Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 23
Ela




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/544355/chapter/23

Meus olhos correm do papel amarelado em minhas mãos para o rosto de Wes, meu tio Wes! Vejo que ele me olha aflito, está medindo minhas reações. E todas as perguntas possíveis que eu deveria fazer escolho a menos provável e talvez a menos esclarecedora de todas.

_ Você a perdoou?

Ele me olha por um longo tempo, talvez tentando decifrar a minha curiosidade ou buscando as palavras corretas que expressem seus sentimentos em relação à sua mãe... Minha avó.

_ No início eu a odiei. Odiei por ter me abandonado a própria sorte em um abrigo para menores. Mas procurei esquecer, meti meu nariz nos livros e todo o tempo ocioso que tinha, desde o amanhecer até o anoitecer eu lia, estudava e relia de novo. Um jeito que encontrei de distrair o meu cérebro, de esquecer onde eu estava, de esquecer que eu estava sozinho. Quando fiz 18 anos, já estava cursando o 3º ano de medicina, de modo que saí do abrigo para um pequeno apartamento de um cômodo que consegui alugar com a remuneração do emprego no setor administrativo do Hospital Saint Louis. No dia da minha formatura, não havia familiar algum para tirar as fotos, ou comemorar comigo. Apenas o diretor do Abrigo para Menores, onde eu vivi por cerca de 16 anos.

Ele faz uma longa pausa, como se precisasse tomar fôlego e continua:

_ Ele veio me parabenizar e me entregou uma pequena caixa dizendo: "Aqui está um pouco do seu passado. Mas não esqueça meu jovem, o futuro é você quem fará, independente de qualquer coisa, a decisão será sempre sua." Ele me abraçou e foi embora, me deixando ali com a pequena caixa na mão. Apesar da curiosidade eu tinha me voluntariado para o plantão no hospital naquela noite, pois haviam as festividades de formatura e eu queria desesperadamente escapar delas. Não gosto do contato com muitas pessoas, não gosto que pessoas desconhecidas me toquem ou esbarrem em mim, tenho aversão a multidão, festas e tudo mais, elas parecem evidenciar ainda mais a minha solidão. Depois de 36 horas de trabalho fui direto para o meu apartamento, tomei um banho, preparei um café me sentei na cama, abri a pequena caixa e encontrei esta carta que você tem nas mãos.

_ Então quando você veio trabalhar aqui já sabia que minha mãe era sua irmã? - Pergunto.

_ Não sabia, sua mãe vivia em um experimento, e até então eu acreditava que ela havia de fato nascido lá. Foi quando as coisas começaram a ficar complicadas em Chicago que voltei minha atenção para sua família. Havia uma pequena chama dentro de mim que dizia: É ela, só pode ser ela. Mas de fato eu soube apenas depois que ela morreu e fui pesquisar nos arquivos.

_Mas respondendo a sua primeira pergunta: Sim, eu a perdoei.

_ Gostaria que a minha mãe pudesse ter lido esta carta, gostaria que ela pudesse ter guardado essa imagem de minha vó. Uma pessoa que sofreu todo tipo de abuso e não conseguiu superar, uma pessoa que agiu por desespero e que fez o mal porque era somente o mal que conhecia.

_ Sim, você tem razão. - Ele diz quase que como um suspiro.

_ Agora entendo o seu esforço em salvar-me. Obrigada.

_ Eu devo isso a sua mãe, e a mim mesmo. Você e seu irmão me deram a oportunidade de ter uma família e o que as famílias fazem é cuidar uns dos outros. - Ele diz e parece emocionado, seu olhos estão brilhantes, molhados pelas lágrimas que ainda não caíram.

Ao ouvir isso não consigo evitar a lembrança de Caleb com Jeanine Mattews estudando a minha mente, ele foi capaz de me entregar para ela, eu poupei-lhe a vida ao assumir o seu lugar naquela missão no Departamento. Talvez se eu o tivesse deixado ir nada disso estaria acontecendo, talvez eu estivesse com Tobias agora, mas de fato não conheceria o passado de minha mãe e muito menos o meu tio Paul Wes Sheifild.

_ Sei o que está pensando. Caleb. - Ele diz com os costumeiros olhos analíticos.

Eu aceno com a cabeça.

