Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 45
Capítulo 45 - Ele




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Deitado no chão de pedra úmido e frio, meus braços e pernas estão completamente esticados, porém meu coração está comprimido, apertado... Meus sentimentos são confusos, eu deveria estar feliz independente de qualquer coisa, pelo simples fato dela estar respirando, agora neste exato momento... Quer dizer, eu estou feliz, mas sinto raiva por ter sofrido tanto a sua falta, por ter desejado abreviar meu sofrimento a qualquer custo... Me sinto tolo por cada lágrima derramada, por cada pensamento suicida por cada atitude autodestrutiva... Ela sempre esteve aqui, com aquele cara, apenas seguindo em frente.

Uma maldita gota morna se forma no canto dos meus olhos, juro esta será a última vez. Pisco três vezes e elas escorrem deixando um rastro úmido nas minhas têmporas e por fim desaparecendo na pedra fria sob a minha cabeça.

"_Tobias!" - Ouço a voz dela me chamando e sinto minhas entranhas se revirando, que poder essa garota tem sobre mim. Fecho meus olhos, respiro fundo e por fim respondo da forma mais fria que consigo:

_ Aqui.

Tento organizar meus pensamentos enquanto me levanto para encará-la de frente, afinal ela me deve explicações.

_ Tem Notícias de Christina? - Covarde! Ao invés de confrontá-la sobre todo o tempo em que esteve fora, sobre esse tal Enrico, eu acabo perguntando sobre Christina, não que eu não me importe com ela, é claro que eu me importo, é só que não era sobre isso que eu queria falar!

Ela inclina levemente a cabeça e me olha intrigada, quase decepcionada e então responde quase que mecanicamente:

_ Desculpe, devia ter imaginado que vocês estariam preocupados. Ela está estável. Vai sobreviver. Wes cuidou dela.

Wes, mais uma para lista dos admiradores dela... Qual o grau de intimidade deles?

Não sei o que ela foi capaz de ler na minha expressão mais nesse momento ela fecha o cenho e diz:

_ Precisamos conversar.

_ Sou todo ouvidos. - Digo com um cinismo que não reconheço.

Ela me olha com seus grandes olhos azuis suplicantes e meu coração derrete, mas me mantenho firme.

_ O que foi? Você continua chateado pelo que aconteceu mais cedo? Eu não tive a intenção... Eu só quis ajudar... - Ela diz

Ela só pode estar de brincadeira!

_Me ajudar? - Eu respiro fundo, conto mentalmente até dez. E tento não pensar no quanto me magoa ouvir ela dizer que tenta me ajudar pondo a própria vida em risco. Desvio o olhar, Buscando no teto dessa cela a inspiração e as palavras certas.

Quando meus olhos encontram os dela novamente, percebo que ela está tensa e nervosa e não posso evitar de sentir um pequeno contentamento por esta breve sensação de estar no comando novamente.

_ Você nos faz acreditar que está morta por 3 longos anos. Depois coloca uma arma na própria cabeça e ameaça se matar. Onde nisso tudo está sua intenção em me ajudar? Por acaso você não acompanhou todo o meu sofrimento pelos malditos monitores da sala de controle dessa maldita Base? Você por acaso me viu vencer um dos meus piores medos para lhe dar um funeral a altura? Eu desci pela tirolesa espalhando as suas supostas cinzas por Chicago. Não, acho que você não viu, você estava ocupada demais andando de moto por aí com o seu novo amigo, o tal Enrico. - Acabo pondo para fora todo o meu ressentimento de uma vez só.

Seus olhos são um misto de culpa, confusão e sofrimento e desespero quando me encaram torturados.

_ Não seja injusto comigo Tobias! Me deixe explicar! -

Mas as palavras simplesmente jorram da minha boca, preciso dizer tudo logo de uma vez:

_ Você não viu quando eu quase tomei o soro da memória para apagar a dor que eu estava sentindo?! Você não viu quando esses seus malditos amiguinhos capturaram crianças e professores de uma escola na margem, os infectaram com um vírus mortal e os largaram na nossa cerca para nos matar também? Você também não viu isso, não é mesmo? - Eu a encaro com a raiva ainda mantendo meu foco e minha coragem,mantendo minhas mãos afastadas do corpo dela...

