Surviving to Hell escrita por Alexyana


Capítulo 30
O lado bom da vida


Notas iniciais do capítulo

Ei, pessoal.
Troquei a capa, vocês viram (olhos assustadores do Shane hasuhauh)? O que acharam? Também mudei as músicas do Tumblr. A minha favorita vem primeiro, ashuashau.
Ainda não respondi os comentários do capítulo anterior e peço mil desculpas. Optei por postar o capítulo a respondê-los, espero que não fiquem bravos!
boa leitura!



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Papai vacila, seus olhos cheios de surpresa e dor. Ele dá um passo para trás, afastando-se enquanto abaixa o braço que estava erguendo em minha direção. Vejo-o abrir a boca e fechá-la logo em seguida, sem encontrar palavras.

Dou as costas para Shane antes que ele fale algo, sentindo que se ficar mais um segundo dentro dessa barraca algo terrível acontecerá. Saio noite a dentro, lançando-me para o ar frio totalmente desnorteada.

O arrependimento invade-me imediatamente, e franzo os lábios tentando controlar o impulso de voltar para lá. Faço uma careta, a mistura de todos os sentimentos ruins que estou sentido agora, e começo a correr. Corro como se minha vida dependesse disso, como tantas vezes já acontecera, em direção a lugar nenhum.

Quando noto estou em frente à cerca que divide a floresta da clareira. Que divide a liberdade da prisão. Não hesito em passar por entre os arames, entrando na floresta e imediatamente me sentindo melhor. Olho para trás e vejo que ninguém está me seguindo, e sinto um alívio enorme por isso. Não quero que me vejam assim.

Os ecos da discussão com papai invade minha mente, bloqueando minha visão com inúmeras imagens desconexas e doloridas. Começo a correr novamente, tentando livrar-me delas, misturando-me em meio as árvores escuras.

Vovó dizia que quando se está triste e confuso, a melhor solução é pensar em coisas boas. No lado bom da vida. Tento fazer isso, pensando nos dias em que ficava com Alicia e Tom na fazenda — mais dentro de casa do que no ar livre —, brincando com Cassie e Seth na varanda. Lembro-me do sorriso de mamãe e do sofá marrom dela, e de como ela ficou satisfeita por comprá-lo sozinha. Das vezes que ia à delegacia e brincava com Black, o ex-namorado de mamãe, e ele insistia em colocar seu distintivo em mim.

Gradativamente vou diminuindo a corrida, parando completamente debaixo de uma enorme árvore, iluminada apenas pela grande lua cheia. Olho para cima, para as estrelas, e contemplo-as por alguns segundos, pensando em como essas coisas pequenas ainda continuam intactas. O mundo ainda é bom, tento convencer-me.

Olho ao meu redor, notando que não faço ideia de onde estou. Ótimo, que responsável. Dou de ombros, tentando ignorar o medo quando decido que dormirei aqui. Nunca dormi em uma árvore, e agora parece um ótimo momento para experimentar. Tentar voltar agora pode ser desastroso, em todos os sentidos.

Fico levemente grata por não haver sons de gemidos, o que significa que provavelmente estou segura. Talvez a natureza esteja me presenteando, e agradecer é imprescindível.

— Obrigada — digo em voz alta, sentindo-me levemente tola por estar falando sozinha.

Começo a escalar a grande árvore e depois de algum tempo acho que nunca conseguirei chegar ao alto. Muitas vezes coloquei os pés em lugares inadequados e escorreguei, perguntando-me se eu morreria se caísse.

Então, quando olho para baixo, noto que já estou alto o suficiente.

Acomodo-me em um galho largo e grande o suficiente para a minha estatura, meio sentada e meio deitada. Devia ter trazido um travesseiro, reflito enquanto abraço meu tronco e procuro ficar confortável, tarefa bem difícil quando se está em uma árvore a alguns metros de altura.

Suspiro, ainda sentindo-me mal. Pensar no lado bom das coisas ajudou, porém os lados ruins são muito maiores. Ouço o pio de uma coruja em alguma árvore ao meu redor, e novamente o medo me atinge. Talvez eu devesse voltar para o acampamento... Ah, deixe de ser maricas, Emma! Repreendo-me, tentando ser o mais corajosa que posso. Eu estou sozinha agora, e devo me acostumar com a solidão, mesmo que ela não seja a melhor companhia.

Procuro minha arma e encontro-a no coldre em minha calça, junto com a faca. Desde a fazenda não ando mais sem elas, o que com certeza deixaria minha mãe decepcionada. Toda sua política de “Não de armas à Emma” parece totalmente idiota agora, mesmo para mim que não sei atirar tão bem assim. Respiro fundo, desejando não precisar carregá-las. Desejando ficar segura novamente.

Encosto a cabeça do tronco áspero, fechando os olhos. Porém o sono me falta, e os pensamentos continuam à mil. Ecos da discussão com Shane permanecem indo e vindo, e novamente obrigo-me a pensar em outra coisa.

Carl Grimes. Assusto-me com o quão claro seu nome soou em minha mente, junto com sua imagem, preenchendo meus pensamentos com seus olhos azuis. Carl era o único que topava o que eu sugeria. O meu único amigo.

Procuro em meus bolsos pelo isqueiro que ele me deu há tanto tempo, perguntando-me se ele também sente minha falta. Encaro a pequena chama bruxuleante enquanto lembro-me de todas as coisas que a gente fez. Minhas bochechas ardem ao pensar em nosso beijo. Pelo menos não sou mais BV.

