O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 114
Redemoinho


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, pessoal! Como vão?


Segue o capítulo da semana! Boa leitura a todos :)



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Sasuke brandiu a espada negra e testou alguns movimentos com ela. A nova Kusanagi era uma katana muito bem balanceada, e logo agradou Sasuke. A composição em aço negro, com escamas de serpente na empunhadura, ia muito além da estética — aquela espada havia sido cuidadosamente projetada para um único fim —, o que a tornava uma arma bem peculiar. Kusanagi emanava medo, como se tivesse vida própria.

Foram pouquíssimas as vezes que Sasuke Uchiha sentiu um poder parecido com aquele, mas conhecia-o bastante bem.

— Como Orochimaru conseguiu replicar o Meiton? — perguntou Sasuke, embainhando a nova espada à cintura.

Sentada em sua mesa, Tsunade ainda olhava cautelosamente para o presente que Orochimaru dera a Sasuke. Ao longo da vida, aprendera que desconfiar do Sannin das Cobras era a atitude mais sensata a se tomar. Por que agora seria diferente?

— Iruzu Ibe — respondeu a Quinta Hokage, intrigada.

— O antigo líder dos Oukami? — Sasuke se lembrou do Nukenin responsável pela morte de Juugo e o sequestro de Karin, há dois anos; e logo se recordou que Iruzu também usava uma arma especial: a espada negra Kokujin, feita do elemento Escuridão. — Ele não era um subordinado dos Yuurei?

— Um que, no final, queria se rebelar — relembrou Tsunade. — Aparentemente, ele e Orochimaru fizeram contato e, em troca de informações privilegiadas, Iruzu cedeu ao Orochimaru parte do poder que tinha recebido de Iori Kuroshini.

Sasuke estreitou os olhos.

— Que tipo de informação?

— Como derrotar o Naruto, por exemplo. — Tsunade deu de ombros. — O que, no fim das contas, não funcionou; Iruzu Ibe está morto e os Oukami desfeitos. Só Orochimaru saiu ganhando.

“Conte-me uma novidade”, pensou ele. Embora não se importasse com o velho tutor, Sasuke achou minimamente curioso o fato de, após tanto tempo, somente agora Orochimaru estar se mexendo — ele, que esteve oculto durante anos; nem Sasuke nem Kabuto sabiam de seu paradeiro. Então, por que agora?

Involuntariamente, a mão pousou sobre o cabo da katana. O Meiton da nova Kusanagi era sintético, não exatamente como o da espada Kokujin, ou ainda do Yami no Fuuin dos Yuurei, mas se aproximava bastante do original. Não demorou para que Sasuke Uchiha entendesse: “ele quer que eu mate Iori Kuroshini; e quem melhor para fazer isso do que eu?”

— Sasuke — Tsunade o chamou cautelosa; os olhos da Hokage, fixos sobre ele. — A Sakura precisa de você, e você é alguém muito importante para nós. Não vá fazer nenhuma loucura.

Sasuke deu um sorriso petulante.

— Quem você pensa que eu sou, Hokage? O Naruto?

Desta vez, foi Tsunade quem sorriu.

— Vejo que a insolência está em dia. — Ela desviou o olhar para o lado esquerdo de Sasuke. — Como está o braço?

— Tão pronto quanto eu — Sasuke se limitou a dizer.

Enquanto ainda falavam, ouviu-se breves batidas na porta; e após a autorização de Tsunade, Shikamaru Nara entrou no escritório da Hokage. Apesar da típica feição preguiçosa, havia um ar de contentamento incomum no rosto de Shikamaru que todos logo perceberam.

— Trago novidades — anunciou ao entrar. — Naruto venceu Taka Kazekiri e chegou à Vila da Chuva.

Aquilo, sem dúvida, era uma boa notícia.

— Como ele está, Shikamaru?! — adiantou-se a Hokage, quase não contendo o entusiasmo. — Ele está bem?

Shikamaru assentiu com um sorriso.

— Bem melhor do que nas últimas vezes que nos falamos — respondeu. — Essa vitória, como esperado, fez muito bem a ele.

Tsunade fechou os olhos e suspirou, só então percebendo o quão esteve tensa naqueles últimos dias. Foi como se um peso enorme, de repente, saísse de suas costas. Aquela vitória não fez bem apenas para Naruto Uzumaki; fez a ela também. Aliviada, Tsunade relaxou o corpo na cadeira. De fato, aquela notícia foi providencial; veio na hora certa.

