Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 73
Enquanto isso no Império Latino-Americano | Henrik


Notas iniciais do capítulo

Depois de 7 meses e 10 dias, aqui estou eu. Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?
Não sei se, depois de meu sumiço, alguém ainda está acompanhando a fic, mas se você, guerreir@, ainda está aqui: minhas sinceras desculpas. Meu ano tem sido mais louco que o normal. Como estou terminando o ensino médio agora em dezembro (1 mês e 2 dias para a formatura), estou tendo que passar por todo o processo de ENEM/Vestibular, além de fazer as outras 1737488 coisas que faço no colégio. Mas nesse fim de semana, às vésperas do segundo fim de semana do ENEM, resolvi escrever um pouco para me acalmar (uma terapia pré-enem, como eu mesma chamei).Na verdade, esse capítulo vem sendo escrito desde abril, mas eu nunca tive tempo de terminar hehehehe. Enfim, agora vou começar meu momento 100% zen pré-prova, então me desejem boa sorte enquanto leem o capítulo.
Até as notas finais!
xoxo ♥ ACE
PS: Rosalie, linda maravilhosa, obrigada pelos comentários e desculpa por demorar séculos para responder. Prometo que vou responder com todo meu amor. Obrigada também por não me abandonar depois desse tempo todo. ♥



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Дорогой Lara,

O Império Latino-Americano é incrivelmente bonito. Depois de 15 anos vivendo em um lugar tão frio e, muitas vezes, sem cores, sentir o calor equatorial escaldante e ver paisagens tão coloridas é quase como descobrir um mundo novo. Eu continuo amando a Dinamarca, é claro, mas estar aqui é uma aventura que me faz aprender coisas diferentes todos os dias. Os latinos têm tanta diversidade, tanta cultura e tanta história… Você mal conseguiria acreditar. Nos poucos dias que estou aqui, conheci pessoas das mais diversas etnias, desde descendentes do povo Inca que costumava a habitar os Andes até os herdeiros dos mais desconhecidos povos pré-colombianos. Parece que aqui, fora da bolha em que eu vivia em Amalienborg, o mundo é mais claro e com certeza, muito mais complexo que eu jamais imaginara.

Entretanto, por mais que meus dias aqui estejam sendo uma experiência engrandecedora, não consigo ser totalmente feliz. Todas as manhãs, quando acordo, penso que ainda estou em Copenhague e que, em alguns minutos, irei encontrar minha família sorrindo no café da manhã. Penso nas gêmeas e em como elas costumavam mexer em meus cabelos e brincar comigo logo nas primeiras horas do dia e lembro que isso nunca mais irá acontecer. Mesmo nos momentos mais divertidos aqui em Lima, não consigo rir sem pensar no largo sorriso de Isabella, que tinha a capacidade de iluminar até os mais escuros corações. Eu nunca consegui dizer o quanto eu a amava ou que ela era uma pessoa extraordinária e, o mais importante, não pude me despedir de forma correta. E agora só consigo pensar em seu corpo sem vida envolto por flores em um caixão luxuoso. Sinto tanto a falta dela, Lara…

E, é claro, sinto a sua falta. Por mais que não nos víssemos muito, estar no mesmo hemisfério me fazia sentir mais próximo a você. Agora um oceano nos separa. Você continua sendo minha melhor amiga, minha melhor companheira de fuga em festas, a melhor tudo. Não pense que, com a distância, eu me esquecerei de você, porque é impossível. Eu sei que, na maioria das vezes, você não acredita em si mesma e pensa que não é boa o suficiente. Mas se você pudesse se ver como eu vejo você, aposto que ficaria surpresa. Você veria um coração verdadeiro e que não tem medo de lutar, mesmo quando todos estão contra você. Para mim, no meio de tantas coisas ruins que vêm acontecendo, você brilha. Todos os dias, eu espero vê-la novamente e espero que isso aconteça logo. Eu prometo que, assim que for possível vou voltar para você.

