Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 44
Encontros Internacionais | Mabelle e Serena


Notas iniciais do capítulo

Oioi, gente! Hoje é quinta, hoje é dia de RDC! Bom, estou fazendo uma nova organização para a fanfic e, para ficar mais confortável e para evitar longos períodos sem atualização, eu decidi fazer as postagens de quinze em quinze dias,, uma semana sim e uma semana não. Quer dizer que semana que vem, por exemplo, não teremos RDC. Vou fazer um teste, se não der certo eu volto para como estava antes.
LINKS QUE QUERO COMPARTILHAR ANTES QUE EU ESQUEÇA:
Spin-off de RDC postado no dia 24 de cada mês:https://fanfiction.com.br/historia/674419/Por_Tras_da_Selecao/
Novo post no blog da fanfic: http://rdccasareal.wix.com/fanfiction#!A-Verdade-sobre-as-Selecionadas/cmbz/56b3a9d40cf2fb0f6feeb7aa
Novo blog de design da B Angel: (tá, esse não tem link ainda, assim que estiver pronto eu coloco aqui)
Era isso!
Aproveitem a leitura!
xoxo ♥ ACE



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/539155/chapter/44

As grandes portas do Salão de Entrada se abriram novamente, dessa vez revelando três figuras que brilhavam com a luz fraca do sol que entrava no local junto com eles. Diferente da Recepção externa —ou pelo menos como Mabelle supunha —eles não foram recepcionados com os toques das cornetas e com os gritos dos guardas. Apenas andaram lentamente pelo local comprido, colorindo suas roupas já muito alegres com o efeito dos vitrais. Parecia algo tão simples para pessoas de aparência tão... Inexplicável. Tão fina, elegante, tão familiar, mas mesmo assim tão exótica. Os olhos que se fixavam neles, com certeza, não tinham atenção para mais nada.

E assim aconteceu com todas as Selecionadas. Durante todo o caminho deles até a última parede do ambiente, elas permaneceram imóveis. Mesmo depois de tantas explicações de Katarina, era como se elas soubessem nada. Parecia que elas ainda eram as meninas que saíram de suas casas das mais diversas partes da Dinamarca, não as aspirantes à Princesa que agora eram — ou não, no caso de algumas. Mas, se estavam assim com os primeiros não europeus que pisavam no mesmo chão que elas, como seria a reação sobre os tantos outros que as visitariam?

A Rainha Juliane vai eliminar todas nós com esse fiasco” foi a única coisa que Mabelle conseguiu pensar, enquanto seus olhos castanhos ainda seguiam os convidados em um transe aparentemente interminável. “Sorte daquelas que estão recebendo os noruegueses, os suecos e os ibéricos e não estão aqui.”

Os três nobres pomposos pararam em frente aos serventes, que se encontravam um pouco a frente das competidoras. Assim como elas, eles passaram os olhos por todo o local antes de voltar a atenção naqueles que estavam diante deles no momento. Naquela posição, eles irradiavam mais confiança, mais temor para as meras plebeias.

— Sejam muito bem-vindos, Altezas — disse a Senhora Gillies, fazendo uma reverência sincronizada com seus colegas. — Creio que já tenham sido avisados sobre a recepção que será feita pelas Selecionadas, pretendentes do Príncipe Alexander.

Ao serem citadas, todas as garotas  — sem exceções  — acordaram da hipnose em que se encontravam. De uma forma extremamente desajeitada, jogando fora todos os conhecimentos adquiridos no tempo de permanência na Residência Real, elas imitaram o ato da coordenadora. A mesma, vendo o fracasso de suas pupilas, apenas levantou de leve as sobrancelhas, logo se voltando novamente para os convidados.

—Fomos todos avisados — afirmou uma das duas Princesas, a mais velha, com o rosto todo encoberto, mas com a exceção dos olhos, que se fixavam diretamente nas competidoras. —É um prazer saber que entre vocês está a futura Rainha, espero que eu tenha momentos suficientes para conhecer todas vocês.

