Cartas para Hope escrita por Skye Miller


Capítulo 7
Seven.


Notas iniciais do capítulo

OI AMIGUINHOS.
HOJE É SEXTA.
Mentira, hoje é madrugada de sabado, mas tá valendo.
AMIGUINHOS
EU TO DROGADA SABIA.
Mentira gente, eu fiz proerdi, sou de Deus.
Mas enfim, capitulo novo! Aêêê, proximo capitulo é capitulo apenas de cartas, os meus favoritos.
Hello G! (Sempre falarei Hello G! a partir de hoje, sinta-se especial, querida Lost Girl.)



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Eu tinha doze anos quando Henry chegou em casa acompanhado de outro garoto. Eles riam de alguma coisa e conversavam relativamente alto. Eu estava fazendo meu dever escolar na sala quando aconteceu aquele momento clichê que todo mundo já viveu. O momento em que você é apenas uma criatura inocente, e então vê a pessoa mais linda do mundo e deseja passar o resto da vida ao seu lado. Meu estomago revirou quando eu me deparei com aqueles grandes olhos verdes me encarando, minha mãe já havia me dito uma vez que todo mundo fica a fim de alguém, mas eu achava uma bobagem. Só até aquele momento.

Eles dois se sentaram no sofá e começaram a jogar, não consegui mais me concentrar na minha atividade, na verdade eu estava mais ocupada bisbilhotando aquele ser ao lado do meu irmão. Eles passaram a andar cada vez mais juntos. Tyler foi o primeiro amigo que Henry teve duradouro, já que Henry tinha a mania fazer amizades que duravam apenas poucos segundos. Tyler não ia com a minha cara, na verdade, ele era tão mal quanto Henry. Fazia piadas, puxava meu saco e todas essas baboseiras que meninos idiotas gostam de fazer para irritar uma garota.

Ele passou a ficar suportável aos quatorze anos, quando passou a realmente falar comigo e me tratar com igualdade. Eu queria que Henry pudesse amadurecer assim como ele amadureceu. Foi legal a mínima aproximação que tivemos, já que eu ainda nutria uma paixão platônica por ele. Mas aí, quando ele descobriu esse pequeno fato, me deu um belo chute na bunda e de sobra a frase "Você é a irmãzinha do meu melhor amigo, além de que eu só te vejo como uma amiga". Nunca chorei tanto na minha vida.

Acredito que nunca poderei ser capaz de perdoar Henry por ter contado isso a Tyler. Eu e Henry, apesar dos apesares, tínhamos um tratado de paz diferente de todos os outros. Ele me contava seus segredos em troca de eu não contar para o papai as malvadezes que ele fazia e eu tinha que contar os meus segredos também. Éramos confidentes um do outro, apesar de ele me odiar abertamente. E foi no dia em que ele falou que havia dado seu primeiro beijo e de quebra havia sido com a Sophia , que eu caí na besteira de dizer "Eu tenho uma queda pelo Tyler". Ele riu, riu por horas a fio e depois disse que eu era uma idiota por gostar de Tyler, enquanto eu sentia nojo pelo fato dele ter beijado a própria prima. Depois daquilo, Henry e eu nunca mais trocamos confidencias. Nosso tratado de paz agora se resume em "Nada de perturbações"

Enquanto toco a campainha do Paskin repasso todos os segredos que eu e Henry já trocamos. Desde o dia que eu coloquei sabão dentro do arroz na ação de graças até ele me contar o porquê de me odiar. Estou nervosa porquê nunca estive na casa de Tyler sozinha antes, se ignorar aquele desafio idiota, e fico me perguntando se seria capaz de Henry ter contado a ele todos os meus segredos. Não creio que ele tenha coragem de fazer uma coisa dessas, confiança é uma lei que temos dentro de casa, mamãe sempre deixou claro que os Adams eram os seres mais fieis que poderiam existir, ela nos ensinou isso desde cedo. Mas, caso Henry tenha contado todos os meus desabafos, fico triste por ele ir contra a própria natureza e perder o resto de respeito que eu ainda tenho por ele.

– E aí. -–Tento parecer natural enquanto comprimento Tyler. Ele abre a porta e me deixa passar. Concentro-me em olhar os moveis ao redor para ficar mais calma a medida que andamos até a sala.

