POV Kevin

Estou preocupado com a loja. As encomendas estão ficando um pouco baixas, temos o salário do Aaron pra pagar e aquele cara que fez bagunça naquele dia deu calote (e foi esperto, fugiu, aquele covarde), aí está complicado. As mais recentes foram tentativas de fazer a gente criar dispositivos letais, mas eu e minha irmã jamais faríamos isso. Pra mim tanto faz criar algo que, sei lá, desative câmeras de segurança ou possibilite entrar em locais sem ser percebido (trabalhamos no mercado negro, não tem como fugir de pedidos que podem ser usados em roubo ou algo assim), mas criar armas NÃO.

O que a gente pode fazer? Bem que a gente não fica SEMPRE em crise, mas quando isso rola é um saco. Detesto ficar sem nada pra fazer.

Bom, estou na loja agora só olhando as moscas, por que nem ideias para projetos aleatórios tenho em mente e Aaron está apenas num canto desenhando. Já vi uns desenhos dele, ele é bom. E minha irmã saiu para resolver umas coisas, então tá só a gente aqui.

Kevin: Então... O que está desenhando? - puxei assunto

Aaron: Nada especial. Só treinando um pouco.

Kevin: Sério? Se é um vampiro você deve ter uns 100, 200... Mil ano... Pra quê treinar? Parece que faz isso a séculos.

Aaron: Não tenho isso tudo - ele riu - Vamos ver... Eu tinha uns 22 na época do Projeto V, que foi perto do fim da primeira guerra, estamos em 2032 então... Cara, tou velho! 136!

Eu ri. Por ele não envelhecer o tempo deve voar de modo que ele nem percebe. Deve ser legal e ao mesmo tempo entediante ter todo o tempo do mundo.

Aaron: Francamente, treino nunca é de mais. A arte é um Universo de milhões de anos-luz, não importa o estilo que use, sempre tem mais para aprender e aperfeiçoar.

Kevin: Filosófico.

Aaron: Aliás, a loja sempre tem esses tempos de ficar parada?

Claro que ele notou isso...

Kevin: Ás vezes. Não somos "O Concertador", ele fazia armas além do que a gente faz, mas não gosto da ideia de minhas invenções serem usadas com intenção de matar, acho que já comentei isso. Pode ser menos lucrativo para quem trabalha no Mercado Negro, mas trabalho assim.

Aaron: Entendo... Mas nem sempre dá para bancar o bonzinho.

Kevin: Não que eu esteja bancando, mas isso me desagrada. E à Khate também, diga-se de passagem.

De repente ouvimos um som vindo da porta.

Aaron

Entrou um cara louro usando um casaco tipo moleton, azul escuro com uma estampa, gorro na cabeça e calças largar. Ele parece ter a idade perto do Kevin... Ou um pouco mais.

????: E aí, Kevin, beleza?

Kevin: Fala aí, Jace! Você tá sumido!

Jace: Acontece. - ele soltou um riso fraco, aí depois notou minha presença e sua expressão mudou levemente.

Kevin: Ah! Esse aí é o Aaron. Ele tá trabalhando aqui na loja.

Jace: Ah, sim, você falou que estava procurando alguém. Mesmo assim - e ele falou o resto da frase baixo, mas claro que com minha audição aguçada ouvi - você ainda não está com rolo em relação a dinheiro?

Kevin (*sussurro): Tou, mas precisava de alguém aqui, principalmente que desenhe. Eu e minha irmã somos meio "fracos" nisso. Mesmo assim, dá para pagar o salário dele tranquilamente. - voltou a falar normal - O problema aqui só está num leve prejuíso resultante de uma briga. "Gorila" de novo...

Jace: Sério? Aquele cérebro de minhoca continua te enchendo o saco?

Kevin: Pior é quase ter dado na minha cara...

Aaron: Mas alguém aqui, arrebentou o grandão e causou metade do prejuízo. Alguém vulgo EU. - Me meti, tou entediado e não quero ser ignorado, oras.

Kevin: Admito, você nem tinha culpa naquilo, a treta era minha.

Jace: Mesmo assim, francamente, não jogue sua vida fora por causa de um cara como aquele.

Kevin: Tou no nível do "foda-se", ele pode estar me devendo pelo prejuízo na loja, mas ao menos não vou ter que aturar ele por um bom tempo.

Jace: Vou ter que eu mesmo dar na sua cara pra você aprender? - Jace falou de maneira irônica com um olhar propositalmente agressivo para Kevin - Aliás, noto que você não tá tão pouco se fudendo assim. (se continuar do jeito que tá, esse lugar vai falir) Tem um jeito para ajudar um pouco, MAS sua irmã não vai gostar.

Kevin: Mas não vai MESMO se for o seu "jeito de ganhar dinheiro".

Jace: E tem outro jeito melhor?

Aaron: Do que estão falando? Se não há problema em eu me meter.

Jace: Vai ter uma corrida de drones dentro de alguns dias. O prêmio é uma grana boa. Aliás, tou aqui justamente para comprar umas peças, vou ter que fazer uns ajustes no meu. Não tou aqui só pra jogar conversa fora.

Kevin: Quer que eu te ajude a montar?

Jace: Na verdade não precisa. É algo simples que tenho que arrumar, e se você quiser participar, melhor fazer o seu logo. Bom, vou ver as peças aqui.

Ele andou pela loja indo pegar umas peças. Enquanto isso fui conversar com Kevin:

Aaron: Então sua irmã não gosta que você participe da corrida, é?