_ Você está sendo cruel! - Ela olha para os próprios pés para esconder seu rubor e toda a culpa que vejo que está sentindo.

_ Cruel? Eu estou sendo cruel? Não me venha falar em crueldade, essa gente com quem você anda agora usa as pessoas como cobaia, você sabia disso?

_ Eu fiquei aqui para manter vocês a salvo! O trato que Wes fez com o presidente para não reiniciar todos foi que eu ficasse aqui, que vocês acreditassem que estou morta. Mas eu tinha um plano! - Ela tenta explicar e tudo parece tão sem nexo e ainda assim no calor do momento, em meio a toda essa discussão só consigo pensar naqueles lábios e no quanto estão longe dos meus...

_ Deve ser um plano bem complicado, afinal em três anos você não conseguiu pôr em prática. - Respondo mecanicamente aproximando-me das grades sentindo urgência em diminuir a distância entre nós.

"_Ela vai ficar bem, está em estado de choque, acho que vocês exageraram na dose de soro antiofídico." O médico interrompe nossa discussão, mas uma tensão quase palpável ainda paira entre nós. Não nos movemos nem sequer um centímetro. Burburinhos de conversas e especulações acerca da saúde de Cara ocorrem ao entorno, mas não presto atenção.

Tenho a leve impressão de que Tris pede mais um tempo comigo aqui embaixo e o médico concede e me pergunto quem é ele para autorizar ou não... Que poder exerce sobre ela?

Então ela pigarreia e continua:

_ Tenho muitas coisas para te contar, Tobias. Não se trata só de Chicago. - Ela diz e dá dois passos aproximando-se da cela. Sinaliza para que eu faça o mesmo, a princípio eu pondero imaginando que talvez eu não deva me render assim tão fácil, mas então ela me mostra com o dedo indicador um pequeno ponto que imagino ser uma escuta, ou uma câmera filmadora e fico um tanto decepcionado... Permaneço imóvel então ela me puxa pela camiseta, meu corpo todo tensiona em resposta. Ela cola os lábios junto ao minha orelha e um arrepio toma conta do meu corpo e não me concentro em mais nada.

_ Ouça Tobias, não vou deixá-los aqui. Não estive me divertindo com Enrico como você insinuou, não sei o que você viu, mas eu estive treinando esse tempo todo para me tornar piloto e poder sair daqui sem ser percebida ou detida. Planejava roubar um caça e ir até vocês. Enrico foi meu instrutor. Eu nunca nem por um instante desisti de você. Meu plano sempre foi voltar para você. Só peço que confie em mim... Se você desistir de mim agora, eu não conseguirei... Preciso de você Tobias. - Ela faz uma pausa por um instante e só o que sinto é a sua respiração sunto a minha orelha, meus pensamentos bagunçados e o desejo latente de tê-la em meus braços...

_ Eu acompanhei a sua dor. Eu vi você sofrendo e desejei mil vezes estar morta para não ver isso. Mas me mantive firme e paciente, você insistiu em não abandonar a minha lembrança, eu devia minha vida e determinação a você por isso. - Ela se afasta o suficiente para olhar-me nos olhos, e só o que consigo pensar nesse momento são nos seus lábios macios e quentes. Ah Tris, como eu te quero!

_ Eu te amo. Confie em mim. - Ela diz com seus olhos suplicantes.

_ Eu também te amo. - Respondo já colando minha boca na sua, transpondo nossa distância, tentando atravessar aquelas malditas grades e fundir nossos corpos. Ah como eu desejo estar com você novamente, só nós dois, sem grades, sem platéia.

Ela passa as mãos em volta do meu pescoço, e eu me regozijo com seu toque enquanto meus braços atravessam a grade com dificuldade para agarrar-lhe a cintura. Ela esta mais magra, mas ainda reconheço cada curva do seu corpo, embora nossos momentos de intimidade tenham sido raros todos eles foram gravados como ferro em brasa no meu subconsciente, de olhos fechados eu poderia te identificar entre mil garotas se preciso fosse. Ah Tris, se você ao menos soubesse...

