2 - Sofrimento

Aquela noite demorava a passar, Shiemi estava em casa sozinha. Era sexta feira e ela não tinha ânimo para fazer nada a não ser chorar. A garota estava assim desde a última vez que estivera com Rin. Ela o rejeitara da pior maneira possível e se sentia culpada por isso.
– Como eu consegui mentir daquele jeito? - Notou seu olhar exausto, seu rosto inchado pelas lágrimas - Rin, me perdoe. Eu jamais rejeitaria você, eu te amo - ela sussurrou em meio ás lágrimas. Sentou-se na cama e logo se perdeu em lembranças da noite de quarta feira, uma noite amarga que preferia esquecer...

– Oi... - Shiemi se assustou ao abrir a porta - Não vai me convidar para entrar na minha casa? - O homem entrou. Admirou a nova decoração da casa - O que a presença de uma mulher não faz, não é? - ele riu, recebendo apenas o desprezo de Shiemi - Está sozinha?
– Minha mãe ainda não chegou do trabalho.
– E você já pensou na minha proposta? - Ele se aproximou de Shiemi, tocando em seus cabelos.
– Não toque em mim! - ela gritou.
– Escuta aqui, garota - ele segurou firme em seu braço.
– Amaimon! Solte a minha filha! - A mãe de Shiemi havia chegado do trabalho, ela sempre temia quando a menina ficava sozinha em casa, não sabia quando ele apareceria - O que quer aqui?
– Esta é a minha casa, eu entro quando bem entender! Não se esqueça que estão de favor aqui! E nada é de graça! Ela sabe o meu preço... - o homem continuava a gritar, deixando Shiemi apavorada - Case-se comigo! - ele a agarrou - Seja a minha mulher e não as expulso daqui. Darei tudo á você, jóias, vestidos importados. Tudo o que quiser, minha loira - ela se arrepiava ao ser chamada assim, sentia nojo daquela situação.
– Você disse que iria me ajudar por consideração, nunca me cobraria nada! E agora quer obrigar a minha filha a se casar com você? Eu nunca permitirei! - O homem empurrou a mãe de Shiemi contra a parede.
– Não estou obrigando a nada, a minha condição é simples. Shiemi se torna a minha esposa e você terá um teto até o fim dessa sua vida miserável! - ele gritou - Quem mandou ter um marido incompetente!
– Eu aceito! - Shiemi gritou - Jamais deixaria minha mãe na rua! - ela cerrou os punhos e fechou os olhos deixando as lágrimas escaparem - Eu serei tua...– O sorriso do homem tomou seus lábios finos. Ele soltou a mulher e se dirigiu á loira.
– Ótima escolha, Shiemi - ele sussurou no ouvido dela - Tenho certeza que me fará o homem mais feliz desse mundo - O homem a beijou a força e saiu da casa batendo a porta da sala.
– Filha...
– Estamos juntas nisso, mamãe - ela abraçou a mãe enquanto chorava em seu colo.

–Filha? - sentiu sua mãe lhe tocar o ombro - Não chore mais, por favor. Me parte o coração vê-la assim.
– Mamãe... Como eu posso ficar bem? Estou prometida para um homem que mal conheço e ainda consegui rejeitar o outro homem, este, que eu amo muito - a mais velha se assustou mas logo deixou um sorriso lhe tomar a face.
– Que você ama? Quem é ele, filha? Eu conheço?
– Ah, mamãe... - ela sentiu sua face ruborizar - Conhece sim, é o irmão do Yukinho.
– O Rin? - ela sorriu e deixou escapar uma risadinha - Que lindo, filha! Sempre achei o Rin e o Yukio ótimas pessoas. Conheci o pai deles, Shiro Fujimoto, era um homem de muito caráter. E vamos concordar que os dois são bem gatinhos! - Shiemi riu das palavras da mãe.
– A senhora ficaria feliz se eu namorasse com ele? - Shiemi estava muito envergonhada ao falar daquilo, mas quando o assunto era Rin ela sempre ficava feliz. Era como se os problemas desaparecessem por um instante.
– Eu conheço os meninos desde pequenos e sei o caráter deles, filha. Queria muito que você fosse feliz com o Rin, seria melhor do que sacrificar sua felicidade com esse homem nojento.
– Sim, eu fico pensando nele o tempo todo. No sorriso lindo que ele tem, no cabelo dele que sempre insiste em ficar nos olhos - ela ria a cada lembrança do menino - Aqueles olhos azuis que eu amo tanto e...
– Tudo bem, eu já entendi - as duas riram.
– Sim, mas agora está tudo perdido. Eu feri o coração dele da pior maneira. Eu perdi o Rin, mamãe.
– Shiemi, querida, eu não sei o que aconteceu entre vocês mas, eu não vou deixar que você seja infeliz por minha causa. Você não vai se casar, entendeu? Eu não vou deixar! Vá atrás de quem ama.
– Mas mamãe...
– Por que você não vai dar uma volta? Ainda está cedo, são sete e meia - ela piscou para a menina - Não acha que é uma boa noite para ver alguém? - a menina sorriu e decidiu ir atrás de quem amava. Iria procurar Rin e contar toda a verdade.
– Obrigada, mamãe. Eu vou ser feliz pela senhora, eu prometo - ela saiu correndo do quarto deixando a mais velha sorrindo.
– Você vai ser muito feliz, minha pequena estrela.