Kate tinha acabado de colocar o pijama quando escutou batidas na porta. Correu pois esperava que fosse Ana, que teimava em ir toda sexta até sua casa para convidá-la para um barzinho. Sorriu antes de abrir a porta ao lembrar da insistência da amiga para que ela arranjasse um namorado, mas ao abrir a porta, viu que não era quem imaginou.

– Boa noite. – ele cumprimentou. Castle estava com uma blusa branca e calça jeans, e esperou pacientemente um convite dela para poder entrar.

– A Sofia já está dormindo.

– Tudo bem. Hoje eu vim falar com você.

Mesmo com receio do que ele queria falar com ela, Kate abriu a porta para que ele entrasse e os dois se sentaram lado a lado no sofá.

– Estou aqui porque quero ouvir sua explicação.

Kate o encarou em silêncio por alguns segundos. Não fazia nem uma semana desde que ele havia lhe dito que o que ela tinha feito não tinha explicação. Uma parte imensa dela quis jogar isso na cara dele, mas achou melhor não se render a esse lado. Ela abraçou as próprias pernas, tentando encontrar algum conforto em si própria.

– Tudo começou no dia que nós terminamos.

– No dia que você me abandonou... - Castle murmurou e ela olhou furiosa para ele. Ela tinha ouvido mesmo aquilo?

– EU TE ABANDONEI, CASTLE? SÉRIO? VOCÊ TIROU TODAS AS MINHAS COISAS DO LOFT E AS JOGOU NA PORTA DA LANIE!

– MAS ISSO SÓ ACONTECEU PORQUE TE PEGUEI AOS BEIJOS COM AQUELE BILIONÁRIO! VOCÊ ABANDONOU O NOSSO RELACIONAMENTO, BECKETT! JOGOU PELA JANELA TUDO O QUE NÓS TÍNHAMOS PASSADO JUNTOS.

–Você nunca me deu a chance de explicar o que aconteceu naquele dia... - ela falou diminuindo o tom de voz - ELE me beijou, Castle! Eu não retribuí o beijo! Eu não o beijei porque apesar de você não ter me dado atenção naquela época, eu ainda te amava! EU ESTAVA COM VOCÊ! - Kate percebeu que o escritor não estava aceitando muito bem sua explicação, então resolveu trabalhar com provas. - Você realmente acha que se eu tivesse beijado o Erik nós não teríamos tido um caso, um relacionamento ou algo do tipo? Eu nunca mais o vi desde aquele dia.

Castle desviou o olhar para a parede. Ele viu nos olhos de Kate que ela estava sendo sincera. Reconheceu para si mesmo que havia agido como um idiota anos atrás e por conta disso havia perdido sua musa.

– Agora eu sei a verdade. Reconheço que o jeito que agi naquela noite não foi certo. Mas isso não é motivo para você ter escondido a gravidez de mim! - ele voltou a encará-la, aguardando uma explicação.