_ Beatrice, o amor quando é verdadeiro é incondicional, tudo perdoa, tudo releva, mas ainda assim deixa cicatrizes, não se culpe pela mágoa, não o culpe por ter sido tão vulnerável. Tenho certeza que foi uma decisão dolorosa para ele, que cresceu acreditando que o conhecimento era detentor da razão e da lógica. O que o tornou manipulável.

_ Eu sei, você tem razão. Mas algumas feridas nunca cicatrizam de fato.

_ O tempo se encarrega de curar a ferida Beatrice, não se preocupe. - Ele diz enquanto se levanta, me dá um suave beijo na testa e se dirige a porta.

_ Descanse, hoje você teve um dia exaustivo. - Ele fala enquanto abre a porta e passa através dela, se vira na minha direção por um breve momento, sorri e dá uma piscadinha de olho.

_ Tchau Wes! - Digo não querendo que ele vá. Mas ele fecha a porta atrás de si e estou sozinha olhando para o teto, tentando administrar todas as descobertas que fiz hoje. A visão de Tobias na roda gigante, minha avó Jenna e sua família cruel, Wes quando criança num orfanato.

Acabo pegando no sono.

É estranho quando eu sonho e acabo tendo a consciência de que estou sonhando, como nas paisagens do medo consigo manipular meus cenários. Num primeiro momento estou nos braços de minha mãe, sangrando ferida revivendo a fatídica cena no Departamento, segundos depois abro os olhos e vejo o rosto de Wes próximo ao meu, seu braços fortes juntam meu corpo quase que sem vida do chão. Eu fecho meus olhos e quando torno a abrir vejo uma versão jovem da minha mãe lavando roupas e um rapaz alto e forte que me faz lembrar Peter se lança contra ela rasgando suas roupas e eu saco minha arma e atiro bem no meio de suas costas e seu corpo cai pesado sobre ela. Num piscar de olhos estou em um funeral, o caixão está aberto, nele há uma senhora muito velha e seu rosto está completamente cinza, a pele enrugada, os cantos da boca curvados para baixo, dão ao seu semblante um aspecto de carranca. Eu me aproximo mais tentando identificar quem é de fato aquela velha e então quando estou próxima o suficiente o cadáver agarra meu braço, a mão magricela e cinzenta me mantém próxima e os olhos são pretos mas têm um aspecto leitoso como se de fato ela estivesse cega. A cena é pavorosa, mas não estou com medo, tenho consciência de que trata de um pesadelo. "Você vai pagar por tudo Jenna! Sua bastarda!" A velha cospe as palavras na minha cara e seu hálito é fétido, lembra acarne podre, então o reconhecimento me atinge: Catarina.

Abro os olhos e dessa vez tomo um susto porque estou realmente acordada e um rosto sorridente está a centímetros do meu!

_ Achei que não fosse acordar mais! Estava prestes a checar se você estava respirando!

_ Enrico! Nunca mais faça isso!

_ Por quê? Se você estiver armada poderá me matar?? - Ele fala num tom de divertimento enquanto se afasta mas não o suficiente.

Eu me ajeito na cama de modo que estou sentada tentando forçar uma distância maior e respondo.

_ Se você acompanhou a minha vida pelos monitores como disse ter feito, já devia saber que é um risco que você corre ao me acordar dessa forma!

_ Não te acordei! Você acordou sozinha! - Ele diz ainda se divertindo pelo fato de eu estar completamente desconsertada diante dele.

_ Tá, mas o que você faz aqui? - Tento encerrar de vez esse joguinho idiota que ele está fazendo.

_ Vim ver como você está, afinal você me pareceu um pouco transtornada ontem a tarde.

_ Ontem a tarde? Que horas são agora??

_ 7 horas. Cedinho ainda, o café nem foi servido ainda.

_ Nossa eu dormi mais de 12 horas?! - Digo um pouco confusa.

_ Não sei, mas pensei que talvez pudéssemos tomar café juntos. - Ele diz me encarando intensamente, os olhos amendoados fixos nos meus. Eu tenho a impressão de que corei, pois senti um calor subindo às minhas bochechas.

_ Você está me convidando para tomar café? - Eu pergunto meio que descrente, porque apesar dele ter me convidado para um café as palavras pareceram insinuar algo mais.

Ele ergue as mãos como quem se desculpa e com um sorriso torto diz:

_ Não estou te chamando para um encontro Tris, é só uma café! Ou você prefere ficar aqui esperando a Emma te trazer o café na cama. - Ele argumenta e a ideia de passar a manhã toda na cama me deixa inquieta.

