[Dia vinte de janeiro. Casa.]

Férias, finalmente. Zoe não podia ir à escola, embora implorasse para tal e Percy recebeu férias bem merecidas de seu trabalho. Estávamos nós quatro na sala depois do almoço. Zoe estava brincando no chão e Charlie estava deitado em meu colo, quase pegando no sono.

– Percy, você poderia pegar a mamadeira do Charlie pra mim? Acho que ele vai dormir.

– Claro amor.

– Papai, eu quero uma mamadeira também – Zoe soltou de repente.

Olhei para Percy e ele esperou uma resposta minha.

– Zoe, faz meses desde que você não bebe nada a mamadeira, filha. Tem certeza?

– Tenho mamãe.

Acenei para Percy e ele foi para a cozinha. Quando ele voltou com as duas mamadeiras na mão, entregou uma a Zoe e a outra para mim. Ele se sentou ao meu lado e eu me encostei em seu braço, pra dar a mamadeira a Charlie, mas, não fosse a rapidez de Percy (é, eu sei, estranho, mas quando se vive nesse mundo de pais por tanto tempo, você aprende umas coisas, segundo ele), Zoe teria pulado em cima de Charlie e de mim.

– Zoe, cuidado. Você quase acertou o Charlie – Percy disse pegando-a no colo.

– Desculpa papai – aquela carinha irresistível. – Eu queria deitar no seu colo, só isso.

Percy se esqueceu do quase acidente e deixou que ela ficasse ali. Quando Charlie terminou de mamar dormiu imediatamente. Cutuquei Percy e ele colocou Zoe sentada no sofá para poder pegar Charlie.

– Mamãe, onde o papai vai com o Charlie? – ela perguntou chegando mais perto de mim.

– Vai colocar ele no berço, querida.

– Eu quero ir também.

– Você quer ir dormir já, Zoe?

– Não, eu quero ir me deitar no berço.

– Mas Zoe, você já é uma mocinha, não pode mais se deitar no berço.

– Não sou não! – ela gritou e saiu correndo. – Eu ainda sou um bebê e vocês gostam mais do Charlie do que de mim.

– Zoe – eu disse tentando alcança-la, mas desisti quando ela foi para o lado de fora. Esperei Percy voltar do quarto de Charlie e contei a ele o que estava acontecendo.

– Mas por que ela fez isso?

– Como é que eu vou saber, Percy? Ela nunca demonstrou ciúmes de Charlie até hoje e nós nunca demos mais atenção pra ele do que pra ela – eu estava prestes a chorar e ele me abraçou.

– Eu vou lá buscar ela – ele deu um beijo em minha testa e seguiu pelo caminho que Zoe havia feito.

Esperei eles voltarem. Percy apareceu de mãos dadas com Zoe e colocou ela sentada ao meu lado, sentando-se do outro.

– Zoe. Por que você fez isso?

Silêncio.

– Zoe, você sabe que a mamãe e o papai nunca deixaríamos de gostar de você, certo?

Silêncio novamente.

– Zoe – segurei seu rostinho e fiz com que olhasse para mim – não há nada nesse mundo ou em outro qualquer que vai nos fazer deixar de amar você.

– Então por que vocês passam mais tempo com ele do que comigo? – haviam lágrimas em seus olhinhos cinzas e possivelmente nos meus também.

– Olha o tamanho dele, Zoe. Ele ainda é um bebezinho, meu amor. Você também já foi daquele tamanho e nós precisávamos passar o dia todo com você também.

Ela piscou e uma lágrima desceu por seu rostinho. Ela sentou no meu colo e abraçou me pescoço. Enterrei meu rosto em seus cachos loiros.

– Desculpa, mamãe – ouvi ela sussurrar.

– Tudo bem, Zoe – senti as mãos de Percy em meus ombros e levantei minha cabeça.

– Por que nós não vamos ao parque? – ele disse.

– Tipo, agora? – eu perguntei.

– É, ainda são três horas, Annie. Vamos, por favor?

– Sim, mamãe. Por favor?

Encarei os dois com os olhos estreitados.

– Vocês dois tem dez minutos para estarem prontos e dentro do carro sem fazer barulho pra não acordar o Charlie ou ele fica irritado. Vão.

Saíram os dois correndo em direção aos quartos. Ri e fui até o quarto de Charlie. Acendi as luzes e vi que ele estava acordado.

– É, meu amor. Parece que nós vamos ao parque – eu disse brincando com seus bracinhos levantados. Fui arrumar sua bolsa e depois o troquei. Sai de seu quarto e fui para a sala, onde encontrei Percy e Zoe, ambos prontos para sairmos.

– Então vamos?