_ Vou cuidar para que saiam daqui em breve e quando tivermos privacidade suficiente vou contar-lhe tudo que está acontecendo e juntos resolveremos tudo. - Ela diz e Deus sabe que tudo que eu quero é ter privacidade com ela.

_ Tris, o quer que tenha de fazer, prometa que nunca mais nos separaremos!- Eu preciso que ela prometa, preciso que assuma este compromisso comigo.

_ Eu Prometo. - Ela responde de forma solene.

_ Beatrice, será que você tem um tempo para mim? - Caleb pergunta.

Será que nunca terei um tempo com ela só pra mim?

Ela me olha buscando aprovação... Aqueles grandes olhos azuis... Como resistir? Estou relutante, não quero me afastar dela. Balanço a cabeça em concordância mas seguro sua mão tanto quanto a distância nos permite...

Enquanto Caleb se reconcilia com irmã deixo de lado o meu lado prático e me permito sonhar... Pro inferno se ela só tem 19 anos vou me casar com ela. Não posso viver sem ela, então essa é a decisão mais racional a ser tomada... E se ela disse "Não"?? Mas ela me ama, não tem porque protelar. Então está decidido, eu vou pedi-la em casamento! Podemos morar no meu antigo apartamento na audácia, tenho certeza de que a Tris vai gostar, pelo menos até resolvermos ter filhos, aí nos mudamos para um apartamento maior. Evelym vai ter que se conformar em morar sozinha, porque eu sei que a Tris não vai aceitar morar junto com ela... E não quero me indispor com a minha esposa por causa da minha mãe. Minha "esposa".

Pelo visto a conversa com Caleb chegou ao fim, espero que tenham se entendi do, ele mudou muito nos últimos tempos. Não posso dizer que eu realmente goste dele, mas creio que ele esteja vivenciando alguns processos de mudança importantes e sei que a Tris ama o irmão e que para ela é importante essa humanização de caráter dele.

_ Zeke, primeiro quero dizer que sinto muito por Uriah, ele era um amigo muito querido, um verdadeiro irmão. - Ela está conversando com Zeke, e embora já tenhamos conversado sobre isso nunca vou conseguir me perdoar pelo que aconteceu pelo Uriah.

_ Eu sei Tris, ele também gostava muito de você. - Zeke responde e lembro que cheguei até a sentir ciúmes Tris com Uriah.

_ É, tivemos bons momentos. Mas queria te agradecer por ter tomado conta de Tobias por todo esse tempo.

_ Ei, eu tô ouvindo heim! - Eu os repreendo em tom de brincadeira.

_ Tudo bem, seu bebê chorão deu algum trabalho, mas fazer o quê?! Eu amo esse cara! - Zeke me ignora deliberadamente e responde à Tris e nós três caímos na gargalhada.

_ Obrigada Zeke, de coração. Sei que vocês foram os responsáveis por ele ter seguido em frente, então essa é uma dívida que nunca poderei pagar. - Ela completa agora em tom solene.

_ Olha, se você livrar a nossa e nos der uma cura para o vírus, estaremos quites. - Ele diz rindo para amenizar qualquer seriedade que o momento possa exigir.

_ Pode contar com isso! É o mínimo que posso fazer. E Shaunna, como está? - Ela continua com o papo e começo ficar agoniado por ela se manter assim tão longe de mim...

_ Está bem, quer dizer, deve estar preocupada, mas está bem. Matthew e Cara projetaram uma prótese de aço para que ela possa andar de vez em quando, mas ainda está em fase de experimentação, ela está feliz com a possibilidade de poder voltar a enxergar a vida de cima... Como se ela fosse muito alta...

_ Que bom Zeke! Aposto que Wes poderá ajudar. Aqui eles possuem muita tecnologia. Quando tudo isso acabar vamos ajudar Shaunna a andar outra vez.

_ Certo, agora Tris, volte pra cá! Fiquei tempo demais longe da minha garota! Zeke, você vai me desculpar. - Digo exigindo que ela volte para perto de mim.

