Eu eles e Nós escrita por Lanny Missmuse


Capítulo 8
Capítulo 7 - Lana




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Convivendo com o Muscle eu pude perceber na prática, aquela frase que diz: “Nem tudo que parece é”. Eu tinha uma concepção totalmente diferente deles, claro que a culpa disso é minha, eles nunca fizeram nada para que eu formasse essa ideia preconcebida que tinha deles. Sabia que Dom era um patife, mas vê-lo em ação era bem diferente e confesso que me chocou um pouco. Nada comparado ao que eu senti quando pude ver que Chris não é o marido perfeito que eu achava que era.

Porém, dos três, quem mais me decepcionou foi Matt. Matt para mim era perfeito em muitos aspectos e sua excentricidade não era um defeito, eu encarava isso como uma qualidade superior, de alguém que era diferente de todos. Só que não era bem assim. Não foi só nessa semana que eu percebi que Matt era esse poço de prepotência e arrogância, mas foi nela que eu pude sentir na pele. Na noite em que ele acabou ficando no meu quarto, aconteceu nosso primeiro embate. Foi nesse dia que eu prometi a mim mesmo que eu não ficaria a mercê de Matthew Bennington.

– O que você diz é absurdo – ele falou depois de um tempo em silêncio, onde cada um seguia o rumo dos próprios pensamentos. Por um instante eu quase o esqueci – Ninguém muda radicalmente por ninguém. Você está querendo justificar seu egoísmo.

– Egoísmo? Acha que eu quero...

– Você veio por que quis, era um desejo seu, não por que quisesse mudar para o seu amado namorado! – ele riu.

– Sabe qual é o seu problema, é que você não é humilde o bastante para fazer algo por alguém e acha que todo mundo é assim. Pobre Natálie, se espera que você mude por ela. – falei com desdém – Acha impossível tamanho sacrifico? Acha demais eu insistir com Rodrigo? Matt eu o amo, isso já é motivo suficiente.

– Você não o ama de verdade. Só está com medo de ficar sozinha, só quer que ele esteja ali, sempre que você precisar... – ele tomou o vinho num só gole e me fitou – Não, você não o ama realmente.

Fiquei calada, furiosa, com uma vontade imensa de espalmar minha mão naquela cara linda e desdenhosa. Cerrei os punhos e cruzei os braços para não fazer nenhuma besteira, virando a cara para a janela.

– Não precisa ficar com raiva – vi pelo canto do olho ele encher nossas taças novamente – Você não quer admitir tudo bem, eu entendo... Não é fácil fazer isso, principalmente quando se tem um compromisso... Chegar e dizer: “Eu não amo mais você”, pensar que não vai encontrar ninguém como aquela pessoa... Eu sei, eu sei...

– Sim você sabe. – eu olhei para ele. Agora quem estava absorto era ele, como se estivesse pensando alto – Mas você a ama, não ama?

– Por que você acha que estou falando de Natalie?

– Ah desculpa, você tem um noivado perfeito. – dei de ombros pegando o vinho – Quem tem uma vida amorosa arruinada sou eu!

– Esqueça isso e vamos beber – ele ergueu a taça – Vamos falar de assuntos mais leves, por que os problemas dos outros sempre são mais fáceis do que os nossos.

– Verdade. Na verdade o aspecto moral que impele esse pensamento... Julgar o outro é sempre mais fácil que julgar a si mesmo. – o fitei enigmática e ele riu.

– Você quer discutir aspecto moral comigo? Tem certeza?

– Acha que eu não tenho argumentos em que me basear Bennington? - Eu vou lhe explicar por que...

Nem lembro direito como terminou essa noite, só sei que Matt dormiu enquanto eu estava no banheiro. Resolvi deixar ele por lá mesmo e fui dormir. Na noite do jogo da verdade estúpido, ele aparecera no meu quarto antes de eu ir dormir.

– Você viu meu cinto?

– Não, deve ter ficado no quarto do Dom – me sentei na cama, rindo.

Dominic expulsou todo mundo do quarto por que queria dormir, mas Leslie ficou lá então ele não ia propriamente dormir.