_ Tá bom, então você espera do lado de fora que vou me arrumar.

_ Hahaha nossa quanto pudor! - Ele ri revelando seus dentes impecavelmente brancos que contrastam com a pele bronzeada. Uau! Ele realmente é muito bonito.

_ Vai! se manda! - Eu digo com o tom de voz mais ríspido que consigo e ele sai do quarto caminhando preguiçosamente e ainda rindo do meu constrangimento.

Assim que ele fecha a porta atrás de si me levanto de sobressalto, tomo uma banho rápido, escovo os dentes, passo a escova nos cabelos e dou uma conferida do espelho. Meu cabelo está de um comprimento estranho, meu rosto magro e pálido, tudo normal. Enfio um jeans igual ao que usei no dia anterior e uma camiseta branca também igual a do dia anterior, mas não porque eu quero, mas porque é só o que tem disponível no pequeno armário do meu quarto, uma pilha com camisetas brancas e calças jeans azuis. Visto o par de tênis que ganhei junto com as roupas e saio do quarto sem secar os cabelos.

Enrico está de braços cruzados me esperando.

_ 15 minutos! Isso é um recorde, nenhuma garota que conheço se arruma em apenas 15 minutos. - Ele diz conferindo seu relógio digital de pulso.

_ Isso é porque não sou qualquer garota. - Eu digo com uma arrogância proposital na voz.

_ Pode crer! - Ele confirma e não consigo deixar de exibir um sorrisinho de contentamento.

Enquanto percorremos o corredor resolvo perguntar:

_ Então, qual é a sua história? Me parece justo saber já que você acompanhou a minha vida através dos monitores.

_ Pode ter certeza que não é tão interessante quanto a sua!

_ Vamos lá, quero saber.

_Ok. Já te falei que meu país de origem não é este?

_ País? Sim, estamos nos Estados Unidos da América, mas eu nasci no México. Vivíamos num pequeno povoado, mas então os Estados Unidos tomou meu país. Os cientistas fizeram testes em todo mundo e alguns foram acomodados em experimentos como o seu, e alguns que foram considerados geneticamente puros vieram para cá para servir ao exercito do país e aqui estou eu! - Ele diz sorrindo, mas o seu sorriso não chega aos olhos como de costume, então presumo que a história não é tão simples assim.

Recordo-me do nosso primeiro encontro, quando ele invadiu meu quarto e disse que estávamos do mesmo lado... Ele quer fugir! Deve ter um plano e está esperando o momento certo de me contar!

_ Você não tem família? - Pergunto e percebo que talvez atingi seu ponto fraco, pois ele desvia os olhos e abaixa a cabeça.

_ Tive pai e mãe e tenho irmãos.

E apesar da sua relutância eu insisto, as vezes a minha curiosidade é muito maior do que minha compaixão ou empatia.

_ O que houve?

_ Bom, meus pais e irmãos foram considerados geneticamente danificados e foram para o experimento Milwaukie, durante o confronto que houve entre os rebeldes e o governo meus pais foram mortos e meus irmão foram adotados pela Emma.

_ Sim, ela me contou a história. Emma é uma pessoa realmente maravilhosa.

_ Sim, é. Devo muito a ela. - Ele diz pensativo.

Chegamos ao restaurante onde almocei com Wes ontem. O cheiro de ovos mexidos e bacon toma conta do ambiente. Enrico faz a frente e reserva uma mesa para dois junto à janela, no lado esquerdo do salão. Nos dirigimos ao buffet, ambos com uma bandeja na mão. Como da outra vez acabo servindo um pouquinho de tudo e quando me dou conta tenho 3 copos de suco na minha bandeja e ao final do Buffet vejo os bolinhos de chocolate da audácia, neste momento sinto uma pontada de dor no fundo das minhas costelas, pois apesar de ser um simples bolinho de chocolate ele me trás muitas lembranças e todas eles inevitavelmente atreladas ao Tobias.

Nos sentamos frente a frente e enquanto eu devoro tudo que há na minha bandeja Enrico tira pequenos pedaços do seu croissant e coloca na boca e mastiga sem tirar os olhos de mim.