_ Tudo bem mano! Ela é toda sua. -

Ela para diante de mim, grades nos separam, nossos olhos olhos vidrados, conectados, suas mãos passeiam pelos meus cabelos eu a agarro pela cintura e a puxo com delicadeza para mim aproximando-a do meu corpo, No pequeno intervalo entre as grades meu lábios passeiam pelo seu maxilar deixando rastro de suaves beijos até o pescoço e posso sentir ela desmanchando em meus braços, me desejando tanto quanto eu a desejo.

Ela murmura algumas coisas, as quais não presto atenção e tão pouco acredito que ela própria esteja assimilando tudo aquilo, mas de tempos em tempos finjo concordar enquanto minhas mãos passeiam pelas suas costas. Estamos completamente absortos um no outro, aproveitando cada toque, cada beijo... Mas então eu ouço o som de coturnos descendo as escadas, instintivamente Tris se afastas mas eu a puxo de volta quando constato que se trata do tal Enrico.

Ele nos encara e seu rosto enrubesce, posso sentir a raiva e o ressentimento tomando conta dele. Ele desvia o olhar tentando disfarçar e corre as mãos nervosamente pelos cabelos.

"_ Desculpem atrapalhar." - Ele pigarreia e diz parece irritado, respira fundo e mantém os olhos em um ponto fixo no teto para não olhar em nossa direção, enquanto que Tris tenta se desvencilhar dos meus braços, o que me deixa um tanto chateado, então eu a puxo para mais perto ainda e mantenho minha mão espalmada em sua cintura. Esse cara precisa saber que ela é minha!

"_ Bem, como eu estava dizendo, sinto em atrapalhar, mas precisamos conversar. Tris, alguns problemas urgentes que demandam nossa atenção. " - Ele se dirige exclusivamente à ela, testando minha paciência...

_ Enrico, o que houve? - Tris questiona.

_ O Capitão Finch quer falar conosco e o Dr. Wes está sendo solicitado no hospital, uma das moças acordou e está agitada. - Quer dizer, não é ele quem quer falar com ela, é o tal Finch...

_ Certo. Nos dê cinco minutos. - Ela responde.

Ah, essa não, lá vai ela outra vez!

"_ Okay. "- Ele responde visivelmente incomodado, pois nos deu as costas. Acho que ele não quer ver eu a beijando.

Ela me dá um beijo tímido e comportado e eu fico aqui me sentindo completamente impotente, precisando dar a ela uma boa razão para que volte, para que não me deixe mais uma vez, independente de qual seja o motivo. Eu seguro sua mão com delicadeza e olho bem no fundo dos seus olhos enquanto beijo cada um dos nós dos seus dedos com paixão e ternura.

_ Tobias, eu volto antes mesmo de você sentir a minha falta. Eu prometo. - Ela diz deliciada com a sensação que os meu lábios provocam em sua pele.

_ Estarei aqui. - Respondo sorrindo por ser capaz de tirar a minha garota do prumo.

Esse babaca não tem chance contra mim!

_ Ei Quatro, sério, vocês estão precisando de um tempo a sós, estava ficando com vergonha por vocês. Por sorte o Caleb é esquentadinho. - Zeke brinca.

_ Vai cuidar da sua vida Zeke! - Respondo em tom de brincadeira e Caleb permanece calado ele não consegue aderir as brincadeiras de Zeke.

_ Vou pedir aos guardas que providenciem uma cela privativa pra vocês.

_Já que você estava aí cuidando da vida alheia, você viu só a cara daquele babaca quando nos viu juntos?

_ Quem? O Soldadinho de chumbo?

_ O tal Enrico.

_ É, eu saquei que ele tem uma queda por ela. Mas na boa mano, não acho que você deva se preocupar.

_ É, eu sei.Só que quando eu soube que ela estava viva naquela cidadezinha que conseguimos o soro para Cara, eu a vi com ele. Eles estavam saindo do hangar com capacetes nas mãos e um monte de besteiras passou pela minha cabeça.

_ Eu sei, Christina me contou. Mas se tem uma coisa que todo mundo sempre soube é que desde o inicio a Tris sempre foi louca por você.

_ Você tem razão, mas mesmo assim eu tive medo.

