Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 22
Ele




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Nesse exato momento estamos correndo contra o tempo. Preciso dividir minha ideia com outros. Agora é matar ou morrer.

_ É o seguinte, vamos sinalizar para que parem, precisamos de uma desculpa plausível para separá-los Estamos em 6, conheço as habilidades de luta de 3, e tarefa não será fácil, precisamos desarmá-los e eliminá-los e alguém precisará voltar para avisar os guardas de Chicago que a cidade corre perigo, afinal o primeiro lugar pelo qual vão nos procurar depois de constatarem que seus guardas não voltaram é em Chicago.

_ Isso é muito óbvio! - Christina diz.

_ Mas eles não têm ideia de que sabemos sobre New York, então para onde iriam se não para Chicago? - Cara pondera.

_ Para a Margem! - Nita fala enquanto cobre a boca com as mãos e antes que qualquer um possa se manifestar a frase sai rápida e urgente dos seus lábios.

_ Eu me voluntario para avisar Chicago e a Margem! Não vou trair meu povo, se tiver de lutar até morte ao lado deles eu lutarei. Só peço que cheguem em New York e explodam esse governo de merda!

_ Você tem certeza? - Questiono.

_ Sim, é o certo a fazer.

_ Pois bem, vamos nos dividir nos seguintes grupos: Christina, Zeke, Caleb, formam um grupo, Cara, Nita e eu formamos outro.

_Ok, mas qual será o motivo que daremos para que parem e para que nos separemos? - Christina quis saber.

_Simples, basta que uma das garotas queira ir ao banheiro e um dos rapazes tenham uma dor de barriga incontrolável. Eles jamais deixarão alguém na Pickup, a formação lógica será mulheres para um lado, rapazes para o outro cada qual com um grupo de soldados escoltando. - Respondo.

_ Mas se não acontecer dessa forma? - Cara parece intrigada e um tanto descrente.

_ Vamos ter que arriscar ou você tem alguma ideia melhor? - Pergunto

_ Mas como nós mulheres atacaremos os soldados armados? - Ela questiona.

_ Vocês não atacarão. Nós, Zeke e Eu desarmaremos o nosso grupo, e os imobilizaremos, não podemos disparar armas e alertar os demais. Então atacaremos de surpresa.

_ Vamos tentar, se eles vão nos matar de qualquer forma, que ao menos a gente tente sobreviver de algum jeito, mesmo que nossa única esperança seja um plano estúpido como esse. - Caleb diz e eu não me permito ser dominado pela irritação. Não agora, pois apesar de saber que ele não vale nada, não falou por mal, este é um plano bem estúpido mesmo, mas é tudo que temos.

Na mesma hora eu ligo os alertas e vou reduzindo a velocidade, os jipes que estão nos interceptando fazem o mesmo e paramos de forma sincronizada. A tensão dentro da pickup é quase palpável, permanecemos todos imóveis enquanto o guarda se aproxima e nesse momento me dou conta que não combinamos os demais papéis além do de Nita.

Como se lesse minha mente Caleb começa a se contorcer e solta gemidos como se realmente estivesse sentido muito dor. Ele me parece um ótimo ator, então um pensamento perturbador passa pela minha cabeça, ele entregando a própria irmã para morrer nas mãos de Jeanine Mattews. Balanço a cabeça para afastar o pensamento.

Dois guardas saídos um de cada jipe, estão curvados apoiando as cabeças nos braços que por sua vez estão escorados em cada janela da frente da pickup, eles apontam lanternas para nossos rostos, Caleb mantém seu teatrinho.

_ O garoto aí está se contorcendo de dor de barriga. Acho que vai emporcalhar todo o carro! - Zeke diz para o guarda que está na sua janela.

_ Eu preciso ir ao banheiro! - Cara grita lá de trás.

Os guardas se entre olham e parecem aborrecidos e entediados.

_ Esperem aqui! - Um deles ordena.

Eles se dirigem aos seus jipes, se comunicam com seu grupo e então todos descem como havíamos previsto, se aproximam e quando estão próximos o suficiente para serem ouvidos um deles ordena:

_ Desçam do carro o cagão e a mijona.

Droga! Pelo visto vai ser mais difícil do que eu pensava. Christina abre a porta de trás e desce para dar passagem a Cara. Caleb desce pelo outro lado com as mãos na barriga e permanece a todo momento gemendo. Ele cambaleia e cai, não sei mais se está fingindo ou se caiu de verdade. Então um dos guardas aponta para o Zeke e diz:

_ Carregue esse cagão ou atiro nele agora mesmo!

Zeke se apressa em carregar Caleb em direção ao mato alto que circunda a pequena estrada que foi formada apenas pela passagem constante de carros no local. Já está escuro, de modo que tenho alguma esperança de possamos reverter a situação. Três guardas armados o seguem. Sempre em vantagem numérica, esse deve ser o lema. Mas para Zeke, se não estivessem armados seria como roubar doce de criança.

Cara já está há alguns metros de distância acompanhada por dois guardas quando Christina diz:

_ Espere! Acho que vou aproveitar para ir também pra não termos que parar de novo.

Outro guarda faz menção para que ela siga e vai logo atrás. Restaram quatro deles e dois de nós. Nita e eu. Não há muito tempo para pensar, ela apenas me olha e sei que essa é minha deixa. Com os dois punhos cerrados acerto o nariz dos dois guardas atrás de mim enquanto Nita dá uma cotovelada no abdome de um do guarda que estava mais próximo dela. Ouço um disparo e sinto meu ombro formigando, mas não ligo me lanço em direção ao quarto guarda e com chute certeiro eu o desarmo. Os outros dois agora recuperados estão de volta a luta.