— E como ele foi? — quis saber Tsunade. — Ele deve ter contado.

— De acordo com o próprio Naruto, “não foi nem competitivo.” — Shikamaru coçou a cabeça. — E disse que não precisávamos nos preocupar.

Sasuke deu um sorriso discreto.

— E o inimigo? — indagou, ainda, a Hokage. — Está morto?

— Imobilizado e inconsciente — relatou Shikamaru. — Naruto falou que iriam interrogá-lo hoje, mais tarde; e que Fukasaku-sama está cuidando de tudo.

— Naruto se mostrou hesitante? — Sasuke se virou para Shikamaru. — Ele sabe o que precisa ser feito.

Não só os olhos de Sasuke, mas também os de Tsunade — e até mesmo Shizune, que escutava tudo em silêncio — estavam sobre Shikamaru Nara. Já era de conhecimento de todo o Corpo Shinobi da Folha que, em sua carreira ninja, não havia nenhuma morte no registro de Naruto Uzumaki; e sendo todos ali já ninjas experientes, poderiam dizer com propriedade que a primeira morte era sempre a mais difícil de executar, até mesmo para alguém frio como Sasuke Uchiha.

Shikamaru tão somente deu de ombros.

— Não acho que o Naruto vai hesitar contra esse cara — disse o líder dos Nara. — Ele sabe o que está em jogo e, acima de tudo, foi esse mesmo Yuurei que atacou a Hinata e a princesa Shion. O Naruto tem bons motivos para não ter pena dele.

Em silêncio, Sasuke concordou com a análise de Shikamaru. Lembrou-se da vez que o amigo havia invadido o Distrito Hyuuga e afrontado o próprio Hiashi apenas para poder ver a namorada; e, dias depois, de ele haver confessado a Sasuke que Hinata era mais importante que o sonho de se tornar Hokage.

Quando se tratava de Hinata Hyuuga, Naruto poderia ser completamente outro, Sasuke concluiu. “Aquele Yuurei já está morto de qualquer jeito.”

— E agora, Shikamaru-kun? — perguntou Shizune, com a porquinha Tonton nos braços. — Qual o próximo passo?

Percebendo o olhar questionador da Hokage sobre si, Shikamaru encolheu os ombros e fez sua típica careta de cansaço.

— Esperamos de novo — respondeu o estrategista da Folha. — Com a vitória do Naruto no País da Chuva, é a vez dos Yuurei. Enquanto isso, estou focando na segunda parte do plano.

Tsunade desviou brevemente o olhar para o ícone do aplicativo de videoconferência na tela de seu computador. Ela não dissera qualquer coisa desde sua última aparição, durante a reunião virtual dos Cinco Kages — e agora que estava de posse do notebook da Mizukage, poderiam falar-lhe diretamente, e vice-versa. Por enquanto, Tsunade seguia as orientações de Shikamaru e, sem pressa, iria aguardá-la fazer contato.

— A propósito, Sai já enviou algum relatório? Ele partiu ainda ontem, logo após a cerimônia. — perguntou Sasuke.

— Ele checou a Prisão do Fogo, Sasuke-kun — informou Shizune. — Apesar de algumas objeções, o diretor seguiu nossa orientação e executou os prisioneiros de Rank A e S. Agora, o Sai-kun está averiguando outros locais dentro do País do Fogo. Ainda assim, é difícil já que, fora da vila, Tsunade-sama não tem jurisdição e...

— Fica tudo a critério do Senhor Feudal — completou Sasuke. — E quanto aos criminosos de outros países?

— Trataremos disso no Encontro — respondeu Tsunade. — Sei o que está pensando, Sasuke, mas não podemos enviar um assassino para invadir prisões de outros Estados Soberanos. Temos leis internacionais que regem o equilíbrio do Sistema Ninja da Aliança, principalmente no período pós-guerra.

— Isso sem mencionar os países menores — complementou Shikamaru. — Seria problemático a Folha organizar um Encontro das Nações Ninja e, paralelamente, enviar assassinos para vilas pequenas atrás de candidatos a Yuurei. Muitas lideranças não veriam isso com bons olhos.

Sasuke não se deu por convencido, mas não queria argumentar assuntos diplomáticos. Política nunca foi seu ponto forte. Entretanto, ainda havia algo que precisava ser esclarecido.

— Nenhum outro Kage foi atacado de lá para cá — observou ele; e virou-se outra vez para Shikamaru: — O que espera da possível resposta dos Yuurei? Se a lógica se mantiver, ainda resta um membro deles a ser avaliado.