_ Mas agora meu velho, deixa de bobagem, nada de entrar numa competição infundada com o soldadinho de chumbo que você só vai se queimar com a sua garota. Deixa ela saber que você é o homem maduro.

_ Ha-ha olha quem falando!

_ Só estou te dando um toque porque ele vai te provocar, eu sei, pode apostar.

_ E se eu bem conheço a minha irmã, ela já deve ter ficado amiga desse garoto. Ele deve ter se oferecido para ajudar, contado uma história triste e pronto. - Caleb interveio na conversa.

_ Ele tem razão Quatro, então não entre no jogo dele, custe o que custar.

_ Okay, vocês venceram... Serei o cara maduro.

*****************

_ Tris que história é essa de levar essa cara com a gente?

_ Tobias, ele é o único que conhece o caminho para o Bunker do Presidente.

_ Ele não poderia desenhar um mapa?

_ Não temos tempo para isso, e que garantia teríamos de que o interpretaríamos da forma correta, é muito fácil perder-se por essas docas. E de mais a mais achei que esse assunto já estava superado entre nós.

_ Sim, você tem razão. É só que o confinamento desse labirinto subterrâneo pode não nos fazer muito bem, quero dizer é muita testosterona.

_ Ah, vocês vão superar, com certeza! - Ela diz enquanto me caminhamos de mãos dadas pelas docas em direção ao local combinado.

Chegamos creio que com pelo menos uns dez minutos de vantagem do horário combinado. Esperava ter uma tempo a sós com a minha a garota, mas infelizmente o soldadinho de chumbo estava lá escorado na parede, imagino que esperando por nós quem sabe há uma meia hora pelo menos... Só para garantir que não tivéssemos tempo nenhum a sós.

Todos nos cumprimentamos com um simples aceno de cabeça e então começamos a segui-lo, o que por si só já me deixa desconfortável, saber que de certa forma nessa situação ele tem um vantagem sobre mim.

Seguimos nos esgueirando próximo a parede, Tris olha nervosa para as câmeras de segurança, mas o maldito lhe lança olhares tranquilizadores com certa frequência e para meu desespero vejo pelo semblante de seu rosto que a sua comunicação não verbal funciona muito bem. Isso é no mínimo muito preocupante. Respiro fundo e começo a contar mentalmente enquanto sinto minhas mãos começarem a formigar... Não posso deixar o ciúme me dominar, estamos aqui por outro motivo, seja racional Tobias! Você precisa se concentrar na missão!

"_ Na verdade estou surpresa que José não tenha conseguido um alto posto na Base." - Ó Deus, agora ela está iniciando uma conversa com ele!!!!

"_ Nem eu sabia que ele era capaz de tanto! Mas acho que meu povo não almeja grandes patentes por aqui. Quanto mais sabem sobre você, mais fica preso ao sistema." - Ele diz com o peito inflado de orgulho por ela ter puxado conversa com ELE e não COMIGO! Está tripudiando com a minha cara! Me concentro no caminho a minha frente, porque se eu tiver que olhar na direção dele agora não conseguir me segurar... Conte Tobias, conte... 1,2,3,4...

"_ Tobias, Christina estava estranha quando fui vê-la mais cedo, pediu perdão por ter tentado roubar algo que me pertencia, você do que ela falava. - Agora ela tenta amenizar a situação falando comigo? Não Tris, definitivamente não é uma boa hora...

_ Talvez seja a medicação. - Respondo ensaiando um sorriso de escarnio, afinal o que ela está insinuando? Que Christina e eu??

"_ Engraçado, porque Nita me disse outra coisa." - Ela responde irritada, O que Nita disse? Nita? Como assim? Tris esteve na Margem? Tris está com ciúme?! São tantas as perguntas bagunçando a minha cabeça, tantas coisas sobre as quais precisamos conversar... Precisamos de tempo. Mas parece que nunca temos o suficiente.

Nesse momento antes que eu possa abraça-la para desfazer o engano, ela apressa o passo e toma a dianteira e então o babaca corre atrás dela... Sempre aquele idiota para atrapalhar...

"_ Ei, Tris, eu sei o caminho! - O Imbecil diz enquanto passa o braço em torno do ombro da MINHA GAROTA, ELE ESTÁ ABRAÇANDO A MINHA GAROTA!

