Ashley saiu do banho se sentindo muito melhor, após tanto tempo sem um banho, ela sentia como se tudo que ela tivesse precisado neste tempo era de um. Ela aproveitara o banho de uma hora-que na verdade levara duas horas- para reviver os dias que estivera presa e coloca-los em um lugar no fundo do seu cérebro onde as lembranças não pudessem mais incomodá-la, reviveu seu medo e então o enterrou no fundo do seu coração, feliz ao lembrar que logo veria seu anjo e isso já era suficiente para curar seu corpo e seu coração.

            Quando saiu, quase completamente feliz, do banheiro, Dean e Sam estavam em seu quarto.

            -Você tem certeza que não tem problema ficar sozinha neste quarto? Quer dizer, se você estiver com medo de Crowley... – Dean começou.

            -Eu não posso me permitir ter medo desse infeliz para sempre, Dean. Ele conseguiu o que queria, ele queria me deixar com medo, me machucar, se vingar pelas vezes que foi eu quem o aprisionou? Ok, ele conseguiu, mas agora estamos quites eu não vou ficar o resto da minha vida com medo. – a ruiva falava rapidamente, odiava se sentir frágil como se sentia, mas se ia seguir em frente precisava deixar claro aos Winchesters que era isso que queria. – Eu preciso seguir em frente e eu não vou conseguir fazer isso se...

            -Tudo bem, Ash. Nós... entendemos – O mais novo falou quando ela parou de falar por alguns segundos. – Mas se você ver qualquer coisa suspeita, ou se não se sentir segura... Nós estaremos no quarto da frente.

            A garota se sentou na cama que ficava bem no meio do quarto e começou a desembaraçar os cabelos molhados antes de falar qualquer coisa.

            -Eu sei e gostaria de agradecer a vocês por terem me tirado de lá... Eu realmente já tinha perdido as esperanças... –Ashley parou de falar sentindo um nó na garganta, mas ela não iria chorar. Ia ser forte para poder ver o seu anjinho inteira. -  Eu só queria... agradecer à vocês dois. Meus heróis. –brincou ela os abraçando.

            -Agora você vai ter que parar com essa de caçar sozinha. Você não deveria se arriscar tanto, se eu me lembro bem não é só Crowley que quer sua cabeça.  –advertiu o Winchester mais velho sem gostar muito da brincadeira, ele imaginou o que poderia ter acontecido se ele não tivesse saído do purgatório a tempo... E esse pensamento levou a outro: Castiel.

            - Dean, você sabe que fazia muito tempo desde que eu não caçava, realmente este realmente não é o meu forte. Eu gosto de pesquisar e de rastrear coisas, mas eu não sou mulher de ficar sentada enquanto o mundo desaba. Você, minha irmã, Kevin e meu anjo tinham sumido foi por isso que fui caçar e você pode ter certeza que se a necessidade surgir eu vou caçar. –a garota afirmou. Se as suspeitas estivessem certas, logo encontrariam Kath e Kevin e então ela poderia viver em paz com Castiel.

            O Winchester mais velho fez careta com a resposta da ruiva e estava a ponto de argumentar quando Sam interveio.

            - Tudo bem, não vamos discutir agora, certo?  Como se sente Ashley?

            -Me sinto ótima, Sam. É estranho, porque não era para eu me sentir assim, eu acho, não acredito nem que ninguém pudesse se sentir bem depois do que eu passei... Eu estive pensando e tenho uma teoria sobre...

            -Fale. –ordenou o mais velho entregando um pedaço de torta a ela enquanto começava a saborear o seu.

            -Ou eu estou tão feliz porque vocês voltaram e em breve eu poderei ver me anjo... ou então tem alguma relação com o fato de eu ser uma sensitiva ou com o fato de eu ver a verdadeira forma de anjos...

            A ruiva continuou falando, mas parou quando percebeu que tanto Dean quanto Sam pareciam distantes, ambos tinham parado de ouvir logo na primeira sentença, ela acreditava que Castiel ainda não pudera vê-la, mas que logo viria. Claro que pensaria isso, se Dean estava ali porque Castiel não estaria?

            -Algum problema? –questionou a garota.

            -Sobre Castiel... A gente precisa conversar. – Dean respondeu abandonando a torta.

