O Príncipe dos Sonhos escrita por Lisie
Notas iniciais do capítulo
Boa leitura!
Jade Gillies não estava assustada como as outras. Todos que estavam ao seu redor tinham seus olhos sinistramente fixados na porta do quarto-do-pânico (parecia mais uma casa), como se esperassem apenas o inimigo invadir o local. Jade tentava acalmar outras meninas, dizer que tudo iria ficar bem, entretanto suas palavras estavam de longe convincentes.
– Não minta.
Hayley Moon havia parado sorrateiramente ao lado de Jade, dando um susto na mesma. Hayley tinha cabelos escuros e curtos, com cachos que lembravam uma mola de brincar, brinquedo que marcou sua infância e sua vida. Jade na mesma hora tentou não pensar nisso e se repreendeu silenciosamente, ignorando a menina que estava ao seu lado.
– Sério, está tudo bem em mentir – disse Hayley, com um leve sorriso nos lábios – Não precisa se castigar falando com o chão.
– O que? Me castigar... – Jade de repente saiu de seus pensamentos e voltou para onde seu corpo estava, com uma leve lentidão como efeito colateral de suas viagens pelo passado – Ata, é... eu voei um pouquinho.
– Sem problemas – Hayley estendeu a mão – Sou Hayley Moon.
– A menina do prato voador? – Jade perguntou rindo bem pouco, sentando-se numa cadeira meio afastada da multidão de pessoas.
– A menina que se esquivou do prato voador! Eu apenas tenho bons reflexos – Hayley respondeu, sentando seu corpo ao chão, perto de Jade. O vestido que ela usava era de cor clara, bege com tons dourados, mas Hayley não se importava em sujar o tecido. Estava de saco cheio para ficar pensando em bobagens como vestidos mesquinhos de seda.
– Que bom que eu achei uma menina que está tão calma quanto eu – Jade disse
– Não há nada de errado em ser diferente – Hayley apoiou a cabeças na parede – pelo menos tem um lado positivo.
– Ah, sim, não ter uma taquicardia nem tão cedo. Muito útil!
– Não era isso não, mas pode ser isso também.
– O que seria então? – Quando Jade ficava curiosa, seus olhos azuis brilhavam e ela mesma já percebera uma vez, no dia em que sua irmã Catherine tirou uma foto da cara de Jade no exato momento.
– Bem, quando não estamos desesperadas, podemos reparar em outras coisas, como o fato das gêmeas não estarem aqui. – a menina dos cabelos de mola disse de forma despojada – mas esse negócio da taquicardia também vale.
Jade olhou ao redor. Realmente estavam faltando as meninas-clone (apelidadas pela selecionada Selina), Annabeth e Allison, pelas quais nunca andavam separadas. Muito esperta, pensou ela, esperta até demais.
– Você repara bastante não é mesmo?
– Um pouco. Na verdade, só senti falta delas porque vi a clone versão nerd fugir das criadas e voltar pro quarto. – Hayley continuava falando disso como se fosse algo banal, contraditório a suas palavras – Eu gosto da Annie. Fiquei até com pena dela por eu ter sido a única que sentiu sua falta...
– Entendi – Jade começou a se levantar, olhando discretamente para porta, onde a Rainha e a princesa estavam – Vou pegar um cobertor. Já volto!
Talvez observar mais não custasse tão caro. Talvez.
**
O pequeno Tommy havia se escondido embaixo de arbusto, fraco e com fome, já que não pôde aproveitar muito do tempo do irmão. Ele e Zoey haviam ficado muito rapidamente, sob o pretexto de que haviam escutado “barulhos não identificados” e no qual seria arriscado continuar ali. Isso deixou o pobre menino magoado, mas ele entendia: tinha vezes que era melhor passar fome do que morrer. Bem, era isso que Tommy achava, afinal nunca tinha morrido para saber como era a sensação.
O menino já estava camuflado fazia tempos, e o sono estava começando a vencê-lo. Mesmo com os gritos, e a agitaria dos rebeldes tentando invadir, o pequeno Tommy já não se importava mais; a vida nas ruas não permitia que ele se preocupasse com coisas banais (como meninas mesquinhas morrendo e o príncipe do seu país sendo atacado) e sim, com sua sobrevivência. Ninguém poderia vê-lo ali, e isso bastava.
Quando seus olhinhos começaram a fechar-se, ele ouviu vozes:
– Kkkkkkkkk – era um garoto alto, com poucos músculos e cabelos um pouco claros. Dava para ver que estava gargalhando muito – ÓBVIO que ela olhou pela fechadura, louras são burras! Hahahaha – também dava para ver que o rapaz tinha os dentes meio tortos, de tanto abrir a boca para rir.
Ao seu lado, caminhando e rindo calmamente, estava um menino, aparentemente da mesma idade, com uma maçã nas mãos. Era bastante alto também, entretanto tinha muito mais músculos que o outro. Não era nada absurdo - ele provavelmente não conseguiria levantar carros e suas mãos devem se encostar também – porém era o suficiente para intimidar qualquer garotinho de 10 anos.
– Ah, espera aí, tenho mais uma. Ryan, que você esteja preparado! Aí vai! – o garoto dos músculos disse ao garoto dos dentes tortos (agora nomeado de Ryan, mas ainda com dentes tortos) – Um homem chegou a uma mulher e deu um garfo para ela. Por quê?
– Não faço a mínima ideia – Ryan pegou a maçã e começou olhar mais atentamente o ambiente, deixando Tommy com certo medo – Anda, Luke, desembucha!
– Ok, ok... era porque ele estava dando sopa! - o garoto musculoso, Luke, começou a rir e a brincar com a maçã, isso ainda andando na direção de Tommy.
– Retardado, se come sopa de colher! – Ryan deu um soco de leve no ombro de Luke e acabou derrubando a maçã, deixando Luke momentaneamente brincando com o vento até ele perceber que a fruta estava no chão.
Nessa fração de segundo, Tommy não resistiu e soltou uma leve risada, característica de criança, indicando sua posição. No mesmo segundo, Ryan e Luke olharam para o arbusto onde o menino estava escondido e, para surpresa de Tommy, começaram a rir.
– Esperto você, hein? Pode vir, trouxemos maçã para você – disse Luke, da forma despojada possível.
Tommy ficou de repente na dúvida se saía dali ou não. Preferiu ficar.
– Viemos bater um papo com você – explicou Ryan. Algo no jeito como ele disse não deu a entender que ele faria mais que apenas bater um papo. Estava meio claro que ele havia sido sincero – bem, você tem todo o tempo do mundo. E nós também! – Ele se sentou no chão – Não é, Luke?
– Aham! – afirmou o outro rapaz, já se deitando e olhando para a maçã – melhor vir logo ou então eu vou devorar isso aqui hein! Hmmm delícia – ele ficou cheirando a maçã, aparentemente estava com fome também. Tommy reconhecia quando outra pessoa passava pela mesma situação que ele.
– Essa sua taradice por maçã me assusta, véi – Ryan se apoiou numa árvore, ainda sentado – Não tenha medo dele Tommy, a maçã ainda é sua.
Tommy não suportou mais:
– Como sabem o meu nome?
Os dois meninos sorriram de forma alegre e chamaram Tommy para se aproximar mais.
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