– Droga! Só vou poder pegar amanhã. – ele passou a mão nos cabelos, rindo também – Garota, nunca mais faça isso.

– Então pare de me atormentar! A culpa é sua, que fica me instigando. – ele sorriu – Por que você faz isso Matt! Você anda me decepcionando.

– Quero saber até onde você é tão diferente quanto parece. – ele me fitou sério desta vez.

– E o que isso acrescenta na sua vida? Eu por exemplo achava você bem mais maduro do que você é realmente! Cuidado para você não se decepcionar comigo como eu me decepcionei com você.

– Mas você já me decepcionou! – ele deu de ombros rindo – Você não é nada do que eu esperava! Só que isso ao invés de ser ruim, acabou sendo uma boa surpresa.

E saiu fechando a porta.

***

Um dia antes de eu ir embora, Morgan tomou coragem e me convidou para sair.

– O que você está fazendo garota? – ele entrou pelo quarto. Mais uma coisa que eu aprendi nessa semana é que portas trancadas é uma indelicadeza, ou significam que você está aprontando algo.

– Estou tentando montar meu celular – queria falar com alguém no Brasil. Falei rápido no Skype e descobri que as coisas estavam um pandemônio por lá. Isa me disse que Rodrigo estava furioso e que ela estava aflita por conta de toda a especulação. Helen tinha resolvido com ela o que fazer, mas ainda estava complicado na comunidade!

– Acho que você deveria comprar outro – ele sentou ao meu lado – Eu posso lhe emprestar o meu, mas só se prometer que vai aceitar almoçar comigo.

– Almoçar com você? – eu o olhei surpresa – Que bom, já estava conformada de ter que almoçar sozinha... – os meninos tinham ido para uma dos milhões de entrevistas. Hoje era dia de show e isso significava muito trabalho.

– Pois então, vamos? – ele se levantou

– Espera eu vestir algo decente. Descemos e para minha surpresa, não ficamos no restaurante do hotel. Morgan me levou para um lugar lindo, com uma vista fabulosa da marina onde ficavam os barcos.

– Só assim para ficar um pouco sozinho com você. – ele falou enquanto sentávamos

– Ah Morgan você está exagerando...

– Não estou não – ele riu enquanto abria o cardápio – Bem, pensei em convidar você para mais uma taça de vinho depois do joguinho sórdido – foi o jogo da verdade que fizemos outro dia, ele acabou ficando conhecido assim depois que Helen deu uma dura em Jack por conta do deslize dela com Chris (Jack e Chris ficaram essa noite e eu soube por ele mesmo inclusive que Helen os pegou dormindo pela manhã) – Mas você foi para o seu quarto e eu nem percebi.

– Acho que eu já estava com vinho suficiente na corrente sanguínea. – eu gargalhei e ele sorriu. O garçom veio trazer os aperitivos e anotou nosso pedido – Só assim para participar daquela estupidez!

– Você deixou Matt por um fio. – foi à vez de ele gargalhar – Até ele agora marca em cima de mim para não pisar na bola com você!

– Eu não consigo entender essa marcação toda, principalmente de Dom... O que ele acha? Que eu não posso me virar sozinha? Que você e Chris são tão perigosos assim? – eu o fitei por cima do copo – Acho que não.

Morgan deu de ombros rindo, eu olhei a paisagem e ficamos uns minutinhos em silêncio, bebericando nossos drinques.

– Sabe que de todos, talvez você seja o único que eu poderia ter alguma coisa – falei de repente.

– Sério?

– É. Você é o único aparentemente solteiro, desimpedido, fala português muito bem – tomei o resto da minha bebida – Se for tudo que aparenta ser... – deixei meu tom fluir carregado de segundas intenções (não custava nada tentar!).

– Oh nossa! – ele exclamou meio aturdido, minha gargalhada o desconcertou ainda mais

– Você é sempre tão direta assim?

– Eu procuro, acho tudo mais fácil se você procurar ser objetivo. As pessoas perdem um tempo precioso com preâmbulos e acho isso bobagem!

– Então você gosta de ir direto ao ponto? – ele me olhou, os olhos semicerrados

– De preferência...

