O dia seguinte àquela confusão foi sufocante para mim. Não conseguia respirar sem que alguém estivesse ao meu lado para verificar se minha respiração estava normal. Eu nem ao menos conseguia ir ao banheiro sozinha.

Eu via Seth ao longe, apenas, já que Jacob descobriu do nosso beijo e disse que, por hoje, quem ficaria perto de mim seria ele e não meu... namorado? Não sei se deveria chamar Seth assim ainda.

Logo após o almoço, Jacob me avisou que iríamos à casa dos Cullen. Eu apenas não imaginava que todos iriam até lá. E quando eu digo todos, eu quero dizer todos os lobisomens, metamorfos ou sei lá como eles preferem ser chamados. Paul, Jared, Sam, Quil, Embry, Leah, Seth, Jacob e até mesmo Brady e Collin, os mais novos do bando.

Eu queria ir com Seth, mas Jacob não estava no seu melhor humor e quis me levar em suas próprias costas.

Atravessamos toda a cidade, através das florestas e chegamos a uma abertura na densa vegetação. A casa era completamente branca e clara. Não que eu realmente estivesse pensando que a casa deles seria toda preta, cheia de morcegos, caixões e calabouços. Mas, com toda a certeza, era mais clara do que eu imaginava.

Jacob se abaixou para que eu pudesse descer e correu até a floresta com os outros, para que pudessem se trocar.

Nessie abriu as portas da casa e correu até mim, me abraçando forte.

– Amanda! – ela se afastou e sorriu. – Eu sei bem o que você ta passando. Os Volturi já quiseram me matar. – ela revirou os olhos e balançou a mão. – Mas relaxa que você tem guardiões e um cara que não vai deixar nada de ruim te acontecer. – ela disse e piscou para alguém que estava atrás de mim.

Me virei, rindo e vi Seth sorrindo pra mim, com as mãos nos bolsos da bermuda. Senti meu coração acelerar e andei até ele, lhe dando um selinho demorado. Ele sorriu e depois me abraçou pelos ombros.

– Awn! – Nessie exclamou e deu pulinhos. – Vocês ficam tão lindos juntos. – ela disse animada e eu corei, rindo.

– Diga isso a meu irmão, quem sabe assim você consiga convencê-lo de que isso – apontei para mim mesma e para Seth – é inevitável.

Ela riu alto e correu até Jacob, que estava com a cara emburrada e o puxou até perto da gente.

– Credo, amor. – ela disse com o cenho franzido e pegou os cantos da boca dele, puxando-os para formar um sorriso e fazendo com que os garotos que vinham mais atrás gargalhassem alto. – Sorria! Você ta até parecendo meu pai desse jeito. – ela falou, balançando a cabeça.

Jacob murmurou algo sem sentido e apenas beijou o topo da cabeça dela, entrando na casa junto com os outros.

– Apenas para deixar claro, eu ouvi isso Renesmee. – Edward disse da entrada da casa, mas sorria. Ela revirou os olhos e olhou para mim e para Seth.

– Vamos entrar, temos bastante coisa pra resolver. – ela sorriu encorajadora para mim e nós entramos na casa.

Assim que entrei e olhei em volta, me senti em uma daquelas casas modelo que nós vemos em reality shows. Era tudo muito organizado, tudo muito limpo, tudo em seu devido lugar. Era perfeitamente perfeita.

– Olá, querida. – pude ouvir a voz de Esme atrás de mim e sorri para ela. – Aceita um? – ela perguntou, me oferecendo um dos muitos sanduíches que estavam em cima de uma bandeja.

Neguei com a cabeça e caminhei até a sala com ela. Todos sentados e parecendo civilizados. Menos Paul e Emmett que se encaravam de forma... ameaçadora.

Jacob havia me dito que há algum tempo atrás os Cullen não eram bem-vindos na reserva e os Quileutes não era bem-vindos na casa dos Cullen. Mas, desde que meu irmão havia tido um imprinting com Renesmee, tudo havia mudado e eles passaram a ser mais civilizados uns com os outros.

