Passaram vários dias desde o evento que me prendeu nesse lugar. Eu não só precisava descobrir como sair daqui como também não permitir que os humanos saibam da minha existência.
Durante o dia, o poder dessa área se tornava mais forte, mesmo com o portão de entrada aberto, eu não conseguia sair, como se houvesse uma barreira. A noite o portão era mantido fechado, não posso me transportar para além do cercado nem tocá-lo. Fora que, não consigo usar minha telepatia para além de um raio de 10 km do parque (pelo o que calculei), então mandar um proxy para cá me libertar é impossível, considerando que eles estão em outra cidade.

Além disso tudo, o humano que conseguiu escapar avisou à polícia o que aconteceu. Eu não podia permitir que mais alguém soubesse sobre mim, porém simplesmente matá-lo reforçaria as investigações, então eu precisava bolar uma estratégia.

Para fora do parque meus poderes não possuíam muita força, mas dentro eu poderia utilizá-los totalmente ao meu favor. Usei minha telepatia para influenciar os investigadores quando eles verificavam a área, em pouco tempo eles foram convencidos de que o rapaz que havia escapado de mim era o assassino. Foi até algo simples, mas apenas isso foi.

Dia após dia tentei descobrir um jeito de sair, mas tudo que me vinha em mente acabava sendo algo em vão. Não atacar ninguém por um tempo, apenas esperar, tentar abrir o portão durante a noite… Nada dava certo.

Começava a me vir sensações ruins e um certo desespero de sair.

Cada dia continuando aqui era uma parte da minha sanidade indo embora. Agora era compreensível Smile na última vez que o vi reclamar que estava com fome. Eu mesmo estou “faminto”... Minha própria mente me atacava atrás de medo, mas eu precisaria mais do que a mim mesmo para “consumir”.

Isso leva a atitudes desesperadas, como deixar de lado minhas tentativas de ser discreto e atacar qualquer um que entrasse.

Não demorou muito para “as más línguas” espalharem que havia “algo” nesse parque. De qualquer forma eu precisava me controlar e não ficar louco matando todos sem medir as consequências. Não adiantaria me desesperar para sair daqui, talvez eu ficasse por anos e décadas.

Com o tempo, passei a medir com cautela meus atos. Com o tempo, meu medo e desespero foi substituído pelo tédio. Com o tempo, passei a tirar a sanidade de humanos que entravam aqui durante a noite, para tentar transformá-los em proxies, apesar que quase sempre falhar no final. Com o tempo, a maioria dos moradores da cidade passaram a ter medo de passar perto do parque, inclusive morar próximo. Com o tempo, uma pessoa vir aqui não passava de um “jogo” pra mim.

Passaram cinco anos…

Outubro de 2008, uma casa, ao lado da floresta, que estava a venda foi comprada. Os novos moradores eram um casal e um adolescente de 17 anos. Alto, magro, cabelos escuros e pele tão branca como se nunca tivesse visto a luz do sol.

Esse jovem... Depois de muito tempo, um humano me chamou a atenção. E a forma era incomum. Não era como com os humanos com potencial para virar um proxy, não era como os que se tornariam monstros. Apenas algo familiar, que eu não consigo saber bem o que é.

— Vamos logo, Tom, pare de se distrair com o gato!

— Orion que tá se roçando nas minhas pernas, oras! - Ele falou enquanto pegava uma caixa em cima do carro. - E continuo achando ruim essa mudança.

— Você vai gostar dessa nova cidade, dê uma chance.

“Você fala isso toda vez que a gente se muda…” ele pensou.

Tom apenas suspira em resposta e se preocupou em levar a caixa logo para dentro da nova casa. Ao chegar na sacada, antes de entrar, seu gato estava encarando a floresta. Me encarando, para ser exato.

Ele ficou curioso sem saber o porquê do animal agir assim e olhou na mesma direção para tentar saber o que era. Não demorou muito tempo encarando a floresta, pois sua mãe o chamou novamente e dessa vez ele teve de obedecer.

Parece que virá algo interessante...