– Eu não queria te ver sofrer... - o nó na garganta de Kate não deixou a voz sair bem naquele exato momento - Tinha muita coisa mal resolvida entre nós dois. Nós nos machucamos muito e isso doía. Doeu muito e daí, por doer, deu raiva. E eu senti muita raiva de você. Senti raiva porque apesar da forma que você agiu comigo, eu me culpava pelo seu sofrimento. Eu te observei de longe por alguns dias, Castle. Vi o quanto você estava sofrendo. - ela tentava se concentrar nas palavras, mas seu olhar acompanhava cada movimento feito por ele, tentando ler suas reações. - Os primeiros vinte dias foram horríveis. Nunca pensei que pudesse sobreviver sem nossas frases trocadas em segredo, sem as suas teorias malucas, sem os mil significados para tudo que envolvia a gente. Foi só alguns dias depois que eu descobri que estava grávida... Eu fiquei em pânico porque você havia me dito para sair da sua vida e nunca mais te procurar. - ela desviou o olhar do dele, deixando que as lágrimas caíssem - Eu não queria que o meu bebê vivesse no meio de todos os nossos medos, temores, brigas, confusões e discussões. Por isso resolvi ir para o mais longe possível de você... Eu sabia que iria doer, que iria ser horrível, que pareceria o fim de tudo pra mim. Mas aos poucos e aos muitos eu fui obrigada a me levantar, seguir a vida junto com a minha filha. - ela deu uma pequena pausa para limpar as lágrimas na manga da blusa. - Poxa, Castle, você me expulsou da sua vida. Você não queria que eu me aproximasse de você... E isso me matava por dentro! Uma criança seria um laço que nos uniria para sempre! E eu sabia o quanto isso iria te machucar...Por isso eu fiz a escolha de me afastar de tudo e de todos. Recomeçar minha vida do zero...Não foi fácil para mim, mas foi a minha escolha! Eu sei que nada do que eu falar vai justificar o fato de eu ter te afastado da sua própria filha, mas só por um momento se coloca no meu lugar, Castle... Você se conhece, você sabe que não seria fácil...

Eles ficaram se encarando em silêncio por alguns minutos. Castle tentava organizar em sua mente todas as palavras de Kate. Ele a fitou uma última vez, se levantou e foi em direção à porta.

– Você não vai falar nada?

–Não. Eu já estou indo embora.

XXXXXXXX

Desde a noite que conversaram, Castle não havia mais aparecido. Kate não sabia se isso era bom ou ruim, mas resolveu que seria melhor dar espaço e tempo para ele absorver todas as suas palavras.

Era domingo e o dia estava quente e ensolarado, um clima propício para levar Sofia na sorveteria favorita das duas. Ela já tinha arrumado a filha para sair quando recebeu uma ligação do precinto solicitando a presença dela com urgência. A detetive ligou para a babá de Sofia e pediu que ela ficasse algumas horas com a menina.

Quando Emma chegou, Kate foi até delegacia resolver o problema, que se mostrou ser bem menos complicado do que ela imaginava, o que fez com que ela não gastasse muito tempo.

Beckett entrou no carro e tentou chegar o mais possível em casa. Mal havia visto a filha durante toda a semana por conta do novo caso e estava sentindo não só saudade, mas uma falta absurda de Sofia. Seus braços já estavam prontos para dar o maior número possível de abraços na pequena.

Já chegou em casa chamando pela filha, mas percebeu que Emma estava organizando suas coisas para ir embora.

– Kate, o Castle passou aqui há pouco tempo e levou ela para sair. Eu até estranhei porque pensei que você iria sair com ela...

– E ela não pediu para você ir junto? - Beckett perguntou tentando disfarçar o tom de raiva. Sua filha havia pedido para a babá a acompanhar em todos os passeios que fez com Castle. Ela era a filha de uma policial! Apesar de Kate ter liberado Castle para sair sozinho com a filha, a garota só aceitou sair com o escritor se Emma fosse com eles.

– Não. Acho que ela já se acostumou com ele. - a babá explicou. - Bom, agora eu tenho que ir. Se precisar que eu volte é só me ligar.

XXXXXXXX

Já eram quase 10 horas da noite quando Castle bateu na porta de Beckett. Ela o fuzilou com olhos, seu sangue estava fervendo de tanta raiva. Aliás, se ele não estivesse carregando a filha adormecida no colo, ela teria gritado com ele no momento que abriu a porta.

Ele levou a menina até o quarto e a colocou delicadamente na cama. Tirou seus sapatos, a cobriu e deu um beijo de boa noite antes de apagar a luz.

Kate o esperava na sala, estava tão impaciente que não conseguia ficar parada no mesmo lugar e deu voltas pela sala até o momento que ouviu os passos dele descendo a escada.

– VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE APARECER AQUI A HORA QUE QUER E LEVAR A SOFIA PARA SAIR!

