Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 43
Chegadas Triunfais | Christian


Notas iniciais do capítulo

Oioi, gente!! Três semaninhas sem a minha presença, todo mundo sobreviveu? hahahaha
Pois é, acontece que, depois de ter vários problemas com meu computador (esqueci o carregador em casa e estou na praia), decidi que tiraria férias não remuneradas (já que meu pagamento são os comentários de vocês e, sem postar, não ganho nada haha) por um tempinho. Fiz amizade com os vizinhos, madrugava todo dia no "centrinho" da prainha vulgo a sorveteria e, enfim, me diverti. E agora estou novamente aqui no Nyah, faltando alguns dias para voltar para a civilização hueheueh
Trabalhei nesse capítulo em todas as minhas "férias" e olha o resultado... Mais de 6 mil palavras! Socorro, maior capítulo da minha vida.
Então aproveitem!!
xoxo ACE ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/539155/chapter/43

A agitação no Salão de Entrada era imensa. As dezesseis Selecionadas ainda restantes, com vestidos identicamente bege até os joelhos — que, segundo a Rainha, simbolizavam a igualdade entre elas — conversavam e andavam de maneira frenética de um lado para o outro. A pobre Senhora Gillies tentava acalmá-las, gritando palavras de ordem que pouco funcionavam. Aquelas garotas já poderiam estar adaptadas à vida no Palácio, mas nada as tirava a animação de alguma novidade, ainda mais quando se tratava da visita de nobres de todas as partes do mundo.

Tudo mudou, entretanto, quando as grandes portas que davam acesso aos interiores da Residência Real, revelando duas figuras. O Rei e a Rainha se postavam ali, imponentes, com toda a pompa dos Schiønning, com a áurea do sangue azul. Mostrando respeito, as aspirantes à princesa formaram uma fila horizontal na frente das janelas do lado esquerdo assim que os viram, para a felicidade da coordenadora.

—Bom dia, meninas — disse Juliane, com um tom de voz alto, porém não gritado, que podia ser ouvido claramente por qualquer um no local, arrastando a cauda de seu vestido verde ao andar de braços dados com Christian até as futuras noras. — Espero que todas vocês tenham tido uma boa noite de sono, pois hoje será um dia muito importante para vocês. A primeira impressão, principalmente em nossa classe social, é a mais considerável.

—Apesar disso, vocês não precisam fingir ser alguém que não é — lembrou o Soberano, sorrindo com afeto, ao parar com a esposa a alguns metros das garotas. —A falsidade é pior que o mau-comportamento.

—Bem lembrado, meu caro marido — falou ela, olhando fixamente para alguma Selecionada que o homem não conseguiu identificar. —Mas mesmo assim, organizamos uma equipe de funcionários para acompanhar vocês durante toda a estadia de nossos visitantes, para garantir que todas se portem como o planejado. A Senhora Gillies pode explicar melhor.

A senhora de aproximadamente 60 anos se pôs à frente, movimentando seu grande vestido cinza que a cobria do pescoço aos pés. Primeiramente, seus olhos claros encararam os patrões com um ar confiante, mas logo se voltaram para as pupilas, que a encaravam com pavor. O Rei conseguia lembrar que ela lhe causava a mesma reação quando ela exercia o papel de sua governanta. Não era por acaso a escolha de confiar a ela o comando da Seleção de Alexander.

— A Família Real e seus agregados irão receber os c convidados no lado de fora do Palácio. Vocês, porém, não estarão lá com eles — anunciou ela, andando de um lado para o outro e causando suspiros indignados por parte de algumas competidoras. — Sua missão hoje será permanecer aqui, no Salão de Entrada, e mostrar os aposentos aos nobres indicados.

Ignorando as meninas, ela bateu palmas cujo barulho era tão estridente que ecoava por através das portas que separavam o local do resto do Palácio. Mas antes que o som pudesse se espalhar totalmente, quatro figuras surgiram de uma porta secreta escondida pelo papel de parede. Dois rapazes e duas moças, trajando roupas igualmente pretas correram com discrição até a que os chamava, ficando ao seu lado.  Sua presença causou desconfiança nas futuras Princesas, que trocaram olhares entre si, não entendendo o que meros criados — aos olhos delas, obviamente — poderiam fazer para uma competição tão fina. 

— Esses são os serventes escolhidos a dedo para auxiliarem vocês nessa nova experiência. Apesar de serem plebeus, eles conhecem muito bem o sistema dessa residência e se mostraram aptos a conduzir uma tarefa tão complicada — explicou a mulher dirigindo um olhar reprovador para garotas. — Dividimos vocês em quatro grupos com quatro componentes. Agora cada um dos chefes irá anunciar os nomes das competidoras e dos visitantes recebidos por cada um hoje. Por favor.

O primeiro a se pôr à frente foi um garoto que não poderia ser muito mais velho que todas as Selecionadas — até da mesma idade, talvez. Suas roupas, provavelmente antes pertencentes a um homem um pouco acima do peso, ficavam largas em seu corpo magro. Isso, porém, não o impedia de ficar frente a frente com aquelas que um dia poderiam governar o seu país com confiança.

—Grupo Jebedidah ou grupo verde será composto pelas Senhoritas Layla, Kristal, Solaria e Victoria — leu ele em sua prancheta, passando os olhos verdes pelo emaranhado de palavras escritas à mão. —Recepcionaremos os sauditas e os soviéticos.

As quatro sorriram com a chamada e andaram até o criado, que as cumprimentou com a polidez de um cavalheiro. Antes que Christian pudesse prestar atenção na bela cena que acontecia a alguns metros dele, a segunda criada, de longos cabelos loiros, imitou seu colega.