– Então não preciso mais disfarçar minhas intenções. – ele sorriu cínico, mais ainda sim um belo sorriso. Eu corei e para disfarçar tomei minha bebida.

– Ah eu sabia, você não é tão durona assim Lana.

– Você e Chris são perversos demais, – falei embaraçada – não sei lidar com vocês.

– E eles? Nenhum dos três teria alguma chance só por que são comprometidos?

– Ah Morgan! Eles são meus amigos e uma garota não namora os melhores amigos! Que mulher tem alguma relação séria com um amigo tão próximo?

– Tem razão, as mulheres que nos veem como amigos dificilmente querem outra coisa além de amizade – ele se virou de olhos brilhantes para mim – Você me considera seu amigo Lana?

– Não. – respondi rápido demais, o fazendo ter outro acesso de riso

– É... É que eu e você não somos muito próximos e...

– Estou gostando dessa conversa! – ele bateu na mesa – E não se preocupe com a proximidade – ele abriu um largo sorriso – Vamos ficar bem próximos, você vai ver!

Sorri intimamente lisonjeada. Eu não ia me importar se ele investisse, afinal, meu namoro estava no limbo mesmo! É claro que não ia passar de galanteio por enquanto, já que eu ia embora! O almoço foi alegre e estava delicioso, Morgan é uma ótima companhia. Conversamos sobre várias coisas, ele me contou um pouco sobre ele e vice-versa. Antes de terminarmos, alguns amigos dele apareceram e ele me apresentou a todos. Tomamos um drinque com eles e depois fomos embora.

– Você já quer voltar para o hotel?

– Por mim... Você tem que voltar não é?

– Ainda não. – ele consultou o relógio – Tenho que estar na arena as quatro, quando o Muscle chegar lá... Posso muito bem ir direto daqui. – ele me pegou pela mão – Vem, quero te mostrar uma coisa.

Fomos para a marina, andamos um pouco e continuamos a conversar, Morgan me mostrou os barcos e procuramos um píer vazio para sentar sossegados. Foi uma tarde bem agradável e mesmo sem deixar de demonstrar seu interesse, Morgan foi um cavalheiro e só me deixou encantada. Bem diferente dos homens que eu conhecia e até da ideia que eu tinha dele antes. Tivemos que voltar para hotel e sair quase correndo para chegar a tempo na arena. Por pouco ele não chega atrasado.

– Até que enfim resolveu aparecer Morgan! – Helen falou assim que nos viu e não escondeu seu desagrado quando percebeu que eu fora o motivo do atraso.

– Onde você estava? – Matt perguntou de sobrancelha arqueada, olhando para mim

– Como o bom amigo que sou, fui levar Lana para almoçar e dar uma volta – ele piscou para mim, sorrindo.

– Não me lembro de ter pedido isso a você. – Dom o olhou pelos olhos semicerrados.

– Quem disse que precisava Dom? – Morgan largou minha mão, não sem antes deixar um beijo nela e saiu andando por que Helen acenava para ele freneticamente. Ele tinha feito isso só para se exibir! Dom e Matt me fitaram o primeiro com o canto da boca torto.

– Por que essas caras? Foi só um almoço e depois fomos para o píer...

– Ah um encontro! – Matt falou com ar de mofa.

– Não exagere Matt – eu comecei a rir, lembrando-me do que Morgan disse no restaurante – Ainda é cedo... Mas, vamos ver do que ele é capaz!

– Garota... Se pensar que Morgan é tão meigo e doce quanto aquele seu namoradinho...

– O que Matt? Sei que Morgan pode ser tão patife quanto Chris – dei de ombros – Eu também não sou tão ingênua assim e ainda tem o meu “namoradinho” – tentei usar o mesmo tom de desdém que percebi na voz dele – Mas não custa nada ver o que acontece.

– Dominic você está criando um monstro! – nós três rimos, Dom o mais divertido.

– Que nada, Lana só é uma aluna bem aplicada – ele passou o braço sobre os meus ombros, ainda rindo.

– Anda Muscle – Helen reapareceu – Vem comigo menina. E ela saiu me arrastando.

* * *

– Vou lhe dar o seu crachá para você circular por aqui pelo backstage...

