Sem perceber, Bianca logo estava nos braços de João dormindo de conchinha tendo então o melhor sono que já tivera nos longos meses. Mal perceberam e a noite já havia acabado enquanto o sol aparecia sinalizando um novo dia.

O garoto se mexeu levemente e crispou os olhos antes de os abrir. Sentiu um peso sobre seus braços e imediatamente percebeu que havia dormido abraçado de Bianca e sentiu uma certa pena de ter que a acordar.

– Bianca? Bianca.. Acorda.. – ouviu os resmungos baixos da garota.

– Que? Me deixa dormir. – ela murmurou com a voz arrastada cheia de sono.

– Ah claro, Gael vai adorar ver você dormindo agarrada comigo quando vier aqui. – o nome do pai fez que Bianca abrisse os olhos rapidamente e logo os semicerrando irritada com a luz do quarto.

Sentiu uma leve dor de cabeça, típica de ressaca e franziu a testa em confusão tendo alguns flashes estranhos da noite passada. Encarou João e então percebeu que estavam abraçados na cama.

– Puta merda. – imediatamente se afastou o olhando incrédula com milhares de suposições lhe passando na mente.

Ele a encarou confuso mas logo a compreensão lhe atingiu.

– Não foi isso que aconteceu. – negou veemente ao ver a cara da garota extremamente vermelha e as feições apavoradas.

– O que exatamente aconteceu? – hesitou ao perguntar se sentando na cama de uma distância segura dele.

– O que você se lembra? – a indagou com cautela.

Ela suspirou fundo mordendo os lábios forçando a si mesma tentar relembrar. A última coisa que se lembrava era de ter visto Duca com outra garota e depois tudo ficou nublado embora ainda tivesses estranhos flashes de estar beijando alguém mas decidiu deixar isso para si.

– De ver Duca beijando outra e depois não lembro nada. – murmurou encarando a parede sem perceber um desapontamento do garoto.

– Bem... Você tomou um porre, sua amiga Bárbara me ligou para eu vir te buscar, você estava toda alterada, tive que lhe colocar á força em um banho frio e deixei o pijama para você se trocar. Relaxe, eu não a vi nua se é isso que você está pensando. Nós apenas dormimos porque não cedi minha cama. – explicou omitindo o beijo que haviam dado.

Alguns flashes passaram em sua mente confirmando a narração de João, mas ainda tinha a estranha sensação que faltava algo essencial.

– Hum, só isso? – virou-se para encarar o garoto que havia se levantado da cama indo em direção ao computador.

Irritou-se com a falta de resposta e foi para o banheiro tomar um banho tentando amenizar um pouco a dor de cabeça e a sensação de estar se sentindo uma grande merda por causa da ressaca.

O que diabos havia acontecido? Quem ela havia beijado?

Saiu do chuveiro em busca de uma toalha até finalmente aceitar que não havia nenhuma no banheiro e que teria que apelar para o viciado grudado no computador. Envergonhada checou se havia trancado a porta e respirou fundo.

– João? – chamou em tom alto torcendo que ele tivesse ouvido.

Sem resposta.

– JOÃOOOOO – berrou fazendo que o gamer se assustasse e perdesse uma batalha de seu jogo.

Exaltado desligou o computador e bateu na porta do banheiro em que Bianca havia se trancado. A garota sentiu sua voz sumir de tanta vergonha por mais que ele não estivesse a vendo.

– Bianca, você não me tirou de meu jogo para ficar muda aí. Desembucha, é o que? PUTA MERDA, você tá... Sangrando? É aqueles dias? JESUS, VOCÊ PRECISA DAQUELES NEGÓCIOS TAMPA SANGUE! – João entrou entrou em desespero sem saber o que fazer e foi direto para o quarto da mãe tentando achar algo que “ajudasse”.

Bianca só queria cavar um buraco de tanta vergonha.

– NÃO! JOÃO EU NÃO TO MENSTRUADA! EU PRECISO DE UMA TOALHA, SÓ ISSO! – ela saiu do banheiro encharcada usando apenas calcinha e uma blusa grande de João por cima.

