Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 5
Ela




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Estou deitada em uma mesa dentro de um aparelho enorme, o Dr. Wes disse que se trata de um tomógrafo, que analisa a minha atividade cerebral e transmite as informações aos computadores.

Analisei todo o percurso que fizemos pelos corredores do hospital até chegar aqui, pessoas passaram por nós cumprimentaram o Dr. Wes, mas pareciam não notar a minha presença. Tentei memorizar o trajeto, afinal poderá se útil em algum momento. Os corredores pelos quais passei são largos o bastante para dez pessoas caminharem lado a lado e ainda assim caber uma maca. Observei algumas portas no caminho com nomes: Enfermaria, Laboratório, Vestiário, Farmácia, Tratamento Intensivo, Alojamentos, mas uma em especial chamou a minha atenção: Acesso a Base Militar. Isso significa que os soldados tem acesso ao hospital... Dr. Wes interrompe meu raciocínio:

_ Sua atividade cerebral é intensa nesse momento como se você estivesse tentando resolver pelo menos 10 equações matemáticas ao mesmo tempo. Gostaria de saber o que você está pensando.

É como se ele estivesse falando consigo mesmo, pois não parece esperar uma resposta, mas seria interessante dizer-lhe que estou analisando minhas alternativas para fugir desta prisão, mas não sem antes descobrir tudo que aconteceu enquanto estive desacordada. E então uma ideia me ocorre:

_ Podemos fazer um acordo, você me conta há quanto tempo estou aqui, como convenceu meus amigos de que estou morta, e tudo o mais que aconteceu enquanto estive desacordada. E quantos soldados existem lá fora, onde é saída, qual a distância daqui até Chicago e qual direção devo tomar.

Não verbalizo esta última parte, mas não posso evitar de pensar o quanto seria fácil fugir se obtivesse as respostas para estas últimas perguntas. Ele me olha intrigado aparentemente dividido.

_ Como saberei que está falando a verdade? Ele responde.

_ Vai ter que confiar em mim, da mesma forma que terei de confiar que o que você diz é verdade. Rebato e minha voz soa firme e confiante.

_ Bem, revelar o que sei não será prejudicial ao experimento, pelo contrário, aumentará a sua atividade cerebral e poderei analisar como seu cérebro responde.

Ele fala consigo mesmo e não comigo na verdade pois essa resposta soa mais como um devaneio do que como um diálogo entre duas pessoas e me dou conta de que neste momento eu sou um experimento do governo, um calafrio percorre minha espinha.

Ele aperta um botão e a mesa em que estou deitada desliza para fora do tomógrafo.

_ Sente-se com cuidado, você não está curada totalmente e algum esforço pode provocar tonturas e rupturas das suas suturas.

Obedeço, tentando mostrar de que sou capaz de seguir suas ordens.

_ Consegue se levantar?

_ Acho que sim. - Tento me levantar, meu corpo parece muito mais pesado do que realmente é. Ele me ajuda e com cuidado me leva até a minha cama onde deito e ele a empurra pelos corredores fazendo o mesmo que caminho que nos levou a sala do tomógrafo, só que no sentido inverso. Ele está me levando de volta ao quarto. Durante o caminho eu exijo uma resposta:

_ Então, acordo fechado?

Seus olhos encontram os meus e ele assente com cabeça sem verbalizar a resposta e eu me dou por satisfeita e permito que meus lábios formem um pequeno sorriso.

De volta ao quarto ele posiciona a cama no seu lugar, olho para as amarras que me prendiam a cama e ele responde como se lesse meus pensamentos.

_ Beatrice, não vou prendê-la na cama. Tomamos esta medida porque por mais que você estive sedada durante um sono que deveria ser como um coma, sem sonhos ou lembranças, você se debatia de tal forma que começou a apresentar riscos para o seu tratamento. Poderia acabar piorando os ferimentos.