Com muito amor,

Henrik

A luz do sol entrava tímida através cortinas escuras do quarto de Henrik no Palácio del Gobierno em Lima. O garoto, vestido com roupas pouco adequadas para o clima do local, estava debruçado na escrivaninha. O conjunto de canetas tinteiro fora uma das únicas coisas que ele trouxera de sua terra natal. Aqueles objetos, que poderiam parecer banais a um estranho, significavam muito para ele. Todos as horas que permanecera sozinho escrevendo. Todas as lembranças felizes que colocara no papel. Todas as palavras que ele, talvez, nunca seria capaz de dizer, mas que suas mãos desenhavam com destreza. Era a forma que ele encontrara para lembrar de casa e de sua vida na Europa.

Por mais que vários dias já tivessem passado, ele ainda estranhava aquele local, o qual saía tanto de sua zona de conforto. Toda vez que sentava para escrever para algum membro de sua família ou, especialmente, para Lara, ele não conseguia conter as lágrimas que teimavam em cair por suas bochechas. Era doloroso pensar que ele demoraria meses para vê-los novamente. Meses sem abraçar Saphira, sem brincar com Ingrid e sem sentir a calma de Alexander. E, pior ainda, uma eternidade sem ver Isabella.

Faziam algumas semanas que ela morrera de forma inesperada, deixando todos desolados. Henrik fora mandando para o Império Latino-Americano poucos dias depois, visto que a mãe não queria que mais nenhum filho seu se ferisse por conta da guerra que, aos poucos, se espalhava por toda a Europa. Sua partida fora quase tão difícil quanto a de Isabella. Era um dia nublado, como todos os outros do outono dinamarquês, e toda a família estava reunida em frente ao Palácio de Amalienborg.  Ver todos os seus entes queridos naquela situação fazia seu coração doer de uma forma que nem ele conseguia explicar. Foi a imagem de Ingrid — ainda sem chão após o falecimento da irmã gêmea — chorando ao se despedir, entretanto, que não saiu de sua mente, mesmo depois de tantos dias. Ela, que era sempre tão alegre, parecia que nunca mais seria capaz de sorrir. “Volte para nós, Henri, não posso perder você também”, ela falara em meio aos soluços. Ele, tentando esconder toda o sofrimento que também sentia, prometeu que nunca a abandonaria e que ele estaria de volta antes mesmo que ela percebesse.

Agora, observando a vista do mar de sua janela em Lima, sozinho, ele desejava que aquilo fosse verdade.

A imagem dos olhos vermelhos e cobertos de lágrimas da irmã mais velha ainda estava nítida na mente do Príncipe dinamarquês quando alguém bateu suavemente à porta, acordando-o de seus devaneios. Na entrada do quarto, apoiada no batente da porta, Luísa, trajando um vestido leve e simples de verão, o observava. Seu rosto, emoldurado por seus belos cabelos castanhos, tinha uma expressão claramente preocupada, mas, ainda assim, ela sorria como uma perfeita princesa.

— Com licença. Você não saiu mais do quarto após o almoço, tia Teresa ficou preocupada… — ela disse e logo olhou para baixo. — E, bom, eu também.

Henrik sorriu de leve. A Herdeira do Império Latino-Americano ainda era uma figura controvérsia para ele. Por mais que ela, desde o primeiro encontro, tivesse sido bastante simpática com ele, claramente tentando fazer amizade, ele ainda não sabia como se sentia em relação a ela. Ele tinha ciência que, em alguns anos, eles estariam casados e que teriam de construir uma vida juntos. Por mais que ele estivesse lutando contra isso, era seu destino. Algo que ia muito além de suas vontades, muito além de seus sentimentos: era para sua família. Mas, mesmo assim, ele não sabia como seria capaz de fazer isso. Não sabia se seu amor por Lara — ainda tão imaturo, mas, mesmo assim, tão forte — o impediria de amar aquela menina que agora estava em sua frente. Não sabia se conseguiria se adaptar à vida em outro continente. Não sabia. Naquele momento, seu futuro, por mais que parecesse tão certo aos olhos do mundo, para ele, era uma grande incerteza.

— Eu estava escrevendo para minha família — ele mentiu — Minha mãe está sempre pedindo por novidades.

