Convergente II escrita por Juliane


Capítulo 24
Ele




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Acordo com um solavanco e quando abro os olhos o dia já amanheceu e estamos parados, bem no meio da estrada.

_ O que aconteceu? Por quê estamos parados? - Pergunto.

_ Acabou a gasolina! - Zeke diz e percebo que está muito cansado, seus olhos estão vermelhos. Ele precisa dormir.

_ Ta certo, vamos abastecer e trocamos de lugar e você dorme um pouco, ok? - Digo

_ Sim, mas alguém lembrou de esvaziar os tanques dos jipes? - Zeke pergunta.

_ Cara e eu fizemos e também pegamos tudo que encontramos de água e comida e já adianto, não vai durar muito tempo. Temos 6 galões de combustível, 10 garrafas de água e aproximadamente umas 30 latas de comida, 3 refeições para 10 soldados para um dia de viagem. - Caleb diz e dessa vez ele parece preocupado e não presunçoso.

_ Ok, temos mais quantos quilômetros pela frente? - Pergunto.

Ele abre o mapa verifica nossa localização pensa por um momento.

_ Aproximadamente uns 700 quilômetros. Quantos litros essa sua pickup faz por quilômetro? Caleb quis saber.

_ Não sei exatamente, 7 ou 8 por litro. - Respondo.

Cara e Caleb se olham, e sei que estão calculando mentalmente quanto combustível temos x que vamos precisar.

_ Temos combustível para mais 500 quilômetros. E quanto aos suprimentos vamos racionar, estamos em 6 eles eram em 10, creio que seja o suficiente. - Caleb diz e Cara concorda com a cabeça.

_ Teremos que conseguir mais combustível, ou fazer o restante do caminho a pé. Mas de qualquer forma estamos muito melhor do que estávamos há algumas horas atrás, então vamos lá, mãos a obra, quem me ajuda a abastecer?

_ Vamos lá, eu ajudo. Não podemos desperdiçar nem uma gota. - Caleb fala como se eu fosse algum retardado capaz de pôr metade do combustível fora durante a simples tarefa de abastecer a Pickup. Não consigo evitar, fecho a cara e concordo com a cabeça.

Descemos e contornamos a Pickup até chegarmos a carroceria, pego dois galões e Caleb pega um pedaço de mangueira que desconheço.

_ Onde você conseguiu isso? - Pergunto.

_ Bom, como precisava roubar o combustível dos Jipes, era necessário uma mangueira, não há outro jeito de fazer, então abri a tampa do motor de um deles, cortei mangueira do carburador a e do filtro de ar, fiz uma emenda e voilà! - Ele diz enquanto indica com a mão livre a mangueira em sua mão.

_ Certo, você pode sair da Erudição, mas a erudição não sai de você... - Digo e ele ri, acabo suavizando a minha expressão, afinal teremos que conviver e de fato estamos do mesmo lado.

Ele abre a tampa do tanque de combustível da pickup e coloca a mangueira dentro do primeiro galão então ele põe a mangueira na boca e suga, em seguida deposita a outra extremidade dentro do tanque e pouco a pouco vemos o galão sendo esvaziado.

_ Olha Tobias já tem um tempo que eu gostaria de ter um momento a sós com você para poder falar sobre a Beeatrice. - Caleb puxa assunto comigo e não estou gostando do rumo em que a conversa está tomando. Tris e Caleb numa mesma frase tem o poder de despertar os sentimentos mais primitivos em mim.

_ Caleb, não quero falar com você sobre a Tris.

_ Tobias, você nunca vai me perdoar eu sei, mas eu quero te dizer que se eu pudesse trocaria de lugar com ela sem pestanejar.

_ Seu maldito covarde! Você teve a sua chance! Que babaquice é essa agora?

_ Quero dizer que depois de vê-la morta naquele necrotério me dei conta do quanto eu a amava. Me dei conta do quanto eu fui covarde, eu entendi o verdadeiro valor da família quando me vi sozinho, e quando me dei conta de que nada que eu fizesse, nem a maldita ciência ou o meu conhecimento e inteligência cega poderiam trazê-la de volta. - Caleb fala olhando nos meus olhos. Parece sincero, parece sofrer verdadeiramente.

_ É uma pena que você tenha chegado a essa conclusão tarde demais. - Eu digo amargamente.

