O Príncipe dos Sonhos escrita por Lisie


Capítulo 6
...tocou a campainha...


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Jade Gillies não estava assustada como as outras. Todos que estavam ao seu redor tinham seus olhos sinistramente fixados na porta do quarto-do-pânico (parecia mais uma casa), como se esperassem apenas o inimigo invadir o local. Jade tentava acalmar outras meninas, dizer que tudo iria ficar bem, entretanto suas palavras estavam de longe convincentes.

– Não minta.

Hayley Moon havia parado sorrateiramente ao lado de Jade, dando um susto na mesma. Hayley tinha cabelos escuros e curtos, com cachos que lembravam uma mola de brincar, brinquedo que marcou sua infância e sua vida. Jade na mesma hora tentou não pensar nisso e se repreendeu silenciosamente, ignorando a menina que estava ao seu lado.

– Sério, está tudo bem em mentir – disse Hayley, com um leve sorriso nos lábios – Não precisa se castigar falando com o chão.

– O que? Me castigar... – Jade de repente saiu de seus pensamentos e voltou para onde seu corpo estava, com uma leve lentidão como efeito colateral de suas viagens pelo passado – Ata, é... eu voei um pouquinho.

– Sem problemas – Hayley estendeu a mão – Sou Hayley Moon.

– A menina do prato voador? – Jade perguntou rindo bem pouco, sentando-se numa cadeira meio afastada da multidão de pessoas.

– A menina que se esquivou do prato voador! Eu apenas tenho bons reflexos – Hayley respondeu, sentando seu corpo ao chão, perto de Jade. O vestido que ela usava era de cor clara, bege com tons dourados, mas Hayley não se importava em sujar o tecido. Estava de saco cheio para ficar pensando em bobagens como vestidos mesquinhos de seda.

– Que bom que eu achei uma menina que está tão calma quanto eu – Jade disse

– Não há nada de errado em ser diferente – Hayley apoiou a cabeças na parede – pelo menos tem um lado positivo.

– Ah, sim, não ter uma taquicardia nem tão cedo. Muito útil!

– Não era isso não, mas pode ser isso também.

– O que seria então? – Quando Jade ficava curiosa, seus olhos azuis brilhavam e ela mesma já percebera uma vez, no dia em que sua irmã Catherine tirou uma foto da cara de Jade no exato momento.

– Bem, quando não estamos desesperadas, podemos reparar em outras coisas, como o fato das gêmeas não estarem aqui. – a menina dos cabelos de mola disse de forma despojada – mas esse negócio da taquicardia também vale.

Jade olhou ao redor. Realmente estavam faltando as meninas-clone (apelidadas pela selecionada Selina), Annabeth e Allison, pelas quais nunca andavam separadas. Muito esperta, pensou ela, esperta até demais.

– Você repara bastante não é mesmo?

– Um pouco. Na verdade, só senti falta delas porque vi a clone versão nerd fugir das criadas e voltar pro quarto. – Hayley continuava falando disso como se fosse algo banal, contraditório a suas palavras – Eu gosto da Annie. Fiquei até com pena dela por eu ter sido a única que sentiu sua falta...

– Entendi – Jade começou a se levantar, olhando discretamente para porta, onde a Rainha e a princesa estavam – Vou pegar um cobertor. Já volto!

Talvez observar mais não custasse tão caro. Talvez.

**

O pequeno Tommy havia se escondido embaixo de arbusto, fraco e com fome, já que não pôde aproveitar muito do tempo do irmão. Ele e Zoey haviam ficado muito rapidamente, sob o pretexto de que haviam escutado “barulhos não identificados” e no qual seria arriscado continuar ali. Isso deixou o pobre menino magoado, mas ele entendia: tinha vezes que era melhor passar fome do que morrer. Bem, era isso que Tommy achava, afinal nunca tinha morrido para saber como era a sensação.

O menino já estava camuflado fazia tempos, e o sono estava começando a vencê-lo. Mesmo com os gritos, e a agitaria dos rebeldes tentando invadir, o pequeno Tommy já não se importava mais; a vida nas ruas não permitia que ele se preocupasse com coisas banais (como meninas mesquinhas morrendo e o príncipe do seu país sendo atacado) e sim, com sua sobrevivência. Ninguém poderia vê-lo ali, e isso bastava.

Quando seus olhinhos começaram a fechar-se, ele ouviu vozes:

– Kkkkkkkkk – era um garoto alto, com poucos músculos e cabelos um pouco claros. Dava para ver que estava gargalhando muito – ÓBVIO que ela olhou pela fechadura, louras são burras! Hahahaha – também dava para ver que o rapaz tinha os dentes meio tortos, de tanto abrir a boca para rir.

Ao seu lado, caminhando e rindo calmamente, estava um menino, aparentemente da mesma idade, com uma maçã nas mãos. Era bastante alto também, entretanto tinha muito mais músculos que o outro. Não era nada absurdo - ele provavelmente não conseguiria levantar carros e suas mãos devem se encostar também – porém era o suficiente para intimidar qualquer garotinho de 10 anos.

– Ah, espera aí, tenho mais uma. Ryan, que você esteja preparado! Aí vai! – o garoto dos músculos disse ao garoto dos dentes tortos (agora nomeado de Ryan, mas ainda com dentes tortos) – Um homem chegou a uma mulher e deu um garfo para ela. Por quê?

– Não faço a mínima ideia – Ryan pegou a maçã e começou olhar mais atentamente o ambiente, deixando Tommy com certo medo – Anda, Luke, desembucha!

– Ok, ok... era porque ele estava dando sopa! - o garoto musculoso, Luke, começou a rir e a brincar com a maçã, isso ainda andando na direção de Tommy.

– Retardado, se come sopa de colher! – Ryan deu um soco de leve no ombro de Luke e acabou derrubando a maçã, deixando Luke momentaneamente brincando com o vento até ele perceber que a fruta estava no chão.

Nessa fração de segundo, Tommy não resistiu e soltou uma leve risada, característica de criança, indicando sua posição. No mesmo segundo, Ryan e Luke olharam para o arbusto onde o menino estava escondido e, para surpresa de Tommy, começaram a rir.

– Esperto você, hein? Pode vir, trouxemos maçã para você – disse Luke, da forma despojada possível.

Tommy ficou de repente na dúvida se saía dali ou não. Preferiu ficar.

– Viemos bater um papo com você – explicou Ryan. Algo no jeito como ele disse não deu a entender que ele faria mais que apenas bater um papo. Estava meio claro que ele havia sido sincero – bem, você tem todo o tempo do mundo. E nós também! – Ele se sentou no chão – Não é, Luke?

– Aham! – afirmou o outro rapaz, já se deitando e olhando para a maçã – melhor vir logo ou então eu vou devorar isso aqui hein! Hmmm delícia – ele ficou cheirando a maçã, aparentemente estava com fome também. Tommy reconhecia quando outra pessoa passava pela mesma situação que ele.

– Essa sua taradice por maçã me assusta, véi – Ryan se apoiou numa árvore, ainda sentado – Não tenha medo dele Tommy, a maçã ainda é sua.

Tommy não suportou mais:

– Como sabem o meu nome?

Os dois meninos sorriram de forma alegre e chamaram Tommy para se aproximar mais.


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Notas finais do capítulo

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