A moça, então, deu alguns passos à frente, ficando cada vez mais próxima das garotas, provavelmente para poder observá-las melhor. Com a diminuição da distância, a tensão só aumentava. Os olhos cobertos por maquiagem dela, a única parte visível do rosto,transbordavam em mistério. Mesmo sem ter sido apresentada, Mabelle a reconhecia das fotos apenas por essa característica. E também, é claro, pelos inúmeros boatos que corriam pela corte. Alguns dias antes, na preparação para a chegada dos estrangeiros, as outras concorrentes espalharam as mais diversas fofocas, alegando, entre outras coisas, que a herdeira saudita e o herdeiro dinamarquês tiveram um caso em anos anteriores.Todas as Selecionadas sabiam disso. E, com a reação que causara no primeiro encontro, era certa a presença de mais uma Serena naqueles corredores.

— Assim também espero — falou a servente mais velha, enquanto a nobre voltava a seu lugar. —Agora mesmo vocês terão a chance de se entrosar com algumas delas. Jebedidah, você primeiro.

—Princesa Alba, sua recepção será comandada pelo grupo verde—anunciou ele, depois de mais uma breve reverência, tentando parecer confiante ao lado da majestosa árabe. — Layla e Victoria, por favor.

Victoria foi a primeira a se mexer, movendo seus cabelos ruivos sem pressa até onde se encontravam os mais velhos. Layla, que está a esquerda de Belle começou a se locomover um pouco depois, ainda tomando coragem. Algumas meninas cochicham algo que a morena não conseguiu identificar. Alguns desejos de boa sorte, algumas críticas, comentários voltados à Princesa. Nenhuma, porém, percebeu a cor levemente corada que foi adotada pela pele do criado quando os cabelos negros da Selecionada de sua equipe se aproximaram dele.

Assim que as saudações prescritas pelo protocolo foram feitas, os criados deram as últimas informações à convidada, deixando-a, finalmente, sob os cuidados das futuras Rainhas. As concorrentes, então, as observaram deixando o Salão de Entrada, seguindo com os olhos seu caminho até as escadas. Quando elas cruzaram os limites do local, desaparecendo do canto de visão de todos ali, a jovem Dumont sentiu seu sangue esfriar de nervosismo. Ela seria a próxima.

—Margarethe, por favor — pediu Gillies, sorrindo para a colega e para os dois de sangue azul ainda restantes. —Seu grupo.

— Mabelle e Mayrelles, se aproximem — falou a loira com seu sorriso reconfortante. — Venham conhecer seus recebidos, Vossas Altezas Reais o Príncipe Herdeiro Said e a Princesa Salimah do Marrocos.

—Não se esqueça, você pode encantar o Príncipe, mas ele tem lugar para todas nós no harém — disse Cassiopeia  em um sussurro e, mesmo sem poder vê-la de frente, era possível saber que ela erguia suas sobrancelhas em desafio.

—E você trate de lembrar que a poligamia foi extinta há muito tempo no Marrocos —retrucou a outra competidora do mesmo jeito, surpreendendo inclusive a si própria, enquanto já se afastava da rival.

Ignorando os demais murmúrios da outra garota, Belle seguiu sua parceira de equipe, se postando ao lado da que as chamara à frente, sem saber muito bem como agir. Por alguns momentos, elas apenas permaneceram caladas, observando os visitantes, ambos com sorrisos belos e sinceros nos rostos. Ao vê-los assim, ela lembrou que eles também eram humanos e deixou a ousadia — ou a boa memória, como alguns gostam de chamar — agir. Sem que ela pudesse controlar, as lembranças da aula de Katarina voltaram a sua mente, fazendo-a se inclinar para frente, pegando a mão, primeiro de Said, depois de Salimah e as beijando educadamente, como mandava a tradição marroquina. Mayrelles imitou-a de maneira confusa. De suas costas, a morena conseguia sentir o sorriso contido de Margarethe, o que a faz ficar feliz, pois estava fazendo algo certo.

—Vocês estão nas mãos delas agora — afirmou a servente juntando as mãos em contentamento. —Mais uma vez, sejam muito bem-vindos.

Os quatro seguiram, então, até as escadarias de onde o grupo anterior sumiu. Ao passarem  pelas demais candidatas, elas se curvaram em sintonia, formando uma espécie de onda de reverências. Após isso, seus pés começaram a subir degrau por degrau. E, a cada metro subido,  Mabelle ficava mais angustiada. Não fazia ideia do que falar, de como agir em frente aos marroquinos. Somente conseguia observá-los.