_ Sim, vou carregar essa culpa comigo até o fim dos meus dias. Pra você isso não é o bastante? Não há um só dia em que eu lembre de Beatrice e do o mal que fiz a ela mesmo depois dela ter salvo a minha vida. Quando decidi que deveria ser eu a pessoa a sacrificar-se pelo bem maior, a única coisa que me mobilizou na causa foi a pressão de vocês e a culpa, a maldita culpa e não o amor, como ela esperava. Sacrifício pelos motivos errados. Se eu fechar meus olhos, nesse momento eu vejo a decepção nos olhos dela. Beatrice jamais agiria por culpa ou pressão. Se comparado a ela me sinto um lixo. Isso não é o bastante para você?

_ Caleb essa cruz é sua, terá de carregá-la, mas não me peça para perdoar. Não há o que perdoar, a decisão foi dela. Mas isso não afeta a minha intolerância. Você se diz atormentado pela culpa, Todos os dias meu primeiro e último pensamento é sempre ela, e nesse meio tempo tudo que consigo sentir é a falta dela. Eu estou vivendo porque me sinto obrigado a isso já que ela sacrificou-se para que tivéssemos a chance de ter uma vida livre e digna. Mas tudo o que eu tenho são dias longos demais onde nada do que eu faça é capaz de me afastar da lembrança dela, do desejo de estar com ela. As noites são tormentas sem fim, pesadelos me acompanham constantemente. Quando o sono enfim me domina eu a vejo morrer de inúmeras formas diferentes. Meu maior medo se tornou realidade... Ela quis nos libertar, e ao fazer isso me condenou a infelicidade, a solidão. No início eu me revoltei, cheguei a sentir raiva dela e te odiei profundamente, evitei te encontrar porque a vontade que eu tinha era de te bater até que você se desintegrasse sob meus punhos.

_ Isso não seria castigo Tobias, seria remissão. - Ele diz e dessa vez abaixa a cabeça e pela primeira vez começo a considerar a possibilidade de que ele realmente sofra de verdade, mas não tanto quanto eu.

_ Caleb, você não tem que me dizer essas coisas, na boa, basta ficar na sua que não vou fazer nada contra você.

_ Não tenho medo de você Tobias, como eu disse, levar uma surra de você seria remissão para mim. Eu queria conversar com alguém que sofre tanto quanto eu, queria poder dividir a minha dor e quem sabe alguma esperança.

A essa altura o segundo galão de combustível já está vazio, mas ele continua insistindo na conversa e admito que a palavra esperança desperta a minha curiosidade.

_ O que você quer dizer com esperança?

_ Sei lá, quando Nita contou aquela história sobre aquele médico, que carregou Beatrice nos braços, depois ela disse ter visto o mesmo homem escoltado levando uma maca com um corpo coberto por um lençol saindo do necrotério. E depois tudo o que resta do corpo de Beatrice são cinzas numa urna. Ninguém presenciou a incineração. Você já parou pra pensar nisso. - Enquanto Caleb fala sinto a aquela centelha de esperança se ascendendo dentro de mim. Ela pode estar viva mesmo.

_ Eu nunca de fato aceitei a morte dela, quero ir a New York principalmente para ver se encontro esse médico, quero explicações. Mas nunca havia ligado as peças assim como você acaba de fazer. Isso nos dá uma nova perspectiva.

_ Mas você acha que se ela estivesse viva, já não teria fugido de lá ha muito tempo, afinal já fazem três anos?

_ Não sei, mas é o que vamos descobrir! - Digo sorrindo, com a esperança renovada enquanto jogo os galões e a mangueira na carroceria da Pickup.

Me posiciono no banco do motorista enquanto Caleb senta no banco de trá, ao meu lado, no banco do carona Zeke dorme profundamente. Cara e Christina parecem sonolentas, mas Caleb e eu estamos alertas. Dou uma olhada pelo retrovisor e ele sorri pra mim e por mais que eu queira me recusar a retribuir o sorriso eu simplesmente não consigo, pois ele acaba de me devolver a esperança e com ela uma gana imensa de voltar a viver... De encontrá-la.

Giro a chave e o motor ruge sob o capô, estamos de volta à estrada. Ao volante, dirijo sorrindo feito um bobo. 700 quilômetros me separam dela. Quando este pensamento me ocorre tento me policiar pensando: Não crie tantas expectativas, pode ser frustrante e perigoso. Eu sei, digo travando um diálogo interno. Mas quer saber não ligo mesmo! Tris eu estou chegando!


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