Eu poderia contar agora como foi aquele dia, que além daquela sensação idiota em meus dedos, eu tive que me controlar para não ficar encarando-o, e a sensação de ser observada, além de olhadas furtivas da Angie para mim.

Um mês, já fazia um mês que Edward tinha se tornado nosso amigo, e as coisas estavam meio complicadas.

1 - Jéssica fazia de tudo pra ficar com ele.

2 – ele se recusava. Ou melhor, ele sempre inventava uma desculpa pra não acontecer.

3 – a Angie dizia que era por minha causa.

4 – eu não acreditava, apesar de ter pegado várias vezes ele me olhando furtivamente. Mas eu não faria isso com ela. Sabe, eu sou uma pessoa tímida, alem disso um tanto quanto estranha, o que tornava minha vida difícil quando o assunto eram amizades.  Eu só tinha a elas, minhas amigas, que me aceitavam da forma que eu era. Eu não a faria sofrer dessa forma.

Então eu fugia dele, eu evitava qualquer tipo de momento que nós podíamos ficar a sós, talvez fosse infantilidade minha, eu nem tinha certeza se ele estava interessado em mim mas continuava agindo dessa forma. Minha principal fonte era a Angie, ela dizia que tinha certeza que o verdadeiro interesse dele era em mim e não na Jéssica, o Eric não contribuía em nada, ele dizia que entre os homens existia honra e não ficaria comentando os sentimentos de um amigo. Besteira masculina.

Nós estávamos indo bem, ela não notava nada, ou ao menos fingia não notar. E Angie sempre ficava do meu lado.

Era um sábado, tínhamos ido assistir filmes na casa do Eric, quando o confronto que eu tentava adiar por um mês aconteceu. Eu havia ido ao banheiro e quando voltei encontrei-o só na sala de TV. Eu travei no mesmo segundo.

- cadê o pessoal?

Ele estava distraído olhando a capa de um DVD.

- a mãe da Jéssica ligou, precisava dela pra sei lá o quê e o Eric e a Angie foram levar ela.

- ah. Eu suspirei e fui me sentar na poltrona. Ele estava no chão.

Ficamos em silencio alguns segundos.

- você já sabe o que vai querer assistir?

- pra mim qualquer coisa está bom.

Ele deu um leve sorriso.

- o que foi?

- nada. Ele respondeu, mas ainda sorria.

- o quê? Perguntei e sorri também. Era algo que eu não conseguia evitar, se ele sorria, eu fazia o mesmo.

- você. Sempre achando tudo bom. O bem-estar das outras pessoas em primeiro lugar.

- não. É só....- eu não sabia o que falar, ele estava certo.

- eu estou certo. Sabe por que eu sei?

- hum? Perguntei de um jeito meio presunçoso.

- por que você me evita.

- não entendi.

- lógico que entendeu. Sabia que quando você me pega te olhando e desvia o olhar você fica vermelha. Suas bochechas. É tão... Encantador.

Eu não sabia o que dizer. A minha vontade era abraçá-lo e beijá-lo ali mesmo, sem me preocupar com mais nada. Mas minha parte racional gritava “VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO!!” então eu passei as mãos pelos cabelos e desviei do olhar dele novamente.

- isso é sinal de quando você fica nervosa. Passar as mãos nos cabelos dessa forma. Você faz muito isso quando eu estou por perto. O Eric me confirmou isso.

Ele falou e se aproximou ficando de joelhos na minha frente. E dessa vez eu não conseguia tirar meus olhos dos dele.

- me explica, por que eu não entendo? Eu sinto que você me quer, do mesmo jeito que eu te quero, eu não estou enganado quanto a isso. Mas você evita, por quê?

Eu dei um leve sorriso  – Para alguém que percebeu tantas coisas sobre mim você é bastante estúpido. -  eu respirei profundamente, trazendo o perfume dele junto com o ar – ela está apaixonada por você, eu não vou fazer isso com minha amiga.

- ela acha que estar, mas ela apenas está encantada. A Jéssica não sabe o que é estar apaixonada.

Era estranho como essa conversa soou natural, sem explicações, como se sempre tivéssemos nos entendido.

