XVIII.

Gina roía as unhas. Era um hábito que ela tinha adquirido com a prática de ser mãe, quando seus três filhos não eram o que se podia chamar de anjos. Harry ficou ouvindo aquele ruído que ela fazia enquanto roía, na penumbra, até que perdeu o sono e teve que perguntar:

– Qual o problema? Vamos dormir, Gina, está tarde. Amanhã temos que acordar antes das crianças.

– Eu estou nervosa. – ela admitiu prontamente.

– Por quê? Por causa do Alvo? Eu sei que ele está irrequieto agora, mas ele vai ficar bem, e o James também não está ajudando muito, não é?

Ela sacudiu a cabeça.

– Não lhe dá uma apreensão, Harry, deixar mais um de nossos bebês irem? Eu não sei, eu não sei, se qualquer coisa acontecer...

– Hogwarts é perfeitamente segura – ele sussurrou para tranqüilizá-la.

– Sim, mas como ter certeza? Eu não falo só de artes negras, é só que... eles são tão pequenos! Nós éramos assim pequenos? Parece que foi ontem que o Alvo aprendeu a amarrar seus cadarços!

– Nós éramos bem pequenos. Você especialmente era uma coisinha à toa suspirando por mim, se bem me lembro.

Ela deu um tapa no braço dele, mas acabou sorrindo. Buscou deitar no peito do marido, sentindo os fios espetados da sua cabeça enquanto passava a mão por eles.

– Você imagina quando for a vez da Lily ir? Quando todos eles estiverem lá, essa casa vai ficar horrivelmente vazia, e o que nós vamos fazer então?

– Daremos um jeito. De qualquer forma sempre podemos fazer mais uns para encher a casa – sugeriu, e Gina comentou alguma coisa sobre ele ser adepto do modo de produção Weasley. Quando as risadas cessaram, a ruiva se moveu aconchegando-se mais ao marido.

– Dezenove anos atrás – ela sussurrou próxima a sua nuca – Eu nunca poderia acreditar que nos teríamos esse momento. E que tudo ia parecer uma lembrança distante. Você consegue acreditar que somos mesmos nós, e que um dia no passado vivemos tudo aquilo?

Ele a abraçou com mais força, plantando um beijo no topo de sua cabeça, e não precisou responder a pergunta, porque Gina adormeceu. Pensou que nunca ia deixar de acreditar que ele mesmo vivera a guerra no passado, e tudo que tivera de fazer por aqueles que amara, porque ainda era um homem marcado e a lembrança estava lá, talvez um pouco apagada pelo tempo, mas ainda esboçada em sua testa.

Por outro lado, as coisas tinham se resolvido perfeitamente bem. A dor tinha virado um tipo de força, e agora ele construíra tudo que realmente podia se orgulhar. Mais que nunca Harry via um herói no espelho – não por derrotar um bruxo das trevas quando era apenas uma criança, mas por, depois disso, ter conseguido construir junto com Gina Weasley a família mais perfeita que poderia ter imaginado.

(Continua...)