Não foi tão ruim quanto eu imaginava. Quando cheguei em casa encontrei mamãe sentada na sala assistindo seu programa matinal favorito. Ela me olhou e disse:

– Ah então você voltou – depois virou a cara e continuou assistindo o programa. Talvez mamãe saiba que a indiferença dela machuca mais do que qualquer outra coisa. Eu sabia que algo assim podia acontecer, então, caladinha, subi com a minha mala para o quarto. A hora que ela se decidisse conversar saberia onde me encontrar.

Quando ela finalmente apareceu no quarto, já estava praticamente quase tudo arrumado, eu só deixara em cima da cama o casaco que ganhei de Chris no poker, o urso que tinha trazido para Miranda e as duas fotos gigantes que eu iria moldurar para colocar no quarto. Na escala no Rio, no aeroporto mesmo, eu resolvi revelar duas das inúmeras fotos que tinha tirado em Sidney. Era uma com Dom na praia e a outra eu tirara com todos eles horas antes do ultimo show e estavam lindas!

– Onde vai colocar essas fotos? – ouvi a voz dela e me virei, ela estava com uma das fotos na mão.

– Aqui no meu quarto – levantei fui até a parede – Mandei fazer as molduras já, ficam prontas amanhã!

– Humm sei... – ela largou a foto – Você tem tanto dinheiro assim para gastar, deve ter se esbaldado bastante.

– É o dinheiro que eu venho economizando há tempos, posso gastar como bem quiser – eu a fitei – Por que ultimamente nossas conversas se resumem a dinheiro?

– Ele anda escasso, você sabe. Mas mesmo assim você gosta de esbanjar viajando por aí e ainda por cima mentindo.

– Você não se importa realmente mãe e eu não menti para você. Disse que ia viajar e viajei...

– Com um bando de estranhos! – ela me olhou – Onde estava com a cabeça quando decidiu ir? Podia ter acontecido alguma coisa! Um acidente ou coisa assim e eu nem saberia onde você estava!

– Nada ia acontecer mãe! – agora eu estava suficientemente segura para dizer isso – Eu sabia o que estava fazendo! – ela não precisava saber que antes eu não sabia direito.

– Você nunca fez uma coisa dessas, por que assim de repente?!

– Por que eu precisava mãe, você não entende...

– Não entendo mesmo – ela suspirou, me olhando. Sua expressão abrandou – Eu nunca entendo você Lana.

– Já estou acostumada a isso, não se preocupe. - Rodrigo está furioso... Tanta confusão... Valeu a pena Lana?

– Valeu. Muito! – não consegui reprimir o sorriso imenso que aflorou assim que me lembrei dos meninos.

– Que seja então... – ela se virou para ir embora – Você está com fome? - Sim - Desça rápido, fiz bolo para o café. Quero saber dessa história direito ouviu dona Lana?! Tim tim por tim tim! – ela falou já da escada.

Larguei o que estava fazendo e fui correndo atrás dela. Enquanto eu me entupia de bolo farofa e café quentinho eu contava a ela tudo (ou quase) sobre a viagem. Quando Leo chegou da faculdade com Miranda, que tinha ido buscar na casa do pai, eu mostrava o resto das fotos da viagem para mamãe.

–Não acredito que a senhora vai deixar por menos assim?! – ela apontou para mim – Ela deveria levar uma surra, você devia expulsá-la de casa!
– Por quê? Papai não expulsou você de casa quando resolveu ficar grávida de Raul! – falei desdenhosa – Sua cobra, você fez todo o inferno com as suas fofocas! O que você quer afinal?! Eu não tenho culpa se sua vida é uma merda! A culpa é toda sua!

– Já chega! – mamãe falou mais alto que nós enquanto nos olhávamos furiosas. Mas minha raiva se desvaneceu quando Miranda saiu correndo dos seus braços para os meus.

– Tia, tia! – ela gritava alegremente – Você voltou! Eu a peguei no colo e dei muitos beijos na sua bochecha rosada enquanto ela ria e me apertava com seus bracinhos de criança. Miranda era a única coisa de Leona que eu gostava.

– Meu amor que saudades de você! Vem ver o que a tia Lana trouxe. – me virei para sair da sala, mas disse antes – Ainda não acabei com você, pensa que vai se safar tão fácil?

– Eu fiz o que achei certo! Acha que pode enganar todo mundo? Você não é tão certinha assim Lana – ouvi-a responder venenosa.

Eu ainda tinha muita coisa para resolver antes de me engalfinhar com Leo, como falar com o Rodrigo por exemplo. Por isso, enquanto Miranda brincava com o ursinho, eu liguei para ele:

– Eu preciso falar com você – disse eu assim que ele atendeu. - Ah finalmente você voltou das suas férias! – a duplicidade de sentido era bem perceptível na palavra férias.

– Estou disposta a aguentar toda a sua ironia para conversarmos. Não gosto de assuntos inacabados!

– Quem disse que está inacabado? Você já escolheu sua vida Lana e acha que vou perdoá-la?

– Então é assim? Está tudo acabado entre nós?

– Acho que não preciso responder.

Mesmo que eu esperasse isso, não pude conter o nó na garganta ao ouvir essas palavras nem a tristeza tomar conta de mim. As lágrimas vieram à tona, bobas como a dona que chora por um namoro que sabia que tinha acabado.