— Eu ainda não descartei essa possibilidade — disse Shikamaru, em resposta. — Mas como disse na nossa reunião: Kan entra em desvantagem contra o Raikage, contra o Gaara e contra a Tsunade-sama, os três Kages restantes. Se os Yuurei vão realmente promovê-lo, talvez seja mais sensato fazê-lo de outra forma. Do contrário, é altamente provável que mais um Yuurei seja derrotado em um curto espaço de tempo, e a repercussão disso seria catastrófica para eles, pois só uniria ainda mais o mundo ninja. Creio que, agora, o foco deles será outro.

Tsunade concordou.

— Eles devem focar no Naruto, principalmente a vice-líder — deduziu a Hokage. — Afinal, ele esteve sumido e, de repente, venceu um membro deles.

— Não adianta... — Shikamaru deu de ombros. — Ainda que Taka Kazekiri não esteja no topo da hierarquia deles, foi o homem responsável pela morte do Terceiro Tsuchikage; e quando Naruto o derrotou, ele enviou uma mensagem. Derrotar um Yuurei já é algo chamativo por si só.

 

 

 

                                                                            ***

 

 

Naquela manhã chuvosa, Konan saiu cedinho para comprar adubo para as flores de seu jardim. Ainda não estava em seu primeiro mês de governo e, no entanto, via a mudança nos rostos das pessoas que encontrava na rua. O povo enxergava nela algo que há muito não experimentava: esperança. Não mais um governo indiferente, como o de Kira Toraiyama; tampouco o regime ultracontrolador de Nagato (enquanto Pain); ou a liderança autocentrada de Hanzou da Salamandra. E, apesar da chuva torrencial conjurada por Konan — e todos na vila sabiam do que se tratava —, eles confiavam no Anjo para protegê-los.

Aliás, toda a simbologia por trás da figura do Anjo de Deus, aos poucos, dava lugar a uma percepção bem mais humanizada a respeito da líder do País da Chuva. Sempre que possível, Konan fazia questão de ir às ruas da vila. Não mais ficava reclusa na torre mais alta da Vila da Chuva, como um ser mítico inatingível; antes, saía para conversar com as pessoas — principalmente com Momo e Hadame —, o que também contribuía para o crescimento de sua popularidade em meio ao povo da Chuva. Não demorou muito e Konan já era uma governante muito querida.

Com a sacola cheia de pacotes de adubo em uma mão e o guarda-chuva na outra, ela já estava no caminho de volta à Torre da Chuva quando algo peculiar lhe chamou a atenção: uma loja que nunca tinha visto ali antes — ou em qualquer outro lugar da Vila da Chuva. Não era um espaço lá muito grande e as cores sóbrias da parte externa transmitiam um ar elegante ao estabelecimento.

Desconfiada, Konan decidiu checar o local. Porém, antes que pusesse a mão na maçaneta, a porta se abriu por dentro e um rosto calorosamente familiar saiu da lojinha: Naruto Uzumaki. O condiscípulo usava as mesmas roupas, idênticas às de Jiraiya, com as quais ela o havia encontrado no lago Neko. As írises de Naruto estavam amarelas, com as pupilas em formato transversal e uma pigmentação alaranjada contornando seus olhos — o Modo Sennin dos Sapos.

— O que faz aqui? E o que é isso? — perguntou Konan, indicando a loja.

— Ah, esse é o Mise Gama (literalmente, “Sapo Loja”) — explicou Naruto, fazendo um selo manual. A loja inteira encolheu em questão de poucos segundos até tomar a forma de um sapo malhado um pouco menor que mão de Naruto. — Eu o tenho usado como uma área isolada para praticar a minha nova técnica.

Após outro selo de mão feito por Naruto, o então pequenino sapo desapareceu.

— Entendo. — Konan franziu a testa. — E presumo que esteja no Modo Sennin pelo mesmo motivo.

Naruto fez que sim.

— Não posso usar o meu próprio chakra, senão poderei ser detectado — respondeu ele.

— Bom... — Konan deu uma olhada rápida para a forte chuva que caía sobre a vila. — Eu fiz isso justamente para não termos que nos preocupar com técnicas sensoriais do inimigo.

Naruto demorou a entender.

— Espera, está dizendo que...

— Isso mesmo — Konan se adiantou. — Pode usar seu próprio chakra aqui, Naruto. Enquanto estiver dentro do País da Chuva, os Yuurei não podem senti-lo.

