Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 21
Ela


Notas iniciais do capítulo

Perdão pela demora, espero que tenha valido a pena!! :)



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As palavras continuam martelando na minha cabeça: "Wes é meu tio!" Eu tenho um tio!

As palavras ecoam na minha mente, Wes é meio irmão da minha mãe. Wes é meu tio! Minha cabeça está a mil, tenho dezenas de perguntas para fazer, quero saber da sua infância, como foi a sua vida, como minha avó era. Mas as palavras simplesmente não saem. O turbilhão de emoções que estou sentindo está prestes a transbordar. É quando a primeira lágrima cai que sinto os braços de Wes me envolverem e não sei como reagir, então permaneço tensa dentro do seu abraço.

Ele chora comigo, um choro de alegria e reconhecimento, mas também um choro de sofrimento pela minha mãe, por todos aqueles que amamos e perdemos. Não sei por quanto tempo permanecemos assim, até que ele se afasta o suficiente para que possa me olhar nos olhos.

_ Beatrice, sinto que é chegado o momento de sermos tolamente francos um com o outro. – Ele diz enquanto tira do bolso o que parece ser folhas de papel dobradas muitas vezes e me entrega.

_ Esta foi a carta que a sua avó, a minha mãe, escreveu antes de cometer suicídio. – Seus olhos estão vazios, tristes e melancólicos.

Seguro o papel sentindo a textura, o tom amarelado pelo tempo, a tinta da caneta, pode ser vista meio borrada mesmo no verso do papel. Inspiro como que para criar coragem e abro cuidadosamente as dobraduras daquela carta que é o único elo de Wes com a sua mãe.

Ao meu pequeno Paul, o único homem que verdadeiramente fui capaz de amar.

Poucas lembranças lhe restarão desta sua mãe e muitas histórias lhe chegarão aos ouvidos, mas através desta carta, quero ser eu a pessoa a lhe contar a minha verdadeira história, e também parte da sua.

Eu nasci e passei minha infância em Minnesota, eu era a única mulher entre cinco irmãos mais velhos. Minha mãe morreu ao dar a luz à mim. Aos olhos do meu pai e dos meus irmãos eu a havia assinado. Fui rejeitada durante toda a minha infância e não tive muitas chances de aprender como ser uma boa mãe ou como demonstrar afeto. Fui criada por Catarina, a governanta da casa, ela era muito rude, e ministrava castigos severos em mim pelo simples fato de falar sem permissão.

Meu pai era fazendeiro, possuía plantações de grãos e criava gado. A família tinha um padrão muito acima da média, mas ainda assim eu não tinha direito a um quarto no andar principal, assim como meus irmãos. Eu ficava num pequeno dormitório no andar dos criados, eles eram o mais próximo que tive de uma família. Nunca tive permissão para me sentar a mesa com meu pai e irmãos. Fui sentenciada ao esquecimento por parte deles.

Quando completei 13 anos, meu corpo começou a adquirir formas mais femininas. Eu era alta, minhas pernas longas e bem torneadas, pelo esforço diário do trabalho na cozinha e na lavoura. Minha fina cintura era acentuada pelos quadris largos. Meu corpo aos 13 anos era tão curvilíneo e atraente aos olhos masculinos quanto o de uma mulher adulta.

No verão que antecedia o meu próximo aniversário, todos os dias eu ia ao lago que ficava nos fundos da propriedade para lavar roupas cumprindo ordens de Catarina. Eu costumava usar apenas uma blusa fina e anágua para esta tarefa, pois sempre acabava me molhando no processo. Numa destas tardes não notei que estava sendo observada até que fui surpreendida por Castor meu irmão do meio. Ele arrancou a trouxa de roupas da minha mão e as jogou longe espalhando todas as peças de roupa pela grama. Então ele me empurrou conta o tronco de uma árvore, segurou minhas mãos com força no alto da minha cabeça e me imobilizou com o seu corpo. Eu tentei resistir, me debati, ele era muito maior e mais forte do que eu, acabamos caindo no chão, então ele rasgou minhas roupas com os pedaços de pano que conseguiu me amordaçou, se colocou entre as minhas pernas e me violentou. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, eu estava enojada, machucada, violada e não consegui fazer nada a respeito.