—Grupo Margarethe ou grupo azul tem como integrantes as Senhoritas Mayrelles, Mabelle, Cassiopeia e Ferissa — disse ela com uma mistura de agitação e alegria. — Os nobres para nós serão os marroquinos e os suecos.

— As meninas do Grupo Rodolph ou grupo vermelho serão as Senhoritas Emery, Wanessa, Marzia e Ulrika — anunciou o próximo criado, um ruivo que nem sequer levantou seus olhos castanhos para as garotas que sorriam para ele. —Ficamos com os ibéricos apenas.

— O último, mas não menos importante, é o grupo Jade ou grupo roxo  que é formado pelas Senhoritas Laryssa, Isabelle Valência, Rosaly e Maeli — disse a servente restante, ainda praticamente uma menina que sorria verdadeiramente.— Os nobres serão os noruegueses e os latinos.

Cada mentor, então, distribuiu indicadores de grupos, lenços com uma das cores faladas por eles, instruindo as meninas a os amarrarem em seus pescoços de forma uniforme. Finalmente o traje bege tinha algum diferencial, algo que dava cor ao visual, mesmo que o mesmo simbolizasse uma competição entre elas.

— Como já falei, vocês receberão os representantes dessas várias Casas, sendo avaliadas a cada respiro. Cada equipe tem duas nacionalidades de visitantes para recepcionar, fazendo com que duas garotas tomem conta de cada. Decidimos, por uma questão de número de representantes, que todas as quatro do grupo vermelho darão atenção aos ibéricos — explicou Gillies, com as mãos juntas em frente ao tronco. — Esqueci-me de alguma coisa, Majestade?

—Infelizmente, sim — respondeu a Rainha, afastando seus belos cabelos loiros do rosto ao olhar para a subordinada. — A senhora não anunciou que a Selecionada que obtiver a melhor pontuação, levando em conta todos os aspectos de uma boa recepção, terá imunidade na próxima eliminação, independente da organização da festa. Afinal de contas, saber lidar com nossos aliados é uma qualidade essencial para uma futura governante.

Novamente, a euforia tomou conta do Salão, assim como o nervosismo. As garotas cochichavam entre si, comentando sobre o que deveriam fazer, pedindo conselhos até. Muitas totalmente perdidas ao imaginar o quão difícil era a tarefa que teriam de realizar — ainda mais sendo uma novidade. Christian, em parte, as entendia. Ele mesmo não sabia se portar em frente a desconhecidos importantes. Sua reverência era horrível. Não conseguia criar um diálogo. Com os anos, tudo mudou, mas ninguém tiraria o seu cargo por demorar a aprender, o que não era o caso delas.

—Silêncio! Toda essa confusão não as fará ganhar a prova— gritou a coordenadora, irritando-se com as competidoras mais uma vez. — Alguém tem dúvidas?

Depois que todos os ruídos forma extinguidos, as garotas se olharam. Tinham dúvidas sobre tudo, tantas que nem sabiam como ao expressá-las para alguém que pudesse respondê-las. Uma delas de cabelos castanhos claros e olhos azuis com um lenço roxo, porém, levantou a mão sem cerimônias. Ao mesmo tempo, Gillies e a Rainha fizeram um sinal para que ela falasse.

— O que vocês consideram uma boa recepção? —perguntou ela com firmeza, recebendo olhares de todas as suas concorrentes pela ousadia do questionamento.

A criada mais velha iria responder, entretanto a Soberana interveio.

— Ah, querida, isso vocês mesmas irão descobrir — disse a mulher, já entrelaçando os braços novamente com os do marido. — Já está quase na hora da chegada de nossos convidados, então nós iremos para o lado de fora.  Boa sorte a todas.

E, assim, as duas figuras reais saíram do Salão, deixando para trás um grupo de garotas cheias de dúvidas e indo em direção ao seu lugar junto à realeza, que, certamente, estava muito mais calma.

***

O sol claro da manhã reluzia levemente no rio que corria ao lado do Palácio de Amalienborg. O vento suave — tão característico do outono dinamarquês — movia as folhas das árvores dos jardins, que batiam nas janelas da residência. Envolvido por tudo isso, estava o Pátio Central, local onde as alas leste e oeste se encontravam, fundindo-se na estátua de Frederick V. E seria ali também o corredor de entrada de vários carros luxuosos, os quais eram esperados por uma grande comitiva. 

Nobres de quatro países já se encontravam de pé em frente à grande porta principal embaixo de um toldo cujo meio era um palanque em tamanho reduzido para três pessoas. Em cima dele, um garoto moreno relativamente alto usando um terno cinza azulado andava de um lado para o outro no pequeno espaço que tinha.  Ele nunca estivera em um lugar tão elevado no meio de tantos superiores. Era sempre o irmão mais velho, não ele. Mas como era seu aniversário — e todos tinham de fingir que o propósito de tantas visitas era só esse —os pais resolveram dar essa oportunidade a ele. Naquela situação, seus medos se aproximavam muito dos das Selecionadas.

Os olhos de Christian, então, voltaram-se para os outros filhos, que pareciam bem mais relaxados. Alexander, o primeiro, que já acostumara sua timidez com eventos como aquele, apenas observava tudo, ansioso para a chegada. Saphira, a caçula, brincava com primas gregas e com a babá, completamente entretidas com algum jogo de mão que faziam. E as gêmeas, Isabella e Ingrid, de óculos de sol — que o pai não julgava necessários para o clima do dia — apenas conversavam discretamente entre si, fingindo serem damas ao imitar o resto dos nobres ali presentes. Era tão engraçado como cada filho tinha sua personalidade, mesmo sendo criados de maneiras tão semelhantes...

