Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 72
Sob o Sol Germânico | Layla


Notas iniciais do capítulo

Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?
Bom, fiz as contas e vi que abandonei minha criança por quase 9 meses. Me sinto um monstro... Vocês não têm nem ideia de tudo que aconteceu nesse meio tempo. Foram coisas incríveis que me fizeram sacrificar o pouco tempo que eu tinha para escrever... Conto mais sobre isso nas notas finais.
Peço de coração que vocês me desculpem e que não desistam de mim. Lá em agosto de 2014 eu prometi para mim mesma que iria terminar RDC. E vou! Mesmo que demore 10 anos. VOU TERMINAR! #FÉ
Não sei se ainda tem alguém que conseguiu aguentar esse hiatus infinito, mas, se tiver, espero muito que goste desse capítulo!
Até as notas finais!
xoxo ACE



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A recepção de Layla em Viena não fora nada grandiosa. Ao entrar na cidade, a carruagem dourada que trazia a menina de belos cabelos negros não reluziu como deveria. Isso porque nuvens negras cobriam o céu totalmente, fazendo com que o dia se tornasse noite. Na rua, as pessoas andavam tristes, com roupas pouco coloridas e expressões desanimadas, como se não houvesse mais nenhum motivo para viver. Os prédios, que deveriam ser magníficos em dias comuns, pareciam se apagar naquela paisagem escura e melancólica. Era tudo muito diferente das cidades dinamarquesas que Layla conhecia, as quais, apesar do frio intenso predominante em grande parte do ano, sempre estavam cheias de alegria.

O estranhamento da menina se agravou ainda mais quando seu veículo cruzou os portões do imponente Palácio Ivor I, com seus altos e grandiosos muros amarelos. Em outras circunstâncias, ela teria ficado encantada com o local, mas aquele não era um dia comum. Centenas de soldados vigiavam as entradas do prédio principal, andando de um lado para o outro com suas enormes armas de fogo. As belas flores do jardim estavam pálidas, sendo, em alguns pontos, cobertas por móveis destruídos. Pelo menos no lado de fora, a sede do governo, que deveria ser luxuosa e pomposa, estava um caos.

Ao sair do carro, os pés delicados envoltos por botas marrons de Layla tocaram o chão ainda molhado pela chuva dos dias anteriores. Seus cabelos negros voaram com o vento forte, assim como suas roupas — que foram emprestadas por Aline, visto que, depois do casamento, ela só ficara com um vestido fino. Alguns guardas a encararam com frieza, desconfiados com a presença estranha. Mas tudo mudou quando Aline, a Princesa Herdeira do Reino Unido, se juntou a outra agora. Com ela ali, todos se curvaram em uma referência, a qual ela respondeu com um sorriso elegante.

Logo depois, uma figura masculina desceu do veículo com muita cautela. Suas roupas não faziam jus ao local onde estavam, já que eram largas e nada elegantes. Apesar de tudo, ele ainda era um plebeu, um simples jardineiro, que dera o azar — ou a sorte, dependendo do ponto de vista — de se casar com uma princesa perdida. Ainda assim, Layla tinha os olhos fixos no rapaz, como se ele pudesse salvá-la daquela situação. No momento, ele era o único porto seguro que ela tinha naquele lugar obscuro. A última lembrança da possibilidade de uma vida normal e feliz para sempre antes de tudo desmoronar.

Aline os achara nos subúrbios de Copenhague, almoçando calmamente em uma hospedagem. Os dois estavam apenas aproveitando seus primeiros dias de casados, vagando pela região metropolitana em busca de um local para recomeçar. Layla estava feliz. Muito feliz. A final, ela estava com alguém que amava. Mas os bons momentos do casal terminaram quando a elegante figura da Princesa do Reino Unido entrou pela pequena e discreta porta de madeira da estalagem. Com sua incrível habilidade de argumentação — e com a bondade extrema de Layla, que não tinha coragem de dizer não a uma proposta que beneficiaria tantas pessoas desconhecidas —, a nobre convenceu-os a seguir caminho com ela até os territórios da família Manteuffel.

