3 - Me beije, antes que nosso tempo acabe...

Shiemi saíra correndo pelas ruas iluminadas de Tóquio. Estava louca para chegar até a casa de Rin, se tivesse sorte conseguiria falar com ele. Ela corria muito até chegar a rua certa e nem percebia que estava sendo seguida. Ela procurou a casa verde que ficava no fim da rua, de vez em quando olhava para trás e para os lados, mas não via ninguém. Chegando a casa de Rin encontrara todas as luzes apagadas. Tocou a campanhia várias vezes mas ninguém atendera. A garota resolveu ir embora.
– Eu falo com ele amanhã - ela disse para si mesma na tentativa de se confortar. Saindo do bairro de Rin, ela passou em frente ao parque de diversões. Era um dos maiores de Tóquio e deixava todos deslumbrados quando viam a sua dimensão.

Shiemi sempre quis ir nesse parque, se imaginava em meio as luzes de mãos dadas com ele. Fantasiava beijos e abraços com Rin enquanto os dois se divertiam no parque. Se deu conta dos devaneios e riu de si mesma. A loira decidiu entrar, afinal, ela não teria nada a perder. Começou a se distrair em meio á multidão, via vários casais compartilhando momentos felizes e começou a se entristecer. Imaginava nunca poder sentir coisas como aquelas. Ela sentiu a solidão bater-lhe a porta, para tentar se afastar daquilo, decidiu ir ver as barraquinhas. Lá sempre iam alguns cantores anônimos fazer espécies de mini shows. Sentou-se num canto isolado e ficou a pensar, sem querer, percebeu que já estava chorando de novo.

– Shiemi? - ouviu uma voz serena, aquela voz que ela tanto gostava de ouvir - O que faz aqui?
– Rin! - ela se levantou rapidamente - É você mesmo! - ela o abraçou subitamente, assustando o rapaz - Ah, me desculpe!
– Não, tudo bem - ele estava corado - Eu... Pensei que não quisesse mais me ver.
– Rin! - ela deu um soco no ombro do rapaz - Por que eu iria querer isso?
– Lembro do que você me disse na última vez que conversamos, disse para eu ficar longe e...
– Eu sei - ela calou o garoto colocando dois dedos sobre os seus lábios - Por favor, eu estou passando por uma situação terrível e acabei descontando em você.
– Shiemi, eu posso ajudar! Seja lá o que for você não está sozinha - ele segurou nas mãos da garota. A loira pela primeira vez não recuou e apenas ficou a aproveitar cada minuto ao lado do garoto.
– Rin, me perdoe... - ela o abraçou mais uma vez e assim ficaram por alguns minutos. Rin podia sentir as lágrimas dela molhando a sua camisa. Estava preocupado com Shiemi, ela nunca contara seus problemas.
– Bom, já que estamos aqui, por que não nos divertimos um pouco? Eu tenho alguma grana aqui,podemos ir em algum brinquedo, sei lá - ele desviou o olhar. Ela sorriu com os olhos brilhando pela proposta dele.
– Passar a noite aqui no parque?
– Claro! Estou vendo que você precisa relaxar, prometo que vou te ajudar a esquecer esse seu problema, pelo menos por hoje - Rin abriu um sorriso largo que deixou Shiemi maravilhada. Parecia que ele ficava mais lindo sobre aquelas luzes.
O garoto entregou a ela um porquinho de pelúcia que ganhara ao acertar o alvo numa barraquinha ali perto.
–Desculpe, é que eu ganhei isso e não sabia o quê fazer com ele - ele riu - Yukio não entenderia se eu voltasse pra casa com um porquinho rosa de pelúcia.
– Obrigada - ela abraçou o bichinho com ternura e sorriu abertamente para Rin.
– Vamos? - ele estendeu a mão para ela, que não pensou duas vezes em aceitar.