— Achei que essa chuva fosse usada para detectar invasores, não para bloquear outras técnicas sensoriais.

— Ela cumpre múltiplos papéis. É um jutsu de percepção que Pain costumava usar. Com ele, Nagato conseguia não só sentir cada pessoa dentro da vila, como também individualizar eventuais invasores, além de atrapalhar qualquer habilidade sensorial inimiga, uma vez que esta chuva está ligada aos sentidos do invocador do jutsu — explicou Konan. — Não se preocupe. Você está seguro aqui comigo, Naruto.

Naruto Uzumaki permaneceu calado por mais alguns minutos, enquanto a chuva despencava sobre seu corpo descoberto. Ele não sabia dizer o que mais o impressionava: já não precisar perder tempo acumulando energia natural sempre que quisesse usar chakra, a fim de revisar a técnica na qual esteve trabalhando arduamente; aquele jutsu sensorial estar cobrindo o território de um país inteiro, e a chuva pesada caindo sem parar desde a noite anterior; ou o fato de Konan ser uma Kunoichi tão incrível.

— Ah — foi tudo o que Naruto Uzumaki conseguiu dizer.

A expressão embasbacada de Naruto fez Konan abafar uma risada, ainda mais considerando que ele estava ali, atônito debaixo da chuva. Cordialmente, ela se achegou a ele, compartilhando a cobertura do guarda-chuva. Naruto demorou a entender que precisava dar o braço a Konan, de modo que os dois pudessem estar protegidos.

Os dois pareciam um casal de braços dados — o que, para Naruto Uzumaki, soava extremamente embaraçoso. Além de amar Hinata Hyuuga, Konan era sua amiga, uma mulher bem mais madura e a governante suprema da Chuva. “O que as pessoas vão pensar?”, pensou ele, corando de vergonha.

Para Konan, contudo, ter Naruto Uzumaki ao seu lado significava, além da boa companhia, um braço forte para carregar a pesada sacola de adubo, o que Naruto acabou fazendo de qualquer jeito.

— Vamos voltar para a torre — convidou ela. — Hoje, o dia será longo.

 

 

 

Depois de trocar de roupas e tomar café da manhã, Naruto, junto com Fukasaku, reencontrou Konan parada junto à porta de entrada do sexto andar da torre — onde Nagato havia instalado seu laboratório e Kira Toraiyama, anos mais tarde, transformado tudo em uma câmara de tortura e interrogatório.

Era lá que Taka Kazekiri estava sendo mantido preso.

— Eu estava pensando no que você me falou ontem, durante o jantar — disse Naruto, enquanto cruzava o corredor ao lado de Konan. — Sobre a Mira ter se juntado aos Yuurei depois. Sempre achei que Iori e ela tivessem criado a organização juntos, já que os dois são líder e vice-líder. Pensei que eles fossem como você e o Nagato, quando estavam na Akatsuki.

— Mira não fundou o grupo ao lado de Iori Kuroshini, mas ela recriou os Yuurei — explicou Konan.

— Recriou os Yuurei? — questionou Fukasaku.

Konan assentiu com um uma expressão sombria no rosto.

— Antes de Mira Uzumaki, Iori tinha outra parceira, que o ajudou a recrutar subordinados, os primeiros Yuurei. Mas quando Mira se juntou ao grupo, por ser uma excelente ninja sensorial, ela mediu o nível de força dos membros da organização e os julgou inaptos para lutarem em nome de Iori Kuroshini. Então, autorizada por ele, Mira os enfrentou e matou todos os antigos integrantes, com exceção da vice-líder — disse Konan. —  Foi assim que Mira assumiu o lugar ao lado de Iori; e fez uso das habilidades sensitivas para encontrar subordinados mais fortes, que são os Yuurei atuais.

— Por que a primeira vice-líder foi poupada? — perguntou Naruto.

— Porque aquela mulher é outro monstro e, sozinha, pode derrotar uma Besta de Cauda — respondeu Konan. — Foi ela a responsável pelas mortes do Quarto Mizukage, Yagura, o Jinchuuriki do Sanbi (Três Caudas); e do líder da antiga Vila Oculta da Estrela, o homem que se intitulava Hoshikage. Por esses e outros feitos, ela ainda é um membro ativo dos Yuurei.