Depois que ele terminou, se levantou vestiu as calças e foi embora sem nem ao menos olhar na minha direção. Eu enfrentei a vergonha a dor e a humilhação, vesti-me e o que não foi possível cobrir como as minhas roupas que eram apenas frangalhos, envolvi com o lençol da trouxa de roupas que pretendia lavar antes de ser violentada pelo meu próprio irmão. Com alguma dificuldade corri em direção a casa, entrei ma cozinha e me deparei com Catarina junto ao fogão preparando o jantar.

_ Senhora, Castor me atacou! Fui violentada! – Eu disse entre soluços e lágrimas.

Ela desviou o olhar brevemente na minha direção, seguindo dos pés a cabeça e voltou a sua atenção aos seus afazeres enquanto dizia:

_ Você está emporcalhando o chão da minha cozinha com esse seu sangue fétido e podre!

Olhei para baixo e percebi que eu estava sangrando muito, o que me deixou ainda mais tonta e perturbada.

_ Você não ouviu o que eu disse! Fui violentada! Olhe para mim! Sua bruxa velha nojenta! – Eu gritei sem me importar com as conseqüências, afinal o que de pior poderia me acontecer.

Catarina virou-se na minha direção, e com alguns poucos passos estávamos frente a frente. Então ela tirou do bolso da frente do avental o chicote com que costumava me açoitar. Permaneci imóvel, esperando pelo golpe e imaginando onde ela o desferiria. Catarina levantou o braço com o chicote em punho e quando ela descia com toda força, por reflexo eu reagi. Segurei as tiras no ar antes que pudessem me atingir e sustentei o seu olhar. Naquele momento inquiri aqueles olhos cinzentos com toda a raiva que contive durante todos aqueles anos de sofrimento e punições injustas. Ela recuou, pela primeira vez ela recuou, puxou o chicote com força soltei as tiras ela o enrolou e colocou de volta no bolso do seu avental, virou-se e dirigiu-se para as suas panelas, como se nada tivesse acontecido. Pela primeira vez na vida eu estava me sentindo vitoriosa.

Já no meu pequeno quarto, livrei-me do lençol e dos trapos que antes foram minhas roupas e me permiti examinar a extensão dos ferimentos causados por aquele maldito. Eu não possuía um espelho apenas um pedaço disforme do que fora o espelho que adornava a sala de jantar e havia sido quebrado durante uma brincadeira idiota dos meus irmão que apesar da idade ainda mantinham hábitos de criança. Walter, o mais velho foi batizado com o nome do meu pai, ele tinha 19 anos na época, Throy nasceu um ano depois, Castor e Artur são gêmeos e nasceram um ano e meio depois de Throy.

Pelo que soube das criadas a gravidez dos gêmeos foi de risco e o médico aconselhou a minha mãe a não ter mais filhos, mas ela estava obcecada em ter uma menina. Beth, que era sua ama dizia que ela ansiava por uma companhia, uma criança, uma menina que pudesse acompanhá-la, amá-la e fazer-lhe companhia, já que se sentia preterida em relação ao marido e os filhos pouco lhe davam afeto ou atenção, sempre envolvidos em jogos de caça com pai, e seguindo-lhe onde quer que fossem.

Enquanto observo meu corpo cheio de manchas avermelhadas que ficarão roxas, do sangue, agora seco nas minhas pernas, pensei por um instante apenas que realmente fui desejada, minha mãe realmente me queria e eu a matei.

Tomei um longo banho de água fria, pois a água quente era um privilégio apenas dos senhores da casa e eu não passava de uma reles bastarda considerada menos do que uma criada. Enquanto eu lavava os vestígios daquele verme imundo do meu corpo um plano de vingança foi se desenhando na minha mente.

Nesta noite não me juntei aos criados para o jantar, eu não estava com fome. É incrível como o ódio pode saciar qualquer apetite. Passei boa tarde da noite ruminando meu plano, procurando possíveis falhas e quando julguei que estava perfeito enfim peguei no sono.

Sonhos perturbadores me acompanharam durante as poucas horas que me restaram até o amanhecer. O sol nascendo despontando atrás das montanhas enchiam meu quarto de luz e eu despertei com um excitação inédita. A partir daquele dia começaria a minha jornada rumo á vingança.

Levantei num sobressalto ignorando a dor, vesti-me o mais de pressa possível e corri em direção ao John, mordomo responsável pelas compras. Ele já estava entrando na camionete quando meu grito o assustou:

_ Espere John!

