- O que deu em você? – ela perguntou o encarando assim que se sentaram no mais afastado dos tapetes, onde a iluminação era fraca e podiam observar o mar com perfeição.
- Por quê? – Jacob perguntou fazendo-se de desentendido.
- Eu vi como você ficou sério quando Edward chegou – ela disse abaixando a cabeça. – E ele também pareceu bastante sério!
- Não – Jacob disse maneando a cabeça. – Nada a ver.
- Eu pensei que éramos amigos – ela disse abaixando a cabeça novamente em uma típica cena dramática.
- E somos – ele disse dando de ombros.
- Então porque você não quer falar? – ela perguntou voltando a encará-lo.
- O pessoal daqui não se dá muito bem com a família dele, é só – ele disse dando de ombros novamente e desviando o olhar para a areia da praia.
- Eu pensei que todos gostassem deles – ela disse e o rosto de Jacob retorceu-se em uma careta. – Quero dizer, o pai dele é um dos médicos de Forks, não? – perguntou vendo Jacob afirmar. – O que ele fez de errado para não gostarem dele?
Porque na percepção dela um médico nunca faria algo errado que pudesse despertar rivalidade ou sede de vingança em alguém. Pelo menos não intencionalmente.
- Não é com Carlisle que temos problemas – ele respondeu.
Então Isabella não entendia mais nada.
- É algo que nossa aldeia tem há muito mais tempo contra eles. Uma rivalidade... Não sei dizer, são nossas lendas que incluem pessoas como eles em algo nada bom...
Algo. Como. Eles.
O que isso deveria significar exatamente?
Ela não sabia, mas também não estava disposta a interrompê-lo agora.
- E sobre o que diz essas lendas? – ela não pôde conter essa dúvida.
- São sobre vários acontecidos nessa região... Coisas de antigamente, mas ainda assim, nosso povo passa de geração por geração contando a mesma história para que possamos honrá-la.
E, pacientemente, Isabella dedicou-se a ouvir a voz grossa do garoto sentado ao seu lado, contando como tudo era diferente antigamente, quando todos, sem exceções conviviam em paz e se davam bem, mas claro, como toda história perfeita demais algo tinha que dar errado.
- ...ela se apaixonou pela pessoa errada – Jacob disse, fazendo parecer um típico drama como de romances.
Mas nesse momento a mente de Isabella começou a vagar para mais longe, pegando apenas alguns trechos do que seu amigo lhe dizia.
- ...todos sabiam que havia algo de estranho com aquele homem – ele bufou. – Era perfeito demais, mas mesmo que houvesse ela não assumiria, ela estava apaixonada...
Como em um romance.
E, sem ser intencionalmente, Isabella passou a imaginar a si mesma em seu próprio romance, e, oh, tudo seria tão diferente – isso ela jurava a si mesma – porque ela seria verdadeiramente feliz, e quando ele a abraçasse tudo parecia girar, e a cada beijo suas pernas ficariam bambas, e não só no primeiro, e ele a abraçaria quando tivesse frio, e beijaria suas bochechas cobrindo as lágrimas que um dia viria a derramar, assim como ele seguraria sua mão quando sentisse dor e a levaria pelo braço aonde quer que fosse.
Então ela estava sonhando novamente, só que acordada.
- ...então viram o que ele era capaz de fazer, ele e os outros iguais a ele – o nojo era perceptível em seu tom. – E todos como ele foram expulsos daqui...
Como ele. Isso retumbou na mente aberta de Isabella e, de repente, ela estava de volta de seu mundo de sonhos e devaneios.
Piscou uma e outra vez o encarando, Jacob sequer percebera que ela havia devaneado enquanto falava, mas algumas palavras haviam sido absorvidas, talvez mais tarde Isabella pudesse entendê-las.
- Então é isso – Jacob concluiu dando de ombros, como se toda sua explicação houvesse sido ouvida e entendida.
Só que Isabella não havia prestado atenção o suficiente para fazer uma coisa se encaixar a outra, a história de Jacob e suas lendas de La Push com a família de Edward Cullen. Pareciam apenas duas coisas totalmente distantes e impossíveis de se ligarem.
- Eu... – ela murmurou gaguejando e Jacob riu maneando a cabeça. – Eu preciso de algo para beber...
Isabella se levantou e, em passos lentos, mas sem olhar para trás, foi se afastando de onde havia acabado de ter uma conversa – não muito produtiva – com seu amigo.
Jacob apenas abaixou a cabeça e suspirou se jogando sobre o tapete, que mal servia para abrigar todo seu corpo comprido, encarando o céu seu rosto se retorceu em uma careta ao sentir aquele cheiro.
Um cheiro estranho, mas que muitos não podiam perceber.
Seus olhos se estreitaram e rapidamente Jacob estava de pé pronto para o que quer que estivesse presente ali.