Bem, exceto Paul e Emmett que, de acordo com Jacob, mantinham uma richa idiota que havia começado há alguns anos atrás.

Respirei fundo e me sentei no chão, à frente de Seth que estava sentado atrás de mim, ao lado de Alice. Ele havia me dito que a considerava uma grande amiga.

Eu sabia que ele havia tido um imprinting comigo, que eu era sua alma gêmea, que ele me amava acima de tudo. Sabia que Alice tinha Jasper e que Seth cheirava mal demais ao olfato delicado dela. Mas, ainda assim, o bichinho teimoso e chato do ciúmes insistia em me incomodar, mesmo que de forma leve e controlada.

Ele apoiou as mãos nos meus ombros e eu sorri, me sentindo mais aliviada. Nessie se sentou ao meu lado e sorriu animada para mim.

– As reuniões sempre são chatas, então... – ela sorriu marota e colocou seu computador entre nós duas. – Podemos ficar pesquisando ou vendo vídeos enquanto eles discutem a parte chata da coisa.

Eu ri e balancei a cabeça. – Uh, que bom. – ri – Fiquei pensando que teria que participar e dar minha opinião, além de ouvi-los dizer que eu provavelmente vou servir de isca e isso não me fez muito bem.

Ela riu e concordou com a cabeça, me passando um fone de ouvido.

Ficamos assistindo alguns vídeos e rindo de algumas fotos de famosos quando, depois do que pareceu ser uma hora, ambas nos assustamos e demos um pulo, olhando para cima ao mesmo tempo.

Assustamos-nos porque ouvimos gritos. Nosso fone estava alto e ainda assim ouvimos gritos. O que significava que eles estavam realmente gritando. Muito alto.

Seth havia passado por mim e estava de pé, com o dedo estendido na cara de Emmett. Jacob e Embry estavam parados atrás dele, cada um segurando-o por um braço. O olhei assustada e ele parecia extremamente nervoso e parecia prestes a se transformar.

Dei um passo a frente para me aproximar dele e pedir que se acalmasse, mas Nessie me segurou pelos ombros.

– Ele ta nervoso demais... – ela murmurou e sorriu leve pra mim – Vamos lá pra fora, okay?

– Mas Nessie, eu... – tentei argumentar mas Carlisle me olhou e concordou com a cabeça, como se me pedisse para seguir Renesmee.

Antes que pudéssemos chegar ao lado de fora, ouvimos mais gritos.

– VOCÊ NÃO VAI FAZER ISSO! – Seth esbravejava e logo em seguida, ouvi o barulho de algo sendo quebrado.

Olhei assustada para Renesmee que apenas me puxou para o jardim.

– Pelo amor de Deus, eles vão se matar lá dentro! – falei desesperada, mas ela me segurou pelo braço antes que eu me virasse para voltar para a sala. Ela parecia calma e eu a invejava por isso. Eu sabia que eles não se matariam, mas a ideia de ver Seth machucado me incomodava demais para eu simplesmente não ligar para isso.

Foi então que ela também arregalou os olhos ao ouvir Jacob gritar. Me olhou desesperada e então entramos correndo na sala.

Contive um suspiro pesado ao ver Jacob e Seth serem segurados por Paul, Embry, Quil e Jared. Eles pareciam extremamente bravos.

– NÃO OUSE NEM AO MENOS PENSAR EM TRANSFORMAR A MINHA IRMÃ! – Jacob esbravejava e ouvi um grunhido vindo de Seth.

– Emmett, sua ideia foi a pior que eu já ouvi na vida. – Edward riu nervoso e tentou apaziguar a situação, sem sucesso. Ele então olhou para Jasper.

E, em menos de um minuto, todas as respirações dentro da sala estavam controladas e ninguém mais segurava ninguém.

Olhei confusa para Renesmee, que apenas sussurrou baixinho. – Tio Jasper controla as emoções do ambiente.