Ele põe a mão no peito e diz:

_ A menina quer me matar antes da hora??

_Desculpe, é que a Senhora Catarina disse que esta manhã devo acabar com os ratos no sótão, parece que o Sr., Walter tem reclamado de ouvir os roedores a noite, quando está no seu quarto e que o barulho lhe atrapalha o sono.

_ Tudo bem menina eu trago arsênico para você! – Ele diz enquanto entra na camionete.

_ John, posso ir com você?- Eu Disse tentando usar o meu olhar mais encantador.

_ A menina não vai me arranjar problemas? – Ele diz pensando nas possíveis conseqüências.

_ Não John, pode ficar tranqüilo, se descobrirem que fui com você à cidade pode deixar que eu digo que me escondi na carroceria! - Eu digo tranqüilizando – o.

_ A menina sabe que eu preciso desse emprego, minha mulher e filhos dependem desse dinheiro. – Ele se justifica por cogitar aceitar que eu assuma a culpa sozinha. John é uma das poucas pessoas boas nesta mansão de horrores.

_ Eu sei John, e prometo me comportar.

_ Vamos lá menina! Entra aí.

De volta da feira, confiro o relógio que fica na parede da cozinha 8h. As criadas estão arrumando os quartos dos seus senhores e Catarina deve estar servindo o café.

As refeições dos criados são preparadas separadamente da dos patrões de modo que minha missão aqui é muito fácil. Com um saco de aproximadamente um quilo de um pozinho branco mortal, popularmente conhecido como veneno de rato ou arsênico, dou uma rápida olhada nas panelas dispostas no fogão. Há uma variedade grande de alimentos. Grãos, Batatas, Carnes, Assados, tudo feito com muito esmero para os senhores exigentes desta casa.

Olho em volta e polvilho 3 colheres grandes em cada uma das panelas, mexo com a colher para misturar até que o pós desaparece de vez e então polvilho também na torta que será servida como sobremesa, ela é coberta de glacê e açúcar de confeiteiro, de modo que o arsênico passa despercebido.

Viro as costas e saio da cozinha em direção ao meu quarto sem olhar para trás, sem resquício algum de culpa. Eles enfim terão o que merecem.

Uma semana depois, com doses diárias de arsênico meus irmãos, meu pais e até mesmo a Catarina estão doente. Tosse constante, vômito, falta de fome... Não imaginava que demoraria tanto. Os ratos morrem em um dia apenas, mas dadas as proporções de peso e tamanho, não me surpreendo tanto assim.

Os médicos vieram, são cinco, examinaram e concluíram que se trata de pneumonia. Por sorte não desconfiaram de mim, por uma sorte maior ainda que eu não contava a maldita governanta comeu da comida dos patrões, caso contrário estariam desconfiando de envenenamento por parte dos criados.

Meu pai e irmãos foram levados para o hospital e a pobre Catarina foi largada em seu leito de morte para agonizar até o seu triste fim. Tenho me certificado de que sua sopinha receba pequenas doses arsênico. Então quando parece que seu fim está próximo, ela manda me chamar.

Paro na porta relutante, não pela culpa, mas porque seu estado é tão deplorável que causa repulsa.

_ Entra Jenna, não tenho como machuca-la. – Ela murmura.

_Não tenho medo de você, eu tenho nojo. – Eu confesso.

Ela esboça um meio sorriso que parece uma careta e eu me aproximo, afinal não se nega o último desejo de um moribundo principalmente se você for o seu carrasco.

_ Ouça, não estou buscando o seu perdão ou o seu entendimento, mas tem algumas coisas que não quero levar comigo para o túmulo. – Ela sussurra e um longo acesso de tosse lhe acomete.

Eu lhe alcanço um copo de água que estava ao lado da cama para situações como essa. Ela está tão fraca que nem consegue segurar o copo de modo que o levo até a sua boca para que ela possa sorver alguns goles.

Depois de um breve momento de recuperação ela prossegue:

_ Sua mãe, não morreu em decorrência do seu parto. Ela foi morta, por ordens do seu pai. Ele descobriu a sua infidelidade, você foi fruto dela.

_ O que você está dizendo sua bruxa velha?

Mais um acesso de tosse se seguiu, desta vez achei que ela fosse bater as botas, pois ela puxava o ar com tanta força com se estivesse se afogando. Mas então aos poucos ela recobra o fôlego e continua.