A inocente curiosidade da Princesa analisava tudo com atenção. Seus olhos se fixavam em todas as obras, apreciando sua beleza até que o andar do grupo a trouxesse até o próximo. E assim se seguia, por corredores e mais corredores altamente decorados, por escadas e mais escadas repletas de detalhes. Apesar de ver tantas coisas parecidas, o entusiasmo da menininha não mudava. A cada nova moldura, sua expressão se renovava. Pelo jeito da pequena, Mabelle se perguntava, inclusive, se as religiões do Marrocos não permitiam manifestações artísticas como aquelas.

—Eu também fiquei impressionada com todas essas pinturas na primeira vez que as vi, Alteza — ela resolveu arriscar, imitando a nobre ao encarar uma das pinturas que se encontrava a seu lado.

— São lindas… — respondeu a criança, sonhadora. — Parecem pessoas de verdade!

— Isso porque o movimento artístico é o Realismo, não sei se você conhece — falou a mais velha, olhando com ternura para a pequena. — Cada pintura pretende representar as coisas como são, com o amor, o ódio e todas as características dos seres humanos, por isso elas parecem tão vívidas.              

— Você gosta de arte, suponho — o Príncipe se manifestou com um pequeno sorriso para a anfitriã, que corou, fascinada pela formosura do rapaz.

— Sou encantada — declarou a moça, suspirando. — Mas infelizmente só conheço verdadeiramente as europeias.

— As nossas são muito diferentes dessas aqui, são muito coloridas, mas são completamente surreais — contou Salimah, agora olhando para Mabelle.

— Imagino que sejam lindas!

— Nossa religião não permite a pintura de pessoas, por isso, achou-se outra maneira de fazer arte sem infringir as leis — explicou Said, como se estivesse em uma palestra. — Nossa cultura toda é muito diferente.

— Ouvi falar que as danças são muito belas.

— Você gosta de dançar? Pois eu adoro! — questionou a pequena, quase pulando de animação. — Posso até lhe ensinar a dança do ventre, se ainda não sabe.

— Eu amo, na verdade — respondeu a Selecionada, tentando controlar a euforia na voz enquanto falava sobre sua atividade favorita. — Sou dançarina, bailarina, para ser mais precisa. Sempre quis aprender as danças árabes, mas nunca tive oportunidade.

— Lá no Marrocos temos ótimos professores. Até minha mãe se junta a nós, quando não está ocupada — informou a nobre. — Você iria adorar minha casa! Ela pode ir nos visitar um dia, não pode, shaqiq?

— Se assim for permitido pela família dela — afirmou ele, sorrindo ora para a irmã, ora para a dinamarquesa.

— Então está combinado! —disse a mais nova, comemorando com as mãos. — Vai ser muito divertido.

— Ótimo, façamos assim: Você sabe que uma guerra está começando e nós não sabemos como e quando ela irá acabar, não sabe? — a menininha fez que sim com a cabeça. — Então assim que chegar em minhas mãos a notícia confirmada de que tudo terminou, eu entro em contato para visitar vocês. Pode ser?

— Mas isso vai demorar uma eternidade! — exclamou ela com a alegria saindo de seu corpo por conta da decepção. — Odeio guerras!

Os quatro, então, simplesmente ficaram calados, apenas andando e com as cabeças cheias de perguntas sem respostas, cheias de pensamentos . Pensaram no conflito que se aproximava de seus respectivos países. Imaginaram os estragos que ele traria. Previam como suas vidas mudariam durante e depois dele…

— E você, Mayrelles, o que faz? — questionou o Príncipe, quebrando o silêncio e tentando incluir a garota, que ainda .

— Sou atriz — respondeu ela, tímida, sem olhar para os convidados.

— Quer dizer que você é famosa? — perguntou Salimah, novamente agitada. —E sabe dançar também, não sabe?

— Na verdade, só participo de produções locais pequenas e simples, meu talento não é tão grande assim — explicou a garota, um tanto triste. — Nada como você deve imaginar.

— Alá controla tudo que acontece conosco, ele só coloca o dom das artes nos seus poucos escolhidos — afirmou a pequena, olhando para o teto, como se seu Deus estivesse entrando em seu corpo para que as palavras de sabedoria fossem ditas.— Seu talento é abençoado como o de todos os outros, até mesmo como o dos extremamente famosos e conhecidos. Então nunca fale que ele é pouco.