– Ah Helen, de novo aquele sermão de dois dias?! – parei de andar e a fitei – Queria saber quando vai parar de e tratar como criança!

– Desculpe – ela suspirou – Mas você sabe que sua presença aqui me deixa tensa. Nunca sei o que esperar de Dom, mas ele mantém certa coerência nas suas infantilidades... Só que é tudo tão diferente esta semana! E eles parecem tão envolvidos, todos eles?! Prometi a mim mesma que aguentaria você só por uma semana e que tudo voltaria ao normal. Porém, já ouvi uma história de que você poderá passar julho com a gente. O mês inteiro! E no mês de aniversário de Matt, quando Natalie estiver lá, a maluca da Kate... Vai ser um pandemônio!

– Por quê? O que acha que vai acontecer? Natalie não vai se abalar por uma garota como eu!– remexi nos cabelos sem graça. Eu já ouvira mesmo Dom comentar por alto que em julho seria perfeito para eu ficar mais tempo – Olha Helen, sei que comigo aqui as coisas ficam mais complicadas, mas não quero dar trabalho e sempre procuro agir da melhor forma possível... Só que você não me dá nenhuma brecha! Fico sem saber como agir com você... Dom me disse que você sente ciúmes.

– Ciúmes?! Ele é idiota?! – ela bufou. Eu comecei a rir e ela revirou os olhos – Olha garota, não é nada contra você. Eu juro! É essa vida não é fácil e temo que isso acabe mal... – ela me fitou – Você sabe que a corda sempre quebra para o lado mais fraco, não sabe?

Ela me estendeu o crachá e foi embora, apontando para o fim do corredor para que eu seguisse. Não entendi onde ela queria chegar com aquela conversa, estava indo tudo muito bem e tinha certeza que Dominic nunca me permitiria vir se isso fosse me prejudicar, eu também não viria se pensasse assim.

Depois do show, o Muscle ainda ficou no backstage por algum tempo, falando com algumas pessoas e confraternizando. Morgan aproveitou que o Muscle estava ocupado e se ofereceu para me pajear, a gente bebericava um vinho enquanto olhava o movimento e ele fazia um comentário ou outro sobre os presentes.

– Morgan o show foi demais! – eu ainda não conseguia esquecer, estava extasiada – Como vou conseguir dormir para pegar o voo amanha?

– Você já vai amanhã?! – ele me olhou espantado – Como eu não sei disso?

– Você sabia que eu ia ficar só uma semana...

– Dom me disse que eram alguns dias... – ele balançou a cabeça, pesaroso – Quer dizer que eu só tenho esta noite? Não é justo...

Comecei a rir, Morgan era perseverante e mesmo que eu nunca lhe desse uma chance, ele não desistiria. Lógico que não deixaria de tentar, todo homem é assim.

– Ah Morgan, eu não vou sumir posso vir outras vezes... Tem julho...

– É muito tempo. E Você estará perdidamente apaixonada por Matt e ele por você... Eu não vou ter nenhuma chance!

– Ah tá! Do jeito que Matt me “ama” – revirei os olhos – Deve sim ser como você tá falando. Deixe de falar bobagens, você que com essa conversa mole vai ter todas as mulheres do velho continente aos seus pés em julho!

– A gente tem que ser bom em alguma coisa. – ele deu de ombros.

– Casalzinho curioso esse. – Chris comentou se aproximando.

– Não comece você e suas insinuações! Eu e Morgan estamos conversando na maior inocência aqui e...

– Da sua parte você quer dizer. – e ele e Morgan gargalharam.

– Eu desisto de vocês! – dei um soco no ombro de Chris de brincadeira. Ele como o brutamonte que era me pegou pela cintura e saiu me arrastando com ele, dizendo:

– Vamos aproveitar a noite.

Os planos para noite eram bem distintos entre eles e pela primeira vez naquela semana, eu vi o Muscle se separar. Chris e Morgan não gostaram da ideia de ficarem no quarto pelo resto da noite, então eles resolveram sair. Eu achei melhor ficar no hotel, já que no dia seguinte eu iria embora, não queria farrear, eu só queria curtir eles um pouquinho mais antes de voltar para casa. Dom entendeu e resolveu ficar comigo no hotel, ele pediu o jantar no quarto para ficarmos os dois.

