Quatro meses. Esse é o tempo que havia se passado desde o incidente na pousada. Esse era o tempo que havia passado desde que Booth e Brennan haviam se declarado pela primeira vez, esse era o tempo que havia se passado até agora.

Tudo estava relativamente bem. O casal agora já tinha quase um ano juntos, o que chega a ser um pouco inacreditável, se tratando da enorme diferença de gêneros entre eles. Mas problemas podem ser tratados, e foi isso o que aconteceu.

Desde o incidente, Brennan não havia mais recebido ameaças, ou quaisquer coisas que indicassem que seu perseguidor/serial killer ainda estava à ativa, mas isso não significava que ele (a) havia parado. O silêncio apenas fez Booth redobrar seu cuidado por ela, que depois de muita conversa, e algumas brigas conseguiu a permissão para lhe designar uma segurança extra, provida do FBI.

Agora Seeley estava a caminho do Bureau com Sweets, que não parava de tagarelar sobre alguma baboseira de psicólogos. Booth parou o carro quando avistou uma farmácia, e avisou Sweets.

–Já volto.

Assim ele entrou na farmácia enquanto Sweets o observava.

Estava mais para uma analise. O psicólogo estava impressionado que o relacionamento de seu colega de trabalho havia durado tanto, dez meses, afinal isso não é para qualquer um. Ele evitava fazer perguntas relacionadas, porém algumas vezes era inevitável.

Booth entrou no carro, e jogou uma sacola no banco de trás do carro.

–Esta tudo bem? Você esta doente? – Sweets perguntou.

–Não, estou bem.

Sweets observou a reação dele, e prosseguiu com o questionamento.

–Alguém esta doente então? Nunca vi você parar na farmácia em todas as nossas saídas.

Booth o olhou de lado, ainda focado na direção do carro.

–Todo mundo esta bem Sweets, relaxe.

–Então você não se incomodaria se eu visse?

Booth bufou, exasperado.

–Vá em frente, senhor psicólogo e faça sua analise sobre o que vai encontrar dentro da sacola.

Sweets observou-o por um momento antes de prosseguir. Estava pressentindo que iria se meter em algo vergonhoso, mas sua curiosidade nata o dominou.

Ao pegar a sacola, e olhar o conteúdo ficou sem graça.

Provavelmente estava vermelho.

Booth então começou a gargalhar dentro do carro.

–Bom, pelo que posso ver você e a Doutora Brennan tem uma vida sexual bem ativa devido à quantidade de camisinhas que vêm nesse pacote.

–Sweets nós não vamos falar da minha vida sexual, okay? Isso não é legal. – Booth disse.

–Mas você sabe que vai ter que falar isso com o outro psicólogo, certo? – Sweets disse – O FBI precisa saber de tudo que envolve vocês dois juntos, e isso envolve a parceira no trabalho, e em outras situações também.

Booth suspirou concordando. Até então já havia conseguido burlar essa avaliação do FBI por algumas semanas, mas quando seu chefe chegou a seu escritório com a data da consulta, ali ele soube, não poderia mais fugir.

A verdade era que ele tinha medo. Um certo receio de que as baboseiras psicológicas do analista confundissem Brennan. Era claro que ela estava bem segura em relação a eles desde a declaração, mas eram pequenos passos, nada apressado. Era assim que eles seguiam, e era assim que deveria ser. E ele acabaria com qualquer um que desestabilizasse o ritmo deles.

– Na verdade, eles querem nós três, Cam insistiu. – Angela disse.

Brennan fez sua típica cara de confusa. Science Monthly nunca havia homenageado três mulheres de uma só vez.

Tudo começou quando Cam recebeu um convite para ser congratulada pelos seus benefícios de seu trabalho para a ciência, dias atrás. A princípio Brennan havia ficado decepcionada. Ela sempre era a homenageada, e isso a incomodou. Mas depois de uma conversa com Booth, ela havia aceitado a ideia, e até compreendido a decisão da revista. Ela não era a única mulher marcante da ciência, e as pessoas deveriam saber disso. Ela ia se desculpar com Cam, até receber a noticia que ás três agora foram convidadas.