Assenti com a cabeça e olhei para Jasper, sorrindo agradecida. Ele esboçou um sorriso, mas voltou a ficar sério em seguida, indo até Emmett.

– Ninguém vai transformar ninguém. – ele disse, sério e Seth ainda o olhou irritado. – Já lutamos contra os Volturi duas vezes e nos saímos bem. No momento, é apenas Alec contra nós e Alice já está vigiando suas decisões. Estou certo de que não será preciso – ele deu ênfase a palavra “não” e olhou sério para Emmett. – transformar ninguém. Estamos entendidos?

Seth olhou de Jasper para Emmett e respirou fundo. – Se você tocar nela...

Emmett deu de ombros e seu olhar parecia pedir desculpas. – Gosto de você, lobinho. Sabe que não tocaria na sua garota sem a sua permissão. – ele disse, cruzando os braços.

Me senti em um labirinto. Não estava entendendo o que estava acontecendo e me sentia ridícula por isso.

Erguia a mão, da mesma forma como fazia em sala de aula quando queria tirar uma dúvida, e esperei que alguém visse. Esme viu e riu baixinho.

– Pode falar, querida.

– É só que... – respirei fundo e percebi a atenção de todos sobre mim – Eu só queria saber do que vocês estão falando porque, sinceramente, vocês estão me confundindo.

Alguns soltaram um riso baixo, até que Jacob me olhou e cerrou os punhos. – Emmett sugeriu que transformássemos você em uma vampira. – ele fechou os olhos e respirou fundo. – Uma sugestão totalmente desnecessária e ridícula.

Engoli em seco e precisei de alguns segundos para digerir tudo aquilo. Eu me tornando uma vampira. Parecia totalmente ridículo e improvável. Não pude segurar o riso ao me imaginar tentando caçar algum animal e, no fim, me esquecendo completamente do sangue apenas para acariciá-lo. Não, aquilo não era pra mim.

Olhei para Emmett, que parecia sinceramente arrependido por ter sugerido algo do tipo e por ter causado tanta confusão.

– Emmett, sei que você apenas tentou ajudar. – eu disse, tentando segurar o riso. Os outros me olhavam confusos. – Mas sinceramente, eu seria uma vampira horrível.

Ele me olhou com a sobrancelha arqueada, mas foi até mim e me abraçou. Era estranho ele fazer isso, Emmett não era o tipo de pessoa que abraçava, mas acho que aquela era a forma mais fácil que ele encontrou de pedir desculpas.

– Realmente, você é pequena demais. – ele disse, rindo e deu um peteleco na minha cabeça.

Eu ri e olhei em volta. Seth parecia boquiaberto. Ele se levantou e andou até mim, me puxando para um abraço.

– Sinceramente, o cara queria que você virasse uma branquela, gelada, que chupa sangue e você me vem com “eu seria uma vampira horrível”? – ele disse e não conteve um riso.

– É, ué. – eu ri e o afastei gentilmente, segurando em sua mão e o olhando. – A gente vai dar um jeito. Tenho certeza. Eu confio em vocês.

Pude perceber que todos sorriram. Eu me senti em casa. Aquela era a minha família, afinal. Eu era a garota humana que andava com vampiros e lobisomens e sei que isso deve parecer estranho, mas na verdade era muito legal. Saber que existiam tantas pessoas preocupadas comigo, dispostas a perder tempo me impedindo de ser estraçalhada por um vampiro demoníaco, me fazia sentir bem.

O clima parecia estar melhor e todos voltaram a conversar em um tom normal. Os garotos discutiam estratégias de batalha e formas de colocar Alec em uma enrascada, para que pudessem pegá-lo sem que ninguém se machucasse.

Tudo estava calmo e eu e Nessie tínhamos voltados a assistir nossos vídeos. Estávamos assistindo um vídeo totalmente interessante – muito interessante mesmo – de um garoto, muito bonito por sinal, dançarino que fazia apresentações em boates, quando Alice entrou saltitante e sorrindo animada na sala.