Kevin: Qual quer tipo de corrida e qualquer coisa que seja como aposta, em que ou você ganha a grana ou ganha nada. Faço isso ás vezes, Não conta pra ela, ok?

Aaron: Eu não ganharia nada contando. Relaxe.

Kevin: Valeu.

Foi possível perceber um leve alívio vindo dele. Pelo visto ele estava tenso por eu saber e contar irmã dele. Claro que tenho um certo histórico de tirar vantagem, mas não vou fazer isso.

Aaron: Aliás, - mudei de assunto - a quanto tempo se conhecem? - falei me referindo ao Jace

Kevin: Quase dois anos, eu acho.

De repente foi possível ouvir um som.

Kevin: O que foi isso?

Aaron: Cheiro de sangue... - sussurrei

Eu, Kevin e Jace fomos para fora da loja. Já era noite, mas era posível avistar alguém no chão (e eu acharia de qualquer jeito, o cheiro de sangue está meio forte) Nos aproximamos rapidamente e a pessoa no chão era Khate.

Kevin: MANA!

Ele chegou perto dela e também nos aproximamos. Ela está muito ferida, o cheiro de sangue está bem forte. Dá pra sentir o desconforto em minha garganta, droga, tenho que me concentrar para no mínimo meus olhos não mudarem de cor. Eu tinha que não ter me alimentado hoje?!

Jace: Você está bem? - ele notou que "não tou legal"

Aaron: Tou, só me sinto mal vendo sangue...

Jace: Hematofobia?

Aaron: Bingo!

Valeu, ao menos não suspeita de nada.

Kevin: Ela tá respirando... Mas esses ferimentos estão muito graves. Alguém me ajuda a levá-la pra loja!

Jace: Ok, eu ajudo.

Jace se aproximou e eles carregaram Khate. Mas que droga, quem fez isso com ela? Estranhamente, enquanto eles a levavam eu continuava sentindo um cheiro forte de sangue, mas não vinha dela. Olhei em volta, mas não conseguia identificar de onde vinha.

Jace

Conseguimos levar Khate para dentro da loja e Kevin fez Aaron deixar espaço na bancada. Medo de sangue, sério? "Por que será" que não acredito? Mas não vou criar treta aqui, a situação de Khate é crítica. E o que pode tê-la atacado?

Kevin foi para o andar de cima da loja para pegar o kit de primeiros socorros enquanto eu e Aaron ficamos aqui em baixo. Olhei um pouco nela e não parecia que os ferimentos foram provocados por tiros, ou alguma faca ou simplesmente a espancaram. Seja o que for que a atacou, tenho 90% de certeza de que não foi humano. Mutante? Monstro? Alien?Experimento genético que fuguiu dos laboratórios do governo?

Seja o que for e qual seja a razão, atacar alguém inocente dessa maneira é um absurdo. Não me agrada nenhum pouco.

Kevin: Voltei!

Kevin estava com a caixa além de uma das "bugigangas" deles.

Aaron: Que diabos "ser" isto?

Kevin: uma espécie de raio-x, se ela tiver quebrado algum osso mexer pode ser um problema.

Ele colocou um óculos que é o similar ao usado na corrida de drones* e passou o que provavelmente é um objeto de leitura sobre ela.

Kevin: Não sei quem pode ter feito isso com ela, mas estou vendo duas constelas quebradas e uma fratura no femu e no rádio (osso no braço), além do braço esquerdo parecer que foi deslocado e, merda, está com uma leve hemorragia interna também. Não vai ter jeito, vou ter que levá-la pro hospital.

Jace: Relaxe, vai ficar tudo bem.

Kevin: O pior é eu ficar na situação de: Ou eu gasto dinheiro pra caramba, que eu já não tenho, por que parece que a cada ano a saúde fica mais cara ou deixo minha irmã morre! Mas que merda, quem foi o filho da puta que fez isso com ela?! E pra quê?! A culpa é minha? Que faça isso comigo, porra!

Aaron: Se acalme, e se tem que ligar pro hospital, melhor que isso seja feito logo.

Kevin: Ok, ok, vou pegar meu celular.

Claro que Kevin está bem tenso e puto. Eu também ficaria estando nessa situação. De qualquer modo, quem fez isso com ela não vai se safar. Sei bem o tipo de injustiça que tem nesse mundo, mas se eu posso fazer algo não vou permitir tão facilmente. Digo, "Ace" não vai permitir.

Narrador on

Enquanto isso, não tão longe dali, Uma figura ria com a situação que provocou. De certa forma, até que era divertido matar alguma pessoa aqui, apenas apavorar outra ali... Ele passou anos preso convivendo com o simbionte vermelho, digamos que parte de sua sanidade se esvaiu com o tempo, apesar dos cientistas não terem percebido isso. Até ser tarde de mais.

????: Devo admitir, até que fazermos isso é divertido. E aqueles cientistas idiotas... Sim, claro, bastou a gente se comportar e estamos livres. Você foi a minha única companhia naquela cela, ainda mais depois que o Dr. Kornos não podia se encarregar mais dos nossos estudos por que o Lagarto saiu de seu controle. Ele era o único que era gentil e sua gentileza era sincera. Que chato, nem se importaram em fazer algo para ele voltar ao normal. Ás vezes ose seres humanos são um lixo. Um pequeno lixo que merece sofrer um pouco de vez em quando. Estou certo? Posso estar meio louco falando sozinho, mas sei que você tem consciência. E que o que fizemos no laboratório e o que estamos fazendo você acha divertido, não é? Hu hu hu! Essa cidade vai virar um caos.