—No que você está pensando? —questionou a esposa, olhando curiosa para ele enquanto subiam as escadas traseiras do palanque.

—Nos nossos filhos — respondeu ele quando já a conduzia a seu lugar marcado. —E no quanto estão nervosos.

A última fala foi dirigida a Henrik, que deu um pequeno sorriso ao ouvi-la, ainda pensando em todas as suas aflições. O pai, não gostando de ver o filho assim, se aproximou dele, afagando seus cabelos antes tão bem penteados, depositando ali um beijo carinhoso.

—Não precisa ficar assim, meu menino. Vai dar tudo certo — afirmou ele com um olhar encorajador, logo depois abaixando a voz para que Juliane não escutasse. — Com sua amiga também, pode ter certeza.

Antes de responder por palavras — porque um sorriso realmente aberto já tinha realmente sido dado alguns segundos antes — o barulho das batidas dos pés dos guardas chamou a atenção dos dois nobres. Eles mudavam de posição, preparando-se para receber os visitantes. E, realmente, um carro preto já estava cruzando a pequena rua em frente à Igreja de Frederik, logo chegando às pedras do pátio e estacionando.

A primeira pessoa a sair do veículo, que erguia a imponente bandeira Ibérica com orgulho, foi uma garota loira de sorriso radiante. Seus sapatos dourados pisaram no chão em frente à porta com delicadeza, como se pisassem em uma nuvem. Ao ficar em posição vertical, seus cabelos brilhantes balançaram com o vento cada vez mais constante. Suas feições claramente eram familiares, mas Christian demorou a reconhecê-la. Era Alicia, filha do Marechal Larsen, que fora, até sua aposentadoria, o militar mais fiel à coroa. Quando a vira pela última vez, ainda usava, de forma estranha — por conta de sua magreza —, os uniformes da Academia Real Militar. Agora ela era uma dama, uma aspirante promissora à embaixatriz.

E o tempo não mudará só ela.

Logo atrás, vinha Augusto, filho do frio Rei Ibérico e da tão amada Agnes da Dinamarca. Em um piscar de olhos, ele passara de um menino engenhoso, porém ingênuo, que corria com Alexander pelos corredores do Palácio para um homem adulto e maduro de braços dados com sua esposa, bem mais baixa que ele. A única característica que nunca mudaria era a cor dos olhos, tão parecidos com os da mãe. Ao observá-lo bem em sua frente, Christian ainda conseguia imaginar a irmã vindo na mesma direção no Ato de Assinatura da Abdicação, mais de trinta anos antes.

— Vossas Altezas Reais o Príncipe Augusto do Reino Ibérico e Courtney, Condessa de Andorra, Vossa Excelência Camille, a Condessa de Madrid e a Senhorita Alicia Larsen, vice-embaixatriz dinamarquesa no Reino Ibérico.

Os quatro — incluindo a tal Condessa que Christian não notara, provavelmente a filha da falecida irmã mais nova do Rei — já na frente do palanque, se curvaram em uma reverência respeitosa. Ao se levantar, todos sorriram de forma contida, passando os olhos pela Comitiva, que os encarava. Os vestidos até os joelhos das duas solteiras, um com formas psicodélicas coloridas e outro listrado azul, balançavam com o vento, fazendo-as ter de segurá-los para evitar constrangimentos. Afinal, seus corpos bem desenhados chamavam o olhar dos homens ali presentes.

— É muito bom estar aqui novamente, tio e tia — disse o único homem vindo da meridional península, olhando para o Rei. — Todos nós agradecemos o seu convite.

—Estamos muito felizes por recebê-los — afirmou Juliane, antes que o marido pudesse se pronunciar. — Alicia, querida, obrigada por toda sua persistência em trazê-los.

— Não foi nada, Majestade — respondeu a garota, sorrindo apenas com sues belos olhos cor de esmeralda. — Porém o governante ibérico também sabe que a aliança com a Grécia e com a Dinamarca é a mais correta.

—Certamente — falou a Rainha, sorrindo para a melhor amiga do filho, mas logo depositando sua atenção para a outra garota ao lado dela. —É você a criadora da marca L’Abensur One? As pretendentes de Alexander estão malucas por causa de sua presença.

—Sim, fui informada disso pela minha amiga Serena — confirmou a morena, sorrindo para sua superior. — Esse foi um dos motivos para organizarmos um desfile aqui em Amalienborg.

— Sim, sim, está tudo certo para isso — disse a mais velha. —Acontecerá hoje à tarde mesmo, já que a Duquesa de Osmk disse que a senhorita já havia enviado toda a coleção para ela.

A Condessa assentiu.

—Ótimo, então — disse o Rei, cruzando as mãos em frente ao corpo. — Acredito que você precisa entrar para liderar a organização do evento, as Selecionadas a conduzirão para lá.

—Vamos todos juntos para dentro — interveio o Príncipe, entrelaçando o braço novamente com o da sua esposa. —Teremos tempo para conversar depois.

Os quatro se curvaram novamente e começaram seu caminho até as portas. A jovem embaixatriz atrasou o grupo, parando para abraçar o herdeiro dinamarquês, que parecia muito feliz por vê-la. Augusto também cumprimentou os primos maternos, de forma bem mais distante, mas apressou a garota. Eles, então, seguiram, caminhando com muita pompa.