_ Jenna você não é filha de Walter, você é filha de Alfred Richardson, que foi sócio do seu pai, e misteriosamente morreu num acidente de automóvel meses antes de você nascer.

_Por quê? Por quê? - É tudo que sai da minha boca, não consigo formular as frases. Por quê não se separaram? E por que ela o traiu? Por quê ele a matou?

_ Por favor, me dê mais um pouco de água e reze Deus que eu consiga terminar de lhe contar essa história. – Ela diz e apesar do tom fraco de sua voz, eu sinto aquela arrogância imperativa no seu modo de falar.

Eu obedeço, afinal não quero que esta infeliz morra com as respostas. Nesse momento me arrependi de ter batizado a sopa dela hoje.

_ Seu pai nunca foi fiel, eu mesmo fui apaixonada por ele e tivemos um longo caso. Os gêmeos, Castor e Arthur são meus filhos. Ele obrigou sua mãe a registrá-los como se fossem dela, eu consenti porque não tive escolha e porque seria melhor do que condená-los as serem bastardos.

_ Não sou irmã de Castor? Ele sabia disso?

_ Eles sempre souberam, por isso nunca gostaram muito de sua mãe.

_ Maldito seja! – Eu grito, lembrando da violência que sofri e do quão premeditado deve ter sido e o pior de tudo o maldito não vais ser cobrado perante Deus pelo crime de incesto.

Aquele sorriso horrendo começa a aparecer naquela face pálida, os olhos fundos perdidos nas órbitas, ela parece um demônio vindo do inferno para me carregar com ela.

Um novo acesso de tosse lhe acomete e dessa vez acho que ela não sobreviverá, então me permito ser cruel e saborear a minha vingança. Enquanto ela tosse convulsivamente me aproximo do seu ouvido esquerdo e digo:

_ Não se preocupe Catarina, Castor e Arthur vão encontrá-la em breve...

Ela agora está tossindo e vomitando e se afogando e eu continuo com a tortura.

_ Sabe por quê? – Há dias estou alimentando vocês assim como você me ordenou alimentar os ratos... Com arsênico.

Nesse momento seu olhos ficam vidrados nos meus e vejo passar por eles medo, ódio, pavor e não sinto nem uma pontada de culpa, afinal quantas vezes ela me fez sentir tudo isso e muito mais.

_ Se apresse Catarina, você precisa negociar com o Diabo boas acomodações para os seus filhinhos.

Então seus olhos ficam vazios e seu peito desce num último espiro. Ela morreu.

Levanto, curvando-me sobre o corpo sem vida de Catarina, junto suas mãos que ainda estão quentes e cruzo seus dedos sobre o peito e saio do quarto sem olhar para trás.

No funeral de Catarina somente os criados estiveram presentes, já que ela não tinha familiares e seus filhos, assim como Walter e meus irmãos permaneciam hospitalizados. Alguns dias se passaram e John trouxe a notícia da morte de Walter e Castor.

Mais celebrações fúnebres mas desta vez com toda pompa e circunstância. Afinal se tratava da morte de um rico fazendeiro e seu filho.

O clima naquela casa estava pesado, eu sentia que os fantasmas dos mortos estavam a me atormentar, não pude esperar mais pelas mortes seguintes ou eu iria de fato enlouquecer então numa madrugada desesperadora em que eu ouvia as vozes de Catarina, Castor e Walter eu incendiei a casa. Comecei pelo quarto que uma foi de minha mãe, para que os criados tivessem tempo hábil de fugir e foi o que aconteceu, todos saíram da casa com vida e eu assisti a velha mansão arder em chamas até ser reduzida à cinzas e carvão.

Filho, nesse momento imagino que você esteja me odiando, me julgando uma criatura cruel e desumana mas você merece a minha sinceridade, da mesma forma que também merece a chance de ter uma vida melhor, num lar estruturado, com uma mãe realmente amorosa.

Preciso continuar, há muito ainda o que lhe contar.

Depois do incêndio, fui recolhida a um abrigo em Milwaukie, já que apesar dos crimes hediondos que cometi (ninguém além de mim, e agora você sabe) eu tinha apenas 13 anos.

