Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 42
Especial | Ano-Novo


Notas iniciais do capítulo

Hoje é quinta, hoje é dia de RDC! E o que mais é hoje? O último dia do ano!!!
2015, mesmo com tantas dificuldades, passou voando aos meus olhos. Parece que ainda estou vivendo as semanas que sucederam 31/12/2014... Na verdade, parece que ainda estou vivendo os primeiros dias de RDC. Tudo passa tão rápido. Já estamos entrando no segundo ano da fic e eu só tenho a agradecer por tudo. Obrigada por serem essas leitoras maravilhosas e espero que tenhamos muitos momentos bons, mesmo que virtuais, em 2016!
Que esse ano comece com muita luz e paz para vocês e suas famílias!!!
Música para o capítulo (só na hora da dança):https://www.youtube.com/watch?v=IoS1_CRS5fA
xoxo ♥ ACE (falo mais nas notas finais)



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O sul da Germânia, local onde antigamente se encontrava a Baviera alemã, chão para muitos grandes Palácios. Um lugar onde o silêncio reinava, onde os passarinhos cantavam no verão. No interior de suas terras, muitas famílias encontravam seu refúgio. Assim como a família Manteuffel.

O casarão no alto da pequena colina ainda brilhava com as luzes de Natal. Até os limites da propriedade, era possível ver as diversas cores das lâmpadas, do suave azul até o intrigante vermelho, que coloriam a neve que envolvia todo o terreno. Depois de dia de nevasca intensa, finalmente o tempo estava claro, clima perfeito para terminar um ano e começar outro. E, é claro, para, enfim, brincar depois de dias dentro de casa.

No meio do gramado, que deveria estar totalmente branco, encontravam-se figuras com os casacos cheios de cor. Seus cabelos, dos mais diferentes tons, voavam com a brisa gelada. A paz do local era quebrada por seus gritos e suas risadas, mas ninguém os impedia de ser feliz. Muito pelo contrário. Da grande janela central da construção avermelhada, Sybil, uma senhora loira, sentada numa grandiosa cadeira, os observava com prazer.

Fazia tantos anos que não brincava daquele jeito. Mas ainda se lembrava. Assim como a de seus netos e bisnetos, sua noite de Ano Novo na infância era reservada para as brincadeiras na neve. Até os oito anos, quando ainda morava em um casebre no interior da Grécia, aquele simples divertimento era a única alegria que ela e seus irmãos tinham. Era a primeira e mais feliz noite do ano. As recordações do tempo eram poucas, pois não existiam câmeras no vilarejo, mas o sentimento de alegria nunca sairia de sua memória.

Tudo mudou, entretanto, quando o Rei a levou para o internato, ou melhor, a Escola de Garotas. Lá o começo de janeiro não era comemorado. O dia era o mais comum possível, com todas as aulas e refeições normais. Em nenhum dos vários anos que permaneceu na instituição, foi permitido a ela sair pelas grandes portas do casarão para aproveitar a neve há pouco caída. O que restava era apenas observar, saudosa, pela janela de seu quarto. Até a lembrança da tradição ser quase totalmente apagada por desuso.

Foram tantos anos que começaram e terminaram depois disso. Em tantos lugares diferentes. Com tantas pessoas diferentes. A cada ano, uma nova criança — ou até um novo adulto — aparecia em sua vida. Primeiro Constantine, depois Atticus, Friederich e Alice... E todos os seus netos e bisnetos... Aos poucos, eles traziam à tona todos os reais sentimentos de recomeço que haviam sido tirados dela há tanto tempo.

Porém o tempo não perdoava. A idade já pesava em seus ombros. Suas pernas não funcionavam como antes. Poucos minutos na brincadeira no frio ambiente nevado já a faziam ofegar. Ninguém mais poderia devolver o que ela possuía: a energia, a vivacidade e a vontade de comemorar. A única maneira de reviver isso era ao fechar os olhos, criando um filme de seu passado em sua cabeça e ao observar as crianças. Tudo isso sentada em uma poltrona, sem movimentar um músculo.

Como ela gostaria de estar lá, se divertindo com seus amados bisnetos...

—Bisavó Sybil — chamou uma vozinha fininha, vinda de trás dela.

Virando-se, ela pode ver seu bisneto de 12 anos, Alexander, herdeiro da Dinamarca, parado em frente à porta. Ele estava encharcado dos pés à cabeça. Sua roupa negra de inverno molhava o rico carpete azul-marinho da sala. Provavelmente, ele era uma das crianças que estava brincando do lado de fora. Os olhos castanhos — mesmo quase pertencendo a um adolescente — brilhavam de ternura. Mas por que interrompera a brincadeira para ir ao encontro de uma velha na beira da invalidez?

—Eu vi você da janela, parecia tão abatida — disse ele, se aproximando dela lentamente. —Então resolvi subir para animá-la. Até porque você tem que terminar seu ano muito bem para ter um próximo melhor ainda!

—É muita gentileza sua, meu querido — falou ela, enquanto ele se parava em frente a ela. — Mas eu não posso mais me divertir como vocês. A idade não permite mais. Quem sabe você não volta para o pátio para acompanhar seus irmãos e primos? Eles precisam de alguém de sua idade para tomar conta.

—Aline e Tatiana estão lá e você sabe como elas têm espírito de liderança — afirmou a criança, sorrindo meigamente para a bisavó. —Além de tudo, eu sei de uma coisa que você ainda pode fazer.

Afastando-se da poltrona, ele foi até os limites da sala, onde se encontrava uma pequena mesa com um toca-discos. Com seus dedos finos, ele pegou um dos discos da estante, o qual Sybil desconhecia. Logo, a agulha já estava posta em sua superfície preta e o som de uma bela música clássica preenchia o ambiente. Aparentando já dançar, então, o menino voltou para junto da senhora, estendendo a mão para ela.