– Camile está fazendo um lanche, acho que é bolo de cenoura e suco de laranja. Você quer algo mais?

Não. Estou bem. Obrigada.

– Quer assistir tv?

– Não. Estou bem. Obrigada.

– O que há contigo?

Nada. Estou bem. Obrigada.

Tenho vontade de me socar pelo fato de estar conseguindo pronunciar apenas três palavras. Tyler sorri ao sentar-se na poltrona e ligar a TV. Fico andando pela sala olhando os portas retratos e percebendo o quanto Tyler foi mimado pelo pais. Morando em uma casa enorme, estudando na melhor escola da região, com um status bem alto e tendo tudo o que sempre quis. Mas ele não deixa isso transparecer. Ele não trata ninguém com indiferença, se você o ver na rua, nem mesmo imagina a vida que ele tem. Com empregados e pessoas ao seu redor o enchendo dos mais variados mimos. Mas sei que ele gosta disso, gosta de possuir muita coisa e ter atenção.

– Acha que vamos tirar uma nota razoavelmente boa? – Pergunto para quebrar o clima, ainda estou olhando os portas retratos e sorrio ao me deparar com uma de sua mãe tentando segura-lo no colo, ele era gordinho quando criança.

– Talvez.

– Não venha com talvez, Tyler.

– É sim, Adams. Relaxa, com essa sua voz qualquer uma vai prestar atenção.

Deixo os portas retratos de lado e sento-me no sofá. Tyler está concentrado no filme.

– O que tem de tão interessante na minha voz?

– Ela é aveluda. Quando você fala, dá vontade de prestar total atenção.

Um sorriso convencido preenche os meus lábios, mas vai se desfazendo a medida que uma garota deposita uma bandeja com bolo e suco na mesa de centro. Eu a reconheço, é Hannah Wade, a baixinha das partituras, a menina que David estava querendo me trocar. Faço uma careta e ela fica surpresa quando me reconhece, depois sua sobrancelha se ergue ao olhar para Tyler e depois para mim. Hannah não diz absolutamente nada, apenas dá meia volta e some dentro de outro cômodo.

– Ela não é a menina que costuma ficar no auditório e na sala de teatro tocando piano?

– Sim.

– E o que ela está fazendo aqui ?

– Ela é filha da Camile.

Fico surpresa. Eu não sabia disso, convivo com Hannah a aproximadamente seis anos e nunca cogitei na ideia de que sua mãe poderia der uma empregada domestica.

Quando terminamos de lanchar, eu pesquisava coisas enquanto Tyler ia montando os slides. Tentamos ao máximo colocar diversas imagens para chamar a atenção e os textos ficaram de comprimento mediano. Ensaiamos as falas e decidimos quem faria a introdução. Foi uma tarde movimentada, nos intervalos que parávamos para descansar nós conversávamos sobre os mais variados assuntos. Mas Tyler parecia tenso. Ele estava sério e não fazia piadas como no dia anterior. Decidi ignorar até o momento em que coloquei a mochila nas costas.

– Você está bem?

– Mais ou menos.

– Quer falar sobre isso? – Pergunto já me aproximando, porém ele nega com a cabeça e abre a porta para que eu possa ir embora. – Até a próxima aula.

– Até. Mande um beijo para seus pais e um alô para o Henry. Não esqueça de dizer a ele que ele não é um completo fracasso como ele acredita ser.

Antes que eu possa perguntar o que ele quer dizer as portas atrás de mim se fecham. Sinto meu rosto queimar e ando rapidamente em direção a rua. O sol está queimando minhas costas, sei que deveria me sentir incomodada, mas na verdade odeio o frio, então tá tudo equilibrado. Sinto minhas mãos soarem enquanto ando pelas ruas, sinto vontade de fumar, porém o cigarro está ironicamente no fundo da minha mochila. Sei que sou uma chaminé ambulante e que provavelmente vou morrer pelo fumo, mas puta merda, eu estou viciada em nicotina e ninguém poderá me fazer mudar tão rapidamente de pensamento.

Estou na rua de casa e consigo escutar uma gritaria vindo da minha residência. Acelero os passos. Meus pais não costumam brigar, então não sei o motivo de tal euforia. Quando abro a porta me deparo com Henry e Sophia descendo as escadas. Não compreendo o que eles conversam, mas sei que ela está gritando. Sophia puxa Henry pela camisa e consegue ficar na sua frente, tentando empurrar Henry para cima. Ele ignora, continuando andando e ela empurra seu peitoral com força. Henry está segurando algo preto nas mãos e meu sangue gela ao perceber que é a maquina de escrever do vovô.