Meu cérebro não consegue processar a cena de outra forma. Corro na direção dele, torço seu maldito braço na intenção de quebrar. Ele empurra a Tris na direção da parede e desfiro uma cabeçada naquele nariz efeminado que começa a sangrar imediatamente. No entanto ele é mais forte do que eu esperava. Quando baixo a guarda com um jab de direita ele acerta meu supercílio e quase perco o equilíbrio, encontro apoio no seu ombro e lhe desfiro uma joelhada no estômago. Ele se lança na direção dos meus joelhos e caímos os dois, minha cabeça bate com força no chão de pedra e sinto um zunido nos ouvidos então ouço os gritos de Tris e sinto seu corpo se lançando entre nós e não emprego nenhuma resistência. Não quero que ela fique tocando nele mais do que o necessário. Mas acho que o maldito ainda não se dá conta e numa tentativa de me continuar me socando ele acerta de raspão as costelas da minha namorada. Meu sangue ferve, eu simplesmente o arranco de cima de mim como se fosse um saco de esterco e corro na direção dela que se contorce de dor no chão. Minha vontade é esmagar cada osso do corpo desse imbecil!

"_ Olhem só pra vocês! Estão sangrando, machucados! Olhos roxos, nariz quebrado! Poderiam dizer que enfrentaram pelo menos uma gangue de rebeldes da margem! Mas não! Conseguiram machucar a si mesmos!!! Membros do próprio grupo! Que tipo de idiotas são vocês?! Já estamos em um grupo reduzido, numa missão para salvar outras quatro pessoas além de nós mesmos e quem sabe uma nação inteira e vocês se acham no direito de pôr suas diferenças em primeiro lugar." - Ela diz e sinto o peso da culpa esmagando qualquer resquício de raiva que eu possa estar sentindo. Ela se esforça para levantar me prontifico para ajudar mas ela recusa e se esquiva do meu toque, magoada e faz o mesmo com ele. É estamos os dois enrascados.

Dou uma boa olhada no meu estado, camiseta rasgada, suada, ensanguentada, meu supercílio... Olho de canto para o meu oponente e vejo que ele parece pior, talvez seja o nariz quebrado, sua camiseta está completamente encharcada de sangue, os dois olhos estão roxos o lábio cortado. Mas a julgar pelo sorrisinho que abre ao me olhar também está satisfeito com o estrago que vê em mim.

Ele pega a mochila que carregava e foi lançada em algum canto daquela caverna e tira dela um cantil e camisetas e para minha surpresa os joga na minha direção. Então me livro da camiseta rasgada e suja, limpo as feridas e visto a camiseta limpa que ganhei do babaca, depois de ter quebrado seu nariz... É acho que estou lhe devendo uma...

Tris olha disfarçadamente na minha direção, imagino que tentando avaliar a extensão dos meus ferimentos, não se fico lisonjeado pela sua preocupação ou se fico chateado pela pouca fé na minha capacidade de defesa contra ele... Mas Caminhamos por um longo tempo em silêncio, não vou negar que meu corpo está dolorido e protesta a cada passo, mas não vou admitir, de modo que mantenho o mesmo ritmo dos dois, só espero que ele esteja sentindo tanta dor quanto eu estou.

"_ Enrico estamos caminhando há algum tempo, você tem certeza de que está nos levando para o caminho certo?" - Ela questiona... Ótimo, só falta o idiota ter nos levado para o lugar errado...

"_ Sim, absoluta." - Ele responde, cheio daquela autoconfiança irritante.

"_ São muitas bifurcações, como pode ter certeza?" - Ela está duvidando dele, sinal de que sabe que o imbecil não é tão confiável assim...

"_ São pequenas mudanças sutis na paisagem que você só acompanha se está esperando por elas Tris. A partir do quinto lustre oval entra na primeira bifurcação á esquerda." - O idiota infla o peito agora com alguma dificuldade, já que não respira mais pelo nariz efeminado, que eu mesmo quebrei... E conta as lâmpadas do tento e quando consegue comprovar sua tese lança um sorriso presunçoso cheio de dentes brancos na direção dela. Nossa, como isso me incomoda...