– ELA É MINHA FILHA E EU TENHO TODO O DIREITO DE SAIR COM ELA A HORA QUE EU BEM ENTENDER!

– Não, você não tem! Você já saiu com ela a semana inteira, Castle! Hoje era o único dia que eu podia passar com a minha filha! E você aparece de repente e leva ela para passear?! Isso não vai ficar assim....

– Não vai mesmo, Kate. Meu advogado já deu entrada na solicitação de guarda.

– Não vai pensando que vai ser tão fácil! Eu a criei sozinha durante toda a vida dela!

– E você acha que o juiz não vai levar em consideração o fato de você ter escondido ela de mim?

Kate não respondeu, sentiu um nó se formar em sua garganta. Ela sabia que ele estava certo. Castle não esperou uma reação dela e saiu batendo a porta.

Assim que ela ouviu o barulho do carro dele dando a partida, Beckett desmoronou. Ela não sabia o que fazer para evitar que Castle seguisse adiante com o processo e resolveu ligar para Lanie afim de desabafar.

Elas conversaram sobre tudo o que tinha acontecido nos últimos dias. Kate falou para a legista todos os detalhes da sua conversa com Castle na sexta e também da briga que tinha acabado de acontecer.

– Eu não posso deixar que ele tire a Sofia de mim. - a detetive falou com a voz falhada pelo choro.

– Se acalma, Kate. Isso não vai acontecer! - Lanie tentava acalmá-la, mas sabia da gravidade da situação.

XXXXXXXXX

Quando terminou de falar com a detetive, Lanie logo ligou para uma pessoa que com certeza teria um plano para ajudar Beckett.

– Oi, Chica! Já está com saudades de mim? Não faz nem meia hora que saí da sua casa...

– Te liguei por causa da Kate, amor.

Depois de explicar para Esposito tudo o que Kate estava passando, os dois tiveram a ideia de conversar com Gates para que ela oferecesse para Kate seu antigo emprego. Dessa forma, com a menina morando em NY, Castle poderia desistir da ideia de lutar pela sua guarda.

– Pode deixar que amanhã mesmo eu e o Ryan vamos falar com a capitã. - Esposito garantiu antes de desligar o telefone e deixar Ryan a par da situação.

XXXXXXXXX

– SALA DA GATES, NY –

Ryan e Esposito já tinham contado toda a situação de Beckett para Gates que agora os encarava com uma expressão de dúvida.

– Eu sinto muito pelo que ela está passando, mas aonde eu entro nessa história?

– Nós achamos que a senhora deve oferecer o antigo cargo da Beckett para ela. – Esposito falou com a voz um pouco trêmula. Estava com medo de a capitã não aceitar sua proposta. – Ela foi a melhor detetive que já passou por esse distrito. E se ela voltar para NY, o Castle pode desistir de continuar com o processo.

Victoria Gates ficou em silêncio por alguns minutos, mas logo abriu a gaveta da sua mesa e pegou a agenda onde estava o número de Beckett.

– Tudo bem. Vocês me convenceram.

– Muito obrigada, senhora. – os dois falaram juntos com um sorriso de orelha a orelha.

– Já podem sair.

– Capitã, a senhora poderia deixar essa nossa conversinha em segredo? Se a Beckett descobre que tem o nosso dedo nessa história, ela vai usar a mesma bala para matar nós dois. – Ryan pediu antes de se retirar.

– Ok. Agora é só torcer para ela aceitar a proposta.

XXXXXXXXX

Beckett havia chegado um pouco mais cedo da delegacia para poder assistir uma maratona de filmes de princesas com a filha. Ela aproveitou cada sorriso e cada abraço apertado que recebia da pequena. Kate tinha acabado de colocar Sofia para dormir quando ouviu seu celular tocar. Era um número de NY, então atendeu imediatamente.

– Beckett.

– Beckett, é a Gates.