Nita empunha a arma que o quarto guarda perdeu e atira no peito de um deles que cai num baque surdo no chão batido e poeirento. Tudo acontece rápido demais, numa luta corpo a copo acabo atingindo outro guarda com sua própria arma e então ouço um tiro vindo das minhas costas e mais um guarda desaba mais a diante. O sobrevivente foi rendido. O Tiro foi disparado por Zeke.

_ Você foi atingido! - Zeke aponta para meu ombro que está sangrando. E percebo que ele está mancando, com a perna ensanguentada.

_ Você também. - Retribuo acenando com a cabeça na direção da sua perna.

De repente ouvimos passos na direção de onde as garotas haviam se dirigido seguida por outros 3 guardas.

Quando surgem na margem da estrada, vejo que 2 guardas sobreviveram e estão com Cara e Christina sob a mira de suas armas. Reféns! Que ótimo! Tudo que precisávamos agora. Pelo menos, Christina conseguiu eliminar um.

_ Que diabos vocês pensam que estão fazendo? Abaixem essas armas ou estouramos os miolos dessas duas idiotas.

Zeke e eu nos entreolhamos, abaixando as armas vagarosamente e assim que alcançamos nossas botas puxamos discretamente a faca que mantemos ali para um caso como esse de modo que ela permanece escondida na palma de nossas mãos, estamos esperando pelo momento certo. Caleb está desarmado e Nita abaixa sua arma e arregala os olhos em nossa direção, pelo seu olhar de desespero percebo que na sua cabeça está tudo perdido. Temo que ela faça alguma idiotice. Tento tranquilizá-la com um leve aceno de cabeça que ela parece entender, o que me deixa aliviado e assim posso me concentrar na lâmina que roça na palma da minha mão.

Então o guarda ordena:

_Mãos para o alto seus idiotas!

É hora de agir! Eles não tem nem tempo de analisar ou entender o que está acontecendo, anos de prática deram a Zeke e a mim a rapidez e habilidades necessárias para atirar facas a longa distâncias. Tão veloz quanto certeiras as lâminas se cravam nos olhos dos guardas e seu sangue espirra sobre a cabeça de Cara e Christina, eles caem de joelhos com as mãos no rosto. A cena é bizarra, e se torna ainda mais apavorante, porque eu fui um dos causadores. Lançar facas em alvos inanimados é uma coisa, mas ferir um ser vivo sempre foi um dos meus piores medos, hoje a questão é outra, sobrevivência e a busca pela verdade. Era eles ou nós. Tento me convencer.... Preciso me convencer.

_ O que vamos fazer com eles? - Nita aponta para o refém e os outros dois feridos.

_ Não faço ideia, não quero matar mais ninguém. - Eu digo desviando o olhar dos ferimentos nos olhos daqueles homens causados pelas nossas facas

Os gemidos e lamúrias de dor que eles estão emitindo me causa um embrulho no estômago, estão agonizando de dor.

_ Não vamos precisar matá-los, se abandonarmos eles aqui na mata vão acabar morrendo por conta própria, pelo menos esses dois aqui. - Christina fala enquanto tenta limpar o sangue em sua cabeça.

_ Não, isso seria o mesmo que matá-los. - Zeke responde.

_ Amarrem bem os três de modo que não possam se mover, joguem em um dos jipes que eu os levo para a Margem, e deixamos que os líderes decidam o que fazer com eles. - Nita diz. E apesar de não gostar da ideia, o que na verdade é apenas delegar a morte destes homens a outras pessoas, eu não me oponho, porque temos que sair daqui o quanto antes, pois vão enviar mais tropas no nosso encalço e quanto mais distância ganharmos, mais chances teremos de chegar a New York.

_ Tudo bem Nita, desde que me prometa que assim que largar estes soldados aos cuidados dos líderes da Margem você irá direto para Chicago para contar o que aconteceu e alertar os nossos policiais. Certo?

_ Certo! Dou minha palavra de honra. - Ela responde enquanto põe a mão espalmada no peito.

Com os guardas imobilizados dentro do jipe vemos nita partindo em direção a margem. Entramos todos na Pickup, abaixo o tapa-sol que fica bem acima da minha cabeça e o mapa dos estados unidos cai no meu colo. Todos estamos aliviados, portanto nos permitimos relaxar por alguns minutos.

Caleb saca do bolso a bússola que ganhou daquele ruivo presunçoso, como era mesmo o nome dele.. Josh, Josef, não importa. Com o mapa aberto e Cara e Caleb identificam a nossa atual localização e nosso objetivo: New York!

Um pensamento toma conta de mim enquanto giro a chave na ignição. E se ela estiver viva, e se tudo não passou de uma farsa, de uma armação do governo... Sigo a estrada em direção ao meu objetivo, que está há pelo menos uns 890 quilômetros de distância, imaginado como seria poder tocá-la novamente, beijá-la novamente.

_ Ei! Você está sonhando acordado! Quer que eu dirija? - Zeke me trás de volta para a realidade, uma realidade em que ela não existe mais e aquela centelha de esperança vai se apagando, pelo menos por hora.

_ Quero sim! Preciso dormir um pouco! - Respondo.

Trocamos de lugar e eu me permito ser embalado pelo sono, a minha mente tomada por fragmentos dela, a última coisa de que me lembro é do seu corpo magro e forte colado ao meu, naquele momento em que nos tornamos um só... Essa lembrança me carrega para inconsciência.


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