Minutos depois que aquele seboso saiu a campainha tocou novamente, eu não estava com a menor vontade de dar outro autógrafo então minha mãe foi atender.

–Hermione querida é pra você! -Minha mãe gritou.

Fui me arrastando, não estava com vontade de ver ninguém, mas quando vi quem era fiquei estática... Rony parado na soleira da minha porta com um lindo buque de flores do campo. Eu estava sonhando?

–Oi Hermione. - disse Rony com uma voz que ele geralmente usava profissionalmente.

–Oi Rony- respondi com uma voz fraca.

–Minhas irmãs lhe mandaram as flores. Elas ficaram muito felizes por você.

Então as flores não eram dele? Senti-me um pouco decepcionada por isso.

–Awn que amor! -minha mãe se empolgou do meu lado, eu já tinha esquecido que ela estava lá.

–Hum, Rony, eu fiz a maior bagunça no meu quarto quando eu estava arrumando as malas, será que você poderia me ajudar?

Bingo! Esse é o trabalho dele e como minha mãe estava ali ele não poderia recusar. Na verdade, por lei nem os Cinco nem os Seis poderiam recusar trabalho.

–Mostre-me o caminho Milady.

Como se ele não soubesse onde fica, ele o invadia pelo menos uma vez por mês. Chegando eu abri o quarto e fiquei no corredor enquanto ele entrava.

–Foi um cachorro que fez suas malas? - Ele perguntou gargalhando.

–Ah! Cala a boca, eu não sabia o que levar, e não achava o que eu queria.

Apesar de tudo eu sorri, era tão bom estar com o Rony, mesmo ele estando trabalhando, arrumando tudo, dobrando as roupas...

–Você não vai levar essas?

–Não, ganharei roupas no castelo.

–Você... - ele começou - estava muito bonita na foto.

Doía ouvi-lo dizer que eu estava bonita. Não era justo. Não depois de tudo o que ele tinha feito.

– Era para você - sussurrei.

– Quê?

– É que... eu pensei que você ia me pedir em casamento logo...

–Eu ia, mas isso não importa mais...

–É claro que importa! Pra mim importa muito! Afinal por que não fez o pedido?

–Eu estava esperando...

–O que você estava esperando que passou dois anos pra falar com os meus pais?!

–O recrutamento.

O recrutamento, eu tinha esquecido disso. E nós já tínhamos discutido esse assunto muitas vezes. Rapazes da idade do Rony eram recrutados todos os anos pro Exército Real. Alguns com sorte serviam no palácio cuidando da segurança do rei, outros serviam na guerra... e esses raramente voltavam. Moças que se casavam antes do recrutamento tinham duas opções: ou se tornavam dois quando seus esposos voltavam da guerra, ou se tornavam viúvas.

–Eu só queria te poupar disso. - sussurrou.

–Entendo.

Ele se endireitou e tentou mudar de assunto:

— Então, o que você vai levar?

— Uma muda de roupas para vestir quando eles me mandarem embora. Fotos e discos... Disseram que não vou precisar dos instrumentos. Tudo o que eu quisesse já estaria lá. Então só vou levar aquela malinha

— Não é muito — ele comentou.

— Nunca precisei de muito para ser feliz. Pensei que você soubesse disso.

Ele fechou os olhos:

— Chega, Hermione. Eu fiz a coisa certa.

— A coisa certa? Rony, você me fez acreditar que a gente ia conseguir. Você me fez te amar. E depois me convenceu a entrar nessa droga de concurso. Você sabe que eles estão me mandando para o castelo para ser um brinquedinho do príncipe?

— Como?

— Eu não posso recusar nada que ele queira.

Rony pareceu ficar nervoso, bravo. Seus punhos se cerraram.

— Mesmo... mesmo... que ele não queira se casar com você... ele pode...?

— Sim.

— Desculpe, eu não sabia.

Rony respirou fundo algumas vezes:

— Mas se ele escolher você... vai ser bom. Você merece ser feliz.

Era o bastante. Dei um soco na cara dele.

— Seu idiota! — eu sussurrei, com força. — Odeio o príncipe! Eu amava você! Eu queria você! Tudo o que sempre quis foi você!

Os olhos dele marejaram, mas eu não me importava. Rony já tinha magoado muito. Agora era a minha vez. — Preciso ir — ele disse, dirigindo-se à porta.

— Espere. Eu ainda não paguei.

— Hermione, você não precisa me pagar — ele disse, saindo.

— Ronald Weasley, nem ouse se mexer.

— Está praticando para quando for Um? - Eu pude ouvir a mágoa dele em cada palavra.

Eu balancei a cabeça e corri pra cabeceira da cama pra pegar todo o dinheiro que juntei das minha apresentações. Peguei tudo e coloquei na mão dele.

–Hermione eu não vou aceitar isso.

–Vai sim! Eu não preciso mais disso! Será que seu orgulho já não fez o suficiente pra nós dois?! Se algum dia me amou, pegue esse dinheiro.

— Certo. - ele falou finalmente se rendendo.

— E tem mais.

Enfiei o braço atrás da cama e tirei um jarrinho com as moedas. Despejei todas na mão dele. Uma moedinha rebelde que devia ter um pouco de cola ficou grudada no fundo do jarro.

— Use essas moedas. Elas sempre foram suas.

–Sinto muito Mione. Boa sorte.

E dizendo isso ele foi embora, e eu chorei, chorei muito, como nunca tinha feito na minha vida. Peguei o pote com a moedinha solitária e joguei na mala. Pouco tempo depois Hellen apareceu com meu calmante, e então eu finalmente dormi abraçada a ela.