Saia da minha frente! – Ele grita e sem pudor algum a empurra para o lado. Meu queixo cai, Henry nunca gritou com Sophia antes, eles nunca tiverem uma discussão como primos costumam dar, ele nunca a agrediu fisicamente. Agora, Sophia está chorando e gemendo com a mão sobre o braço, ainda tentando alcançar Henry. Quando ele passa decidido na minha frente, saio do seu caminho. Ele abre a porta e fica encarando o jardim por um tempo.

Sophia está ao meu lado com a respiração irregular e parece sentir muita dor no ombro direito, que bateu no batente da escada quando Henry a empurrou.

– Você tem que impedi-lo. – Sua voz saí um sussurro. Eu não sei bem o que ela quer dizer com isso. Henry dá dois passos e para em frente a lixeira. Franzo o cenho e Sophia volta a chorar. – Henry, não, por favor. Não por você, pelo seu pai, por mim ou por qualquer outra pessoa, mas pelo vovô Henry. Ele acreditava em você. Ele confiava em você.

Quando Henry joga a maquina no lixo é como uma facada em meu peito. Eu lembro o quanto ele ficou empolgado quando ganhou essa maquina, nos poemas idiotas que ele escrevia todos os dias e mostrava para o papai, que não dava a mínima atenção. Então a maquina quebrou e pelo que parecia Henry vinha tentado conserta-la com o passar dos meses. E agora, ele está simplesmente se desfazendo dela.

– Preciso me desfazer de tudo o que me faz mal antes do gran finale. – Sei que ele esta se referindo a maquina, mas quando olha de forma tão intensa em minha direção, sinto como se fosse uma indireta. Será que ele seria louco o suficiente para tentar se livrar de mim? Sei que ele me odeia, mas eu não faço mal algum a ele, faço?

– Ele não é mais o mesmo. – Sophia choraminga quando ele entra em casa e corre para o quarto. – Não é mais meu Henry. Há alguma coisa acontecendo com ele, e a culpa é do tio John. Se o Henry for embora, você vai ver o quanto essa família feliz é uma farsa.

Engoli em seco tentando entender o que ela quis dizer, mas tudo parece um enigma para mim.

...

Está tarde. Sei que eu deveria estar dormindo, porém ainda estou mudando algumas coisas do meu guarda roupa para ocultar a maquina de escrever que há no cantinho. Quando Sophia subiu as escadas para tentar conversar com Henry, peguei-a do lixo. Ela estava em perfeito estado. Subi as escadas e tirei todas as tralhas do meu quarto, procurando um bom lugar para guardá-la e esconde-la. Talvez um dia Henry se arrependa e queira de volta, e caso isso não ocorra, tentarei dá-la para O Sr. Confuso.

Pensar nele me da uma dorzinha de cabeça, já que tento descobrir quem ele é por meio das cartas e desenhos. Existem varias pistas, mas nenhuma se liga a uma única pessoa. É loucura, eu sei, mas aos poucos eu vou me apegando de uma forma tão intensa a esse cara anônimo que fico nervosa imaginando quem ele poderia ser.

Quando termino de arrumar tudo em seu devido lugar novamente, abro a porta do quarto e observo o corredor escuro. É quase madrugada. Corro até minha mochila, pego o cigarro e vou para perto da janela. Estou quase colocando o filtro entre os lábios e soprando contra o vento noturno quando noto um ser deitado no gramado olhando para cima. Reprimo um grito. É o Henry embrulhado com um edredom. Assovio, mas ele não desvia o olhar do céu, então decido que irei descer também.

A grama gelada faz meus dedinhos dos pés ficarem regidos. À medida que me aproximo Henry vai ficando tenso. Por fim deito-me ao seu lado e sem pedir licença puxo o edredom para mim também, nós ficamos lado a lado, minha perna esquerda colada na sua direita. Henry não diz nada, apenas continua a observar o céu. Acendo meu cigarro novamente e fico observando as bolinhas de fumaças que saem pela minha boca e somem no ar.