Novamente, eles continuaram caminhando pelos corredores sem proferir uma palavra sequer. Belle notou uma lágrima emocionada escorrendo no rosto de May. Nos primeiros dias de sua estadia no Palácio, ela ouvira rumores de que a concorrente tinha problemas com aprendizagem e, consequentemente, baixa autoestima. Os ensinamentos da princesa — mesmo vindos de alguém tão jovem — deveriam ajudá-la de alguma forma naquele momento, levantando sua confiança.  As duas competidoras se olharam e sorriram, apreciando a sorte que tinham por recepcionar alguém como aquela garotinha.

Depois de longos passos em silêncio, finalmente a porta, que somente as Selecionadas reconheciam de tão semelhante às outras.

— Esse é o quarto de vocês  — a jovem Dumont empurrou a fechadura dourada, deixando espaço para os convidados passarem.  — Suas malas já serão trazidas.Esperamos que vocês fiquem bem acomodados aqui.

Os de sangue azul entraram no aposento, analisando cada aspecto dele, enquanto as Selecionadas ficaram paradas um pouco afastadas da porta, fazendo o mesmo. Em um canto perto da janela, estavam duas camas um pouco menores que as das Selecionadas repletas de travesseiros dourados. Na frente de cada uma delas, havia um baú entalhado com flores e cenas que pareciam reais, tais como as pinturas dos corredores. Perto da janela, uma mesa de madeira escura que parecia ótima para uma leitura de fim de tarde se erguia, brilhando com o sol de tanto verniz. Apesar de Mabelle achar seu quarto muito luxuoso, aquele conseguia ser mais, como se fosse possível. Digno dos convidados da realeza que receberiam, diferentemente dos outros que alojavam simples garotas plebeias.

— Com certeza iremos, a Rainha Juliane tem muito bom gosto — o Príncipe finalmente respondeu enquanto deixava o casaco do terno que usava em uma das cadeiras. — Foi um prazer ser recepcionado por vocês, senhoritas.

— O prazer foi nosso — admitiu May, olhando diretamente para Salimah, com se olhasse para uma irmã mais nova. — Se precisarem de alguma coisa, apenas toquem a campainha que um dos serventes irá atendê-los.

Said agradeceu com a cabeça. As duas Selecionadas, a fim de deixar os nobres em paz, se aproximam da porta, prontas para irem embora. Mas Salimah as segue.

— Vocês duas estão convidadas para nos visitar em Rabat, não se esqueçam —  disse ela, segurando as mãos das duas, mas logo soltando.

— É claro que não iremos esquecer — respondeu Mabelle, se virando mais uma vez para dentro do quarto e fzendo uma reverência em sintonia com a colega.

De forma ingênua, a pequena Princesa respondeu as duas garotas, também se curvando. Os mais velhos riram, principalmente o herdeiro marroquino, que se aproximou das três e  passou as mãos pelos cabelos da mais nova com ternura. Com seus belos olhos castanhos, ele olhou novamente para as pretendentes de Alexander, fazendo-as suspirar com sua beleza.

— Espero que nos encontremos mais vezes por esses inúmeros corredores — disse ele, dirigindo suas palavras mais para Belle do que para Mayrelles.

—É claro que iremos, Alteza — respondeu a de descendência francesa, revelando um belo sorriso para o nobre.

Então, com um aceno de cabeça e ainda cheio de alegria, ele se afastou da porta, fechando-a. Deixava, assim, as duas Selecionadas sozinhas no corredor, contemplando a ótima recepção que acabara de acontecer e esperando — pelo menos no caso de Mabelle — que elas pudessem se encontrar com aqueles dois novamente.

***

As grandes portas da Sala de Jantar foi aberta, revelando aproximadamente quarenta pessoas que dali saiam, em sua maioria, mulheres. Os sapatos de salto batiam no chão com força, fazendo barulhos irritantes, primeiro mais fortes, depois ficando cada vez mais baixo. Cada convidado seguia um caminho diferente. Alguns preferindo ir até o lado de fora. Outros, que conheciam o palácio um pouco melhor, se arriscavam em ir até os Salões especiais, como a biblioteca. E outros, por fim, apenas iam até o seu quarto. E esse era o caso de Camille e Serena.