Naruto se lembrou imediatamente da invasão Yuurei e de ainda reencontrá-los dentro da vila. Naquela ocasião, enquanto seu Eu original confrontava Kioto Hyuuga e as outras duas Yuurei ali presentes — Hana Sakegari e Mira Uzumaki —, Naruto havia dispersado clones para atacar todos os outros inimigos ao mesmo tempo. Além do líder e de Kan, Naruto também encontrara outra mulher entre os Yuurei, uma usuária de Fuuton, que quase havia matado Karin.

A mulher de cabelo castanho e sorriso cruel fora a mesma que, meses antes, junto com Taka Kazekiri, tinha ido aos portões da Folha entregar a cabeça de Shion como presente de aniversário para Naruto. “A primeira vice-líder dos Yuurei era aquela mulher?”, Naruto cerrou os punhos ao relembrar do rosto assassino de Suki.

— Lembram-se da ilha Hagi, que compunha um arquipélago próximo ao País da Água? — perguntou Konan, trazendo Naruto de volta do devaneio.

— O Naruto-chan ainda não era nascido, mas eu me lembro do ocorrido — pontuou Fukasaku. — A ilha desapareceu no oceano após um maremoto sem precedentes.

Konan, soturna, balançou a cabeça em negação.

— Não foi um desastre natural — disse ela. — Aquilo foi o duelo entre Mira e Suki. Elas se enfrentaram por quase um dia inteiro e, quando a luta terminou, a ilha havia afundado no mar Sakuru.

Naruto engoliu em seco.

— Uma ilha afundou porque aquela mulher lutou com a Mira... de igual para igual por um dia inteiro? — perguntou, estarrecido.

Quando Naruto deu por si, já haviam chegado à porta da câmara. Konan meteu a mão na maçaneta; mas, ainda parada do lado de fora, virou-se para Naruto, dirigindo-lhe um olhar severo.

— Não se impressione com os feitos dos Yuurei, por mais assustadores que eles sejam, Naruto — Konan o advertiu. — Assim que passarmos por esta porta, você estará diante do inimigo; e aquele homem fará o possível para entrar na sua mente. Então, desde já, mantenha a compostura.

Dito isto, Konan abriu a porta.

 

 

 

A câmara de interrogatório consistia em um ambiente isolado — não havia qualquer janela ou mesmo um duto de ventilação. As quatro paredes eram cinza-escuras, e somente uma lâmpada pendia no teto.

Taka Kazekiri era mantido sentado em uma cadeira de ferro, com o braço imobilizado por sobre uma mesa posta à sua frente. As asas do Yuurei foram esticadas ao máximo e cravadas na parede do fundo, com tarjas de selamento de chakra postas sobre elas. Além disso, o Yuurei tinha os olhos e a boca encobertos.

Duas pessoas já estavam ali dentro com o Yuurei capturado: Hadame Tsukiaru, o ninja da Chuva contra quem Naruto lutou no Exame Jounin há dois anos — e, uma vez Jounin, fora nomeado guarda pessoal da nova líder da Chuva —, e uma jovem de dezesseis anos, cabelo castanho e olhar amigável; o rosto dela, Naruto percebeu, lembrava um pouco o de Hadame.

— Nós trabalhamos nele, como a senhora pediu, Konan-sama. Mas devo dizer, estive muito perto de matá-lo. Esse homem é... desprezível. — Hadame indicou o Yuurei às costas. Então, reconhecendo o acompanhante da líder da Chuva, exclamou: — Não acredito! Naruto Uzumaki?! Aqui?

Naruto cumprimentou o colega ninja com um cordial aceno de cabeça.

— Naruto foi o responsável pela derrota deste Yuurei, Hadame. Quando eu cheguei ao local, o invasor já estava inconsciente — esclareceu Konan, que, imediatamente, virou o rosto para Momo Tsukiaru, perguntando na linguagem de sinais: “O que tem a dizer sobre nosso amigo, Momo?”

A prodigiosa e recém-nomeada chefe da equipe médica da Vila da Chuva, para a surpresa de Konan, demorou a responder. Momo Tsukiaru estava imóvel, com as bochechas vermelhas e o olhar acanhado. Naruto logo recordou de como Hinata costumava fazer o mesmo.

— Ei, Momo, a Konan-sama te fez uma pergunta — falou o irmão da garota, impaciente. — O que há com você?

A garota estufou o peito e suspirou, evitando olhar diretamente para o loiro alto, forte e de olhos azuis ao lado de Konan-sama.

“Eu... fiz o que... a senhora pediu, Konan-sama...”, por mais que tentasse ser cuidadosa, as mãos de Momo acabavam se embolando durante os gestos, dificultando-lhe a comunicação. Konan franziu a testa; nunca vira a amiga ser tão atrapalhada. “Tentei reconstituir a...”