"_ Então a paisagem retoma ao mesmo formato... Mas então exatamente depois de seguir por 8 quilômetros em linha reta na parede cinzenta e rochosa à sua direita você verá muitas ranhuras como em qualquer outra parede de pedra pela qual tenha cruzado, mas se olhar melhor, ou se souber o que procurar fica mais fácil. O símbolo é um oito deitado. Na primeira vez é mais complicado, mas depois ele parece reluzir para você. Basta apertar nos dois espaços ovalares, que um teclado vai surgir. A senha é 4762 e estamos dentro." - Ele continua a falar presunçoso como se fosse um daqueles malditos cientistas da Erudição.

Tris não lhe dá tanta atenção quanto ele espera, apenas segue as instruções de forma mecânica assim como eu... O que se certa forma me deixa mais tranquilo e satisfeito.

Caminhamos lado a lado os três por mais oito quilômetros, a atenção dela durante todo o percurso focada completamente na parede a procura do oito invertido... De repente seus olhos ficam vidrados na parede, eu comprimo os meus tentando enxergar o que ela vê mas não vejo nada além de rocha. Então ela segue na direção como se tivesse sendo atraída por imã, com os dedos indicador e médio já em posição então me dou conta de que ela deve ter encontrado o oito invertido.

"_ Calma aí Tris, espera. É um elevador." - Ele diz se apressando na direção dela e eu o sigo imaginando se ele será capaz de tocá-la outra vez como fez antes da nossa briga.

Estamos um de cada lado, tento não pensar na proximidade em que ele está da minha garota, lembro que ele falou em elevador... Me concentro nos dedos dela tocando o oito invertido, o teclado azul brilhante surgindo, na agilidade paa digitar a tal senha da qual nem me lembro mais. Antes que eu possa me dar conta um tubo de vidro que surge sabe se lá de onde e nos cobre, e através dele descemos ao que parece ser o centro da terra. Olho em volta e vejo o borrão cinza passar pelo vidro e começo me sentir enjoado e me pergunto quem será que tem a brilhante ideia de descer ao centro da terra num tubo de ensaio numa velocidade dessas? Desisto de olhar a paisagem nauseante e olho para Tris que parece tão mau quanto eu, então ponho a mão em seu ombro de forma cautelosa, desejando puxá-la para mim, abraçá-la, aninhar sua cabeça em meu peito... Mas como nunca sei como serão suas reações prefiro não arriscar uma rejeição na frente do soldadinho de chumbo. Ela não recua, mas também não me toca, apenas me olha carinhosamente. Por enquanto posso me contentar com isso.

Descemos talvez uns 25 andares e de repente o tubo de vidro desaparece tão misteriosamente quanto surgiu, acho que ele deve ter sido sugado pela terra... Tris olha em volta, desconfiada e imediatante eu espelho suas atitudes. Ela está se sentindo observada então olha para ele buscando algum tipo de referência ou conforto e ele por sua vez se mantém tranquilo, com o ar de quem sabe exatamente onde está e o que está fazendo, e então ela relaxa, o que só faz aumentar a minha tensão... Ou seria a minha tristeza e impotência por não ser capaz de oferecer a ela a proteção de que precisa aqui nesse lugar que eu não conheço as armadilhas?

Ela confere as horas no relógio de pulso, preocupada com missão, mais um lembrete da criatura egoísta que eu sou... Enquanto ela pensa em livrar a pele dos nossos amigos eu só penso em nós dois, e na minha maldita insegurança.

Ele começa a caminhar e sinaliza com a cabeça para que o sigamos e é o que fazemos. Na medida em que caminhamos olho em volta surpreso, pois o local não parece ser de fato um buraco entalhado nas profundezas de uma rocha, as paredes são lisas regulares, brancas e floridas o piso é feito de uma pedra clara e lustrosa que não conheço mas que evidencia o quanto estamos vestidos de forma inadequada para estar naquele local. Quando arrisco olhar o teto é que fico verdadeiramente deslumbrado, parece que estou admirando um céu em dia ensolarado... Como pode?

"_ Incrível, não é mesmo?" - Ele pergunta, de forma orgulhosa como se parte daquilo o pertencesse.

