As Crônicas de um Amor escrita por MitilTenten


Capítulo 3
O que move o coração




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O que move o coração

Sakura acordou naquela manhã com a sensação que alguma coisa estava para acontecer. Sonhou novamente com sua mãe. Porém, neste sonho ela previu que Sakura conhecerá uma pessoa. Seu coração estava acelerado. Não que fosse raro sonhar com uma pessoa querida, mas era a primeira vez que sua mãe previa o futuro. Era muito estranho. Nunca acreditou em visões ou premonições, mas aquele sonho, aquela previsão de sua mãe a deixou incomodada. Será que este tipo de sonho era normal na gravidez? Certa vez ouvira que mulheres grávidas costumavam ter sonhos estranhos e até mesmo pesadelos. Olhou para o relógio e viu que estava atrasada. Abandonou seus pensamentos, se arrumou e foi para o trabalho. Conseguiu um emprego em uma empresa de confecção de tecidos. Seu uniforme era vermelho e ainda tinha que usar um boné ridículo. Jamais se imaginou exercendo tal função, mas as circunstâncias a obrigavam. Ao fim do expediente decidiu procurar um hospital para fazer seu cadastro. Pegou algumas referências com seus colegas de emprego e foi até o local indicado. Deparou-se com um enorme prédio de cinco andares. Aquele era o Hospital Geral de Kyoto, um excelente hospital, garantiram seus colegas. Era lá que deveria procurar a ala de obstetrícia para fazer o pré-natal. Foi até a recepção. Tinha levado toda a sua documentação para isso. Até alguns exames, incluindo o ultrassom que comprovou sua gravidez.

— Boa tarde! Meu nome é Haruno Sakura, estou grávida e preciso iniciar logo o pré-natal.

— Para isso você precisa preencher estas fichas. – Disse a recepcionista e entregou quatro páginas com questionários diversos sobre a paciente.

— Ah, sim claro. Tem uma caneta para me emprestar?

A recepcionista alcançou uma caneta para a rosada e voltou aos seus afazeres. Sakura lia com muita atenção as perguntas antes de respondê-las. Quantas semanas de gestação, qual sua idade, situação da saúde, doenças que já teve, tipo sanguíneo e se tinha plano de saúde, este ofertado pela empresa em que trabalha.

— Aqui está! – disse entregando os papeis para a recepcionista.

— Agora você deve agendar seus exames por telefone! Tem alguma preferência por algum médico?

— Na verdade não conheço nenhum médico aqui! Sou nova na cidade e não tenho nenhuma experiência com tudo isso! – respondeu timidamente.

— Então o hospital irá indicar um médico para acompanhá-la. Vou agendar sua primeira consulta.

 - Está bem!

Assim que terminou de dizer a frase sentiu uma dor estranha no baixo ventre. Não conseguiu disfarçar e acabou gemendo mais alto do queria. Um médico observou a cena. Havia ido pegar alguns relatórios e presenciou tudo. Aquela garota era bem novinha para ser mãe. A recepcionista percebeu e logo perguntou se estava tudo bem.

— Eu não sei! É normal sentir cólicas na gravidez? – perguntou já arcando por causa das cólicas

— Depende! – disse o médico intervindo – Você está de quantas semanas?

— Não tenho certeza, mas acho que cinco.

— Você já sentiu isso antes?

— Não! O que você acha que pode ser doutor? – o jaleco já o denunciara para a rosada.

— Se não apresentar sangramento, febre ou vômito não é nada. É apenas o seu corpo se adaptando a nova situação. – disse respondendo a pergunta da jovem.

O médico se aproximou e colocou sua mão na testa de Sakura e verificou que ela não tinha febre. Parou em frente a garota e a observou com um olhar curioso. A cólica já estava passando quando a jovem percebeu o olhar do médico. Ficou um pouco envergonhada com a situação e tratou de se ajeitar.

— Desculpa se estou sendo intrometido, mas qual a sua idade? – o médico perguntou curioso.

— Tenho dezoito anos! – respondeu com vergonha da pergunta.

— Você é bem nova para ser mãe, não acha? – disse com seriedade.

— Acho! – respondeu a rosada querendo que um buraco abrisse e a tragasse de uma vez – Mas às vezes tomamos decisões erradas ao longo da vida e temos que arcar com as consequências dela.

O médico a olhou com mais atenção.

— “Arcar com as consequências!” – pensou.

 O quanto esta menina já vivenciara para dizer estas palavras com tanta firmeza? Perguntas e mais perguntas passavam pela cabeça do médico.

