Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 6
Ele




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Não sei exatamente há quanto tempo estou aqui, 10 minutos ou 1 hora, o fato é que perdi completamente a noção de tempo. Estou deitado no chão entre lágrimas e soluços contando meus batimentos cardíacos com a intenção me acalmar: 358, 359, 360... até que enfim minha respiração se torna regular e a as lágrimas cessam.

Me sento secando o rosto com as mãos e confiro o relógio, são 21h50. Dez minutos para o meu encontro com o Zeke e os outros no Fosso. Não sei se tenho condições de aparecer em público, não faço ideia de qual é a minha aparência mas tenho certeza que Zeke vai notar, ele me conhece muito bem. Mas decido que não ligo, preciso beber um pouco para esquecer, quem sabe o álcool me entorpeça de tal forma que dor não passe de uma pequena ferida pungente e não esse buraco enorme que tenho no peito.

*****

Zeke está de costas para mim, vejo que segura uma garrafa que contém um líquido de cor âmbar. Ele está observando o local por onde eu deveria estar chegando. Sei que ele saberá de onde estou vindo, mas não me importo, estou cansado de esconder meu desespero das pessoas apenas para que não se preocupem ou sofram por mim. Eu me sinto como uma bomba prestes a explodir.

_ Procurando alguma coisa? - Digo de forma casual.

Ele se vira com um sorriso no rosto.

_ Achei.

Eu me aproximo e vejo o sorriso diminuir no seu rosto ao passo que ele vê em mim olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Ele demora apenas um segundo para processar o que fiz.

_ Quatro, o que foi que você fez? O que está tentando fazer cara? - Sua expressão é séria e preocupada.

_ Você sabe. E não quero falar sobre isso agora, não antes que você me dê um gole disto. Aponto para a garrafa em sua mão.

Ele tira a tampa e passa para mim. Tomo um longo gole, o líquido desce queimando, mas não ligo, preciso acabar com essa dor.

_ Onde estão os outros? - Digo secando o líquido que escorre da minha boca enquanto Zeke me encara, decidindo sobre me dar um sermão ou não. Vejo isso estampado na sua cara e não porque sou intuitivo como Ela, mas porque é o que eu faria se estivesse no lugar dele. Falar nela dói, pensar nela também.

_ Devem estar chegando.

Assinto com a cabeça. Enquanto ele se dirige para uma pedra rente a parede talhada do fosso. Fico parado observando, ele se senta, encosta a cabeça na parede e fecha os olhos. Não entendo a sua reação. Então me aproximo e sento ao seu lado. Ele parece estar procurando as palavras certas.

_ Tobias, você acha que engana todo mundo, mas eu te saquei. E fico de cara porque sempre achei que fossemos amigos, irmãos.

Ele me chamou de Tobias, é, o papo é sério mesmo, sem o tom de brincadeira usual de Zeke. Abro a boca para responder e ele não deixa. Levanta a mão pedindo silêncio. Eu obedeço mais por realmente não saber o que dizer do que para respeitar o seu pedido.

_ A Tris morreu! Ela não volta mais! - Ele cospe as palavras na minha cara, e isso dói muito.

_ Ela fez isso por você, por mim, por Caleb, e por todos aqueles que ela amava. - Ele continua.

"Amava" ele disse amava no passado. Ela se foi e eu queria ter ido junto.

Ele me olha tentando sondar a minha reação, mas só o que faço é tomar mais um gole do amargo líquido âmbar. Agora estou olhando para as minhas botas surradas e poeirentas. Fica difícil sustentar esse olhar tão insistente.

_ Você precisa seguir e eu digo não apenas existindo, mas vivendo! Ela queria que fosse assim. Você não acha?

Agora ele realmente espera uma resposta. E eu estou irritado, o buraco no meu peito ainda está gigante e pulsa.

_ Ela não tinha o direito de decidir por mim! - Eu grito.

O olhar de Zeke é o que me derruba, e não consigo mais segurar e choro na frente do meu amigo. Nesse momento ele se levanta me puxa pelo braço e diz:

_ Vamos, os outros estão vindo e tenho certeza que você não quer que eles te vejam assim.

Eu o sigo sem prestar atenção a onde ele está me levando. Quando enfim ele abre a porta do meu antigo apartamento e entra, puxa uma cadeira e se senta. Eu vacilo na porta, olho em volta, está tudo exatamente igual a última vez em que estive aqui. A cama onde a Tris dormiu.

_ Vem Tobias, entra e fecha a porta. Você precisa pôr pra fora tudo isso que você vem escondendo de todos aqueles em que devia confiar.