_ Entendo. - Respondo, mas não me recordo de nada. Se realmente ele está falando a verdade subestima muito a minha capacidade de fuga, o que na minha opinião é uma enorme vantagem.

Ele sorri, puxa a cadeira que está junto a mesa no canto esquerdo do quarto, põe ao lado da minha cama, de modo que ficamos próximos o bastante para olharmos um nos olhos do outro. Analiso detidamente suas feições. Os olhos, apesar da dureza que tenta transparecer são verdes e profundos, me lembram os campos da Amizade. O nariz fino e proeminente. Os lábios finos mas bem desenhados. A pele branca contrasta com o cabelo negro como carvão cuidadosamente desalinhado para parecer casual. Se fosse em outro local, em outro momento, se não fosse o Dr. Wes, que me mantem aqui longe de Tobias e dos meus amigos, poderia dizer que a sua aparência é agradável, poderia dizer que ele realmente é muito bonito.

_ Então comece me dizendo o que está pensando agora.

Meço as minhas opções e decido que começar com verdades parciais nesse momento não será arriscado.

_ Estou tentando entender o que realmente aconteceu, estou refazendo meus últimos passos até aqui. A explosão das portas do depósito, o soro da morte me derrubando, meu corpo lutando contra ele, David na cadeira de rodas segurando uma arma, a distância entre o meu alvo e eu, um tiro no meu abdome, o soro da memória sendo liberado, outro tiro atingindo meu pescoço, o chão perto de mais do meu rosto, a poça de sangue sob meu corpo, o rosto de Tobias na minha mente, minha mãe. E mais nada. - Enquanto narrava para ele os últimos acontecimentos de que me lembro era como se eu revivesse tudo aquilo novamente, a dor causada pelos ferimentos, mas principalmente a dor causada por deixá-lo. Uma lágrima traiçoeira escapou dos meus olhos. Tobias, sinto muito.

Dr. Wes me olha atentamente e sinto sua expressão carrancuda se suavizar. Será pena? Depois do que parece uma eternidade ele fala:

_ O Departamento, assim como o experimento eram monitorados por câmeras, a Inteligência, via e ouvia tudo, não confiavam tanto em David quando ele acreditava. Eles perceberam seu propósito. Desde o primeiro ataque dos rebeldes, eles estavam de sobreaviso. E quando perceberam o que estava para acontecer se comunicaram com David e enviaram uma força tarefa para impedi-la Beatrice, mas você foi rápida demais, não contavam com a sua missão suicida. Tanto que David enviou seus soldados para as portas principais do laboratório, não imaginando que na verdade deveria tê-los enviado para as portas do depósito, por isso ele estava sozinho na sala, mas foi esperto o bastante para se armar.

Eu o ouço atentamente sem interrompê-lo tentando absorver aquelas palavras. Ele pára de falar e me avalia cuidadosamente, seus olhos focados nos meus, como se quisesse ver através deles. Eu quebro o silêncio:

_ E então, o que aconteceu depois?

Ele olha para o relógio e diz.

_ Por hoje basta. Tenho um compromisso em 2 minutos e preciso ir. Tente descansar um pouco, Emma deve chegar daqui a pouco com o seu almoço, vamos introduzir aos poucos a alimentação até que você seja capaz de voltar a se alimentar novamente do modo convencional e não intravenoso. - Ele fala se dirigindo à porta como se não tivéssemos tido aquela conversa, como se não tivesse revelado absolutamente nada do que aconteceu no dia em que acreditei que tudo estava acabado, no dia em que as pessoas que amo choraram a minha morte. Eu quero impedi-lo, mas não tenho forças o suficiente para me levantar correr até a porta e bloquear sua passagem.

_ Eu preciso saber mais! - Falo num tom suplicante, mas ele finge não ouvir.

Ele já está com corpo todo para fora do quarto vejo apenas a sua cabeça do lado de dentro, ele está ignorando a minha ansiedade aparente.

_ Até logo Beatrice! - Ele sai fechando a porta atrás de si.


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Notas finais do capítulo

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