— É verdade. – disse desviando o olhar da jovem. – Tomiko-san – falou se dirigindo a recepcionista – agende para mim um horário para semana que vem com esta jovem!

Sakura olhou para o médico a sua frente perplexa. Por que ele estava se importando? Por que ele a queria como paciente? Não podia responder suas perguntas. O jeito era agradecer, pois isto lhe poupava o tempo de ter que escolher um médico e confiar quase cegamente. Seus conhecimentos de medicina não eram tão avançados para dar este passo. Sentiu a tristeza voltando...

— Obrigada, doutor... – Sakura olhou para o doutor com um semblante confuso.

— Hyuuga. Neji Hyuuga. E você como se chama?

— Haruno Sakura. – respondeu um sorriso.

Virou-se e foi embora. Neji ficou observando a jovem de cabelos rosa se distanciando. Sentiu alguma coisa diferente. Ela era diferente. Sentiu uma forte vontade de conhecê-la melhor. Por algum motivo que não sabia explicar a queria por perto. Ficou até um pouco surpreso com essas novas sensações. A última vez que sentiu tudo isso foi quando conheceu Tenten. Mas isso já tinha muitos anos. Desde a morte da sua esposa nunca se interessou por mais ninguém. Dedicava-se apenas a sua filha e ao trabalho. Questionou-se se era certo sentir aquilo por uma pessoa totalmente estranha. Não sabia responder. Por sua vez, Sakura também se sentia diferente. Não entendia o motivo pelo qual o doutor Hyuuga se dispôs a acompanhá-la. Qualquer outro já a teria mandado para alguma clínica a fim de não assumir nenhuma responsabilidade caso algo acontecesse de errado com ela. Ele não. A tal sensação ainda a acompanhava. Lembrou-se do sonho da noite anterior. Será que sua mãe se referia ao médico? Lembrou-se dos olhos brancos e grandes. Eram tão bonitos. Fez seu caminho para casa pensando no sonho e no médico.

Os meses passaram tão rápido quanto a sua barriga crescia. Quando estava de sete meses, o chefe da empresa onde trabalhava reuniu todos os funcionários para realizar um pronunciamento. Tudo o que a rosada mais temia aconteceu: a empresa entrou em regime contenção de gastos e, por isso, demitiu vários funcionários. Sakura foi uma. Em tempos de crise que, vez ou outra o Japão atravessava, ficava difícil manter uma empresa sem cortes de custo. Por isso já tinha algum tempo que os diretores da empresa vinham dando mostras que isso pudesse acontecer, mas ela apenas rezava para não ser a próxima. Agora não tinha mais renda para pagar suas contas. Logo também seria despejada de seu pequeno apartamento por falta de pagamento. Não fazia ideia de para onde iria. E, como se não bastasse todos esses problemas, sua barriga estava enorme evidenciando a gravidez avançada. Sem crise já era difícil achar um emprego estando grávida, imagina agora. Quem iria contratá-la naquele estado? Ela sairia de licença-maternidade logo, e por isso ninguém a queria. Sentada na cama, Sakura observou o que conseguiu comprar para o bebê durante os meses de trabalho. Poucas coisas, e apenas para o primeiro mês de vida de seu pequeno. Não tinha mais ideia de como resolver a sua situação.

— “O que vai ser de nós? Ainda me pergunto como isso tudo aconteceu comigo. Não foi isso o que eu planejei para mim. Ah! (suspirou). Que Kami me ajude. Não sei mais o que fazer.” – pensou.

— Ah! meu filho. Queria te dar o melhor, mas como? Você é uma benção na minha vida. Porém não sei como receber esta benção. Não sei como cuidar de você. – disse olhando para a barriga.

Uma lágrima cristalina escorreu pelo rosto alvo. Lembrou-se de Sasuke. Ela poderia entrar na justiça e provar que ele era o pai, mas valia à pena? Ela precisava de dinheiro sim, porém decidiu não se humilhar. Se ele não quis o filho, logo ela não poderia obrigá-lo a aceitar o bebê. Podia fazê-lo pagar uma pensão, mas antes precisaria provar a paternidade da criança. Mas como? Ele se negaria a fazer o exame. Ficou frustrada e cansada apenas de pensar em todo o processo e o tempo que levaria para provar que estava certa. O melhor no momento era se virar como podia. Nem que fosse vender fósforos na rua, mas ela daria um jeito.

— Mãezinha – sussurrou entre soluços e lágrimas – como eu queria que você estivesse aqui comigo. Como me faz falta a sua presença.