Momo pediu tempo; estalou os dedos, e prosseguiu: “Tentei reconstituir a mandíbula deste homem, mas... a verdade é que os ossos da boca foram estilhaçados; tive que instalar uma prótese, então, talvez ele não consiga falar direito e...”

Hadame interrompeu a irmã, soltando um resmungo.

— Pode esquecer; esse maldito fala até demais... um monte de lixo. — Fez uma careta de desprezo. — Ele estava consciente quando Momo transplantou a prótese da mandíbula. O desgraçado suportou todo o procedimento sem anestesia.

— Eu acredito — observou Fukasaku. — Este Yuurei tem uma resistência física realmente impressionante.

“Mas achei uma coisa dentro dele...”, Momo abriu a boca e sinalizou com o dedo indicador. Naruto franziu a testa; podia jurar que a garota não tinha a língua. “Uma marca de selo. Talvez não dê para tirar nada daquele homem.”

Konan desviou rapidamente o olhar para o Yuurei sentado no fundo da sala. Como era de se esperar, Mira teve o cuidado de aplicar o Zekka Konzetsu no Jutsu (Técnica da Erradicação da Língua Amaldiçoada), para que o subordinado não falasse o que não deveria.

— Isso nós veremos — comentou Konan.

Embora a cabeça estivesse encurvada, Taka Kazekiri estava muito acordado e pronto para aquela sessão. Konan tomou o assento junto à mesa — frente a frente com o Yuurei — com Naruto em pé à sua direita; Hadame, à esquerda; e Momo, ao lado do irmão mais velho. Fukasaku estava sobre um dos ombros de Naruto.

Ao sinal da líder da Vila da Chuva, Hadame ergueu a cabeça do prisioneiro e puxou, com brusquidão, as tarjas adesivas que lhe vendavam os olhos e a boca. O rosto desfigurado de Taka Kazekiri encarou os captores — um de cada vez —, com atenção especial para Naruto Uzumaki.

— Sabe quem eu sou, Yuurei? — Konan tratou de chamar a atenção do homem para si, antes que ele dirigisse qualquer comentário ácido a Naruto e aos outros; Taka deveria, desde já, saber com quem trataria naquela sala.

Devagar, ele pousou os olhos sobre Konan; e deu-lhe um sorriso desdentado.

— E pensar que a vice-líder da Akatsuki estava viva todo esse tempo, escondida bem aqui, como uma covarde. Eu sei quem é você; é o meu anjinho da guarda. Sabe, ele iria mesmo me matar... — Com o queixo, Taka apontou para Naruto. — Mas aí você apareceu, toda majestosa no céu... O Anjo que traz a morte salvou um Yuurei de ser morto pelo nobre Herói do Mundo Ninja. É irônico, né?

— Acredite, vai desejar ter morrido.

— Por enquanto, o que eu desejo é você montada em mim, gritando o meu nome. — Taka sorriu maliciosamente. — Sabe, você é muito mais gostosa vista de perto.

Mas Konan, imperturbável, não caiu na provocação; já esperava algo naquele nível.

— Onde ficam os esconderijos dos Yuurei? Todos eles. — Konan foi direto ao ponto.

Taka gargalhou. O ar saindo das partes entreabertas de sua face tornavam o som parecido com o guinchar de um porco.

— Se você abaixar aqui e pagar um bem direitinho para mim, talvez eu conte. — E virou-se para Momo. — Você também, Mudinha; eu vi que arranjaram mais espaço na sua boca.

— Seu desgraçado! — gritou Hadame.

O irmão de Momo, imediatamente, sacou uma kunai e avançou contra o Yuurei. Mas Konan, que não desviou o rosto em nenhum momento do prisioneiro, apenas esticou o braço esquerdo para o lado; e impediu a passagem do Jounin.

— Hadame... — Konan encarava duramente o Yuurei. — Por favor, vá para fora; e leve Momo com você.

— Mas Konan-sama... — O Jounin respirou fundo, empurrando toda a fúria de volta para dentro. Embora o ímpeto assassino gritasse em seu peito, proteger a irmã caçula de qualquer coisa sempre seria sua prioridade; e por mais que quisesse a morte daquele Yuurei imundo, Konan-sama e Naruto ainda precisavam dele vivo. Consternado, não tinha escolha senão obedecer. — Sim, senhora.