Assim que o sobrinho e os outros vindos de seu país entraram no Palácio, o som da corneta foi ouvido novamente, fazendo com que todos prestassem atenção no local aonde os veículos chegavam. O motorista engravatado estendeu sua mão, fazendo com que a bainha de um vestido verde-mar se revelasse de dentro dos interiores negros da condução. Logo, uma mulher de cabelos castanhos curtos que Christian conhecia muito bem se postava nas pedras em frente à estatua de Frederick V. Seus olhos azuis encaravam tudo ao seu redor, como se fantasmas passassem por eles. Lembrava-se, provavelmente, de todas as vezes que dera voltas pelo mesmo local, na infância, quando não estava ali por causa de guerras. Pensava em quando era da idade de seu filho, um garotinho loiro que se parava logo ao lado dela, e morava dentro daquelas paredes.

Na época, com certeza, não tinha de passar por uma fileira de guardas em posição de sentido pelo simples fato de estar chegando. Tinha permissão de andar livre pelas dependências. Era Princesa da Dinamarca, não Rainha da Suécia. Suas mãos estavam livres e não envolvidas pelos dedos fortes do marido, Gustav. Era uma criança, uma filha e não uma mãe. Tantas mudaram com o tempo. Mas havia alguém que estava sempre ali. Alguém cujos olhos azuis — como os do resto da família — sempre estavam sobre ela. E esse simples fato a fazia sorrir, como se pudesse voltar a sua casa de tantos anos antes.

Christian. Aquele que já não era o adolescente indeciso das memórias da irmã estava em um palanque Real ao lado da esposa e do filho, mas que se sentia da mesma forma que ela.

— Vossas Majestades o Rei e a Rainha da Suécia e Vossa Alteza Real o Príncipe Herdeiro Philip da Suécia.

Os três anunciados se curvaram em uma reverência, seguindo o rígido protocolo — que deveria ser respeitado por todos, sendo família ou não. O soberano, inteiramente fardado com o uniforme do exército de seu país, prestou uma continência ao anfitrião, que foi respondida igualmente pelo mesmo, apesar de estar à paisana. O pequeno Príncipe, ciente da conduta que deveria ter, encarava o chão, sem mostrar reação. A mulher, porém, olhava fixamente para as figuras em sua frente. O sorriso ainda infantil dela se dirigia diretamente para o irmão, que fazia o mesmo, observando o quão bonita ela se tornara.

Ambos, naquela situação, odiavam toda a cerimônia e ignoravam-na.

Os sapatos cinza de salto logo já faziam barulho na escada frontal do palanque. O vestido de cetim era arrastado, indo em direção aos três membros da realeza que ali se encontravam. Os braços finos envolveram primeiro a cunhada, depois o sobrinho e, por fim, o irmão, com quem ficaram mais tempo. Mas após isso, voltaram para Henrik, ficando em seus ombros, acompanhados por um sorriso. Thyra, desde o nascimento de Alexander, quando tinha 14 anos, dedicara todo seu amor aos sobrinhos. E isso não mudara com o passar do tempo.

—Tinha até esquecido como a Dinamarca é bonita no outono — disse a mulher, com um sotaque já muito sueco para o gosto de Christian, observando tudo em sua volta. — Sempre venho apenas no Natal.

—Moramos em países tão próximos e quase não nos vemos... — concordou o Rei, sorrindo para a irmã.

— Meus sobrinhos crescem e eu não acompanho! — falou ela, encarando diretamente para o Príncipe dinamarquês. — Veja Henrik: já está quase da minha altura!

— Philip também já está muito grande — afirmou Juliane, olhando para o menino em sua frente.

— Já vou fazer 10 anos! —se gabou o pequeno, estufando o peito.

— Praticamente um homem feito — disse Christian, rindo com descrição. —Saphira não o reconhecerá.

— Prefiro que não reconheça mesmo — admitiu o mais novo, fazendo uma careta.

— Philp, har mer respekt— repreendeu Gustav, o Rei sueco, em sua língua, mas logo mudando para dinamarquês. — Ele está rebelde assim ultimamente... Nossas sinceras desculpas por isso.

— Tivemos de arrastá-lo até aqui — exclamou Thyra, indignada.

— Mas não se preocupe, Phil, nós receberemos visitas muito legais de sua idade para a festa de Henrik — afirmou a soberana anfitriã, pensando na Princesa do Marrocos, alguns meses mais velha que ele, que logo chegaria.

— Se for o “legal” de vocês, já posso dispensar — falou ele, erguendo os ombros em indiferença.

 — O que fiz para merecer um filho assim, Knut? — questionou a mãe do rebelde pra o sobrinho, chamando-o pelo último nome, que fora ela que deu, na época que ainda era solteira.

— Maldição das divindades, tia — respondeu o garoto, arrancando uma risada gostosa, tão característica dela, que logo foi acompanhada pela dele, um pouco mais discreta.

— Bom, nossa recepção já foi feita. Vamos deixar vocês em paz para receber os outros — falou ela após alguns minutos, cessando finalmente o riso — Veremos se o pestinha se acalma ao ver o primo favorito, já que vi os veículos com a bandeira do Reino Ibérico estacionados mais a frente.

— Augusto está aqui? — ele se animou.

— Falei? —ela balançou a cabeça em uma desaprovação bem-humorada para o herdeiro. — Mas primeiro precisamos cumprimentar Alexei, Phinny e as gêmeas.

 O menino revirou os olhos, sendo repreendido pelo pai.

Depois de mais uma cena do filho, Thyra decidiu que realmente era a hora de se despedir. Com beijos nas bochechas de seus parentes e com os apertos de mão pela parte de Gustav, ela desceu no palanque. Assim que seus pés tocaram no chão, ela e sua família seguiram até o toldo, onde estavam os outros filhos do irmão. Os três ainda em seu elevado real observaram-na  abraçando os sobrinhos. Philip, em contraste, só abanou para eles, tão frio quanto a neve do inverno nórdico. Isabella e Ingrid, com seu calou como o sol, o derreteram, pegando-o no colo e o girando do ar, o que causou gritos estridentes pela parte dele.