Olhou pela janela. Era noite e estava ventando. Uma luz iluminou seu quarto. Logo ouviu um trovão. Olhou para o relógio que marcava 11h. Amanhã ela daria um jeito de se arranjar. Vestiu sua camisola e decidiu dormir. Era só o que podia fazer.

~o~

— Pai, to com medo! – disse Mathilda choramingando em pé ao lado da poltrona onde seu estava.

Neji estava lendo na sala quando ouviu o chamado de sua filha. Levantou a cabeça e viu aquela figura pequenina e assustada ao seu lado. Levantou-se e a pegou no colo e aninhou em seus braços. Voltou a sentar na poltrona onde estava enquanto a embalava em seus braços para confortá-la.

— Medo do que, minha filha? – perguntou com suavidade.

— Do barulho que faz a chuva.

— Não precisa ter medo, querida. Não vai acontecer nada. Estamos protegidos aqui dentro de casa.

Neji se lembrou das vezes que dormiu na casa de seus tios. Hinata tinha pavor de tempestades. Algumas vezes ele cuidava dela até que pegasse no sono. Neji observou sua menina em seus braços. Estava cada vez mais parecida com a mãe. Deu um sorriso para ela e recebeu outro em troca.

— Vamos! Eu fico com você até pegar no sono.

— Tá!

Levou-a para o quarto e ficou com ela até que pegasse no sono. Quando Mathilda dormiu a tempestade já havia passado. Neji ainda ficou olhando ela dormir. Tão serena. Acariciou seus cabelos castanhos. Ela estava abraçada com uma echarpe branca com flores rosa. Dormia fungando sobre a peça que pertenceu a Tenten. Quando Mathilda ainda estava na UTI neonatal Neji a enrolara naquela echarpe para que sentisse o cheiro da mãe. Desde então Mathilda fazia questão de dormir abraçada a ela.

— “Sakura.” – seu pensamento foi logo desviado para a jovem de cabelos rosa.

Ela estava tendo complicações na gravidez. Apesar do controle, ainda assim ela tinha algumas quedas de pressão. Chegara a emagrecer ao invés de engordar. Neji tinha uma grande admiração pela garota. Sakura, em alguns aspectos, lembrava Tenten.

— “Como será que ela está?” – pensou – “Será que está bem? Por que eu estou pensando nisso?”

Não era a primeira vez que se flagrava pensando na rosada. Sentia que cada dia mais a admirava. Ela era forte e dedicada. Desde o dia que decidiu ajudá-la percebeu que ela era uma pessoa de fibra. Balançou a cabeça tentando afastar esses pensamentos e foi dormir. Era o melhor a se fazer.

~o~

O dia parecia tranquilo no hospital. A área neonatal estava calma. Nenhum bebê chorando, nenhuma enfermeira desesperada, nada. Tudo na mais santa paz, até o diretor resolver implicar pela milésima vez com o seu cabelo.

— Os pacientes não se sentem seguros nas mãos de um médico rebelde. Porque é isso o que o comprimento do seu cabelo representa para eles. Sugiro que o corte. Não quero ter problemas aqui.

— Nunca recebi nenhuma reclamação a respeito disso, senhor. Sempre tratei os meus pacientes de maneira que eles pudessem confiar na competência do meu trabalho. E jamais demonstrei rebeldia ou revolta, como o senhor pensa. – disse com certa ironia.

Às vezes Neji era irônico como ninguém consegue ser. Ele mesmo se surpreendia com isso.

— Não vou entrar no mérito de competência. Sei que você é o melhor médico do hospital e da cidade. Eu apenas quero que você saiba que a primeira impressão que passa é essa. Um médico de cabelos compridos e com um crucifixo no peito. O que você quer que os pacientes pensem de você?

— Em geral, eles estão preocupados demais com o próprio bem estar para notar essas coisas, doutor Danzou. Poucos me questionam, mas sempre digo que independente da minha crença, ou do comprimento do meu cabelo, eu cuidarei do bem estar dos pacientes com muita dedicação. – respondeu para encerrar o assunto.

— Neji! – Danzou o chamou com firmeza.

— Senhor?

— Pense bem no que eu disse! Não quero problemas.

— Vou pensar. – disse com um ar de cansado.

— “Pensar...! Que velho insuportável!” – pensou enquanto se dirigia ao berçário. – “Mas é muita petulância desse velho! Rebelde? Essa é nova! Agora eu sou rebelde! Hunf! Até parece. Não vejo a hora desse velho se aposentar e largar do meu pé.”

— O que temos hoje, Ino-san? – perguntou a enfermeira-chefe que segurava um bebê.