***

            Mia acordou com o Bip insistente, percebeu que estava deitada, mas não se lembrava de ter ido dormir. Abriu os olhos e se deparou com um teto de um branco infinito e, analisando rapidamente o cômodo, compreendeu que estava num hospital. Tentou recordar-se do como chegara ali e então lembrou do acidente.

            -Droga, meu carrinho. –sussurrou ela para si mesma, tentou se mexer na cama, mas vários tubos impediam seu movimento a deixando frustrada.

            Sem outra opção procurou lembra-se com clareza do acidente. Havia alguém na pista. Será que tinha se machucado? Precisava perguntar a alguém. Determinada, retirou os tubos que entravam em seu braços com um gemido e se levantou.

            Já estava na porta do quarto quando escutou uma conversa no corredor.

            - E então ela acordou, madre?

            -Não, ainda não. Provavelmente devido à batida na cabeça, não encontramos mais nada além disso, mas um ferimento na cabeça é sempre preocupante. – respondeu a senhora.

            -Não encontramos o veículo ainda, só supomos que alguém o tenha roubado, o que não faz sentido se vermos os sinais de capotamento.  Esperamos que ela possa nos explicar o que aconteceu quando acordar. – o homem falou.

            Alguém tinha roubado o seu carro? O carro onde estavam todos seus pertences e armas? Isso não parecia bom e ainda tinha o, provável, investigador que esperava por suas respostas... Após ponderar por apenas um segundo a garota resolveu voltar para a cama e tentar recolher mais informações do que realmente acontecera.

            Tinha certeza que havia visto um homem no meio da pista, fora por isso que ela desviara e capotara o carro, mas entre os fragmentos de lembranças que tinha sobre o que acontecera antes de perder a consciência ela pensou ter visto o homem caminhar, como se nada tivesse acontecido, até seu carro. Se isso fosse verdade, poderia esse homem ser humano?

            ***

            -Não... conseguiu... –sussurrou a ruiva com o rosto banhado em lágrimas.

            -Eu sinto muito, Ashley. Eu devia... Eu não consegui... – Dean procurava pelas palavras certas, era a segunda vez que ele dava esse tipo de notícia para a garota e não podia se sentir pior por isso.

            -Pare com isso, você não teve culpa. –a garota resmungou com raiva enquanto tentava pensar com clareza sobre o que Dean havia lhe dito. –Nós temos que encontrar um jeito de tirá-lo de lá, quer dizer você conseguiu sair...

            -Não tem como entrar Ashley, eu sou humano o portal só funciona para humanos.... – o Winchester mais novo tentou explicar.

            -Mas Dean acreditava que dava para tirá-lo de lá...

            -Eu acreditei nisso sim, Ashley, mas eu estava lá, não tem como fazer isso agora que eu estou aqui, sinto muito. –respondeu o loiro que se sentiu pior ao ver as lágrimas escorrer pelo rosto da garota que tentava ser forte.

            -Castiel não pode... simplesmente... Eu não aceito, eu vou encontrar um jeito de tirá-lo de lá...

            -Ashley... O Cas se foi... Vamos ter que aceitar, porque não tem o que se fazer. –o Winchester falou enquanto abraçava a garota que se deixava levar pelas lágrimas.

***

            - O que aconteceu? – a loira questionava a madre com o olhar perdido.

            - Você não se lembra, querida? Como é o seu nome? –a senhora idosa questionou suavemente enquanto colocava arrumava novamente os tubos que entravam no braça da jovem.

            Mia fingiu confusão enquanto pensava no que dizer à senhora, afinal ela tinha que ser uma boa desmemoriada para conseguir as respostas certas.

            -Eu... Eu não lembro... Me ajuda, por favor. –pediu num sussurro.

            A senhora notando a inquietação da garota pegou sua mão com cuidado.

            -Está tudo bem, querida. Não precisa se esforçar, daqui a pouco suas lembranças voltam e você poderá nos dizer o que aconteceu. Por hora, trate de sarar, nada de tirar isso aqui de novo, viu? –a senhora repreendeu com carinho. - Eu preciso ir visitar outros pacientes, mas logo, logo volto para ver como você está, tudo bem?

            Mia ainda fingia perturbação, balançado a cabeça negativamente.