— Não é por acaso que Augusto é o favorito dele — comentou Henrik, observando o primo.

Christian riu. Ele, ainda olhando para Thyra, pensou nos irmãos, que, de maneira nenhuma, passaram suas personalidades maravilhosas para os filhos — inclusive o filho de apenas três anos de Frederick e Cecília. Eram todos tão diferentes, de nacionalidades tão diferentes, mas originados de um mesmo pequeno país... Era incrível e assustador.

Os nobres suecos, tirando o Rei dinamarquês de seus devaneios, entraram no Palácio, desaparecendo por trás da porta. A atenção de todos agora estava novamente na entrada.

Todos encararam um pátio vazio por longos minutos, imaginando quem seriam os próximos. Os elegantes árabes? Os luxuosos soviéticos? Ou seriam os exóticos latinos? Os guardas esperavam por qualquer sinal de um carro. Tudo foi revelado, entretanto, quando toda uma comitiva — ou uma frota, melhor dizendo— entrou nos pátios do Palácio. Bandeiras vermelhas, brancas e azuis royal balançava com a velocidade dos veículos, denunciando sua origem. A tão próxima, porém tão distante em alguns aspectos, Noruega.

As cinco conduções se posicionaram em um semicírculo. Todos aguardavam a aparição da realeza, porém foram surpreendidos quando oito militares, fardados de roupas de batalha, tornaram-se visíveis de dentro dos carros da ponta. O pequeno pelotão formado por eles logo depois da saída marchou até o veículo ainda não aberto. O motorista, que já estava fora, então, abriu a porta de trás. Em um primeiro momento, as três figuras que dali saíram não foram vistas pela Comitiva, pois estavam escondidas. Quando chegara à frente do palanque, porém, todos puderam observá-los. 

A formação, quatro de um lado, quatro de outro, deixava os nobres, no meio, totalmente visíveis. Os cabelos dourados da mulher caíam delicadamente em suas costas, se estendendo apenas até os ombros. Seu vestido preto opaco, que não brilhava nem um pouco, realçava suas curvas e seu tom de pele claro. Ao seu lado, se encontrava uma menina de, no máximo, cinco anos, cujo vestido cheio de babados coloridos voava com o vento. Seu cabelo, um pouco mais escuro do que o da mãe, estava preso em um elegante coque feito com tranças. Sua mão pequena se entrelaçava a do pai, um homem alto e magro com cabelos negros e olhos azuis tão claros que podriam cegar alguém.

—Vossas Majestades o Rei e a Rainha da Noruega e Vossa Alteza Real a Princesa Caroline Matilde da Noruega — proclamou um militar norueguês, falando os títulos em dinamarquês, tirando totalmente as funções dos guardas anfitriões.

Depois do anúncio, os três — até mesmo a garotinha, que provavelmente não entendia nada que estava acontecendo — se curvaram em uma saudação. A guarda, ao mesmo tempo, prestou uma continência ao Rei, que achava tudo aquilo um exagero da parte dos nobres do país vizinho.

— Leonore, Harald é muito bom recebê-los em nossa residência — cumprimentou Juliane, ainda encarando toda a proteção que os visitantes trouxeram. — Porém creio que tanto policiamento não é necessário, já que a Dinamarca ainda é segura.

— Confio em todos os países escandinavos, mas nesse momento, não podemos correr riscos — falou o Rei com convicção. — A Noruega não está preparada para perdas.

— Nossos movimentos têm de ser cuidadosos nesse período de conflito — explicou Leonore, olhando diretamente para a soberana da Dinamarca. — Até por isso, deixamos nosso filho mais velho, Magnus, em casa. Sentimos muito por não apresentá-lo a sua filha.

—Teremos muito tempo para isso depois — afirmou a outra mulher. —Se vocês quiserem, podem conhecê-la.

— Ficaríamos honrados! —admitiu a Rainha, com a voz animada, olhando para as nobres no toldo — Qual, entre todas essas belas donzelas, é ela?

Com calma, os pais da pretendente do futuro governante da Noruega explicaram onde a garota estava. De longe, os recém-chegados a acharam encantadora, vendo seu belo vestido azul-claro que combinava com seus olhos — que não eram vistos por conta dos óculos escuros que usava — e em como ele se encaixava em seu corpo esguio, típico de uma autêntica escandinava. Entretanto, também chamou a atenção deles a gêmea não idêntica dela, que se encontrava ao lado. Não era tão alta quanto a irmã, mas tinha apenas em sua postura uma elegância sem igual. Por um momento, o Rei dinamarquês pensou que ela seria a figura perfeita para a realeza de um país tão frio. Mas contratos são contratos.   

— Acho melhor nos acomodarmos primeiro, teremos oportunidades de sobra para conhecer Isabella durante nossa estadia — disse Harald, já se preparando para ir. — Muito obrigado, caros amigos.

Juliane explicou sobre as Selecionadas como fizera com todos os outros. Sem mudanças no cerimonial, eles fizeram uma reverência. Entretanto antes que pudessem continuar seu caminho até o interior do palácio, a pequena princesa puxou a barra do vestido da mãe, que se abaixou para ficar na mesma altura que a outra. Uma conversa rápida, que todos os outros quatro observavam com curiosidade, se seguiu entre as duas. No final, Leonore sorriu para os três dinamarqueses ao mesmo tempo fazendo sinal para que a filha se aproximasse deles.