Luísa, então, entrou no quarto devagar, sem deixar de olhar para Henrik, como se pedisse permissão. Sentou-se na cama em frente a ele, colocando as mãos no colo.  Seus olhos verdes brilharam com a luz fraca que iluminava o recinto, fazendo-os ficarem mais belos do que já eram.

— Imagino como você deve sentir falta deles e de casa. — Ela mordeu o lábio inferior. — Ainda mais depois que…

O garoto ficou quieto, olhando para suas próprias mãos. Ele pensava sobre Isabella o tempo todo, era impossível tirá-la de seus pensamentos. A morte da irmã mais velha fora um evento que abalara o menino de maneira profunda. E ele, com certeza, ainda não estava pronto para falar sobre isso tão abertamente.

— Desculpe-me por me intrometer. Eu só sei que você pode estar se sentindo sozinho aqui e achei que gostaria de alguém para conversar. — Ela respirou fundo antes de continuar. — Sei que é difícil, mas queria que você se sentisse em casa conosco. Mas tudo bem, vou deixá-lo em paz.

A menina levantou da cama, ajeitando seu vestido. Mas, antes que ela pudesse continuar seu caminho para fora do quarto, Henrik segurou seu braço de leve.

— Não, — Ele olhou diretamente para ela pela primeira vez. — Muito obrigado por se preocupar, mesmo. Eu estou adorando seu país e tudo que ele tem me ensinado, mas, às vezes, eu só preciso de paz para pensar sobre tudo que aconteceu.

Dessa vez, ela sorriu de verdade. Era um sorriso largo e reconfortante, sendo completado por um olhar de carinho.

— Então acho que uma caminhada na praia lhe fará bem.

***

Os pés descalços de Henrik tocavam levemente na areia áspera da praia. Pequenos grãos entravam no espaço entre seus dedos, causando uma sensação agradável de relaxamento. Em seu rosto, batia uma brisa suave, que fazia com que seus cabelos levemente bagunçados. Seus ouvidos eram preenchidos pelo som ritmado das ondas que se quebravam logo ao lado. Henrik andava na praia com uma tranquilidade que não fora capaz de ter em todos os outros dias que estivera em Lima. Era como se ali, envolto por um ambiente tão pacífico, longe da confusão do seu cotidiano, tudo desaparecesse e ele, finalmente, tinha a oportunidade de ficar em paz.

Ao seu lado, Luísa caminhava com a mesma calma, ainda trajando o vestido amarelo, que agora voava livre com o vento, assim como seus cabelos. Em seu rosto, era possível ver um sorriso pleno, sem preocupações. Sua pele brilhava com a luz alaranjada de final de tarde. Ela era a perfeita visão do equilíbrio daquele momento.

Na volta dos dois nobres, algumas pessoas também aproveitavam a calmaria do final de um dia quente de primavera. Um casal apaixonado estava sentado um em frente ao outro, fazendo o que, de longe, parecia um piquenique. Mais ao canto, crianças corriam, gritando coisas em espanhol que Henrik não compreendia. Mais para frente, um grupo de amigos ria. Era uma junção de momentos alegres que fazia o Príncipe dinamarquês ficar ainda mais tranquilo.

— Eu adoro vir aqui nesse período do dia — Luísa disse após um longo período de silêncio entre os dois. — Para mim, tudo fica mais bonito com essa luz. É ótimo para tirar fotos sabia?

— Você gosta de fotografia? —  Ele perguntou, sem olhar para ela, enquanto chutava uma pedrinha.

— A natureza no Império Latino-Americano é linda, não há como resistir — ela respondeu, enrolando um fio de cabelo em seu dedo. — Quando eu tinha uns 10 anos, meu pai me levou para visitar uma de nossas províncias na antiga Colômbia, e fiquei encantada pelas cores. Depois, nunca mais consegui parar.

Os dois ficaram em silêncio novamente. Ela, então, chamou-o para sentar em um canto mais afastado da praia. Ainda sem trocar palavras, eles se acomodaram um ao lado do outro com muita naturalidade. Ele ficou observando o movimento suave do mar, vendo o sol aos poucos se aproximando da água e criando um espetáculo magnífico de cores.  Antes que ele pudesse entrar totalmente no mundo mágico do pôr-do-sol que se iniciava, porém, Luísa suspirou ao seu lado.