Eu obedeço puxo outra cadeira e me sento a sua frente. Tomo mais um gole para criar coragem e quando me dou conta as palavras jorram da minha boca como uivos de um animal ferido.

_ Eu não quero viver sem ela aqui! Não consigo! Ela não pensou em mim! Ela não pensou no que seria a minha miserável existência sem ela!

E me dou conta que estou com raiva da Tris, estou odiando o seu altruísmo e principalmente, estou odiando o maldito Caleb, aquele covarde miserável!

_ Você vai sentir saudades dela por toda a vida cara, mas você vai ter que aprender a lidar com isso. Vai ter que aceitar a escolha dela e sobreviver, não importa o quanto seja difícil, você deve isso a ela.

Eu devo a ela? Sobreviver? Como?

_ Já se passaram quase 3 anos Tobias. E você continua sem aceitar um fato irreversível. Você não percebe que se você continuar assim vai definhar.

_ Bom, talvez seja isso seja o que realmente eu quero.

_ Cara, ouve o que você está dizendo!

_ Eu sei que não haverá outra como ela, que você a ama e sempre vai amar, mas você realmente acredita que ela gostaria que você jogasse a sua vida fora dessa maneira?

_ Não importa Zeke, ela foi embora e levou junto o meu coração, e no lugar ficou um enorme vazio que me consome mais e mais todos os dias.

_ Tobias, eu acho que você não se ajuda, você fica revivendo tudo aquilo, quando deveria se distanciar.

_ Agora você está dizendo que eu sofro por opção? - Minha voz sai alta e urgente, exprimindo a raiva contida que estou sentindo por ele insistir que devo abandonar as lembranças. Eu não quero perdê-la, quero vê-la, quero ouvir o som da sua voz, quero sentir o seu toque, mesmo que por breves instantes, mesmo que isso esteja me destruindo.

_ Eu digo que você não está se esforçando o bastante.

_ Eu não quero esquecê-la.

_ Não estou dizendo para você esquecê-la. Estou dizendo para você aceitar o fato de que ela se foi e você precisa sobreviver a sua perda.

_ Você não entende!

_ Eu não entendo? Tobias há quase 3 anos eu perdi meu irmão casula, quem eu criei como se fosse um filho. Não há um só dia em que eu não pense em Uriah, não há um só dia que não sinta falta do som da sua gargalhada. Mas nem por isso eu desisti da minha vida, porque sei que ele não iria quer isso.

Sinto uma pontada de culpa, ele perdeu o Uriah.

_ Você tem a Shauna e sua mãe e a mim o que restou?

_ Você tem a mim, a Evelyn, Joanna, Cristina, Cara, a fila é longa Tobias. Talvez se você dividisse a sua dor conosco o fardo não seria tão pesado.

Eu penso a respeito, mas confiança para mim não é algo que vem naturalmente, era ela, somente ela que me conhecia verdadeiramente.

De repente uma batida na porta interrompe meus pensamentos.

_ Quem é ? - Zeke pergunta.

_ Sou eu, Christina. O Tobias está com você?

_ Sim.

_ Olha só, não queria interromper o papo, mas os guardas noturnos encontram uma porção de pessoas, aparentemente moradores da margem, caídos próximo a cerca.

_ Eles estavam feridos ou mortos?

_ Não tinham feridas aparentes, respiravam mas estavam desacordados. A Joanna está reunindo todos líderes de departamento na repartição. Ela solicita a sua presença Tobias.

Zeke me olha como se estivesse perguntando se tudo bem.

_ Diga a ela que estarei lá em 15 minutos. - Respondo.

_ Certo! Quer que eu espere por você?

_ Não, vá na frente e tente descobrir algo. - Eu falo mais para dispensá-la do que por qualquer outra coisa.

Ouço seus passos se afastando. Descanso a garrafa sobre a mesa e vou até o banheiro lavar o rosto. Zeke me segue.

_ Até quando você vai evitá-la?

_ Até que ela entenda que não quero ser consolado por ela, principalmente pelos seus métodos.

Zeki ri, ele sabe do que eu estou falando.

_ Meu amigo Quatro rejeitando investidas de uma garota?! Estou realmente preocupado com a sua masculinidade. Ele fala em tom zombeteiro, com a intensão de quebrar o clima de tensão.

_ Cuidado docinho, posso estar interessado em você! - Eu falo entrando na brincadeira. Então ele me dá socos no braço e eu retribuo, retomando a nossa velha camaradagem.

Saímos do apartamento e Zeke afirma:

_ Vou com você! Quero saber o que está acontecendo!

_ Tudo bem. Vamos nessa.


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