Lá eu vivi até os meus 18 anos, foi neste lar que aprendi a ser forte e me defender, nunca mais fui violentada ou sofri qualquer tipo de abuso, pois qualquer um que tentasse contra mim acabava se dando muito mal. Certa vez alguns garotos me cercaram, tinham a intenção de me estuprar, estavam em 3 enquanto 2 deles me seguraram o terceiro pôs o seu membro na minha boa e eu o decepei com os dentes, o garoto quase morreu e os outros dois se mijaram nas calças. Depois disso todos passaram a me respeitar.

Sabe filho, eu descobri que vida endurece você, as adversidades e todo o tipo sujeira com a qual você é obrigado a conviver acabam de alguma forma te contaminando e aí você mata para se manter vivo, sem se dar conta que você já está morto por dentro há muito tempo. A violência contamina e destrói. Se por ventura eu tiver algum crédito com Deus, se é que ele existe, vou rogar a ele por toda a eternidade que mantenha você longe de tudo isso. Esse é o principal motivo pelo qual estou te deixando. Estou deixando esse mundo para manter você seguro.

Mas voltando a minha história: Minha capacidade de combate e defesa era notória, de modo que fui convidada a entrar para a academia de polícia, onde treinei durante 3 anos até me tornar policial.

Então durante um assalto que ocorreu nas proximidades de uma escola no bairro em que eu patrulhava acabei conhecendo o professor Mark Wright, ele ajudou a manter as crianças dentro da escola durante a troca de tiros com os meliantes, e quando tudo acabou ele correu meio desajeitado na minha direção e parou a poucos centímetros e disse:

_ Obrigado... Policial? – Obviamente uma pergunta implícita, ele queria saber meu nome.

_ Jenna Mallone.

_Obrigada Policial Jenna Mallone! Apropósito, sou Mark Wrigth.

_ Certo, Mark Wrigth, cuide bem das suas crianças. – Eu disse me virando para ir embora mas ele me impediu.

_ Espere, sei que não é o melhor momento, mas o que você acha de jantar comigo um dia desses?

_ Quem sabe. – Respondi desta vez indo embora sem me ater a sua presença, insistente pedindo por atenção.

Ele realmente era um homem bonito, gentil, parecia ser confiável, usava óculos o que lhe concedia uma aparência mais séria, eu gostei dele de cara.

Então após algum período de namoro nos casamos. Mas quando você tem um passado assim como o meus com alguns fantasmas que te atormentam é difícil ser feliz, é difícil confiar.

Quando veio a minha primeira filha, Natalie, lhe dei o nome da mãe que nunca conheci. E eu a amei muito mas nunca pude demonstrar, nunca consegui lhe tocar de fato, tinha a impressão que minhas mãos sujas pela violência a contaminariam. Infelizmente ela cresceu distante de mim. Era muito doloroso, mas pelo menos ela estava segura. Minha relação com o Mark era conturbada, nos últimos tempos a paranóia havia tomado conta de mim, para onde quer que eu olhasse eu via Castor me perseguindo, Catarina me chicoteando, Walter, Throy e Arthur me ridicularizando, e numa noite quando cheguei do trabalho estava na cozinha gritando, discutindo com meus fantasmas, Mark se aproximou pôs as mãos nos meus ombros, eu me virei instintivamente e desferi um tiro no seu estômago.

Minha mãos, o chão da cozinha as roupas de Mark estavam ensopadas de sangue, ele morreu na hora. Seu corpo estava caído no chão num ângulo esquisito, aquele que só conseguimos reproduzir depois de mortos. Eu estava de joelhos olhando nos seus olhos, tentando desesperadamente chorar, mas nem uma lágrima caiu! Quando levantei meu rosto vi Natalie parada na porta da cozinha olhando para mim, para o pai, lágrimas escorrendo em suas faces, o reconhecimento do que eu havia feito, a minha doença a estava contaminando... Ela girou os calcanhares e correu, ouvi seus pequenos passos escada acima e decidi que não deveria procurá-la, muito menos tocá-la, se o fizesse eu provavelmente a destruiria.

Enterrei Mark no jardim, limpei toda a minha sujeira, esperei alguns dias e estão registrei seu desaparecimento.

Uma semana depois Natalie me deixou, foi embora, partiu meu coração, mas eu não a procurei, ela precisava manter uma distância segura de mim ela precisava de uma chance para ter uma vida segura e feliz do monstro que era sua mãe.

A vida seguiu, sem notícias da minha menina e eu realmente temia recebê-las e sentir o impulso se ir atrás dela.