Os dois passaram horas no parque, foram em diversos brinquedos e por último Shiemi arrastou Rin para a montanha russa, cuja era o maior medo do garoto.
– Eu vou morrer, eu sei disso - ele ficava sussurrando para si mesmo - É o fim! Apenas 19 anos vividos e já vou morrer, e virgem! - Shiemi ria com as coisas que ele dizia.
– Calma! - ela tocou o rosto dele - Eles ficaram se olhando até que de repente o carrinho em que estavam deu a largada. Rin gritava histéricamente, como se o mundo estivesse acabando. Shiemi, ao contrário, ria de tudo. Quanto tempo ela não se divertira assim? Talvez nunca tivesse uma noite tão linda como aquela. O carrinho parou e os dois desceram.
– Eu- eu- eu- estou bem. Rin disse com a mão no estômago.
– Nunca imaginei que o corajoso Okumura Rin tivesse medo de montanha russa - ela gargalhou.
– Acredite, eu estou bem. Só preciso de ar, é - ele respirou fundo umas quatro vezes quando tocou seu bolso, sentiu falta de algo - Não acredito!
– O que foi?
– Eu perdi a letra! A letra da música! - ele disse apavorado.
– Música? - Rin olhou pra ela, não devia ter dito aquilo.
– É - eles sentaram-se num banco - Eu tinha escrito uma música, coisa idiota e...
– Você escreveu? - ela se surpreendeu - Rin, eu quero ouvir!
– Não Shiemi, ficou horrível e talvez eu nem lembre da letra! E também precisaria de um violão...
– Por favor, vamos aproveitar que aqui não tem muita gente! Só cante a letra, sem música mesmo. Me fale sobre ela! - A garota estava com as mãos frias, segurava o porquinho que ganhara contra o peito, sentia seu coração pulsar mais forte.
– Bom... Eu vou cantar, mas por favor, não ria da letra, é simples ok? - ele tomou fôlego - Eu fiz essa música para a garota mais incrivel desse mundo, espero que ela goste - fechou os olhos e começou a cantar. A voz dele surpreendeu Shiemi, nunca tinha ouvido Rin cantar. Ele tinha extremo domínio e o timbre de sua voz era doce, sereno, quase acolhedor. Shiemi também fechou os olhos e deixou-se embalar pela melodia. Rin batia com os dedos no assento do banco, para fazer o compasso da música, enquanto ainda cantava de olhos fechado. Ele não tinha coragem de olhar para ela...

O seu amor brilha forte, como sempre, mesmo nas sombras.
Me beije antes que eles apaguem as luzes.
O seu coração está brilhando, e eu vou de encontro á você.
Garota, me beije antes que eles apaguem as luzes, antes que nosso tempo acabe.
Nas noites escuras eu vou, vou te procurar na multidão.
Seu rosto é tudo que eu vejo, eu vou te dar tudo, me ame sobre as luzes.
Nós não temos muito tempo, a luz do dia está acabando, então, é melhor você me beijar, antes que nosso tempo se acabe.
Ninguém ve o que vemos, eles disperdiçam o tempo. Garota, me leve ,antes que eles apaguem as luzes, antes que nosso tempo se acabe.
Eu te amo, muitos beijos
Você me ama, muitos beijos
Você me mata garota, muitos beijos
Você me ama, muitos beijos.
Você é tudo o que eu vejo, me dê tudo de si, me ame sobre essas luzes.

Shiemi abriu os olhos e Rin também, os dois ficaram em silêncio, um silêncio mortal para ele.
– Então, é isso - ele riu de canto - Deve ter mais coisas, mas não estou lembrando agora.
– É a coisa mais linda que já ouvi - ela se aproximou dele - Você fez isto pensando em quem?
– Eu... - Rin sentiu seu sangue ferver, como se seu peito fosse explodir, começou a suar - Eu-eu-eu fiz isso depois que você me deu um fora - ele riu sem graça, o suor escorria pelo rosto - é eu fiz isso pensando em você - Shiemi se assustou por um instante, mas logo deixou algums lágrimas escaparem só de pensar que ele ainda a amava depois de tudo.
– Você ainda me ama? - seus rostos já estavam mais próximos.
– Eu nunca deixei de amar - ele sussurrou. Shiemi foi chegando mais perto, já podia sentir a respiração descompassada dele. Seu coração também não ficava atrás, batia forte. Ela sentiu a mão dele segurar o seu rosto e a outra correu para lhe abraçar. Num impulso ele a beijou.

A sensação era única, Rin fora muito delicado com ela, o que surpreendeu a loira. Não sabia desse lado romântico do garoto. O beijo deles perdurou por várias vezes naquela noite. Não conseguiam parar de fazer aquilo, de ficarem juntos. Shiemi tinha sonhado com aquilo por várias noites, enquanto Rin nem acreditava que estava beijando a garota da sua vida.
– Rin, eu te amo - ela disse encostando sua cabeça no peito dele - Eu sempre te amei, sempre te adimirei! - Rin olhava para os cabelos loiros dela, sentia um perfume maravilhoso vindo dela - Só Deus sabe o quanto esse sentimento é grande, o quanto eu sempre te quis. Ser sua, só sua - ela o abraçou - Mas eu não posso... - ele tocou os lábios dela e a beijou mais uma vez, deixando Shiemi desnorteada.
– Não pode por quê?
– Por que ela vai se casar!– Rin ouviu uma voz masculina - Ela é minha!
– O quê? - Rin olhou para trás e se deparou com uma figura mais velha, estava contando vantagem. Olhava para Shiemi com cinismo enquanto ela nada dizia, apenas chorava, rendendo-se a ameaça do mais velho.