– Mas eu nunca vi eles homenagearem três mulheres antes – Disse Brennan confusa.

Cam trocou um olhar divertido com Angela, e disse.

–Bem esse ano não serão três - começou – Mas sim doze.

–Doze? – Brennan perguntou surpresa.

Angela colocou uma caixa retangular na mesa de Brennan, e Cam abriu explicando.

–Eles nos mandaram isso para uma sessão de fotos – Disse expondo os biquines na caixa – Farão um calendário esse ano. Doze mulheres marcantes da ciência mostrando muita pele.

–Oh – Brennan disse – Isso é ótimo. Nós temos o dever de mostrar a comunidade cientifica que o Jeffersonian é uma instituição onde beleza é tão abundante quanto inteligência. Isso é uma ótima ideia. Um calendário que quebra padrões expostos desde a antiguidade.

– Certo – Disse Ângela sorrindo.

–Bom à sessão será amanhã ás dez da manhã. – Informou Cam.

–Eu pago pra ver a reação do Paul e Booth ao saberem desse ensaio – disse Angela – Booth principalmente.

–Eu não vejo o porquê deles se incomodarem. – Disse Brennan confusa.

–Sweetie – disse Angela – Quando Booth souber que a garota dele vai ficar de biquíni para uma revista que provavelmente vai ser comprada por todos os marmanjos do FBI, ele não vai gostar.

– Não entendo. Por mais que eles vejam, o único que têm acesso a essa garota, ainda é o Booth. Isso é irracional.

Angla apenas sorriu, junto com Cam, enquanto as três mulheres discutiam para ver com quem ficava cada biquíni.

Já era noite quando Booth e Brennan puderam se ver. O dia de ambos fora ocupado, e acabou com os planos dos dois de se verem, o que só foi possível agora.

Eles estavam no apartamento de Brennan, a TV estava ligada a um canal qualquer. Booth estava deitado no sofá, e Brennan estava aconchegada nele. Seus dedos roçavam na pele sedosa nos braços dela, enquanto seus lábios se perdiam na maciez de seu pescoço.

–Sabe ... – Ele disse beijando a bochecha dela – Senti muita sua falta hoje.

Brennan sorriu, e virou o rosto para alcançar os lábios dele, no qual se perdeu assim que seus lábios se tocaram. Ela passou a mão pelo rosto dele, trazendo-o mais para si, enquanto suas línguas se enroscavam aprofundando o beijo.

Brennan suspirou, e quebrou o beijo.

Beijar Booth era ótimo.

–Também senti sua falta hoje – ela disse e voltou a beijá-lo.

Booth trocou de posição, de forma que ele agora estava por cima dela. Deixou uma trilha de beijos no pescoço dela, que terminava nos belos e fartos seios expostos pela regata branca. Sem esperar, ele tirou a regata dela, surpreendendo Brennan, pela rapidez.

– Belo movimento cowboy – Ela sorriu, levantando-se – Mas você não vai conseguir nada além de uns bons beijos hoje.

Booth sentou-se desapontado.

–Sério gorgeous? O que eu fiz? – Ele perguntou com cara de manhoso, voltando a atacar o pescoço dela.

–Booth – Ela o chamou sem sucesso, não podia ceder. Mas era tão bom. – Booth.

Ela o chamou mais alto, e juntou todas as suas forças pra afastar os lábios dele do pescoço dela.

–Coisas de mulher. – Disse séria.

–Okay – Ele disse conformado.

–Ah, vou fazer um ensaio para uma revista de biquíni – Ela disse naturalmente, enquanto vestia sua regata.

Booth ficou branco. Achou que tinha escutado errado. Sua Bones de biquíni em uma revista?Céus.

– WHAT? – Ele perguntou abismado.

–Eu, Angela, Cam e mais nove mulheres vamos fazer um ensaio para a Science Monthly de biquíni. Melhor falar agora, antes que eu esqueça.

–Como você pode se esquecer de algo assim Bones, eu sou seu namorado – Ele disse.

Brennan suspirou. Homens sempre tão complicados.

