Acordei aquela manhã com uma estranha sensação de alivio. Formatura. O ano havia acabado eu iria para a faculdade, iria agir como uma pessoa normal novamente.

Fazia 5 meses que Edward e Jéssica estavam juntos. Cinco torturantes meses. Cinco meses de sonhos e pesadelos. Eu parei de sair com meus amigos, a não ser que fosse a locais públicos, praia, shopping, festas eu ia, lugares onde necessariamente eu não precisava estar sempre perto deles. Mas, quando íamos só nós, eu sempre, sempre arranjava uma desculpa.

Sim nos tornamos amigos, como eu havia pedido, sempre conversávamos, principalmente música, cinema e livros, tínhamos gostos semelhantes. As coisas aparentavam normalidade, mas cada vez que eu via eles se beijando, o jeito de ela falar com ele, todos os gestos de namorados, o meu coração sangrava mais um pouco.

Por isso o alivio com o fim do ano, eu iria para Dartmouth  junto com a Ângela, ambas para iríamos cursar literatura, a Jéssica para a UCLA cursar Educação física, Eric para Brown em NY cursar biologia, e Edward para Havard cursar direito. E a distância, eu sabia, ou imaginava assim, iria dar um fim aquele sentimento.

Levantei animada. A entrega dos diplomas aconteceria às 10 da manhã, depois haveria uma solenidade com a direção da escola, depois eu iria almoçar com meus pais e a noite uma festa na casa do Tayler.

Cheguei à escola com meus pais e fui logo à busca de meus amigos, abracei Jéssica e Ângela assim que as encontrei. O clima era esse entre todos, abraços, lágrimas, promessas de não perder o contato. Várias pessoas que haviam brigado estavam fazendo as pazes em meio à lágrimas.

Após uma cerimônia....entediante, fui almoçar com meus pais em um restaurante da cidade,. A Renée, minha mãe, estava com os olhos vermelhos, havia passado toda cerimônia chorando, e depois chorou ainda mais por lembrar que eu estaria indo para a faculdade em uma semana, o que fez os olhos do meu pai também encherem de lágrimas. Apesar de ela dizer o tempo todo que estava feliz por mim, que eu deveria estar aliviada de ir embora, daquele ano finalmente ter chegado ao fim. Meu pai não entendia nada, mas eu sabia do que ela estava falando. Ela sabia o motivo de eu estar aliviada em partir.

Em uma tarde de sábado o pessoal foi para minha casa assistir filmes, e ela estava em casa, e nossa...ela tem um sexto sentido afiadíssimo, não sei em que momento ela notou, se eu olhei para Edward de forma diferente, se foi um dos muitos sorrisos cúmplices que trocamos, nós tínhamos isso, sem muitas palavras conseguíamos nos entender, principalmente se era para zoar da cara de alguém, isso era uma coisa que eu sabia que apenas eu tinha com ele. O que eu lembro é que depois que eles foram embora, minha mãe me abraçou de uma forma tão amorosa e reconfortante aí eu soube, naquele momento, ela havia visto dentro do meu coração. Eu nunca perguntei.

Passei o resto da tarde organizando minhas coisas em caixas, queria deixar tudo pronto com antecedência, principalmente meus livros. Apenas quando começou a anoitecer e eu fui me aprontar para a festa. Vesti-me de forma simples, uma blusinha de alça azul, calça jeans preta, uma sandália de salto e minha jaqueta de couro preta. Peguei o carro de minha mãe emprestado, iríamos comprar o meu na próxima semana, meu pai se recusava a me deixar ir para a faculdade sem um carro. Quando cheguei à festa já estava lotada, e a única decoração era uma grande faixa que dizia: “PARABÉNS TURMA DE 2004”.

Assim que fui entrando na casa pessoas vinham me abraçar, pessoas com quem eu havia convivido e outra com as quais eu nunca havia falado. Bad reputation da Joan Jett  estourava nos alto falantes.

Encontrei com a Ângela e o Eric após alguns minutos, eles estavam perto do balcão conversando com outras pessoas, abracei a todos. Eu era uma das poucas que não iria passar as férias na cidade, tinha antecipado minha ida.

- Como você está se sentindo? Angie perguntou bem perto de mim.

- Aliviada. Falei sorrindo.

- eu imaginei. Ela sorriu também. Entregou-me uma cerveja  - À Dartmouth.

- À Dartmouth.

Brindamos, bebemos e sorrimos uma para outra. Quando senti alguém me abraçar por trás.