— Feliz aniversário, Henrik — falou a menina em dinamarquês, finalmente, com um sotaque norueguês muito forte ao pronunciar todas as palavras — Er det riktig?

—Ganske riktig, veldig godt— respondeu a Rainha, olhando para a filha.

Henrik, então, foi para perto da menina, agachando-se nos limites do elevado. Sua mão em crescimento se estendeu lentamente, logo envolvendo a miúda dela. Os dois trocaram sorrisos. A menininha, mesmo com tão pouca idade, lembrara-se do aniversariante como nenhum outro fizera. Com toda a situação de guerra, o verdadeiro motivo de toda a comemoração havia sido esquecido por todos os estrangeiros — e até mesmo por alguns Schiønning. E Christian, internamente, lamentava por isso. O filho merecia um momento de felicidade naquela confusão.

— Takk, Caroline — agradeceu ele, sincero, com a única palavra que conhecia na língua dela: obrigado.

Com mais um sorriso da princesa, os três quartos da Família Real Norueguesa ali presentes despediram-se temporariamente dos anfitriões. Como não conheciam nenhum dos que estavam sob o toldo, passaram reto pelo mesmo, indo direto para as grandes portas, sendo seguidos por seus guardas. E, assim, desapareceram, deixando o Rei e toda sua comitiva esperando mais uma vez pelos próximos.

Mais tarde, após aproximadamente um período de dez minutos, uma grande e luxuosa Mercedes Benz negra estacionou em frente ao palácio real dinamarquês, atraindo os olhares curiosos dos nobres, principalmente pelos trajes do motorista que saíra do carro. O homem da tez amorenada usava uma longa túnica branca e um keffiyeh típico sobre os cabelos, que mesmo de longe mostravam ser negros.

— Será a princesa saudita? — perguntou Henrik, que ainda pouco conhecia as culturas árabes.

— Creio que sim, meu filho, veja as vestimentas do motorista, típicas daquela região. — respondeu Christian, sem tirar os olhos do veículo. — Espere só para ver a garota, certa vez me disseram que ela era a herdeira mais bela do mundo.

Enquanto os membros da realeza falavam, o tal motorista abriu a porta do carro, estendendo sua mão como um verdadeiro cavalheiro para a esbelta e airosa figura, que vestia uma simples, porém bonita abaya rosa fabricada da melhor seda. Como dançarinos que tivessem ensaiado até obterem uma coreografia perfeita, a guarda dinamarquesa dividiu-se entre o lado direito e esquerdo para a passagem moça.                         

— Apresento-lhes, Vossa Alteza Real, Alba Dahba de Ameena, Princesa Herdeira da Arábia Saudita — anunciou o guarda após os três toques de corneta.

A jovem começou o seu caminho com elegantes passos em direção ao palanque, onde os nobres lhe aguardavam sorridentes e encantados. O colar e o par de brincos do mais puro ouro da princesa pareciam brilhar com a luz daquele dia. Realmente, não era à toa a fama das mulheres sauditas de serem apaixonadas por joias. Mas todos esses ricos enfeites não ficariam mais belos em outra pessoa, que não na própria herdeira. Tratava-se de uma moça da pele negra, que segurava um tecido de renda branca que deixava seu rosto semivelado e cobria seus cabelos, mas via-se que eram cachos negros e sedosos, pois o tecido deixava parte de suas madeixas soltas, além disso, seus amendoados olhos castanhos eram marcados fortemente com um delineador, o que a deixava exalar um ar mais misterioso, fazendo os outros desejarem mais a descobrir a beleza que se escondia por trás do véu.

Ao cruzar todo o trajeto até a recepção, Alba caminhou lentamente de cabeça mais inclinada para prestar reverência ao casal de monarcas e ao príncipe. Quando se ergueu, seus olhos penetrantes fitaram diretamente nos da Rainha, que precisou admitir para si mesma, mais tarde, que ficara encantada com aquela dama, que esbanjava elegância até no andar. Uma verdadeira princesa.

— É uma honra lhe dar as boas vindas, Princesa Alba — afirmou o Rei em francês.

— As-salam alaykom [que a paz esteja convosco] — disse a princesa em árabe, meneando a cabeça novamente.

— Wa Alykom As-salam [que a paz esteja contigo também] — respondeu a rainha, aquelas eram as únicas palavras que a soberana conhecia da língua árabe, sabia que se tratavam de uma saudação.

Alba permitiu desvelar seu rosto, porém sem retirar seu véu, revelando um belo sorriso, que se continha. Seus belos olhos passaram por todo o local de forma lenta, provavelmente observando os presentes, mas logo voltaram sua atenção para os soberanos.

—Tenho muito a dizer para os senhores, mas creio que essa não seja a hora — afirmou ela na mesma língua que o Rei, cobrindo o rosto novamente. — Até porque sei que os germânicos estão à espreita e irão atacar sem aviso prévio.

Dito isso, a bela Princesa fez novamente uma reverência. Sem ao menos dar tempo para Juliane explicar como seria sua recepção dentro das paredes do Palácio, ela moveu suas finas vestimentas em direção ao toldo. Os olhares da nobreza acompanhavam seus passos leves e elegantes. Observavam com atenção suas mãos finas entrelaçando-se às de Alexei em um cumprimento formal. Estavam de ouvidos abertos para a conversa polida que ela começou com a herdeira britânica, Aline — que, magicamente, conhecia quase todos os membros da realeza no hemisfério norte.   