–Booth é só um ensaio, não é como se todos os homens do país fossem me ver nua.

–Seminua, o que é quase a mesma coisa. Você não pode tirar uma foto vestida como toda nerd normal? Qual o problema disso? – Ele disse irritado.

–Nenhum, mas a revista esta passando por problemas financeiros, e eu não vejo o porquê de não ajudar, além do que, ajuda a quebrar esse tabu machista de vocês homens.

–Machismo agora? Sério? Eles querem vender o seu corpo pra se salvar do vermelho. Você acha isso certo?

Brennan suspirou. Aquela conversa, que estava mais para discussão, estava dando nos nervos.

–Primeiro: A revista se chama Science Monthly não Playboy. Segundo: Eles querem mostrar que cientistas podem ser muito mais que um cérebro brilhante. E terceiro: Quem você pensa que é meu pai?

–Eu sou seu namorado, ou pelo menos achava que era.

–Você é meu namorado, não meu dono. Nós compartilhamos nossas vidas, você não a comanda. – Ela disse alto, irritada – Você não manda em mim Booth, nem se nós estivéssemos casados isso iria acontecer.

Eles se observaram por algum tempo antes de Booth pegar a jaqueta no braço do sofá, e rumar à porta.

–Okay, Doutora – Ele falou ríspido – Bom ensaio.

Ela o olhou surpresa.

–O que? Você simplesmente vai embora? Ignorar seu surto de machista? – Brennan disse irônica. Ela nunca usava ironia. Isso estava realmente estranho.

–Faça o que quiser da sua vida Bones, afinal eu tenho alguma importância nela?

Dizendo isso ele bateu a porta, e a deixou só no apartamento.

Quem diria que uma simples conversa acabaria na mais complexa das brigas.

Todas as cientistas estavam no camarim se aprontando para o ensaio. Após decidirem seus biquínis, uma equipe de estética foi mandada a elas.

Algumas das mulheres estavam decidindo entre algum penteado, enquanto Brennan estava ao canto, encostada e não parava de encarar o celular.

–Esperando o grandão ligar?

Brennan encarou Angela, e desconversou. Não queria falar sobre aquilo. Era tão difícil.

–Não... Eu aa- só estou – Ela começou a gaguejar.

–Brennan, hey – Angela disse – É normal sweetie. Até parece que vocês nunca tiveram uma briga.

–O que eu vou falar vai soar extremamente irracional - Brennan informou – mas... Dessa vez parece que algo mudou entre nós, como se fosse à abertura de uma rachadura que só vai ficando cada vez maior,e eu não sei o que fazer pra parar isso.

–Talvez conversar com ele – Angela sugeriu – Não que eu ache que ele esteja certo, o que ele não está, mas esta claro que vocês precisam conversar. Booth se sente inseguro, ainda mais ele que já te perdeu várias vezes pra terceiros. Você precisa explicar isso. Acabar com essa insegurança.

Brennan apenas meneou a cabeça positivamente, e sorriu. Apertou o nó do roupão e foi em busca de sua bolsa que estava em outra sala, fora do camarim. Depois de procurar por alguns minutos, finalmente achou a bolsa, e guardou seu celular. O ensaio começava em quinze minutos, e ela não queria se distrair.

Tomou um susto, levando a mão ao coração quando se virou e deparou-se com um Booth aparentemente mais calmo a porta da sala. Eles se encararam por um longo tempo, antes de ele falar.

–Hey.

Ela apenas o observou e não respondeu. Ele encarou o silêncio como um incentivo a continuar.

–Acho que deveríamos conversar – sugeriu.

Brennan suspirou. Não estava com cabeça para briga, ainda mais agora.

–Olha Booth, eu não quero brigar, então se voc—

–Ei, espera – ele disse levantando as mãos em rendição – Me desculpe okay? Eu não quero brigar. Eu só ... Apenas, tente me perdoar, por favor? Entender o meu lado.

–Entender o seu lado? – Ela questionou confusa.