* * *

Fui à faculdade, tinha que retomar a rotina, mas agora eu sabia que tudo ia ser diferente. Estabeleci novas metas para mim e iria começar a trabalhar nelas no dia seguinte. Eu ia sair da Conte, arrumar um estágio para ter tempo livre para me dedicar ao mestrado em História da arte. Ia continuar a faculdade de contabilidade, ela não era de todo ruim e podia me proporcionar um emprego bom depois que eu concluísse.

A partir de agora eu precisava fazer minhas próprias escolhas, baseadas na minha vontade, não na vontade dos outros. Mal cheguei ao bloco e Ângela perguntou esbaforida:

– Por que não me disse que ia para Sidney?! – apontou o dedo, acusadora.

– Por que tipo... Você não estava falando comigo? – eu a fitei com cara de paisagem. Ela murchou e pegou minha mão.

– A gente devia conversar, eu queria te pedir desculpas... – Ang baixou os olhos, mas de repente me olhou furiosa – Por que você não veio falar comigo?! Insistia, eu acabaria caindo na real! – ela me levou para o banco mais próximo e sussurrou

– Quase tive um troço quando vi suas fotos em Sidney! Foi de repente, Isabel me manda toda contente e eu abri sem estar preparada...

– Estaria se tivesse acreditado em mim – falei. Ela baixou os olhos, magoada por meu tom de voz ser tão acusador.

– Eu sou uma anta mesmo, no fundo eu sempre soube que era verdade. – ela olhou para os sapatos – Poxa Lana, se põe no meu lugar! Eu amo o Muscle há mais tempo que você e tipo, o Dom desde que ele usava cabelo azul... Como acha que eu fiquei ao descobrir que, de repente, minha melhor amiga, também é a melhor amiga dele?! E pensando que você pode ficar tão inebriada pela presença dele e esquecer seus velhos amigos? Como é que eu vou ficar...

– Ang sua boba! Você está se comportando como aqueles “Emos” idiotas! – eu a abracei – Eu gosto tanto de você, sabe que sua amizade é importante para mim. Você sabe é mais minha irmã que a própria Leona, por que esse ciúme bobo? - É verdade! – nós rimos Ang às vezes era muito boba. Eu não estava trocando de amigos, só estava ganhando novos.

– E aí, como está tudo por aqui? - Bem, você passou quase ilesa por aqui, sabe muito bem como a maioria desses bastardos nunca ouviu falar do Muscle e provavelmente ninguém sabe da sua semana com eles além de mim e do Rodrigo... Por falar nele, como estão as coisas?

– Ele terminou comigo... – Ang mordeu o lábio, com a expressão condoída

– Ele não entendeu...

– Ah Lana – e foi à vez dela me abraçar, ter Ang de volta era tudo que eu precisava para passar essa fase difícil – Que pena amiga, eu sinto muito.

– Eu também...

– Olha, vamos nos divertir amanhã, para afogar as mágoas! – ela abriu um sorriso imenso – Sexta tem Bar do Porto e isso significa uma noitada e tanto com muito reggae e rock e quem sabe um novo gatinho?! – eu comecei a rir outra vez – Se bem que você viu Dom em toda a sua magnitude e agora deve estar mais exigente do que nunca!

– Ah Ang, por favor!

– Me conta da viagem, vai! – ela pediu quicando. Contei o que deu para contar, pensei melhor e não quis destruir os sonhos dela com relação a Dominic principalmente. O que faria minha pobre amiga se ela descobrisse que seu querido príncipe era o maior patife do mundo?! À noite (de madrugada para ser exata) eu falei com Dominic pelo webcam.

– Então quer dizer que entre mortos e feridos, salvaram-se todos. – ele comentou quando eu terminei de contar o que acontecera na minha chegada.

– Nem todos cara pálida! Acabei de falar que terminei com Rodrigo...

– Você fica melhor sem ele. – e ele deu de ombros. Estreitei os olhos e ele nem pareceu se importa!

– E como está tudo por aí?

– Conte a ela sobre Kate! – ouvi a voz sonora de Chris - Onde ele está que não vem me ver?! – fechei a cara, fingido estar com raiva.

– Ele está se exercitando. Quer saber eu estava pensando em intensificar a academia, quero ver você me chamar de magrelo quando vir em julho e depois que eu seguir uma nova rotina de exercícios!

– Não desconverse Dom! – e Chris gritou outra vez

– O que ele quer que você diga? – perguntei e Dom entortou a boca - Kate teve um ataque de ciúmes por sua causa, mas não foi só ela! A mulher dragão também quis explicações do pequeno Matt.

– Ih, então o tempo fechou por aí?! – eu quase podia imaginar o ataque histérico de Kate

– Ah foi o terror garota – Chris apareceu, todo suado e sem blusa. Bem, ele não precisava me torturar desse jeito – Imagina como será julho!

– Dom eu ainda acho essa história complicada, acho que não deveria ir...

– Você quer perder a festa de Matt? Estou pensando numa festa a fantasia, como nos velhos tempos, com mascaras e tudo!

– Jura Dom! Poxa seria demais!

– E você acha que agora o senhor certinho Bennington participaria? – Chris arqueou a sobrancelha – Com a senhora psicóloga Natalie? Você tá brincando!

– Bom problema dele! – Dom cruzou os braços – Não estrague meus planos, não vindo garota!
– E se Kate fizer um escândalo?

– Nada do que ele já tivesse acostumado Lana. – e Chris deu de ombros