Acordei sonolentamente, e agora olhava para a madeira da cama de cima da beliche. Enquanto a preguiça de levantar me dominava, comecei a pensar sobre a vida, coisa que qualquer um faz quando está à toa.

O resto da semana passou tão rápido que parecia que foi ontem que cheguei aqui. Tudo já estava tão diferente, mas tão igual, que eu não conseguia entender. Só sabia de uma coisa: a essa altura do campeonato, não tinha mais volta. Ou eu me acostumava com esse lugar para viver aqui o resto das minhas férias, ou eu me ferrava. Eu tinha que amadurecer nessa questão.

Levantei e soltei um longo espreguiço. Percebi que pela primeira vez, eu acordei mais cedo que todas ali. Thalia estava atirada no colchão ao lado direito de minha beliche; eu só via cabelos castanhos escuros como sinal de vida de Katie; e bem, o resto das meninas dormiam normalmente, tirando Silena que parecia um anjo até mesmo dormindo. Eu hein.

Tratei de trocar de roupa, fazer minha higiene matinal e sair daquele chalé o mais rápido que pude, com medo de não acordar nenhuma garota.

O dia estava claro, certamente bonito. As nuvens se encaixavam com o céu de uma maneira tão perfeita, que parecia uma pintura que você pensaria ser uma fotografia.

Caminhei até a estrada e fui em direção ao refeitório, mesmo que não esteja nem perto de ser 09:15 da manhã.

Continuei minha caminhada e depois de poucos minutos, parei no meio da estrada, observando aquela cena. Dei de cara com quem? Isso mesmo, Luke e os Stoll's. A partir daí, tive certeza de que não era tão cedo assim, já que essas pragas estavam acordadas.

— Eu preciso perguntar o que vocês estão fazendo, ou... ? — parei de falar ao perceber o que eles estavam aprontando. Connor prendia uma linha quase transparente num pedaço de madeira do último chalé e Luke prendia a outra ponta da linha noutro pedaço de madeira do chalé em frente ao outro.

— Bom dia, Annie — falou Travis se virando para mim, já que o mesmo estava ocupado observando o feito dos garotos.

— Bom dia... — respondi. — Que milagre vocês acordados tão cedo.

— Falou a garota que acorda 05:00 da matina todos os dias! — ironizou. Eu apenas mostrei-lhe a língua.

— Annie — Luke se aproximou, possivelmente com seu "trabalho" feito. — Bom dia.

Ele veio ao meu encontro e me abraçou forte, e eu retribui. Nesses últimos dias nós nos reaproximamos, já que estávamos nos falando pouco desde que as aulas acabaram, e ele sempre me chamava para fazer pegadinhas junto com ele e os garotos.

— Ai que viadagem — vi, dessa vez, Connor caminhar até nós.

— Cof cof ciúmes cof cof — Travis fingiu uma tosse. Eu ri.

— Ah, quer um abraço também? — olhei sarcástica para Connor.

— Vou mentir não, eu quero — falou abrindo os braços.

Em meio aos risos, fui abraçá-lo.

— Se eu pegar na tua bunda, você me bate? — perguntou, tentando colocar inocência em sua voz.

— Sim — respondi, segurando o riso. — Chega.

Separamo-nos e nos deparamos com Luke e Travis nos encarando com uma cara um tanto quanto... Safada.

— Vão se fuder — murmurei já sabendo em que estavam pensando.

— Agora não — falou Travis. — Mais tarde, na festa.

— Festa? — perguntei sem entender.

— Ué, a gente vai fazer uma festa — respondeu Luke. — Não lembra que Thalia combinou?

Então veio à minha memória. No dia do Rouba-Bandeira, Thalia tinha falado que iria fazer sim uma festa, mas eu achei que não era pra valer, afinal, eu sai de lá tão rápido e nos dias seguintes ninguém comentou nada sobre isso.

— Ah... É mesmo — falei sem jeito. — E como vocês vão conseguir fazer uma festa aqui? Como vão arranjar enfeites, comprar bebidas...

— Eu sei de uns lances — falou Connor.

— E como o fato de você saber uns “lances” — fiz aspas com os dedos — vai ajudar Thalia a fazer uma festa?

— Ela é lerda — disse Luke. — Não adianta explicar.

— Só aproveite esse dia, sente num tronco de árvore, observe a gente ralando e se arrume para a festa — exclamou Travis. — Falou?

— Falou — cruzei os braços e sorri. — Só tire a parte de “se arrume para a festa”.

— Ué, por quê?

— Porque sim — falei. Eu não queria ir nessa festa, e sim, eu tinha motivos. O primeiro é que tem em torno de 20 pessoas aqui, e a festa ficaria super vazia. Segundo que é bem provável que não tenha bebidas, e festa sem bebidas não prestam. E terceiro que eu não havia trago roupas para festa. — A gente vai ficar aqui? Vamos logo pro refeitório.

— Não, eu quero ver quem vai cair aqui — explicou Travis, apontando para a linha quase invisível presa entre os dois últimos chalés. Com isso, ele caminhou até um dos chalés e se sentou nas escadinhas da frente. — Vai ser louco demais.

Assim como Travis, Connor e Luke foram se sentar nas escadinhas para ver quem seria o infeliz a cair na pegadinha deles.

— Qual é o problema de vocês? — perguntei, porém fiquei no vácuo.

Final da história: eu e os garotos espalhados na escadinha do último chalé esperando alguém acordar e caminhar até aqui, que no caso foi Leo.

— Que merda foi essa? — perguntou o garoto assustado, já jogado no chão, enquanto os outros riam. É, até que foi engraçado.

— Só mais um pegadinha dos garotos — falei vendo que até as roupas de Leo se sujaram de terra. Coitado. — Acho melhor você se limpar.

— Affs — murmurou Leo se levantando e voltando para o seu chalé.

— Agora vamos para o refeitório? — perguntei me levantando.

— Não, vamos ver o próximo que vai cair aqui — respondeu Luke.

Eu suspirei e comecei a andar em direção ao refeitório. Quantos anos mentais esse garotos devem ter? Uns cinco?

Ignorei o fato de eles quererem ver outras pessoas se machucando e continuei a andar para o refeitório e, já que estávamos nos últimos chalés, eu só precisei passar pela casa grande e depois virar a esquerda na curva.

Quando cheguei lá, me deparei com Percy sentado no tronco que sempre usamos como assento durante as fogueiras.

— Bom dia Percy — falei me aproximando e sentando ao lado.

— Ah, bom dia Annie — respondeu sorrindo. Oh, aquele sorriso... — Acordou cedo hoje.

— Sim — respondi, um pouco sem graça. Se ele me zoasse ou coisa do tipo que nem Travis vez, seria muita vergonha pra passar em frente a uma pessoa só.

— Que milagre — continuou. Como eu disse, muita vergonha.

Nós continuamos conversando sobre coisas aleatórias. Ele me explicou porque acordava tão cedo, e era para organizar as coisas no refeitório, e muitas outras coisas que eu não entendia no acampamento. Ele me falou sobre a Thalia e sobre os Stoll's, que eram os que mais vinham aqui nas férias, por isso ele tinha uma relação mais próxima com eles.

Mal eu percebi, mas o tempo passou rápido. De repente, todos - ou quase todos - os campistas apareceram ali gritando cantando uma música que eu não consegui identificar e dançando, pulando, sei lá o que era aquilo. Farofa maior, impossível.

— E então... — Percy se virou para mim, após observar aqueles animais iguais loucos. — Pronta pra festa?