–Sim – ele disse firme – Olhe Bones, nós demoramos tempos, muito tempo antes de eu te convencer a entrar em um relacionamento, que isso valia a pena. Eu tive que aguentar te ver nos braços de outros homens, mas não eu por anos, e agora que eu tenho você, às vezes parece tudo tão surreal... Você é perfeita. Tem um rosto lindo, um corpo de matar, e os olhos da cor azul mais bonita que eu já vi em toda a minha vida. Um homem que não olhar pra você, ou é gay ou será, você é perfeita entende, e isso às vezes me assusta sabe, o que eu fiz pra merecer uma mulher como você? Sinceramente, eu não sei, mas passarei o resto da minha vida tentando ser um homem que te mereça.

–Booth eu

Ele a interrompeu.

–Não, me deixa terminar – disse – Ontem depois da nossa briga, depois de muito pensar cheguei à conclusão de que você esta certa. Não sou seu dono, sou teu namorado. Eu tenho que apoiar você, não mandar. Então eu acho sim que você deve fazer o ensaio, você é linda, e o mundo merece saber disso. Apesar de não ser da forma que eu desejaria, quero que você saiba que eu estarei aqui, pra te apoiar, não importa o que aconteça. Afinal, antes de namorados nós éramos amigos, certo? E pra que servem os amigos?

Brennan sorriu feliz. Esse era o homem por quem ela havia se apaixonado. Esse era o homem por quem era havia resolvido arriscar tudo. Esse era o homem que ela amava.

Ela o abraçou forte, e ele retribuiu o carinho. Era bom estar assim de novo. Sentiu falta do corpo dela, da presença dela. De estar bem com ela.

–Thanks Booth – Ela agradeceu. Estava feliz por ele entender, e aceitar sua decisão.

–Não precisa agradecer baby.

Ela sorriu diante do apelido carinhoso.

–Quero que saiba que eu pudesse ter todos os homens desse país, só tem um que eu quero. E ele esta bem a minha frente.

Ele sorriu com a simples, porém sincera declaração dela. Adorava esses momentos.

–Eu amo você – Ela disse – Mais do que eu posso exemplificar.

–É recíproco, baby, pode acreditar.

Dizendo isso, ele capturou os lábios dela em um beijo apaixonado. Eles estavam de volta.

Dia seguinte ...

Booth caminhava pelos corredores do FBI, ansioso. Todos estavam comentando sobre as belas cientistas no FBI, as revistas estavam em todo lugar.

Cada vez que alguém lançava um olhar ansioso a ele, Booth fazia de tudo para relembrar a conversa de ontem com Brennan.

“Quero que saiba que eu pudesse ter todos os homens desse país, só tem um que eu quero. E ele esta bem a minha frente”.

Quando estava a caminho do elevador, ouviu um burburinho, e alguém arriscou um comentário em alto tom.

“Meus parabéns pela sua garota hein, Booth”.

Ele apenas forçou um sorriso, e seguiu em frente. Antes de entrar no elevador, pegou uma revista. Uma hora ele teria que ver aquilo, que seja logo.

A revista trazia uma matéria individual com cada cientista.

Booth leu atentamente, quando o elevador chegou em seu destino. Ele folheou a revista a procura das paginas, enquanto caminhava pelos corredores.

Ele parou de andar mediante a imagem que viu estampada na revista.

Todas as nove cientistas, trajadas em seus biquínis, e Cam, Ângela e Bones.

O diferencial delas, além da beleza extra, era a vestimenta. Elas não estavam de biquíni, sua Bones não estava de biquíni. Ao invés disso, Cam estava vestida em uma regata com o símbolo da policia, enquanto Angela estampava o símbolo da Academia de Artes, e finalmente Brennan.

A morena sorria carismática, usando uma regata com o símbolo do FBI. Booth sorriu diante da imagem. Ela estava deslumbrante.

Sabia que ela havia feito aquilo pra ele, não como uma prova de submissão, mas sim como uma prova de que após uma conversa civilizada, boas soluções realmente podem sair para ambos os lados.

Ele caminhou feliz até seu escritório, esbanjando seu sorriso para todos os lados. Mas isso não durou muito, pois havia uma visita inesperada à sua espera.

Tim Sullivan estava lá.