Christian, como todos os outros, gostaria de olhar a formosura de Alba por mais tempo, porém logo atrás já vinham seus novos convidados. Duas figuras de tamanhos completamente diferentes. Um menino — ou melhor, um homem — muito alto vestindo um terno cinza e uma garotinha magra aproximadamente da idade de Saphira trajando uma calça azul bufante e uma camisa branca com bordados coloridos. Ambos, porém, com a herança árabe em seus belos traços e na pele cor de cuia. Nos rostos dos dois, Christian via a atraente e poderosa mãe deles, a Rainha Reinante Ranya, que conhecera tantos anos antes.

— Vossas Altezas Reais o Príncipe Herdeiro Said e a Princesa Salimah do Marrocos — anunciou um dos guardas dinamarqueses quando eles se aproximaram do palanque.

Com a fala, os dois nobres fizeram uma reverência sincronizada, mostrando respeito aos soberanos e ao aniversariante. A menor, quando levantou o tronco, revelou seus grandes olhos castanhos e seu sorriso cheio de doçura.

— É um prazer tê-los aqui — afirmou o Rei, aproximando-se dos limites do palanque para cumprimentar os recém-chegados. — Agradecemos a colaboração nesse período de dificuldades.

— É uma honra estar aqui, Majestade — disse o Príncipe em um dinamarquês quase perfeito, apertando a mão do superior com cautela. — Minha mãe, a Rainha, enviou votos de apoio militar e financeiro para todas as necessidades, porém não pôde se juntar a nós nessa viagem até aqui.

— Lamentamos muito a falta dela, entretanto entendemos como é a vida de uma monarca — falou Juliane, sorrindo para o rapaz. — O importante é que ela pôde mandar representantes para garantir que está fiel a nossa aliança.

— Bom, esse não é um momento propício para a política, estamos em um período de festa — disse Christian, agora focando sua atenção na jovem princesa. — Algumas meninas deste Palácio estavam ansiosas para conhecer você. Saphira, Sybil, Althea.

As três, que estavam entretidas com alguma brincadeira com Ophelia embaixo do toldo, saíram de seus lugares assim que ouviram seus nomes. Seus sapatinhos delicados pisavam rapidamente nas pedras geladas, aproximando seus sorrisos cada vez mais do palanque. Como de costume, elas adotaram a posição por idade, ficando de mãos dadas. Os vestidos, todos floridos e festivos, balançavam com o vento, assim como seus cabelos claros.

— Crianças, essa é Salimah do Marrocos sobre a qual falei — nomeou o soberano. — Apresentem-se.

— Meu nome é Saphira e essas são minhas primas Sybbie e Althea — disse a pequena dinamarquesa, apontando para as duas mais novas. — Elas são da Grécia e ainda, não conhecem minha língua. Comunico-me com elas em inglês, você fala?

Antes que a marroquina pudesse responder, a mãe desceu de sua Real e ficou ao lado da filha. Suas mãos passaram lentamente pelos fios dourados dos cabelos da caçula, enquanto os olhos estavam fixos na morena em sua frente.

— Quem sabe você não mostra o Palácio a sua nova amiga? — sugeriu a soberana, sorrindo. — Tenho certeza que ela adorará o Salão de Baile e os jardins.

— Podemos esperar mais um pouco, mamãe? — questionou a menina com o olhar cheio de esperanças. — Natasha ainda não chegou e eu queria brincar com todas juntas.

— É claro que podem — interveio o Rei, balançando a cabeça positivamente. — Esperem ali com Ophelia. E Said, você será conduzido a seus aposentos pelas Selecionadas, espero que elas lhe agradem.

Ao mesmo tempo, as quatro princesas animadas retornaram a seus lugares embaixo do chuveiro toldo, a Rainha subiu novamente no palanque e o Príncipe Herdeiro entrou pelas grandes portas da residência Real. Tudo isso escondeu a chegada de mais uma limusine ao pátio, cujo conteúdo era mais belo que todas as joias caríssimas que os nobres ao redor do mundo compravam.

— Vossa Alteza Imperial a Princesa Herdeira Luísa do Império Latino-americano e Vossa Alteza, Teresa Cristina, a Duquesa de Manaus—apresentou um militar, logo após o toque da corneta.

As duas nobres que apareceram em frente à Comitiva Real chamavam atenção apenas pelo tom de pele. Diferente da cor dos árabes — com a qual os europeus já estavam acostumados — a delas estava mais próxima de um bronzeado. Seus membros, pelo menos os não cobertos pelos kaftans coloridos, brilhavam, parecendo ouro aos olhos dos admiradores. Seus rostos bem afeiçoados se iluminavam com as pérolas em seus sorrisos, mas a joia mais preciosa eram os olhos extremamente verdes da mais nova, que reluziam a luz do sol como esmeraldas.

Era impossível não notá-las.

— Majestades, Alteza — cumprimentou a menina em um dinamarquês ainda com muito sotaque, mostrando o belo prendedor de rubis em forma de borboleta em seu coque alto ao fazer uma reverência. — Minha tia e eu estamos muito honradas em estar aqui.

— É um prazer muito grande recebê-las — afirmou Juliane, sorrindo para as latinas. — A Duquesa fala nossa língua?

— Não, senhora — respondeu ela. — As línguas escandinavas não são muito comuns em nosso país. Eu mesma só comecei a aprender há poucos meses.

Os soberanos dinamarqueses sorriram em compreensão.

— Você está muito bem, mesmo com pouco aprendizado — elogiou a Rainha em espanhol, logo virando seus olhos para Teresa. — Agradecemos a seu irmão por ter aceitado nossa proposta. Os documentos já estão sendo acertados.

— Sim, sim, excelente. Acreditamos que nossa princesinha estará em boas mãos — falou a mulher com um brilho de alegria em seus olhos ao olhar para o príncipe nórdico mais novo. — Esse seria Henrique?