_ Ninguém te ensinou que é falta de educação ficar olhando uma pessoa por um longo tempo, principalmente quando ela está comendo? - Falo de boca cheia, mesmo sabendo que isso também não é nada educado, mas sei lá, não me importo.

_ Estou só olhando, qual é o problema? Não posso olhar pra você? - Ele diz com aquele sorrisinho de canto de lábio.

_ Não! Acho melhor você se concentrar no seu café da manhã!

Ele ri e provoca:

_ Por quê? Você vai devorá-lo também? - Ele fala rindo em tom de brincadeira e então pega o bolinho da minha bandeja. Imediatamente eu arranco o bolinho de sua mão e coloco de volta no lugar, o processo todo meio que o deixou esfarelado se desmanchando. Esse bolinho é sagrado pra mim, nem pretendia comê-lo...

Enrico percebeu a minha cara fechada e quis saber:

_ Qual é a do bolinho? Era só uma brincadeira, por que você se zangou?

_ Você não tem nada a ver com isso! - Digo ainda irritada.

_ Tudo bem, desculpe! Isso é entre você e o bolinho! - Ele diz rindo. E eu não consigo me conter e acabo caindo na gargalhada também, porque no fim das contas a situação é ridícula. Quem reage desse jeito por causa de um bolinho?!

_ Perdoado então? - Ele levanta as sobrancelhas como que esperando uma resposta.

_ Tá, desde que você não mexa no meu bolinho!

_ Ah, isso eu já não posso prometer! - Ele diz enquanto arranca um pedaço do bolinho na minha bandeja.

_ Mas que idiota! - Eu digo frustrada!

Ele não responde apenas se levanta, acho que se zangou e quando penso que vai me deixar aqui sozinha, percebo que vai até o buffet, pega uma bandeja e põe pelo menos uns 6 bolinhos e traz para mim.

E eu tenho que rir, ele realmente é um idiota.

_ Eu roubarei pedaços do seu bolinho todos as manhãs se for possível, mas prometo que sempre te trarei mais, pelo menos duas vezes mais. - Agora ele está sério, me olhando intensamente e tenho que desviar o olhar para bandeja porque desse jeito fica complicado sustentar tamanha intensidade. As vezes tenho a impressão que ele me olha como se pudesse ver através dos meus olhos, como se pudesse ver o que há dentro de mim.

_ Ah!!! Você está aí? - Ouço uma voz feminina e imediatamente levanto a cabeça para ver que é e descubro que se trata da moça que me olhou com raiva das outras vezes em que viu Enrico conversando comigo e agora percebo que está me ignorando deliberadamente.

_ Sim estou Alejandra! Bom dia pra você também! E a propósito, está é Tris. Tris, esta é Alejandra. - Enrico fala aparentemente consternado pela interrupção e pelo modo como ela se dirige a ele. Ela dá entender que ele lhe deve satisfações e ele parece irritado com isso.

Quando penso em dizer um olá ela cospe a frase pra ele sem nem se quer olhar em minha direção

_ Sei quem ela é! O que você está fazendo aqui?

_ Pensei que fosse obvio, estamos tomando café e você está atrapalhando. Olha só, estou meio sem tempo pros seus chiliques então, se nos der licença, Tris e eu temos muito o que conversar. - Ele diz.

Vejo a raiva borbulhar através dos olhos de Alejandra, suas narinas estão infladas a respiração urgente, então imagino que talvez ela vire a mesa, jogue tudo pro alto. Mas então ela pega um dos bolinhos na bandeja que Enrico trouxe e joga no rosto dele com tanta força que o bolo se despedaça todo. Então ela vira as costas e sai pisando duro.

Ao invés de ter um surto de raiva Enrico ri e faz piada:

_ No fim das contas, é tudo pelo maldito bolinho!

Eu rio da sua piada enquanto ele limpa os farelos e pedaços de bolo que estão por toda a sua camiseta.

_ Qual é a da garota? - Pergunto

_ Ela pensa que é minha dona. - Ele responde.

_ Vocês namoram?

_ Tivemos um lance há bastante tempo, mas parece que ela não desencanou. - Ele responde.

_ E por quê não deu certo?

_ Cara, você é curiosa heim. - Ele diz e eu continuo em silêncio, esperando.

_ Incompatibilidade de gênios. Não gosto de ser controlado, e ela é psicótica, se pudesse introduziria um chip rastreador em mim.