E agora eles estavam ali, passando pelos guardas reais germânicos a passos apressados. A menina de cabelos negros mal conseguia olhar para os lados durante o caminho. Tudo se passava como um borrão cinza e sem vida para ela, que não pôde apreciar a beleza que aquele Palácio certamente tinha. Ela apenas conseguiu realmente ver a bela estrutura quando os três chegaram em uma entrada lateral. O local, assim como o resto da Residência Real, estava melancólico, com as belas colunas brancas em uma coloração quase cinza por conta da falta de luz.

Uma figura colorida parada no topo das escadas que levavam à porta, porém, se destacava em todo aquele universo gris. Era Alba, a Princesa Saudita que estivera na Dinamarca no aniversário de Henrik. O vestido azul-celeste com detalhes rosa pastel que combinava perfeitamente com seu hijab brilhava à luz fraca dos raios de sol que conseguiam se libertar das nuvens. Era quase como se ela fosse uma divindade.

Ao terminar de subir as escadarias de mármore, levantando seu vestido bordô com a graciosidade de sempre, Aline abraçou a outra princesa. Julgando pelo sorriso aberto em seus rostos, ambas estavam felizes por se reencontrarem. Por um lado, Layla entendia. Em momentos como aquele — em que a Guerra ameaçava a vida de todos — saber que alguém querido está a salvo faz com que o coração inunde de alegria. Mas o que ela não compreendia, e nunca compreendera, na verdade, era a amizade entre aquelas duas garotas. Ela já as vira conversando em outros momentos, ainda em Copenhague, mas tudo sempre lhe pareceu muito estranho: herdeiras de países tão distantes que mal tinham laços diplomáticos não deveriam, em teoria, se relacionar. Ou talvez, para elas, a afeição não tinha limites tão curtos assim.

— E Elisabeth? — a britânica perguntou assim que se soltou dos braços da amiga. — Alguma notícia?  

— Tudo certo até agora. Nós a estamos acompanhando por meio de uns amigos de Staska que vivem nas redondezas — respondeu a outra, voltando com a expressão sóbria habitual. — Ela está hospedada em uma cidade próxima e voltará assim que tudo estiver estabelecido aqui.

A Princesa britânica suspirou, aliviada. Logo depois, ela se virou novamente para o jovem casal. Suas mãos, envolvidas por luvas finas pretas, se cruzaram em frente a seu tronco. Como se quisesse transmitir uma calma que nem mesmo ela tinha naquele momento, ela sorriu de forma suave.

— Então, Alba, você já deve ter conhecido essa bela jovem em Copenhague — Alba encarou a menina com seriedade. — Mas, com as descobertas das últimas semanas, agora posso apresentá-la oficialmente como a Princesa Eris da Germânia.

— Ainda prefiro que se refiram a mim como Layla — a recém-chegada admitiu, fitando o chão.

— Logo você se acostuma — a saudita disse, logo voltando o olhar a Aline. — Eles estão esperando.

Aline assentiu, fazendo com que Layla — ou melhor, Eris — ficasse confusa. Quem seriam eles? Autoridades maiores? O antigo e maldoso Rei que a tirara dos braços dos pais? Ela deveria saber: a partir daquele momento, tudo em sua vida seria confusão e insegurança ao descobrir o novo mundo no qual ela entrara. A única certeza que ela tinha era o garoto que andava, sem soltar a mão da amada em nenhum momento, ao seu lado enquanto ambos seguiam as duas princesas. Ela sabia que ele nunca a abandonaria, que ele a apoiaria em tudo que ele tivesse de fazer ou explorar, e isso, com certeza, a deixava mais calma diante de tudo aquilo.