- e você sabe? Nós somos tão jovens para sabermos o que é isso. Também não importa. Ela te quer e isso já é o suficiente pra mim – eu toquei o rosto dele, e senti um estranho prazer quando ele fechou os olhos ao me toque – então nós podemos, por favor, sermos amigos?

Ele respirou, duas vezes.

- você está fazendo uma gentileza enorme, para alguém que não merece tanto.

Ele disse e se afastou, sentou-se novamente no chão, eu ainda tentava fazer meu coração voltar a bater normalmente, o silêncio perdurava entre nós dois. E então ele voltou a falar.

 - sua respiração falha, seu coração bate de forma irregular que parece que pode sair de dentro do seu peito, ver seu sorriso faz do dia mais iluminado, saber que vai encontrá-la ou encontrá-lo faz você acordar de bom humor,  não cansar de ouvir a voz, estar feliz apenas pelo fato de ela ou ele estar feliz. Seus sonhos serem povoados com um único tema... você. – ele falou essa ultima palavra olhando direto nos meu olhos – Isso é estar apaixonado. Você quer ver sua amiga feliz, pois eu a farei feliz só não sei por quanto tempo irei suportar, serei apenas seu amigo a partir de hoje, eu só espero que você consiga conviver com isso.

Eu não conseguia encontrar as palavras no meu cérebro, eu estava perdida na escuridão, ele voltou os olhos dele para o DVD novamente. Eu estava fazendo a coisa certa, eu estava protegendo uma amiga, eu era leal a ela, eram as frases que me passavam na cabeça e que evitaram  me fazer correr para os braços dele e mandar tudo pro inferno. A realidade voltou pra mim com a voz de Eric na casa.

- e então já escolheram o filme?

 - eu prefiro esse aqui, a Bella ainda não se decidiu.

Eu o olhei, ele estava com uma mascara de paz e tranqüilidade no rosto, não parecia o cara com quem eu estava conversando há dois minutos.

- Bella você tá bem?

Angie perguntou perto de mim.

- nossa, você tá branca igual um fantasma. Eric falou.

Eu resolvi esquecer também, amigos, eu tenho apenas 16 anos, lembro de ter pensado, isso vai passar, empurrei a dor com toda força que eu conseguia naquele momento, para o fundo do meu peito, coloquei minha mascara também e sorri pra eles.

- acho que é fome, eu não almocei hoje, você saíram e nem amendoim deixaram aqui. 

Eric riu e Edward riu com ele.

- vou buscar algo pra gente comer.  Disse indo pra cozinha.

- eu te ajudo. Edward o acompanhou.

Angie estava silenciosa e olhando desconfiada pra mim.

- o quê? Perguntei  indiferente

- vocês conversaram não foi?

- nós somos amigos Angie nada além disso.

- não vai me contar?

- não há nada a dizer. Vamos curtir o filme, tenha certeza que as coisas iram melhorar de agora em diante.

Ela não falou nada, era uma das coisas que eu mais gostava nela, ela não insistia, sabia que se eu tivesse que falar eu falaria.

 O restante do dia foi calmo e eu me permiti esquecer aquela conversa. À noite eu cheguei em casa e fui dormir tentando me convencer de que eu estava certa, aquela era a medida correta de minha parte, que era apenas um sentimento adolescente e que não valia a pena arriscar 3 anos de amizade por algo tão novo. Não deu muito certo, principalmente três dias depois, quando a Jéssica chegou toda animada na escola dizendo que ele a havia convidado para sair. 

E então ele entrou no nosso ciclo de amizade definitivamente, e então ele se fazia cada vez mais presente, nós agora éramos um grupo de cinco, e então Jéssica ficava cada vez mais encantada e então minha sanidade começou a ruir. Os sonhos começaram, às vezes eram pesadelos, me mostrando sempre ele soltando a minha mão e indo segurar a de Jéssica, os outros eram pior, Sabe... ter sonhos eróticos com o namorado da sua amiga não é nada bom pra sua sanidade mental. Aí eu comecei a dormir cada vez mais tarde, para evitar os sonhos,  assim eu ia dormir apenas quando estivesse realmente cansada. Noites sem sonhos.