— Então… — ela disse, ainda olhando para o horizonte.

— É muito bonito aqui…

O menino olhou para ela e mordeu os lábios. Ela franziu o cenho, suspirando mais uma vez, como se estivesse nervosa.

— Nós podemos conversar? — Ela o observou de relance.

— Sobre o quê? — Ele se virou para ela, um tanto tenso.

— Nosso casamento. — Seus belos olhos verdes tinham uma luz estranha, que ele nunca tinha visto, uma aflição que não parecia natural a uma menina tão calma. —Teremos de falar sobre isso uma hora ou outra…

— Eu sei. — Ele apertou as mãos umas nas outras —Você sabe, não sabe? Que eu não gostaria de estar aqui, muito menos nessa situação.

— Claro que sei, não sou boba. Eu também não gostaria que tivesse sido assim. Meus pais tiveram uma linda história. — Ela sorriu com nostalgia ao lembrar. — Ela era uma simples moça de Cusco, que vivia em uma casa simples com seus pais e irmãos. Meu pai era o poderoso Príncipe Herdeiro. Até hoje não sei como eles se aproximaram, mas posso sentir pelas palavras de meu pai o quão apaixonados eles foram. Sempre sonhei em poder ter um amor como esse.

— É como a vida de uma princesa deveria ser, não é? — Os dois riram juntos pela primeira vez. — Eu sempre tive consciência que não teria tanta escolha. Meus pais se casaram por interesses familiares. Meu irmão foi obrigado a escolher sua esposa entre 35 plebeias. Minhas irmãs tiveram o casamento arranjado assim como eu. Desde pequenos, entendemos que nossa vida como membros da família real é feita de sacrifícios. Todavia, nunca deixei de ter esperança, menor que fosse.

— Sobre isso… Você e Lara? — ela perguntou, virando a cabeça para o lado com curiosidade.

— Nós somos amigos — ele respondeu rapidamente, e ela ergueu a sobrancelha, duvidando. — Por muito tempo, meu casamento com ela foi considerado por meus pais, mas problemas políticos impediram esse acordo.  

— Você estaria muito mais feliz se ela fosse a escolhida, não é? — Ele começou a replicar, mas ela o cortou, continuando a falar. — Não precisa responder, eu já sei e sinto muito. Ainda lá na Dinamarca percebi o quanto vocês eram próximos e me odeio por separá-los assim.

— Não é sua culpa. — Ele encostou na mão dela de leve, tentando fazê-la acreditar em suas palavras. — Nós ainda somos jovens, tudo pode mudar, não é mesmo?

Ela fechou os olhos e sorriu. Logo depois, voltou a olhar para o horizonte. Henrik, que até o momento a observava com atenção, fez o mesmo. Suas mãos, mesmo sem que nenhum dos dois percebessem, ainda se tocavam suavemente. Eles permaneceram assim, em silêncio, por alguns instantes, até que o garoto tomou coragem e se virou para ela novamente. Percebendo que seu pretendente se movera, Luísa abriu os olhos. Ao seu lado, tímido, ele estendeu a mão livre na direção dela.

— Amigos?

—  Amigos. — Ela apertou a mão do rapaz com força.

Naquele instante era selado um contrato entre dois jovens com muitas dúvidas sobre seus futuros. A partir daquele simples ato, realizado em um momento de tanta cumplicidade, eles tinham a certeza de que, o que quer que acontecesse, estariam juntos como amigos e cúmplices.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Não foi muito bombástico como a reta final de uma fanfic geralmente é, mas foi fofo, não? É bom ver o Henrik achando um caminho em sua vida, tendo um pouquinho de felicidade mesmo em um período tão sombrio da história dele.
Próximo capítulo voltamos para o foco principal da fanfic: Alexander (de volta a Copenhague!!!). Espero de coração que eu poste logo hahaha
Até já!
xoxo ♥ ACE



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