"_ Você alguma vez o viu?" - Ela pergunta de forma objetiva sem se deslumbrar com o que vê e fico orgulhoso. Essa é minha garota! Nada impressionável!

"_ É claro que não." - Ele responde.

"_ E como saberei onde encontrá-lo?" - Ela insiste e parece impaciente.

"_ Alejandra disse que não sai da biblioteca, que apesar de ter uma suíte luxuosa ele prefere utilizar o escritório anexo a ela." - Quem é Alejandra? Uma informante? Porque ela não veio nos guiar?

Então me dou conta de que estamos andando há algum tempo desde que deixamos o tubo de vidro e ninguém apareceu para nos impedir, mesmo que os amigos deste aí tenham burlado as câmeras de segurança, deveria haver alguém fazendo a ronda dos corredores da casa de alguém tão poderoso como um presidente...

_ Mas e quanto a segurança? Um cara como ele deveria ter no mínimo uma escolta armada. - Pergunto.

"_ Acontece que ninguém conhece a identidade dele e tão pouco esse lugar. Eu tenho a localização porque a Tris descobriu que Alejandra é neta dele e me convenceu a seduzi-la para obter informações." - Hum... Então Alejandra é ligada ao presidente e o bonitão aí seduziu a moça induzido pela Tris! Não Não consigo evitar um meio sorriso principalmente quando vejo o olhar de ressentimento que ele lança na direção dela. Sorrio para ela e balanço levemente a cabeça aprovando sua atitude e ela parece um tanto desconcertada.

"_ Como fazemos para chegar à Biblioteca?" - Ela muda de assunto.

"_ Segundo Alejandra é o cômodo preferido dele, o maior de todos e fica no final do bunker. Apesar da minha curiosidade nunca cheguei perto, mas soube que há um jardim artificial na entrada com grama, árvores de frutas sintéticas, flores, plantas, e até alguns pequenos animais que a primeira vista parecerão muito reais mais são apenas hologramas que aparecem aqui e ali para dar um pouco de vida ao local... " - Ele menciona a garota novamente. Faço votos de fiquem juntos e que ele largue do pé da minha namorada.

Caminhamos em linha reta pelo corredor sem dar atenção a eventuais bifurcações já que nosso destino é a biblioteca que fica no final deste corredor. A medida que nos aproximamos sinto um delicioso cheiro adocicado de flores frescas.. A cada passo sinto o aroma entrando nas minhas narinas, acariciando minha pele então aos poucos o Jardim começa a tomar forma bem diante dos meus olhos.

A grama é verde e tão mão macia que quase posso senti-la através dos meus coturnos acariciando meus pés. Bem diante de mim há um pomar carregado de frutas suculentas. Esquilos travessos surgem para espiar-nos e com a mesma velocidade que aparecem eles escondem-se. Pássaros voam livres no céu de brigadeiro. Caminhamos um pouquinho mais então a minha direita uma porção de borboletas voam baixo... Eu me aproximo tentando tocá-las e elas simplesmente voam para longe revelando as flores mais lindas e coloridas que eu já vi. Elas exalam o perfume que só consigo descrever como o mais embriagante que já senti na vida... O Cheiro, o aroma confunde minha mente provando alucinações das quais não quero nunca mais acordar... A visão que tenho é a mais celestial de todas: Tris veste um lindo vestido branco que cai fluído sobre o seu corpo, o cabelo adornado por pequenas flores brancas, os pés estão descalços, nas mão ela segura uma porção de flores coloridas e sorri para mim... O cenário é uma montanha coberta por pequenas flores roxas, o sol está se pondo de modo que o céu tem uma tonalidade rosada, deixando tudo ainda mais caloroso. Ela sorri para mim, convidativa e eu incapaz de resistir corro em sua direção tomando-a em meus braços, sentindo meu coração martelando no peito e não podendo conter mais o desejo que cresce a cada segundo mergulho em seus lábios absorvendo seu gosto, me deliciando com a sua pele, ardendo ainda mais de desejo. Em algum lugar obscuro da minha mente a voz da minha consciência sussurra que isso é apenas uma alucinação...


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