As duas nobres com idades muito próximas caminhavam pelo corredor, em direção a seus aposentos no segundo andar. A conversa que sustentavam era incessante, o que fazia todo o Salão ecoar frases em espanhol. A Ibérica, animadíssima com o primeiro desfile de sua marca em uma residência Real, contava à amiga todos os detalhes da nova coleção. A siberiana por sua vez, apesar de responder à outra com muita animação, estava mais concentrada em aproveitar a presença dela. Ainda que fosse a garota propaganda da grife, as duas mal se viam em tempos comuns e ela sabia que a Condessa sentia sua fala, já que ela era sua única amizade verdadeira. Quando estavam juntas, a Duquesa de Omsk apenas queria entrelaçar seus braços ao da morena e nunca soltá-la.

O momento de confidência das garotas, porém, logo foi quebrado. De longe, os olhos extremamente azuis da nortista avistaram um homem fardado  — mas não as com a farda da Dinamarca — se aproximando. Percebendo que estava sendo encarado, ele fez um sinal com a cabeça para a jovem, que parou. Antes que pudesse ser visto pela estilista, ele sumiu nas sombras em uma das esquinas cheias de quadros. Percebendo que algo estava errado com a companheira, cessou a fala em confusão. Elas trocam olhares, fazendo com que se entendessem.

— Eu gostaria  que você fosse a primeira pessoa fora da equipe a ver ao vivo as peças e os projetos, que estão em meu quarto —disse a garota, um tanto triste.

— Dessa vez não será possível, Mille. Você sabe — explicou a outra, compartilhando o sentimento da amiga. — Sinto muito. 

— Não quer que eu vá junto? — questionou.

— Não quero que você se envolva nisso — ela respondeu, colocando a mão no ombro da amiga. — Você estará muito melhor vistoriando os últimos preparativos para o desfile.

Ela tirou a mão do ombro da outra e deu um último sorriso para ela. Saindo de perto dela, seus passos seguiram solitários.  Agora ela percorria muito mais apressada e estressada que antes, os corredores que percorreu tantas vezes naqueles poucos dias em Amalienborg. Mas ainda assim, não sabia exatamente aonde iria. O corredor dos nobres tinha tantas portas. Tantas portas iguais. Como ela perceberia que uma delas era seu destino?

O destino — e o bom senso dos donos dos quartos —, entretanto, deixaram uma evidência.  Aporta estava aberta.

O quarto em que entrou era exatamente como os outros do mesmo andar. No centro, uma cama com lençóis de cores douradas e alaranjadas, coberta por várias almofadas. No canto, perto de uma grande janela com sacada, uma pequena mesa de madeira com duas cadeiras que eram iluminadas pela luz do sol do meio-dia. O chão era coberto por o usual tapete vermelho vindo da região da antiga Pérsia, o qual Serena tão bem conhecia por pisar com os pés descalços na fofa superfície em seus próprios aposentos. Mas uma característica naquele cômodo em particular: as pessoas que ali estavam.

Duas meninas, uma extremamente loira e uma morena, sentavam-se, sérias em volta da mesa. A conversa que tinham era em tom baixo e logo foram cessadas quando a soviética apareceu. Entre as cores fortes e brilhantes dos lençóis, uma dama se sentava de pernas para o lado, deixando os belos tecidos de suas roupas caírem sobre seus membros. Seu rosto bem maquiado olhava sério para a porta, não deixando a intimidação e a beleza naturais de lado.

—Aline, Alícia, Alba — disse ela em inglês, fazendo uma reverência debochada antes de entrar no quarto. —É bom tê-las reunidas aqui hoje, minhas caras damas.

—Seja bem-vinda a meu humilde quarto, Serena — falou a saudita, com um sorriso contido. — Sente-se.

A siberiana sorriu para a colega, indo em direção à ponta da cama, onde sentou. Por alguns minutos, apenas encarou as garotas, sem dizer nada. Geralmente, era ela que começava as conversas, perguntando sobre todas as novidades nos respectivos países das outras. Mas o problema era que, naquele momento, os acontecimentos eram tantos que ela nem sabia por onde começar.

—Achava que você não viria, deusa das arábias — admitiu ela, se virando um pouco para ver a por ela referida. —o Sheik autorizou essa vinda ou você está sendo uma menina travessa?