A contragosto, Hadame Tsukiaru pôs o braço em torno da irmã e a puxou para si, conduzindo-a para fora da câmara; e forçou-se a ignorar o sorriso debochado que o Yuurei lhe dirigia.

Enquanto os irmãos Tsukiaru saíam, Naruto olhou bem para o rosto de Hadame e se enxergou nele — a mesma ira, a mesma indignação. Lembrou-se imediatamente do quanto aquele Yuurei havia humilhado Hinata no País dos Demônios, aproveitando-se da vulnerabilidade dela para se divertir às custas da moça. Embora Hinata não tivesse lhe dito nada sobre o ocorrido, Naruto descobrira cada detalhe asqueroso por meio da criatura que ocupava o lugar dos amigos Bijuu; e, desde então, tinha jurado matar Taka Kazekiri.

Por isso, Naruto se admirava consigo mesmo por, apesar de todo o ódio que nutria por aquele homem, ainda se manter firme, sem agir impulsivamente. Talvez fosse pelas palavras que Konan lhe dissera antes de entrarem; ou ainda o próprio exemplo que a discípula-irmã lhe dava ali. Apesar de sido o principal alvo das palavras nojentas do Yuurei, Konan mantinha o autocontrole.

Ao menos, era o que Naruto Uzumaki imaginava.

No instante em que Momo e Hadame os deixaram a sós com o Yuurei, Konan apenas ergueu dois dedos da mão direita à altura do rosto, formando um selo manual. Aparentemente, nada havia acontecido; até Konan, tranquila, segurar a mão de Taka Kazekiri e puxá-la pelo pulso.

E, com um “rec” abafado, a mão de Taka Kazekiri simplesmente se desprendeu do resto do braço.

— Argh! Que merda! Merda! O que diabos você fez, sua cadela desgraçada?! Minha mão! — Taka se debateu na hora, urrando de dor e xingando Konan de todos os nomes possíveis.

“Ela... rasgou a mão dele? Como se fosse papel?”, nem Naruto e Fukasaku haviam compreendido.

— A minha técnica principal, Shikigami no Mai (Dança do Shikigami), consiste em manipular o meu chakra para transmutar a matéria em papel — Konan falava com a mesma voz irredutível. — Geralmente, converto o meu próprio corpo em arma, mas não estou limitada a isso. Dependendo da quantidade de chakra e tempo aplicados, também posso transformar outras coisas, além de mim mesma, em papel... e manipulá-las livremente.

Apesar de seu processo de redenção, Konan ainda era uma mulher sangue-frio; e mal piscava os olhos ao explicar o que havia feito.

— Quando eu o trouxe para cá, eu o envolvi pelo meu jutsu — continuou ela. — O meu chakra já teve tempo suficiente para circular por todo o seu corpo. Tudo o que precisei fazer agora foi acioná-lo.

“Então desde aquela hora, quando ela nos encontrou no lago...”, Fukasaku estremeceu. “Aquilo não foi só para mantê-lo preso; a Konan-chan já sabia o que iria fazer.”

Taka suava frio, ainda sem conseguir processar o que estava acontecendo com seu corpo. Era como se sua carne, ossos e nervos, do nada, já não mais existissem — e, ao mesmo tempo, ele conseguia senti-los muito bem. O coração batia acelerado em seu peito, os pulmões sugavam ar com voracidade, e o estômago embrulhava dentro de suas entranhas.

— O que foi que você fez comigo, sua cadela? — Engoliu em seco.

 — Apesar de ainda sentir os seus órgãos, seu corpo agora tem a fragilidade de uma folha de papel, e pode ser picotado como uma — esclareceu Konan. — Quando eu me transmuto, sinto o meu corpo se dividindo; mas já me acostumei com a dor. Mas você não, Yuurei... você não conhece a dor.

Taka encurvou a cabeça e soltou um suspiro desanimado. Sua altíssima capacidade de resistência sempre fora um de seus trunfos. Havia escapado da morte diversas vezes por ser capaz de aguentar o dano. Mas a mulher diante dele o havia exposto ao ridículo, e poderia fatiá-lo em pedacinhos usando apenas os dedos. Achou que, se tivesse que morrer, seria em uma batalha contra Naruto Uzumaki; não daquele jeito tão humilhante.

— Vou perguntar de novo — avisou Konan, séria. — Onde estão instalados todos os esconderijos dos Yuurei?

“Que se dane”, Taka levantou os olhos para encarar a líder da Vila da Chuva.