—Você me concede essa dança? —pediu ele, em uma solene reverência.

Surpresa, mas, ao mesmo tempo, lisonjeada a velha Rainha-mãe se levantou de seu assento. Suas pernas magras ergueram seu peso, dando pequenos passos até onde o jovem príncipe estava e pegando sua mão. Os braços flácidos envolveram o pescoço do mais jovem, movimento antes feito com graciosidade, mas que, naquele momento, era mais desajeitado que da primeira vez. A situação, porém, não permitia que isso fosse um problema.

Os dois, então, deslizaram pelo pequeno espaço da sala. As sapatilhas azuis dela e as meias cinza dele —não era permitido entrar com sapatos de neve nos interiores do casarão —moviam-se em perfeita sincronia. A música embalava seus corpos com suavidade enquanto eles rodopiavam pelas inúmeras estantes que envolviam as quatro paredes. Uma sensação de leveza tamanha que Sybil, com seu olhar sempre atento, se permitiu fechar os olhos e apenas desfrutar aquele instante de sua vida.

Quando voltou a abri-los, não estava mais no aposento de paredes azuis, estava em um salão com teto de vidro. O magro Alexander não estava mais em sua frente e, sim, um senhor com um bigode branco com pontas enroladas, do tipo handlebar. Ele posicionava as mãos jovens e bronzeadas da moça em sua frente que tomara o lugar da Rainha-mãe. Os cabelos extremamente loiros dela voavam e brilhavam com o sol vindo do lado de fora. Não parecia ter mais de treze anos. Seus passos eram ainda deselegantes, pisava nos pés de seu tutor inúmeras vezes. Porém seu sorriso ao aprender uma dança era mais bonito que todos os movimentos que alguém poderia aprender em uma vida inteira.

Antes que pudesse distinguir que momento de sua vida acabara de viver, o cenário mudou novamente. Altas paredes de ouro se erguiam em sua volta, completados por belas pinturas de borboletas no teto. Não demorou muito para ela reconhecer o local onde estava: o Palácio de Deméter, no sul da Grécia. Diante de seus olhos, o temido Rei a conduzia, observando sua beleza com muita ternura. Os dois eram os únicos dançando na grande pista circular, o olhar crítico de toda a corte grega podia ser sentido sobre ela, a futura Princesa Herdeira. Constrangimento, porém, era uma palavra ainda não incluída em seu dicionário.

Então o vestido branco tomou conta de sua visão. Ele era mais brilhante do que suas vagas lembranças poderiam mostrar. Toda a luz no Salão reluzia sobre ele, chamando toda a atenção para a dança do casal apaixonado. Pavlos, seu marido, sorria em sua frente, olhando-a com seus profundos olhos azuis. Suas inúmeras medalhas balançavam ao ritmo da música, por vezes batendo no corpo magro da esposa. Uma felicidade que a permitiu, mais uma vez, fechar os olhos.

E ali estava ele, seu amante, seu segundo marido, com toda a pompa germânica. Não estava mais na flor da idade, mas, ainda assim, segurava a cintura e mão da nova esposa com firmeza. O vestido que girava pelo salão não era mais da cor da neve e, sim, um rosa sutil, que representava que a virgindade que não estava mais naquele corpo — não que isso importasse para Sybil. O amor não se importava com isso.

Mais uma vez, o ambiente mudou. A velha Rainha-mãe pensou que entraria no seu corpo em outros anos, em todas as coroações em que dançara com o Rei — primeiro seu enteado, depois seu filho e, por fim, seu neto. Mas não encontrou nenhum deles, com seus gloriosos fardamentos militares, em sua frente e, sim o garotinho que começara toda aquela viagem. Seus olhos castanhos, tão diferentes dos de todos os outros homens, brilhavam com o afeto. Seus braços magros a conduziam com firmeza, fazendo os movimentos perfeitos da coreografia.

Demorou alguns momentos para ela perceber que a pequena sala não era mais exclusivamente deles. Como nos grandes bailes, outros casais se juntaram à dança. Nove crianças, formando três duplas e um trio, imitavam os movimentos dos dois já ali presentes, tentando acompanhar a música. Elisabeth, de dez anos, com seus cabelos loiros como raios de sol, segurava as mãos do tímido Henrik, fazendo com que se balançassem apenas de um lado para o outro. Ingrid tinha em seus braços a irmã doente de um ano, Saphira, e com ela girava dentro dos possíveis padrões — para que o bebê não apresentasse problemas. Os mais velhos do grupo, Aline, de 12 anos e Friederich, de 15, moviam-se com maestria, como se já fossem adultos. Os belos movimentos deles contrastavam com os do trio, Isabella, de 10 anos. e os gêmeos Felícia e Pierre, de 6, que não se importavam se os pés eram esmagados uns pelos outros.

Aquelas pequenas pessoas ainda tinham tanto a viver. Tantos anos começariam e terminariam para elas. Tantas alegrias e tristezas teriam. Acumulariam tanto conhecimento. Enquanto a vida da Rainha-mãe estava no final, a deles estava no começo. O mundo terminaria para ela, mas para eles continuaria com suas belezas. Era a magia do tempo, cujos truques hipnotizavam Sybil, fazendo-a querer ver o que poderia vir a seguir.


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Notas finais do capítulo

Não há ninguém melhor do que Sybil, a mais velha personagem da fanfic,para falar sobre o início de um novo ano. Mesmo para ela, que já viveu muito, essa data representa a renovação, a esperança. Espero que esse seja o significado para vocês também e que vocês possam iniciar 2016 com muita alegria e vontade de viver e de recomeçar.
Um ótimo Ano-Novo para todas nós!!
Até 2016!
xoxo



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