– POR QUE NÃO DISSE ANTES? – gritou de volta João que largava os absorventes na cama totalmente enojado.

– FECHA OS OLHOS QUANDO TRAZER A TOALHA.

– E COMO EU VOU VOLTAR DE OLHOS FECHADOS?

– SEI LÁ, SE VIRA.

– OBRIGADO PELA AJUDA.

Ele voltou ao quarto de olhos fechados trombando com os móveis segurando uma toalha fazendo que ela risse agradecida. Pegou a toalha e saiu rapidamente escorregando no piso liso do banheiro. João abriu os olhos e correu para a ajudar se levantar.

– Não preciso de ajuda. – teimou com rosto vermelho e sentindo seu corpo tremer de frio por ainda estar com roupa molhada.

– Relaxa eu já vi com menos roupa que agora. Te lembra do vídeo? – implicou colocando a toalha nas costas dela.

Bianca o fuzilou com os olhos tentando ignorar o fato que parecia estar em combustão por dentro. Por vergonha, concluiu ela.

– Se seca aí, vou pegar uma roupa da Dandara e... Você precisa de calcinha? Sutiã? – perguntou coçando o cabelo envergonhado, gesto que fez ela sorrir.

– Não, obrigada João. – agradeceu secando os cabelos com a toalha e observou o garoto sair logo se pondo a suspirar.

Novamente, não entendia o que estava acontecendo consigo.

Em um prédio próximo, Karina acordava e logo percebeu que a cama de Bianca estava intacta sinalizando que ela havia passado a noite fora.

Entrou em desespero ao ouvir os passos pesados do pai próximos ao quarto e com uma velocidade impressionante pegou um bicho de pelúcia com pelo marrom colocando em baixo das cobertas tentando disfarçar a cama vazia.

– Bom dia. – abriu a porta do quarto ao mesmo tempo que Gael.

Abraçou o pai antes que ele pudesse falar algo.

– Bianca ainda está dormindo? – indagou olhando para imensidão castanha coberta de cobertores sem imaginar que na verdade era um bicho de pelúcia.

K sorriu amarelo e assentiu com a cabeça fechando a porta levando Gael consigo para a cozinha. Suspirou aliviada por ter conseguido distrair o pai e logo que teve chance se pôs a ligar para a irmã.

O celular de Bianca tocou incansavelmente na cama de João que atendeu ao ver que era Karina.

– Alô? – Karina ouviu a voz de João totalmente rouca e estranhou.

– A Bianca está com você? – murmuro perplexa sem esconder um sorriso malicioso.

– É para você Bianca! – riu ao ver que o gamer não havia lhe respondido.

– K? Meu Deus, o papai, ele.. – foi interrompida por João que havia pego seu celular

– Diga pro Gael que não é minha culpa, que ela me obrigou! E ainda me agarrou no meio da noite. Sou inocente!

– Cala a boca João! – ela o empurrou pegando o celular de volta ouvindo as risadas de Karina.

– Só observo, espere, só ouço mesmo. Humm, vocês dormiram juntos? – a indagou divertida com a situação.

– Você tá andando muito com o Pedro sabia? Pegou até a malicia dele. – ouviu o bufo da irmã e logo perguntou novamente sobre o pai sendo informada que ele nada sabia sobre ter passado a noite fora.

Assim que terminou a conversa, combinaram que Karina iria levar o mestre Gael para a academia e daria o sinal positivo para que Bianca pudesse voltar para casa. A garota se arrumou de melhor forma que pôde e resolveu ficar com a blusa de Doctor Who de João.

– Se apegou á minha blusa hein? – observou encantado enquanto ela revirava os olhos.

– Eu gostei. Se quiser te devolvo depois. – o encarou um tanto estranha sentindo seu coração saltando pela boca.