Então cinco anos se passaram, eu me mudei para um apartamento menor, estava decidida a viver sozinha. Mas o departamento me designou um parceiro, Collin Sheifild, ele era um verdadeiro Bad Boy, daqueles que é quase impossível não se apaixonar. Eu resisti o quanto pude, mas ele fazia suas investidas, eu as recusava e então ele aparecia com outras garotas e aquilo me destruía, tive de controlar meu impulso assassino para não esquartejar as piranhas que saíam com ele.

Então houve um dia em que desisti de lutar contra a paixão crescia em mim. Numa conversa que com o Bispo Rudolph ele disse que o amor, até mesmo o amor carnal é capaz de curar um coração despedaçado, o verdadeiro amor vence tudo e todos, o verdadeiro amor é capaz de aniquilar todo o mal. Então resolvi que merecia uma chance, na verdade eu sabia que não merecia, mas tinha de tentar, porque se eu realmente me saísse bem, poderia ter Natalie de volta.

Casei-me com Collin, realmente fui feliz, os fantasmas apareciam com menos freqüência e dois anos depois soube que estava grávida. Um misto de desespero e alegria tomou conta de mim. Collin ficou radiante, acabei me afastando da polícia e dedicando meu tempo ocioso a caridade, o que me fez acreditar que eu poderia me regenerar de fato.

Então você nasceu, era o menino mais lindo da maternidade. Você era calmo tranqüilo, quase não chorava, quase sempre havia um sorriso de espasmo no seu rostinho infantil. Tão parecido com Collin, eu ficava orgulhosa de ver que você herdou tudo dele, esperava que não houvessem traços nenhum meus, porque apesar da caridade, apesar do amor, eu ainda não me convencera de que o mal estava extinto em mim, eu acreditava que ele ainda vivia em mim assim como a lava de um vulcão adormecido, ele estava lá e em algum momento poderia entrar em erupção.

Quando comemoramos seu aniversário de 2 anos, nossa casa estava cheia, sim vivíamos numa linda casa branca com quintal adornado por muitas flores. Naquele dia esperávamos pelo seu pai, o plantão estava prestes a encerrar, mas ele estava demorando demais, liguei para delegacia e descobri que ele havia ido atender a uma ocorrência no bairro mais perigoso da cidade. Naquela hora senti meu coração na boca. Desliguei o telefone e me pus em oração, se Deus não tinha piedade de um monstro como eu, deveria ter de Collin que era um bom homem, pai de família, policial ético e dedicado. Era por ele Senhor e não por mim.

Então 2 horas depois o telefone tocou, o Sargento Stuart informou que Collin estava ferido gravemente e sendo levando para o hospital. Imediatamente entreguei você aos cuidados de alguns amigos que estavam presentes e fui direto para o hospital. Mas quando cheguei era tarde demais, seu pai já estava morto, uma bala certeira bem no coração.

Então eu soube que o vulcão estava prestes a entrar em erupção.

Os dias se seguiram automaticamente, os atos fúnebres, a sua tristeza em esperar pelo papai todos os dias e ele não chegar, isso estava me destruindo. Então decidi que deveria voltar para polícia, o desejo de vingança trazendo o todo mal em mim a tona.

Contratei uma babá para você e saí na caçada dos assassinos do seu pai. Levei 6 meses, mas matei um por um, com requintes de crueldade que não vou descrever aqui, esse é um lado meu que não vejo necessidade de externar, creio que você já teve o bastante até aqui e possa imaginar.

Mas quando voltei para você não conseguia mais olhar nesses seus olhinhos de esmeralda sem lembrar de Collin, sem lembrar do monstro em mim, então não pude mais te tocar, aquele medo latente e desesperado de te contaminar, de te machucar.

Então tomei a decisão. Pedi clemência a Deus não por mim, sei que minha alma está condenada, mas por você meu amado filho e por Natalie minha amada filha, rogo a Deus que em algum momento Ele possa uni-los e que vocês possam se amar e compensar o amor que eu não pude dar a vocês.

Não tenho a ilusão de que um dia você poderá entender e aceitar tudo o que eu fiz, principalmente Natalie, de quem eu privei do seu amado pai, mas peço que mesmo sem compreender ou aceitar possam me conceder seu perdão.

Eu sempre os amei e sempre vou amar não importa o que aconteça e não importa onde eu esteja.

Com todo o meu amor, aquele que não consegui demonstrar.

Mamãe Jenna Sheifield.


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