-  Bellinha, eu vou sentir tanto sua falta. A voz de uma Jéssica chorosa falava ao meu ouvido. Eu virei e a abracei. Edward estava logo atrás dela, com um sorriso torto no rosto.

- eu também vou sentir sua falta.

- você promete ligar, sempre, no meu celular, ou no de Edward se eu não atender.

 - eu prometo. Falei apesar de ter quase certeza de que não cumpriria essa promessa.

- não sei por que você vai tão cedo. Podia passar as férias conosco. Ainda há tanto tempo.

- eu quero me acostumar logo com o ambiente, com a cidade. Quero estar conhecendo tudo antes das aulas começarem.

-  os gatinhos da cidade também. Falou rindo pra mim. Ao seu lado Edward tomou um gole de cerveja. Eu apenas ri.

Ficamos vários minutos conversando. Falando das expectativas para a faculdade, relembrando momentos divertidos do ano. Eu me sentei no balcão fincando ao lado de Angela. E evitando os olhares de Edward, ele estava me olhando estranho, uma expressão triste, achei que era a despedida.

Depois de um tempo Jéssica foi falar com Lauren e a turma dela, amigas que ela tinha ocasionalmente. E Ângela e Eric estavam dançando. Era minha deixa.

- Vou ao banheiro. Disse e sai de perto dele. Subi para ao primeiro andar em busca de um banheiro desocupado. Perguntei ao Tayler, ele disse que era melhor que eu usasse o do andar de cima, o de baixo estava meio inutilizável depois que algumas pessoas vomitaram lá.

Achei um no fim do corredor, quando eu entrei  e fechei a porta, no segundo seguinte ela se abriu, apenas tive tempo de virar e ver olhos verdes se aproximando e lábios colados aos meus. Eu encarei aqueles olhos verdes por alguns segundos antes de deixar minha mente vazia e aproveitar o momento. Um beijo terno, um beijo com amor e paixão, um arrepio passou por todo seu corpo quando suas línguas se tocaram, alguns segundos e ele se afastou. Estavam as duas respirações pesadas. Eu mantive meus olhos fechados, tentando acalmar meu coração. As mãos deles ainda seguravam meu rosto. Eu abei os olhos e encarei aqueles olhos verdes, estavam escuros, um verde tão profundo que quase podia ser confundido com preto.

- Avec Moi. Ele sussurrou ainda segurando meu rosto.

- o quê?

- sempre comigo. E agora eu também terei se gosto. Eu te levarei sempre comigo, cada expressão sua, cada gesto, cada segundo que passei ao seu lado vão estar comigo. É a única coisa que eu pretendo guardar deste ano.

- Edward...eu não estou entendendo.

- eu vou terminar com a Jéssica amanhã, e amanhã mesmo eu estou indo embora. Não sei quando voltarei a te ver novamente, se isso vai acontecer um dia.

- mas...

- eu suportei até agora para estar ao seu lado. Você sempre estará no meu coração, em minha memória gravada como uma tatuagem. Avec Moi.

Ele repetiu e saiu do banheiro.

Eu fiquei lá paralisada, senti as lágrimas descerem pelo meu rosto, eu não as parei, eu não conseguia controlar nenhum músculo do meu corpo.

‘’ele estava indo embora. Eu nunca mais vou vê-lo’’ era a única coisa que passava na minha mente. Fui tirada do abismo em que estava por batidas fortes na porta. Foi como se estivesse acordando, dei dois passos a frente e abri a porta para encontrar uma Ângela aflita me olhando.

- você está bem?Bella? O Edward ele...

Não deixei- a terminar – Eu estou indo pra casa – falei enxugando as lágrimas e descendo sem prestar atenção em ninguém, escutei alguém me chamando, mas não olhei, bati em algumas pessoas, mas não parei para me desculpar. Naquele momento, eu queria apenas o escuro do meu quarto e o aconchego da minha cama.

Naquela noite eu me joguei no penhasco da dor e do sofrimento ao qual eu evitava há meses,  chorei por todos esses cincos meses, chorei por que eu sabia que era minha culpa eu não tê-lo, chorei por saber que ele estava indo para me evitar, chorei por que as palavras dele também ficariam gravadas em mim, eu sempre o levaria comigo, sempre teria as lembranças daquele ano como as melhore e as piores, o rosto dele, as expressões, a voz, o sorriso e agora gosto ficariam gravados em mim para sempre. Chorei por que sabia aquele sentimento não era um sentimento adolescente, quando eu o beijei eu soube, aquilo sempre estaria comigo. E a culpa de não ter vivido esse momento sempre seria minha.