            -Não, não vá! – pediu segurando a mão da senhora.

            - Eu preciso ir, menina. Não se preocupe têm outras enfermeiras para cuidar de você também, ninguém irá te machucar aqui. Se precisar meu nome é Elisabeth.

            A caçadora observa a enfermeira sair do quarto, antes porém lançar lhe um olhar de piedade. Mia se sentiu mal de mentir para uma velhinha, entretanto entendia que eram os “ossos do oficio”, precisava descobrir o que lhe acontecera naquela estrada e precisava entender o que acontecera com o seu carro.

***

            Benny encarou o aparelho mais uma vez determinado a ligar para Dean, ele sabia que era coincidência demais para não se tratar da loira, namorada do caçador.

            Ele tinha decidido apenas procurar o aparelho celular da garota, mas quando encontrou os documentos falsos entendeu que tinha algo errado ali e então numa inspeção pelo veículo encontrara todos os tipos possíveis de arma. Foi por isso que retirou a garota do carro e a deixou sobre o asfalto do acostamento alguns quilômetros antes do que ele falara para a polícia, assim quando a encontraram ele revirou o carro que por sorte ainda funcionava e o levou para longe do local do acidente.

            Finalmente o vampiro ligou para o amigo e esperou pacientemente para que esse atendesse.

***

            Dean acomodou a garota em sua cama e a cobriu cuidadosamente antes de sair do quarto acompanhado do irmão. A ruiva havia chorado até pegar no sono um tanto entorpecida pelos remédios que Sam havia lhe dado para os ferimentos ainda abertos.

            Ao chegar no próprio quarto os dois se jogaram em suas camas, exaustos. O Winchester mais velho lembrou-se de quando não conseguiu salvar o amigo no Purgatório, ele tinha tentado evitar esses sentimentos quando estava na presença de Ashley pois sabia que não faria nenhum bem a ela, mas agora, quando não precisava mais ser forte, ele na verdade queria poder esquecer aquele dia, queria ter podido salvar o anjo, queria poder dar outra notícia para a garota no quarto da frente. Entretanto não podia fazer nada daquilo.

            -Ashley vai ficar bem, ela é forte. –confortou Sam.

            -Será? Quanto mais ela pode suportar, Sam? – o mais velho questionou encarando o teto.

            Nenhum tinha resposta para aquilo, então ficaram em silêncio cada um consumido pelo seu próprio sentimento de culpa. Após vários minutos em silêncio o celular do Winchester chamou os dois para a realidade.

            Dean encarou a tela sem acreditar, a foto de Mia sorridente estava acessa na tela. Depois de tantas ligações sem resposta ela finalmente havia retornado. Eufórico, o rapaz atendeu o telefone.

            -Mia...

            -Dean, sou eu Benny! – o vampiro do outro lado da linha interrompeu.

            — O quê? O que você está fazendo com o celular dela?  - o caçador perguntou ainda mais surpreso.

            -Houve um acidente, Dean. Mia está num hospital, eu vou te passar o endereço te dou maiores informações aqui.

            -Acidente? Como ela está? Me explica isso direito...

            —Dean, agora não dá. Tem como você vir para cá?

            -Claro, claro, só me passa o endereço. – o Winchester anotou os dados com atenção, com uma nova preocupação em sua cabeça. Como Mia sofrera um acidente e como Benny sabia sobre isso?

            Sam que escutara a conversa esperou por alguma explicação que fizesse sentido, porém não a obteve. Tudo que o irmão fez foi levantar-se, preocupado, da cama e começar a jogar algumas roupas dentro da mochila.

            - Eu tenho que sair... – o Winchester mais velho começou a dizer parecendo confuso.

            - O que aconteceu com a Mia?

            - Ela... A Mia sofreu um acidente? – não era uma pergunta, mas soou como uma devido a confusão do caçador. –Eu tenho que ir lá, Sam. Você toma conta da Ashley? –perguntou o rapaz já na porta.

            -Claro que sim, mas quem te ligou? –perguntou o mais novo.

            -Eu.. Foi...  Eu tenho que ir. – o rapaz falou sem saber direito o que pensar, seguindo pelo corredor.

            -Okay, dê notícias, Ashley vai ficar preocupada quando souber. – o mais novo permitiu que Dean partisse.