Lori deve estar com a barriga proeminente agora, mas não é como se pudesse descobrir o sexo. Espero que ela e o meu irmão esteja bem — que todos estejam —, e que eu possa vê-lo um dia. Talvez possa contar a ele sobre o mundo antes de tudo isso, e de como os Bulldogs eram o melhor time de baseball.

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Acordo sobressaltada, com a repentina pancada seguida da dor. Percebo que cai da árvore ao olhar em volta desnorteada e só ver folhas secas, que não ajudaram muito no amortecimento da queda. Permaneço deitada no chão, pensando em como fui idiota por ter escolhido um galho tão alto. Pelo menos não morri.

Sinto algo gelado e úmido pousar em meu nariz, e abro os olhos para checar o que é. Os pequenos flocos brancos que flutuam no ar ao meu redor me causam estranheza, e fico surpresa ao notar que é neve.

Então ouço os sons, terríveis gemidos, em algum lugar atrás de mim. Fico congelada no lugar por alguns segundos antes de ouvi-los ainda mais perto e levantar-me rapidamente. Merda. Olho ao meu redor, procurando por uma direção a ser seguida, mas não reflito por muito tempo.

Início a corrida para a direção que espero ser à do acampamento, não olhando para trás para checar se a horda me viu. Correr é a melhor opção para sobreviventes como eu. Desvio das árvores com a mesma facilidade que tive ontem à noite, grata por ter dormido.

Porém me sinto fraca depois de um tempo de exercício, devido as horas sem alimento. A dor em meu estômago é insuportável quando começo a achar que corri muito mais que pensei ter feito ontem. Ou talvez eu esteja na direção errada.

— Oh — murmuro aliviada ao visualizar a abertura entre as folhagens, a mesma por qual passei ontem. Já perdi a horda há muito tempo, que não é tão rápida como uma menina subnutrida.

Saio na campina e sinto meu mundo rodar. Apoio as mãos nos joelhos enquanto tento respirar, olhando a grama verde que agora está coberta por alguns flocos de neve. Preciso urgentemente de comida.

Passo pela cerca com mais dificuldade dessa vez, enroscando meu casaco e provocando um rasgão nada agradável. Fiscalizo-o, chateada por ter estragado — minimamente — meu maravilhoso casaco dos Bulldogs.

— Onde você estava, porra? — Um Shane raivoso surge em minha frente. Ele parece mais alto que o normal, e tento não mostrar o quanto ele me amedronta.

— Fui dar uma volta — respondo evasiva, passando por ele e indo em direção à nossa barraca. Não olho para trás, mas sei que ele continua no mesmo lugar que antes, me fuzilando com o olhar.

Entro na barraca e encontro o Cheetos e um enlatado ao lado da garrafinha d’água. Pego os três, junto com minha mochila, e saio da barraca. Terei que arrumar um novo lugar para dormir, pelo menos por um tempo. Mamãe chamaria isso de atitude “adolescente irresponsável e rebelde”, algo que tenho feito muito ultimamente.

— Oi, Emm! Onde você estava? — ouço uma pequena voz falando quando passo em frente à barraca de Susan e Andrew. Molly está com um casaco rosa fluorescente, que a faz parecer uma Barbie ambulante.

— Ei, Molly — cumprimento, guardando a embalagem vazia do salgadinho. — Eu estava dando uma volta.

— Como o Percy? — questiona.

— É, como o Percy — confirmo. Como sempre ele não está no acampamento, mas não me preocupo com sua sobrevivência. Acho que Perseu é bom nesse negócio de ficar vivo.

— Quer brincar? — pergunta com os olhinhos brilhando de expectativa. — Queria brincar com a neve, mas acho que ela está fraca ainda... De qualquer forma, papai trouxe mais coisas dessa vez.

— Hum... Agora não é um bom momento, Molly — nego, sentindo-me mal por fazê-lo. Vejo seus ombros caírem, mas ela concorda.

— Mais tarde? — questiona, novamente animada. Sorrio e concordo, o que faz com que ela me lance um sorriso sem um dente.

Ando até o lado oposto da campina, sentando-me próxima a cerca. Coloco minhas coisas no chão e termino de comer meu enlatado, pensando em várias coisas.

O dia está nublado e frio, um daqueles que você acha que todas as coisas ruins podem acontecer. Legal. Noto que em algum momento da noite eles apagaram as tochas, ou talvez tenha sido o vento.

Tiro meu taco de baseball da mochila e fico golpeando o ar, como se estivesse rebatendo uma bola imaginária. Quando lembro que fazia isso com papai, paro e coloco o taco no chão.

É nesse momento que um grito de puro desespero ecoa pela campina.

How can I get used to?
How can I forget you?
Will I get used to
Sleeping alone?


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Notas finais do capítulo

Tradução:
Como posso me acostumar?
Como posso te esquecer?
Será que vou me acostumar a
Dormir sozinha?
(Sleeping Alone — Lykke Li)

E ai, o que acharam? Sugestões? De quem será esse grito?

Pergunta de hoje: Se vocês pudessem mudar uma característica em si mesmos, o que mudariam?
Minha resposta: Eu mudaria minha timidez/introversão, me irrita muito as vezes!

beijos