— Henrik — corrigiu a Rainha. — É ele.

— Filho, essa é Luísa, como você já deve saber — apresentou o Rei, apontando para a princesa. — Cumprimente-a decentemente.

Com timidez, o menino desceu a pequena escada do palanque, ficando ao lado da mais nova visitante. Ao se inclinar para frente, ele beijou a mão coberta de anéis dela. Quando levantou a cabeça, deu um verdadeiro sorriso, daqueles que quase não eram vistos em seu rosto. Mas Christian pôde perceber que ele não era dirigido à menina em sua frente e, sim, às três cabeças loiras que saíam de um carro logo atrás dela.

— As pretendentes de nosso filho mais velho, as quais se encontram no Salão de Entrada, as mostrarão o quarto de sua hospedagem — informou Juliane quando o filho varão mais novo voltava a seu lugar. — Sejam bem-vindas.

As duas aristocratas fizeram mais uma reverência, desta vez despedindo-se dos aliados. A comitiva, sem conseguir tirar os olhos, as observou desaparecendo de sua vista enquanto as portas eram fechadas em suas costas. Christian tinha de admitir que, apesar de as européias terem sua aparência de inverno que tanto o agradava, a imagem de verão das latinas era de tirar o fôlego.

— Vossa Majestade Imperial Yuri, o Imperador do Império Soviético e Vossas Altezas Imperiais as Princesas Lara e Natasha do Império Soviético —- o guarda declarou mais uma vez, assustando todos ali presentes que ainda estavam hipnotizados, revelando mais três visitantes de Amalienborg.

O frio governante soviético foi o primeiro a aparecer no campo de visão do Rei. Suas inúmeras medalhas por conquistas militares — que o dinamarquês achava exagero para aquela ocasião — brilhavam e faziam sons que poderiam ser ouvidos a muitos metros de distância. Sua alta estatura quase escondia as duas figuras infantis que se encontravam atrás dele. Quase. Ninguém conseguia esconder as características das Princesas. Não eram tão formosas quanto Luísa e sua tia, é claro, mas tinham seu próprio charme.Sua beleza, herdada da Imperatriz Sasha, em nenhuma hipótese, passava despercebida.

Seus vestidos de cores pastéis — o da maior, azul e o da menor, lilás — com uma fita de voal branca e brilhantes na gola se encaixavam perfeitamente em seus corpos delicados. Os cabelos dourados desciam como ondas por suas costas, sendo presos somente por uma tiara prateada. Uma elegância simples que fisgava a atenção dos olhos castanhos de Henrik.

— A confirmação de sua presença foi uma ótima surpresa — afirmou a Rainha em francês, enquanto os convidados se curvavam em uma reverência. — Sentimo-nos muito glorificados por isso.

— Consideramos muitas possibilidades quando a carta de seu filho foi as nossas mãos e chegamos à conclusão que uma aliança com a Dinamarca e a Grécia era a melhor opção — respondeu o Imperador com a expressão séria. — Agradecemos muito o convite.

Logo após a fala do soviético, o Príncipe dinamarquês trocou olhares com o pai, em uma conversa silenciosa. Christian sabia o que ele queria, porém tinha consciência de qual seria a reação da esposa. Mas como ele poderia resistir às súplicas do filho que — mesmo sem admitir em voz alta — estava apaixonado?

“Vá”, disse ele apenas movendo os lábios e apontando com a cabeça para onde a princesa estrangeira estava.

O menino sorridente, então, saiu mais uma vez de sua posição, ficando com os pés no pátio de entrada de Amalienborg. Nos primeiros instantes, ficou apenas parado, encarando a amiga, provavelmente pensando no que fazer. Afinal, um grande Imperador estava ao seu lado, julgando cada um de seus movimentos. Ele não poderia simplesmente abraçar a menina ignorando a presença do superior — o que, sem dúvidas, desejava.

—Majestade, muito obrigado por ter aceitado meu pedido — falou o garoto em inglês, curvando-se em uma reverência. — A presença da Princesa Lara é muito importante para mim.

—Estar aqui também é muito importante para ela — concordou o Soberano, sem sorrir, olhando para a filha, que tinha de se conter para não demonstrar a animação ao pai severo.

—O senhor meu autoriza a abraçá-la? —questionou, com muita cautela, o príncipe dinamarquês. — Faz muito tempo que não a vejo e...

Antes que pudesse terminar a frase, ele recebeu um movimento positivo de cabeça, encorajando-o a seguir em frente. Ao seu lado, Christian ouviu Juliane suspirar, já que não aceitava que o filho estivesse envolvido com outra que não era sua pretendente, mas, por sorte, ninguém mais percebeu. Todos observavam o abraço cheio de ternura, quase podendo sentir o calor reconfortante também. Não era possível ver o rosto de Henrik de onde o Rei dinamarquês estava, mas o de Lara estava muito visível. Seus olhos extremamente azuis estavam fechados e o sorriso, aberto, como se estivesse aliviada por ser envolvida pelos braços do amigo.

Foi assim que Christian pôde finalmente perceber que todo aquele sentimento era recíproco. E que, enfim, o aniversariante esquecido poderia ter seu momento de felicidade.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como estou utilizando o limitadíssimo plano de internet do meu celular, terei de ser breve. Apenas vou perguntar uma coisa para vocês: o que acharam dos nossos visitantes?
E, última coisa: #Larink está reunido! É PRA GLORIFICAR!!!!!
Mais uma: até a Bellinha tem um pretendente, como você fica com isso, caro Arthur hmmmmm [lua do WhatsApp]
Até a próxima,
xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rainha dos Corações" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.