Estavam no berçário. Várias enfermeiras circulavam pelo local indo e vindo com bebês recém-nascidos desfilando para os pais e parentes que olhavam pela vitrine, orgulhosos dos novos integrantes da família.

— Nada do que você não esteja acostumado a lidar. – respondeu a sorridente enfermeira.

— Ainda bem! Mas me diga uma coisa: quando o senhor Danzou vai se aposentar?

— Este ano. – respondeu a enfermeira sorrindo – Você não se dá bem com ele não é?

— Ele vive criticando. E daí que o meu trabalho é perfeito? E daí que sou o melhor médico? Nada disso importa afinal para ele eu não passo de uma peruca gigante. – respondeu irônico e contido.

— Hahaha. Imagina se ele escuta isso? Mas voltando ao trabalho. Estamos todos bem. Os bebês estão saudáveis e bem acomodados. Alguns vão para o quarto com suas mães para mamar. Enfim... tudo na santa paz. – falou sorrindo a linda enfermeira.

Ino era muito dedicada a seu trabalho. Era o braço direito de Neji no hospital. Estava sempre ao seu lado apoiando e ajudando no difícil trabalho de salvar vidas que recém começaram. Ela também é uma das enfermeiras mais bonita do hospital. Alta e de corpo escultural, cabelos loiro claro presos num rabo de cavalo que ia até o fim da espinha dorsal, olhos azuis, rosto angelical. Tinha uma personalidade forte, apesar de ser gentil. Casou-se com Gaara, um médico neurologista que trabalhava em uma clínica particular.

— Fora a implicância do velho Danzou, hoje parece que será um dia bastante calmo. – disse Neji.

Quando terminou de falar ouviu seu nome ser chamado pelo auto-falante. Deveria comparecer a sala de cirurgia. Uma de suas pacientes entrou em trabalho de parto fora do tempo. Andando em direção a sala de parto encontrou Kabuto, o médico anestesista. Em geral era ele quem ministrava as anestesias nas pacientes em trabalho de parto. Tanto em cesáreas como em partos normais. Era um médico muito competente apesar de ser muito jovem. Trabalhava com Neji já tinha algum tempo.

— Temos um caso complicado, Neji. – disse Kabuto – A paciente entrou em trabalho de parto ainda em casa e sozinha. Chamou uma ambulância para trazê-la ao hospital. Está na trigésima quinta semana de uma gestação muito complicada, segunda a paciente. Não sabemos ao certo o que causou o rompimento da bolsa.

— Provavelmente ela passou por alguma situação que a deixou muito nervosa. – disse enquanto lavava as mãos.

— Qual é o quadro da paciente?

— Grave. – responde um enfermeiro loiro que acompanhava Kabuto. – Ela chegou aqui de ambulância e sem nenhum acompanhante. O intervalo das contrações era de cinco minutos, mas sem dilatação. Também está perdendo sangue.

— Certo. – disse isso e correu para colocar as roupas adequadas.

Havia um core corre muito grande na sala. Enfermeiras entrando e saindo o tempo todo. Quando enfim entrou na sala de parto, já devidamente vestido, Ino veio em seguida para auxiliá-lo trazendo consigo as notícias dos exames da paciente.

— Quero saber qual foi o resultado da ultra-sonografia.

Um enfermeiro o ajudou a colocar as luvas cirúrgicas enquanto Ino, que também se preparava para entrar junto com ele, o atualizava da situação.

— O bebê corre sério risco de morte, pois está com o cordão umbilical enrolado no pescoço e com um nó. Por conta disso ocorreu um coágulo no cordão. Ele não tem muito tempo. Se não agirmos rápido é provável que ela perca o bebê. – disse aflita.

— Então teremos de fazer uma cesariana. – avisou – Kabuto aplique uma peridural na paciente. Deidara prepare os instrumentos para a cirurgia.

— Certo. – Kabuto e Deidara responderam.

Passaram mais alguns minutos enquanto preparavam a paciente para o parto de emergência. Neji não tinha ideia de quem era a paciente em trbalho de parto, apenas rezava para             que não fosse Sakura, afinal a gravidez da rosada já dera indícios de ser tão complicada que poderia culminar num parto prematuro. O clima no local era de apreensão. Ninguém sabia ao certo quem era a moça e seu estado era muito delicado. Todos estavam correndo contra o tempo para salvá-la.

— Já estamos prontos, doutor. – avisou Kabuto.

— Está bem. – respondeu o enfermeiro.

— Neji. – Ino o chamou apreensiva.

— Sim?

— A paciente é a Haruno Sakura.

— O que? – seus temores infelizmente se confirmaram.


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