– Será possível que no dia que tiro para ficar em paz, as pessoas sempre tendem a se intrometer? – Sua pergunta é retorica, mas tenho uma imensa vontade de intervi-lo. – Eu só queria ficar sozinho e olhar as estrelas, mas aí você simplesmente invade meu momento pessoal e o céu está horrível. Não vejo nem mesmo a lua.

– Podemos fingir que as luzes dos aviões são estrelas. Mas estrelas vermelhas e brancas que se movem. –Sugiro ignorando tudo o que ele havia dito. Moramos próximo a um aeroporto, o que faz com que na maioria do tempo conseguimos notar aviões chicoteando o céu. – E quando as luzes passarem por nossas cabeças, podemos fazer um pedido.

Henry sorri. Esse simples gesto me deixa surpresa. São raras as vezes que Henry sorri verdadeiramente para mim, sem ironia ou sarcasmo. Inclina a cabeça para o lado e me olha rapidamente antes de revirar os olhos e volta a olhar para cima. Seu sorriso se desmanchou. Henry muda tão rapidamente de humor que me deixa intrigada.

– Você é tão idiota.

Dou uma tragada profunda antes de rebater

– E você um babaca escroto. Mas vamos ignorar isso um pouquinho.

Suspiramos ao mesmo tempo. Nunca estive tanto tempo na companhia de Henry antes sem que algum de nós saíssemos machucados. A gente demora discutir ou partimos pra agressão física. Quando éramos crianças, eu sempre vivia com o joelho ralado por ele me empurrar e Henry nunca sarava um arroxeado ao redor do olho, consequência dos socos que eu dava em seu rosto quando ele partia para ofensa pessoal envolvendo meus verdadeiros pais. Ele aprendeu um pouco tarde que tudo tem uma limitação.

– Eu achei que eu iria me arrepender, sabe, que eu viria correndo para a lixeira e pegaria a maquina novamente. Mas isso não aconteceu. Eu só simplesmente fui andar um pouco e quando fui checar, a maquina não estava mais lá. – Sua voz esta tão baixa que preciso me aproximar um pouco mais para ouvir, agora, além de nossas pernas se tocando, nossos braços também estão. Sinto-me emocionada por finalmente estar tendo um momento fraternal com Henry. Mas sei que isso vai durar minutos. – E o mais inacreditável, é que eu não me arrependo. Eu escrevia pouco, mas gostava do pouco que escrevia, aí a maquina quebrou e eu vivia sempre cansado por estar sempre debruçado sobre ela tentando conserta-la. Mas chega de coisas velhas, inacabáveis e inalcançáveis. Eu estou cansado.

Eu não entendo o que Henry quer dizer com isso. Meu cigarro acabou e eu estou com preguiça de ir pegar outro no maço. Nós ficamos em silencio por um tempo, a grama esta pinicando meu rosto e edredom parece estar mais pesado. Quando estou quase pegando no sono ali mesmo, Henry me empurra com força para o lado e aponta para cima. Há um avião passando nesse momento sobre nós. Eu sorrio e fecho os olhos. E sem perceber, já desejei, desejei que Henry pudesse melhorar e me tratar bem como está me tratando agora. Talvez seja um desejo impossível, mas vale a pena tentar.

– Tenho que dormir. – Confesso já me levantando. Encaro Henry enquanto o mesmo continua na mesma posição, as mãos atrás dos cabelos loiros e os olhos caramelos olhando ceticamente para o céu. – Podemos fazer isso mais vezes? Você poderia reprimir por cinco minutos seu ódio por mim, ai a gente se deitaria aqui e ficaria apenas olhando pra cima. Seria legal.

– É, quem sabe.

Estou prestes a dar as costas quando involuntariamente pergunto:

– Você ainda me odeia?

Ele parece pensar um pouco antes de responder.

– Provavelmente sim. O único sentimento que me preenche é o ódio. Nele vem acompanhado o rancor também. E eu não sou capaz de perdoar ou esquecer rapidamente. Então, sim, eu ainda te odeio, Hope Stonem.

– Você é um monstro. –Digo brincalhona, porém nunca fui tão sincera em minha vida. Meu nome é Hope Adams, seu idiota. Henry dá um sorriso alienado antes de sussurrar:

– Você não faz ideia.


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Notas finais do capítulo

gostaram? odiaram? por favor, me digam algo, please!
Nos vemos sexta :)
Beijinho Angels ^.^



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