_ Mas só porque se sente insegura. - Eu digo e não sei porque estou defendendo essa garota tão hostil.

_ Na verdade foi logo que soube que meus pais morreram, eu estava meio carente, ela meio que me consolou, mas na verdade eu não gostava tanto assim dela a ponto de aturar suas neuroses. Então terminei o lance com ela, o que na verdade não durou um mês.

_ Que coisa! Acho que estou jurada de morte! - Digo me divertindo com a situação porque na verdade ela está na outra extremidade do restaurante me fulminando com os olhos.

_ Esquece ela, não vale a pena!

_ Percebi que ela faz parte do seu grupo, anda sempre junto com vocês. Como você administra isso?

_ Nossa, você é muito observadora. Confesso que estou feliz que tenha reparado em algo relacionado a mim. Mas respondendo a sua pergunta eu simplesmente a ignoro.

_ Terminou? - Pergunto

_ O quê? - Ele parece confuso.

_ Seu café?

_ Ah, sim. Terminei.

_ Vamos então?

Ela abre um enorme sorriso, se levanta e me estende o braço como um antigo cavalheiro vitoriano.

Eu me levanto, aceito o braço mas me desvencilho dele assim que posso. Já estamos distante da nossa mesa quando me lembro do bolinho. Volto correndo em direção a mesa, pego um que permaneceu intocado e levo comigo. Enrico está me esperando na porta. Enquanto saímos sinto muitos olhares nos seguindo mas tento ignorar.

Caminhamos em direção ao jardim. Sento-me à sombra de um grande carvalho, ponho cuidadosamente o bolinho na grama ao meu lado esquerdo. Enrico pára e me observa por um instante depois senta ao meu lado direito. Encostamos nossas cabeças no tronco e me concentro nas ramificações dos galhos e nas folhas, como de fato esta árvore que parece tão soberana e majestosa pode sucumbir ao fogo, a água, até mesmo a um machado. Tudo é efêmero, não importa o quão forte seja, em algum momento tudo pode acabar.

_ Então, como ficaram as coisas com aquele cara, o seu instrutor, como era mesmo o nome dele? - Enrico me arranca do meu devaneio. Eu pondero por alguns instantes, não sei se devo falar a respeito... Mas acabo cedendo.

_ O nome dele de batismo é Tobias Eaton, mas seu nome na Audácia e como é conhecido pela maioria é Quatro. Ele acredita que estou morta.

_ Quatro? Como o número? - Ele quis saber e essa pergunta me remete a Christina e sua franqueza sem nenhuma noção no dia em que conhecemos Tobias.

_ Sim como o número, ele recebeu esse apelido de Amar, seu instrutor pois ele tem apenas 4 medos. Sabe, o teste que você faz no segundo estágio da Audácia é psicológico, eles te transportam para a sua paisagem do medo e você tem de enfrentar tudo aquilo que mais te atormenta. A maioria das pessoas tem em média uns 15 bem ruins, mas ele tem apenas 4.

_ Uau! E você? Quantos medos tem?

_ Atualmente 5.

_ Nossa, você é incrível! - Ele diz visivelmente impressionado e eu não respondo e nem desvio os olhos dos galhos do carvalho, porque sei que não há nada de extraordinário ou incrível em mim.

_ E você, como está convivendo com a ideia de que está morta para ele.

_ Mal, muito mal, as vezes penso que não serei capaz de suportar, vê-lo sofrer e saber que sou eu a causadora, isso me destrói. Eu queria encontrar um jeito de poder dizer a ele que estou bem, viva e que um dia voltarei para ele.

_ Não há espaço para mais ninguém aí? - Ele fala apontando pro lugar no peito onde fica meu coração.

_ Desse jeito não...

Ele acena com a cabeça e desvia o olhar, e se cala por um tempo. Mas murmura para si mesmo num tom de voz baixo, quase que como um sussurro, se eu não estivesse prestando atenção, se tudo não estivesse no mais absoluto silêncio eu não ouviria. Ele dizer: "Sou persistente e não desisto assim tão fácil"


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Capítulo Corrigido!!! Gente, vocês são muito compreensivos. O capítulo estava cheio de erros de concordância e palavras pela metade e ninguém me criticou!!! Tenho muitíssima sorte por ter leitores assim tão amáveis e compreensivos. Obrigada



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Convergente II" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.