– Nem se preocupa, é sua agora. – ele fez menção de lhe dar um beijo na bochecha mas institivamente ela virou um pouco fazendo que João lhe beijasse no canto dos lábios.

Olharam-se nos olhos se perdendo um no outro. Ela na imensidão verde dos olhos de João que pareciam cada vez mais claros e magnéticos enquanto ele se perdia no castanho mel que o encantou desde a primeira vez que a vira.

– Eu preciso ir. – forçou-se a quebrar o clima desviando os olhos.

– Ah, bem, tchau.. – João coçou a nuca desorientado abrindo a porta para que ela saísse.

Sem se controlar, Bianca o abraçou e logo foi retribuída. Ela conseguia ouvir o coração dele batendo em ritmo com o seu e suspirou fundo se afastando com um sorriso.

– Obrigada de verdade. – beijou a bochecha do gamer que manteu um sorriso bobo no rosto vendo ela entrar no elevador.

Assim que a porta do elevador se fechou, a garota percebeu que estava tremendo e que suas pernas pareciam bambas assim como o estômago embrulhado. Nunca havia sentido aquilo, nem mesmo quando estava com Duca.

Ah, Duca. Ao pensar no lutador sentiu uma tristeza lhe invadir como sempre. Ainda não havia superado o término e morria por dentro só de o ver com a lutadora Natalia. Ele marcou seu coração, como seu primeiro amor, o único por quem havia se entregado completamente.

Caminhou rapidamente na rua entrando no seu prédio e só se pôs a respirar aliviada assim que entrou no seu quarto e afundou na cama junto com seus pensamentos. Fechou os olhos e adormeceu instantemente.

Encarou a mulher que era refletida no espelho. Se parecia tanto consigo! Os mesmos olhos, o furo no queixo... E finalmente se tocou no óbvio. Era ela mesma! Bianca.

Parecia tão feliz. Verdadeiramente feliz. Encarou si mesma e percebeu que usava um vestido branco lindo rendado e longo. Iria se casar! Reprimiu um grito de surpresa e continuou observando curiosa sem perceber alguém chegando ao seu lado.

– Está nervosa? – virou-se encarando os familiares olhos azuis.

Era uma versão de Karina com vinte anos e cabelos caindo sobre o ombro usando um belo vestido azul que realçava seus olhos. Ela sorriu emocionada.

– Incrivelmente não. Eu estou ansiosa e louca para ficar ao lado dele, meu futuro marido! – se ouviu pronunciando essas palavras.

A irmã sorriu contagiada pela alegria da noiva.

– Sei como você se sente. Quando me casei, eu só queria que tudo isso acabasse e que finalmente pudesse ficar ao lado dele.– murmurou com a expressão pensativa como se tivesse relembrando de algo.

– Nem consigo acreditar que se casou primeiro que eu! – exclamou com falsa indignação enquanto K ria.

A conversa de ambas foi interrompida por uma pequena menina de cabelos escuros e intensos olhos azuis esverdeados fazendo birra no colo de Dandara que a segurava.

– Acho que alguém aqui quer a mamãe. – sentiu uma estranha conexão com a menina e observou Karina a pegar no colo com um cuidado quase maternal.

Sem dar tempo para ficar chocada com a cena, percebeu que o cenário havia mudado e se encontrava na igreja em frente do padre. Queria olhar para o noivo, curiosa em saber quem a faria se sentir imensamente feliz.

– Eu aceito. – pronunciou aquelas palavras logo virando o rosto.

Sentiu uma vibração irritante no travesseiro e abriu os olhos confusa. Virou-se bruscamente sentindo um mau humor se apossar em si por ter sido interrompida na melhor parte daquele louco sonho.

Pegou o celular e viu que era alertas sinalizando mensagens.

De: BB (021-93948990)

E aí louquete, aposto que está com uma ressaca dos infernos!
Sei que vai querer me espancar por ter te acordado (se vc estiver dormindo)
Mas quero te convidar para ir tomar um sorvete.
O Henrique tá aqui.

Lembra-se dele?
Vocês se beijaram.