– Obrigado por ficar comigo, eu sei que você queria sair...

– Não ia sair, só se você quisesse. – disse ele me servindo vinho – Faz tempo que eu queria ficar assim sozinho com você, para conversar, como a gente faz no Skype... Eu fui um anfitrião muito ruim, tenho que admitir, tinha planos diferentes para você, mas passei a maior parte do tempo farreando ou ocupado e deixei você a mercê de Matt. – ele deu aquele sorriso lindo que eu adorava – Me perdoe.

– Não foi tão ruim quanto pensa Dominic, eu adorei ter vindo e a semana foi ótima. – entortei a boca – Quer dizer, tirando o pequeno Matt e sua imaturidade... Foi muito bom ter vindo!

– Mesmo? – ele me fitou – Saiba que eu fiquei muito feliz quando decidiu vir, achava que não viria... Eu achei que você não iria arriscar tudo e se complicar como fez... Mas estou feliz mesmo por ter você aqui.

– A verdade é que eu vim mesmo por que quis. – mexi a comida distraidamente – Eu queria apenas um bom motivo para terminar com Rodrigo, mas sou covarde demais para fazer isso por mim mesma e agora arranjei uma desculpa perfeita por que ele não vai me perdoar... Eu pensei muito no que Matt disse naquela noite no meu quarto e fiquei furiosa por descobrir que ele estava certo. Eu só estava arrumando uma desculpa para terminar com Rodrigo. - Mas não pense que eu usei você... Eu queria mesmo te ver, eu já considero você meu amigão e pensei em Chris e Matt... Pena que Matt parece não ter gostado de ter me visto por aqui.

– Você é o que Matt busca há um tempo. – ele falou tomando seu vinho, sem me fitar, olhando o vazio. O tom dele ficou sério e isso me surpreendeu. – Alguém que ele já foi, mas deixou de ser por que achava que estava mudando para melhor, amadurecer nas palavras dele... Mas Matt se arrependeu só que é tarde para voltar atrás... Agora ele espalha esse cinismo e arrogância em volta dele para se proteger, como um cacto no deserto.

– Se proteger de quê? – eu não entendi o que ele quis dizer.

– De decepções. – ele fez um gesto vago, balançando a cabeça para espantar pensamentos eu acho – Mas ele parou de encher você! Deu uma boa lição nele naquele dia do jogo.

– Ah foi! – nós rimos como esquecer – Que fique claro que ele me provocou!

– E Matt tomou um pouco do seu próprio veneno... Sabia que vocês são muito parecidos? - QUÊ?!Eu parecida com ele?! - No fundo sim, a mesma pessoa e é por isso que ele provoca tanto você. É como se estivesse provocando a si mesmo

– Você está muito psicólogo para o meu gosto – eu o olhei de soslaio – Acho melhor você terminar de comer para bebermos mais uma garrafa de vinho, para que você volte ao normal. A risada dele encheu o quarto e eu o acompanhei.

Terminamos de jantar e fomos para a varanda conversar, como sempre fazemos há meses, só que agora olhando um na cara do outro. Bem tarde naquela noite (ou no dia seguinte se preferir), ele me perguntou:

– Você gostou mesmo de ter vindo?

– Ah Dom, claro que sim! Foi muito divertido... Tirando a parte de o meu inglês ser uma merda e a animosidade de Helen...

– Sim, Helen ainda é um ponto complicado – ele coçou a nuca, sorrindo – Ela vai ter que entender... Se você puder vir em julho, eu não quero atrapalhar mais sua faculdade.

– Jura Dom?

– Eu gostaria muito – eu o abracei, já bem à vontade com ele – Também gostei de ter você por perto – ele inclinou a cabeça e entortou o canto da boca – Tirando a parte de Morgan insistir em dar em cima de você e Chris não...

Comecei a rir da cara de desagrado dele. Dominic não aprovava muito o interesse de Morgan.

– Ah Você sabe que Morgan só faz isso de pirraça, ele não me leva a sério.

