muitos fãs da banda de Pedro e muitas garotas gritando pelo nome do guitarrista, o que incomodou um pouco a lutadora, mas ela manteve-se em seu canto. Após mais uns minutos, os Penetras do Paraíso finalmente subiram ao palco e K notou um pequeno grupo de jovens aproximar-se da grade e um deles falar:

– Ali, ó. O Nando subiu no palco. - disse um rapaz loiro.

– Tomara que ele não pague aquele mico de fazer mosh e cair direto no chão de novo. - disse uma garota com um cabelo rosa.

Ao observá-los com cuidado, Karina percebeu que aquele grupo batia com a descrição da nova banda da Ribalta que Pedro a contou. K foi a um dos garçons que passava ali perto e, ao pegar uma das bebidas, discretamente aproximou-se o suficiente para ouví-los sem parecer suspeita. Quando Nando mandou um de seus famosos solos, a lutadora ouviu o rapaz loiro dizer:

– Nossa, o Nando manda muito bem na guitarra, cara. Cês vão ver. Um dia vou ser mais foda que ele.

– Claro, Ricardinho. Assim como eu vou cantar melhor que Beyoncé. Ai, quando é que o Cabeludinho vai entrar. Quero ver ele logo. - disse uma das meninas.

Karina pôs-se a pensar. Só haviam duas garotas na banda. Pedro disse que a do cabelo rosa era a baixista e quem começou a dar em cima dela foi a cantora. Ao perceber que a garota desesperada para ver seu namorado era na verdade Vicki, a vocalista da tal da Kickass, a garota fechou a cara e foi direto para o banheiro feminino. K precisava acalmar-se. Não podia ser a mesma garota estourada de 6 anos atrás, mas não conseguia conter-se, ainda mais com uma garota atirada àquele ponto.

Após acalmar-se, voltou para seu lugar junto à grade. Queria ficar de olho na banda. Principalmente na tal da Vicki. Ao olhar o palco, percebeu que o show do Penetras já havia acabado e já estavam arrumando os instrumentos para a banda de Pedro. Todos gritavam pela Galera da Ribalta até que, quando entraram, os gritos aumentaram. Para a infelicidade de K, um deles vinha de Vicki.

– Sério mesmo que cê vai ficar gritando pra esses otários? - perguntou o que se chamava Ricardo.

– Não, não, é só pro Cabeludinho. Ele é um gato.

Após ouvir aquele comentário, Karina não se segurou. Quando um dos garçons passou perto da Kickass, empurrou a bandeja cheia de bebidas em cima deles e voltou a olhar o show, rezando para que não tenham visto ela. Para sua felicidade, aparentemente não.

– Ô, filho da puta! É pra isso que te pagam? Tacar bebida nos outros? - perguntou um rapaz de dreads, muito parecido com Rominho.

– Ai, molhou minha blusa toda! - gritou Vicki, fazendo Karina rir. - Ah, dane-se. - disse a vocalista retirando a blusa, girando e jogando ao palco, no rosto de Pedro, rindo.

Vicki estava cada vez mais tirando Karina do sério. Se ela estava confortável em ficar apenas de sutiã em um show, ela com certeza tinha atitude pra avançar mais em Pedro. Falando no rapaz, este chegou ao microfone:

– Galera, eu sei que a música preferida de vocês é a Definição de Perfeição e que todo show a gente termina com ela, mas a gente quer fazer um negócio diferente. Essa aqui é uma nova música que eu compus, de novo pensando na minha Esquentadinha. Beijo, amor - disse Pedro, mandando um beijo para a garota.

Ela incomodou-se com todos os olhares e gritos que direcionaram-se a ela e percebeu que a tal da banda a encarava com uma certa dúvida, mas sua mente focou-se no fato de Pedro tocar uma nova música para ela. Ele realmente já tinha terminado a música e queria fazer surpresa. Sorriu quando o guitarrista disse:

– Essa aqui é a Garota dos meus sonhos. Manda ver, Sol.

– Ao acordar, só penso em você

Penso com carinho em ti, meu bem querer

Preciso do teu calor ao meu lado

Desse nosso amor quero ficar embriagado

Minha musa, se tornou uma necessidade

Cuidar de você é minha maior prioridade.

Linda, bruta, Esquentadinha

Menina perfeita pra eu chamar só de minha.

Garota dos meus sonhos

Esses teus lábios tão risonhos

Com um olhar já me ganhou

Não demorou muito tempo, nosso amor desabrochou.

Garota dos olhos cor de mar

Sempre que apanho só me faz gamar

Você é o que me faz bem

Nunca me canso de amar

No primeiro clinch pirou meu cabeção

A lutadora de muay thai se tornou minha paixão

Minha maior meta virou te conquistar

Sempre me batia pra tentar me afastar.

Escondia seus sentimentos com pura violência

Entender sua cabeça foi pra mim uma ciência

Enfim encontrei a chave pro seu coração

E esse nosso amor se tornou inspiração

Garota dos meus sonhos

Esses teus lábios tão risonhos

Com um olhar já me ganhou

Não demorou muito tempo, nosso amor desabrochou.

Garota dos olhos cor de mar

Sempre que apanho só me faz gamar

Você é o que me faz bem

Nunca me canso de amar

Garota dos meus sonhos

Esses teus lábios tão risonhos

Com um olhar já me ganhou

Não demorou muito tempo, nosso amor desabrochou.

Garota dos olhos cor de mar

Sempre que apanho só me faz gamar

Você é o que me faz bem

Nunca me canso de amar

Nunca me canso de te amar, não.

Minha complicada e perfeitinha

Esquentadinha...

Ao terminarem de cantar, todos foram à loucura, inclusive alguns dos membros da Kickass. Ricardo porém, apenas encarou a Galera da Ribalta com raiva. Por mais que visse una rivalidade formando-se, o guitarrista admitia que aquela música era boa.

Antes mesmo de saírem do palco, Karina já correu para o camarim para esperar Pedro. Queria encher o rapaz de beijos e agradecer. Não entendia como ele podia criar coisas tão belas apenas por pensar nela. Quando a banda entrou no camarim, K pulou nos braços de Pedro e, não fossem as outras pessoas em volta, o teria beijado muito mais do que realmente o fez.

– Gostou da sua nova música, Esquentadinha? - perguntou o rapaz.

– Amei, amei, amei. Sério, Pedro, você tá cada vez mais criativo.

– É que eu penso em você, minha musa.

O celular do roqueiro começou a tocar, mas antes que pudesse atender, uma figura parou à sua frente. Para a infelicidade de Karina, era Vicki, acompanhada dos integrantes de sua banda.

– Mas o que vocês vieram fazer aqui? - perguntou Pedro.

– Relaxa aí, cara. O Nando convidou a gente. Como ele é nosso professor, resolvemos vir. - disse Ricardo com seu típico jeito esnobe.

– Cê tava um arraso lá no palco, Cabeludinho. - disse Vicki, rindo.

– É mesmo? Brigado. Tenho que atender o celular. Esse aqui é o Luca, Vicki. K, vem comigo. - disse Pedro, apressado para afastar-se da vocalista.

Ao atender o telefone, sua expressão ficou estática por alguns segundos e Karina perguntou-se sobre o que deveria tratar-se a ligação. Um sorriso abriu-se no rosto de Pedro e ele disse:

– É sério isso? Mesmo? Caramba, valeu, pai. Você quebrou um galho enorme. Sei nem como te agradecer. Tá bom. Tá. Beijos, tchau.

– Que que ele queria? - perguntou Karina, ansiosa pela resposta.

– Ele achou um apartamento pra gente, Esquentadinha.