Por mais que, em um primeiro momento, a arquitetura exuberante de Amalienborg tivesse impressionado Layla, o Palácio Ivor I era, sem sombra de dúvidas, o local mais luxuoso que ela já tivera a oportunidade de conhecer. A entrada, mesmo não sendo a principal, demonstrava a riqueza daquele Reino, apresentando luminárias elaboradas folheadas a ouro. O brasão da Família Manteuffel se mostrava presente em toda a extensão da parede, elegantemente pintado à mão.  Além disso, gigantes quadros de Reis e Rainhas decoravam o ambiente. Seus olhos azuis tão característicos da dinastia brilhavam no breu dos corredores desertos, iluminando o caminho da mais nova princesa da Germânia. Ela, a cada passo que dava em meio a seus antepassados, sentia a responsabilidade que acabara de ser posta em suas costas. Centenas de anos a precederam. Centenas de anos de paz e de felicidade para um povo agora abandonado à própria sorte. Seria o dever dela, mesmo não tendo sido criada para isso, conduzir o Reino como todos aqueles que naquele momento a observaram fizeram no passado.

Presa em seus pensamentos, a garota mal percebeu que o caminho da pequena comitiva havia sido desviado para uma pequena sala sem tanto luxo quanto os ambientes que vira antes. Algumas poltronas de cores opacas estavam espalhadas por todo seu interior, sendo iluminadas apenas por uma lareira bem ao fundo. Em frente a ela, era possível perceber a silhueta de um homem de uma mulher, ambos muito magros e de aparência debilitada. A princípio, Layla não entendeu o motivo de ter sido levada até ali. Sua mente, já inquieta por conta de tudo que vivera em tão pouco tempo, formulou inúmeras perguntas tentando encontrar uma explicação. Quando os dois se levantaram, ficando de frente para onde as outras quatro pessoas estavam, porém, ela não precisou mais de informações. Os olhos da mulher, tão parecidos com os seus, a olhavam com carinho enquanto eles se aproximavam. O homem, mesmo tendo dificuldades para se mover, achava forças para sorrir, transmitindo um amor que a menina achava que jamais seria capaz de sentir. Nada mais precisava ser dito.

            — Layla, esses são Vossas Majestades os Reis da Germânia — Aline anunciou, tirando a outra garota do transe ao colocar a mão em seu ombro. — Seus pais.

Minutos de silêncio seguiram a fala da britânica. Nenhum dos presentes tinha coragem de proferir palavra alguma. Por longos minutos, em choque, a mais nova princesa germânica apenas consegue os encarar, sem saber como reagir. Ela não sabia como se sentia em relação a eles. Apesar de eles terem lhe dado a vida, nunca tiveram a chance de criá-la e de dar-lhe amor. E ela não os culpava por isso, afinal de contas, não fora culpa deles. Ao olhar para eles, via um casal totalmente estranho, que não lhe remetia a memórias coloridas de infância como pais de verdade deveriam remeter. Mas ela sabia que ali existia um sentimento, algo que ela talvez nunca fosse capaz de explicar.

Envoltos na saudade infinita que tinham de sua tão amada filha, os antigos Reis da Germânia deram o primeiro passo. Lentamente, eles se aproximaram dela. Ela fez o mesmo, ainda um pouco receosa. Os olhos azuis brilhantes de Freya estavam fixos na filha com uma alegria que nunca poderá ser explicada em palavras. Em poucos segundos, os três estavam abraçados. Era um abraço de saudade, de um amor que lhes fora negado por quase duas décadas, tão quente quanto a chama mais ardente, mas, ao mesmo tempo, tão suave quanto o sopro de uma brisa . Layla sentiu uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Seu coração estava real e finalmente completo.

 

            ***

 

O sol brilhava no céu de Viena, esquentando o dia frio de outono. Pessoas iam e vinham pelo Palácio Ivor I, preparando o importante evento que estava prestes a acontecer. Flores decoravam toda a fachada da residência real, que fora trazida de volta à vida nos poucos dias em que Werner estava no poder novamente. Tudo parecia mais feliz. A grama estava verde e as flores mais uma vez coloriam os jardins. O povo da cidade, que fora especialmente convidado para visitar a Família Real — a qual, por muitos anos, ficou reclusa em sua luxuosidade, ignorando tudo que acontecia a sua volta —, alegrava ainda mais o local com suas bandeiras em miniatura e seus sorrisos. Depois de tanto tempo, aquele lugar expressava mais uma vez grandiosidade da Germânia.