—Autorizou em parte, na verdade, porque para ele eu estou apenas na festa do irmão do meu grande amigo Alexander — respondeu ela, se erguendo um pouco na cama. —O Oriente Médio todo está se aliando à Turquia, mas eu tive de dar meu jeito para estar presente nessa reunião, tudo por causa de nossa chefe paranoica...

—Anastácia não confia em cartas, acha melhor um encontro formal e presencial como esse — interveio a Princesa britânica, lançando um olhar repreensor à companheira. —E eu, inclusive, concordo.

—Se quer que estejamos todas aqui, onde está a queridinha dela? —questionou a siberiana, recebendo um aceno positivo de cabeça vindo da árabe.

—Todas nós sabemos como Luther é. Ele não autorizou a visita dela e ela também não quis arriscar todos os privilégios que tem dentro da corte com isso —explicou Alicia, mexendo em algumas cartas que tinha na mão. —Além disso, ela já está fazendo um trabalho excelente sem nossos conselhos.

—Então ela sabe quem são as princesas germânicas — disse a Duquesa, quase que em um desafio. —Se o serviço está tão bom assim para ser liberada...

As duas que se sentavam à mesa se entreolharam, tensas.  Serena sabia que elas estavam escondendo algo das outras duas. Algo importante para todos os pontos da confusão fossem unidos.

—Acreditamos que sim — falou a ibérica, com certo receio, pedindo ajuda à amiga com os olhos. —Porém ela não quer revelar nada.

—Não entendo essa criança— declarou Alba, indignada. —Ora trabalha como uma verdadeira profissional, ora esconde informações.

—Apesar de influenciar tanto o Rei, ela ainda tem receio, não quer ser descoberta e ser enxotada do Palácio. O irmão dela precisa dos cuidados especiais que o dinheiro real proporciona — contou a loira, tentando não ficar irritada com todos os julgamentos das outras. —Além disso, não precisamos da confirmação dela para reconhecer as duas garotas.

—Então vocês sabem? —indagou a siberiana, pasma. —Por que não nos falaram antes? Por que não contaram à Anastácia? Se ela soubesse, com certeza já estaria com um plano bolado para acabar com isso.

—Calma, calma — pediu Aline com muita paciência. —Nós não temos certeza ainda. Apenas palpites. Principalmente sobre a identidade de Eris. Helga ainda permanece um mistério.

—A única foto que temos da atual herdeira é a do batizado de Elisabeth, dezesseis anos atrás, o que não nos ajuda muito — falou Alícia, jogando para as garotas da cama uma imagem contendo diversas pessoas, incluindo uma menininha ruiva com um enorme círculo amarelo ao seu redor. — A característica mais marcante seriam os cabelos, mas sabemos muito bem que ela pode ter pintado-os.

—Ou não —retrucou Serena. —Nesse caso, teríamos Victoria, Wanessa e Laryssa, acho que são essas. Não teríamos muito trabalho.

—Luther é esperto, não esconderia a filha tão mal assim. O único jeito de descobrirmos é conversando com todas elas.  — afirmou Alba, se levantando e se aproximando das companheiras. — É só intimidá-las um pouco que elas soltam algum segredo, fácil. Podem deixar comigo.

—E quanto à Eris? —perguntou a Duquesa, ainda sorrindo com a possibilidade de ver mais alguém assustando as pobres Selecionadas.

— A minha reunião com ela logo será marcada — declarou a britânica, com um sorriso como de quem sabe de tudo no rosto.

—Quer dizer que você já tem certeza? Não são só palpites?

—Se tudo estiver ao nosso favor, sim — respondeu ela, cruzando as mãos em frente ao corpo. — Logo libertaremos a Germânia da tirania. Logo nos libertaremos da aflição.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Said e Salimah são uns queridos, não são? Eu particularmente adoro a energia positiva que nossa pequena marroquina trás! E as 4 garotas conversando sobre as tretas? O que será que elas têm com isso tudo? Alguém (que lê o blog) percebeu quem é a Anastácia? Hu3hu3 Acho que não hu3hu3 Aguardem!
Espero que tenham gostado!
Até o post do blog (e as respostas dos comentários, que farei amanhã sem falta, desculpa pela demora hahaha)
xoxo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rainha dos Corações" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.