– Experimente dar uma chance. – gargalhei ante a possibilidade - Quem sabe no futuro? Agora que estou sem Rodrigo... – a tristeza na minha voz surpreendeu a mim mesma. A possibilidade de eu agora estar sozinha começava a ganhar forma e me deixava deprimida

– Lana, você ama muito ele? - Rodrigo é uma pessoal maravilhosa, Dom, em muitos aspectos – ele me fitou cético – Para você entender nossa relação, tem que entender como era tudo antes... Acho que nunca cheguei a contar a você...

– Podia começar agora.

– Você quer mesmo ouvir? – ele se recostou no sofá, se acomodando para me ouvir e com um gesto, me convidou a se aconchegar a ele. Parecia muito normal agora, como se nos conhecêssemos há milênios e não há alguns meses.

– Eu e Rodrigo nos conhecemos graças a vocês e foi num momento complicado da vida de ambos.

– Complicado.

– Isso. Rodrigo estava inconformado com muitas coisas. Com o pai, com a vida que ele levava, ele sempre viveu numa redoma de vidro sabe! Ele meio que surtou e fazia uma besteira atrás da outra... Bem, eu também andava infeliz, mas era por um motivo diferente... Meu pai tinha falecido há poucos meses e eu estava me recuperando do acidente... – ele afagou meu ombro, nós já tínhamos falado sobre isso por que Dom também perdeu o pai de uma forma trágica e isso meio que nos uniu – Meu pai era importante para mim, ele me amava e parecia ser o único que me entendia. Apesar de trabalhar muito e sempre estar envolvido nos sonhos de Leo... Estava me sentindo muito só... E minha vida amorosa era um verdadeiro desastre!

– Ah nossa, com 18 anos e com uma vida amorosa desastrosa! – ele gracejou - Mas era sim, só uns carinhas meio sem noção e que não pesam em nada além de sexo... Casos esporádicos e vazios... Foi nesse contexto que eu e Rodrigo nos conhecemos e nos apaixonamos, um ajudou o outro a curar as feridas. Eu também era muito estranha! Nem sei como ele se interessou em namorar comigo. - Por quê?!

– Ah Chris vive me enchendo dizendo que eu sou uma delícia e tal, mas se ele me visse antes, duvido se falaria essas coisas! – eu gargalhei, levantando para fitá-lo – Primeiro que eu parecia um anime!Roupinhas exóticas e cabelo roxo, maquiagem marcante e fazia coisas de menino como jogar videogame e RPG, amo anime e sou viciada em internet... Rodrigo sempre diz que eu parei nos 16 e nunca vou envelhecer!

– Tanto melhor!

– Se você me conhecesse há uns quatro anos atrás duvido que fosse me convidar para algum lugar!

– Ia sim, principalmente se a visse de cabelo roxo – ele fez um gesto de desdém – Lana, meus amigos são meus amigos antes mesmo de qualquer coisa. Veja Matt por exemplo. Eu gosto dele desde sempre, até quando ele usava aquele cabelo amarelo-canário ridículo.

– Não se esqueça de que você já usou um cabelo vermelho tão ridículo quanto. Nós rimos, um não podia falar do outro. - Eu gosto de vocês, mesmo você usando calças Skinner horrorosas e Matt aqueles casacos bizarros!

– É isso aí – e ele riu ainda mais

* * *

No dia seguinte Dom foi me deixar no portão de embarque, o Muscle iria para a França e eu voltaria para o Brasil. Despedir-me foi estranho e descobri que estava já com muita saudade (talvez se passasse meses até u vê-los novamente!). Dominic arrancou de mim a promessa de que eu tentaria vir me juntar a eles em Roma no mês de julho.

– Boa sorte por lá, espero que a confusão não esteja tão grande. – ele me abraçou forte – Espero que tenha valido a pena.

– Valeu sim, pode ter certeza. Adeus Dom! – eu o apertei forte também - Até logo é melhor – Dom me olhou sorrindo e aquele sorriso era a melhor despedida que ele poderia me dar – Você vai nos encontrar em Roma, tenho certeza.

– Então tá.

Foi assim que nos despedimos.


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