No lado de dentro do luxuoso palácio, Layla estava sentada em um canto mais nervosa do que nunca. Suas pernas tremiam, os pelos de seus braços estavam arrepiados e seu estômago se remexia, fazendo parecer que ela colocaria para fora toda a deliciosa comida que fora servida no café da manhã, tudo isso em reação às emoções vividas pela moça nos últimos dias. Ela nunca tinha passado por uma situação como essa em todos os seus quase 18 anos de vida. Nada, nem tudo o que presenciara na Seleção, poderia ser comparado com aquilo. Era assustador.

Por sorte, ela tinha Jeb a seu lado. Para ele, provavelmente, a situação era mais apavorante ainda, mas ele estava aguentando tudo com uma tranquilidade inacreditável. Seus dedos fortes envolviam a mão da amada com carinho e preocupação. Desde que chegaram à capital germânica, ele não saia do lado dela. Estava por perto em todos os momentos, a apoiando e a incentivando a continuar. Ela não poderia ter pedido por um companheiro melhor.

— Vamos? — questionou Freya que estava ao lado do marido já na porta que levava à sacada, ambos observando o jovem casal com ternura. — Já está na hora, querida.

De braços entrelaçados aos de Jeb, a mais nova princesa da Germânia se levantou. Seu vestido branco com detalhes vermelhos e dourados arrastou no chão enquanto ela se aproximava dos pais. O rapaz a seu lado sorriu, encorajando-a. Ela tentou sorrir de volta, mas a única coisa que conseguiu fazer foi engolir a seco, tentando afastar as náuseas que subiam por seu estômago.

Quando os quatro saíram pelas portas francesas, se depararam com centenas de pessoas, que abanavam, animadas. Como bons nobres, Freya e Werner demonstravam toda sua simpatia, sorrindo e acenando. Era a primeira vez, em 17 anos, que os dois tinham a oportunidade de se mostrar para seus súditos, e era possível ver de longe o quanto estavam felizes por isso. Esse era o lugar deles, o papel que lhes fora resignado por forças divinas.

— Meu povo, por muitos anos fui impedido de me dirigir a vocês e de exercer o ofício que me foi dado antes mesmo de meu nascimento: o de proteger nosso tão amado país. Sei que o tempo em que estive ausente foi sombrio e que a esperança parecia algo distante e até inalcançável. Agora, entretanto, entramos em uma nova era para a Germânia. Uma era de paz, harmonia e de prosperidade — comunicou o Rei, com muito amor em sua voz. — Ao meu lado está minha filha, há muito tirada dos nossos braços. Erin, nesse momento, significa um recomeço para história de nossa pátria. Diferente de Luther e de sua filha, que agora estão presos, ela é minha herdeira legítima e deverá assumir o trono que é dela por direito ao lado de seu marido, Jebedidah.

O público comemorou como por muito tempo não pudera comemorar. Sorrisos foram espalhados pela multidão que finalmente conseguia visualizar um futuro melhor. Contagiados por toda essa alegria, Freya e Werner abraçam a filha e o genro, simbolizando a união das pessoas que foram, anos antes, proibidas de formar uma família.


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Notas finais do capítulo

#FORALUTHER
FINALMENTE, NÃO É MESMO? Agora o povo da Germânia pode viver em paz sendo governado por essa família amorzinho.
Mas como fica a guerra?Bom, isso são cenas para os próximos capítulos!
Agora sobre minha ausência... Organizei um evento no colégio, viagei para Brasília, para o Rio de Janeiro, para a Argentina, para o Chile e até para os Estados Unidos (representando o colégio em uma simulação da ONU). Não vou me alongar muitk explicando, mas foram experiências sensacionais. E agora estou - finalmente - no último ano do ensino médio, me preparando para o vestibular. Entre todas as obrigações que tenho com os estudos, ainda tenho que me dedicar a meu amorzinho Clube de Relações Internacionais, que depende de mim ,já que sou a presidente. Então, com todas essas coisas ocupando meu tempo, não sobra quase nenhum segundo para escrever. Isso me deixa muito triste, mas fazer o quê, né?
Prometo que vou tentar de tudo pra conseguir postar e não abandonar minha filhinha (KKK) e vocês.
Não desistam de mim!
xoxo ACE



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