Pude ver Edward, Jacob, Bella e Nessie gemerem baixinho ao perceber o sorriso estampado na cara dela.

– Alice, por favor, o que você... – Bella começou, mas foi interrompida por Edward.

– Alice, estamos discutindo estratégias de guerra e você realmente está pensando em organizar um baile? – ele disse, fazendo uma careta. Era estranho o fato de que ele podia ler mentes.

Talvez Edward fosse o vampiro com o qual eu menos me sentia confortável, depois de Jasper, claro. Não que ele não fosse legal comigo, porque ele era – e muito – mas saber que ele sabia tudo o que se passava pela minha mente não tornava sua presença muito fácil de aguentar.

Até mesmo quando Renesmee resolveu tocar meu rosto pela primeira vez, me fazendo gritar de susto ao ver flashs de cenas do dia em que nos conhecemos, foi menos assustador do que o dia em que eu estava pensando em qual seria a comida preferida de Seth e Edward simplesmente se virou murmurando um “bolo de chocolate com calda de morango.”

– Edward! – Alice exclamou, me tirando de meus devaneios e me fazendo olhá-la assustada. – Vocês estão todos nervosos demais, um baile seria ótimo para relaxar. – ela disse, sorrindo.

– Não, não seria não. – Bella disse, cruzando os braços e encostando a cabeça no ombro de Edward.

Alice bufou e revirou os olhos, se virando para mim e Nessie. – Vocês não iriam gostar de ter um baile em que vocês pudessem ir acompanhadas de seus namorados? – ela disse animada e eu ri. Alice era demais. – Como em um conto de fadas.

– É, tia, mas acontece que contos de fadas não existem. – Renesmee disse, revirando os olhos, mas ela sorria. Fechou o notebook e olhou para Alice. – Que dia está pensando em fazer esse tal baile?

– Yay! – Alice exclamou alto e subiu na mesinha de centro. Esme fez uma careta, mas não a impediu. – Renesmee quer, então se você não quiser ir, o problema é seu, vira-lata. – ela disse, se virando para Jacob e eu não contive uma gargalhada com o apelido. Jacob me olhou sério, mas sorriu em seguida. – Vamos ter um baile!

Assim que ela disse isso, pude ver os garotos se encolherem. Eles não gostavam de bailes. Mas seus imprint gostavam. E não é como se eles fossem deixá-las ir sozinhas em um baile.

– Devia ser um baile de máscara. – disse, ficando em pé e olhando para Renesmee que sorria animada. Em seguida, olhei para Alice que me encarava boquiaberta.

– Eu sabia que Seth tinha escolhido direito! – ela disse sorrindo. – Baile de máscaras. Não se esqueçam dos ternos, vestido longos e as máscaras, óbvio. – ela riu e bateu uma palma. – A parte da organização deixe comigo.

Ela terminou seu discurso e desceu da mesa, puxando Jasper com ela.

– Mais uma festa. – Bella disse, balançando a cabeça e se encolhendo no sofá.

Edward riu. – Pode ser divertido. Vai ser divertido. – ele disse e olhou para os garotos. – Convidem as pessoas da escola da reserva.

– Isso! – exclamei animada e Jacob se encolheu, murmurando para Seth que eu amava bailes. – Qual é, Jake, eu sou a garota que corre com criaturas estranhas e veio de L.A. – sorri para eles, me virando para Nessie em seguida. – Chame as pessoas da sua escola também.

Ela riu e concordou com a cabeça. – Chamo. – sorriu e olhou para Seth, que estava se levantando para vir até mim. – Desculpa, Seth, mas vou roubar a Amanda um pouquinho. – ela disse rindo e ele suspirou derrotado, se jogando no sofá e olhando para Jacob que deu tapinhas em seu ombro, como se o entendesse. Então ela se virou para mim, sorrindo largamente. – Vem, vamos às compras.

Sorri marota e sai de casa com ela. Finalmente, depois de quase duas semanas, eu teria uma tarde normal. Uma tarde de garotas.