— No meio dessa sua raba. — E cuspiu no rosto de Konan.

Enquanto Konan limpava a saliva de sua fronte, Naruto Uzumaki, tomado pela ira, lançou-se sobre o Yuurei. Já não importava se Taka Kazekiri era feito de carne ou de papel; Naruto iria esmurrá-lo até a morte por aquela insolência.

Outra vez, no entanto, a voz do Anjo foi mais rápida que seus punhos.

— Naruto... — Konan se pôs de pé. — Saia. Quero ficar a sós com ele.

— Nem ferrando que eu vou te deixar sozinha com esse cara! Eu juro que...

Porém Naruto se calou no instante em que seus olhos encontraram os da discípula-irmã. Konan, outrora impassível, possuía um brilho diferente no olhar — uma agressividade fria como ferro, que o fez hesitar na hora.

— Agradeço a preocupação — disse ela, olhando-o firme. — Mas fui vice-líder da Akatsuki por anos; um mero Yuurei não me assusta.

— É melhor sairmos, Naruto-chan — Fukasaku sussurrou no ouvido do jovem Sannin. — A Konan-chan ficará bem.

Naruto Uzumaki olhou uma última vez para Taka Kazekiri; e, diferentemente da vez que afrontara Momo na presença do irmão, agora não encontrou qualquer sinal de zombaria no rosto do Yuurei. Pelo contrário, Taka olhava diretamente para Konan em silêncio, como se aguardasse o que quer que ela fosse lhe fazer.

— Eu vou estar na porta. — Cauteloso, Naruto, junto com Fukasaku, deixou Konan a sós com o prisioneiro.

Mal ouviu o estalo da porta de fechando, Konan se virou para Taka.

— Pois bem, Yuurei... — Enquanto ela falava, o corpo de Konan se tornava em inumeráveis folhas de papel. — Vou te mostrar a verdadeira dor.

Do lado de fora da câmara, os gritos de Taka Kazekiri eram assustadores. Naruto sentiu um arrepio percorrendo seu corpo à medida que escutava o Yuurei, lá dentro, implorando por misericórdia.

 

 

 

Após quase uma hora de espera, a porta da câmara finalmente se abriu; e o mau-cheiro invadiu o corredor.

— Entre, Naruto — convidou Konan, que apesar a expressão indiferente no rosto, também estava incomodada; ela havia até criado um leque de papel na mão esquerda, com o qual afastada o ar fétido. — Ele irá falar com você agora.

Naruto seguiu logo atrás da condiscípula; e quando encontrou Taka Kazekiri lá dentro, o estômago embrulhou na hora e Naruto teve que conter a ânsia de vômito.

O Nono Oficial dos Yuurei estava, literalmente, desmembrado — mas vivo! —, para o espanto de Naruto Uzumaki e Fukasaku. Taka não possuía nada além do tronco e da cabeça. Todas as outras partes de seu corpo: as pernas, o braço e as asas, já não existiam mais; eram tão somente recortes de papel, como os muitos que Naruto encontrou espalhados pelo chão.

Naruto logo descobriu a causa do mau-cheiro: os excrementos — a urina escura, misturada com sangue, e as fezes — que escorriam pelo assento da cadeira de ferro onde o Yuurei estava até o chão.

O rosto de Taka Kazekiri estava pálido, e a saliva escorria pelos cantos da boca entreaberta. Nem mesmo durante sua luta contra o Yuurei, Naruto o viu de um jeito tão deplorável. Qual fosse o inferno que Konan lhe tivesse mostrado, ela havia arrancado a alma daquele homem moribundo.

Era tudo uma visão horripilante.

— O que você fez com ele, Konan-chan? — perguntou Fukasaku, perturbado.

Konan deu de ombros, indiferente.

— Nada que eu já não tivesse feito antes. — E se virou, severa, para o prisioneiro. — Já pode falar.

Taka abriu e fechou a boca algumas vezes antes de a voz, enfim, subir à garganta.

— Existe um outro lugar... além dos que eu te contei — começou Taka. — É para onde o Líder-sama costuma ir quando quer ficar a sós... nenhum Yuurei sabe onde é ou como chegar lá, só sabemos que existe... nem a Mira-sama vai lá.

Naruto franziu a testa.

— Do que ele está falando?

— Sobre os esconderijos dos Yuurei — explicou Konan. — Ele revelou quantos são, onde estão instalados e como atravessá-los; e falou também de um último lugar, onde Iori Kuroshini costuma ir quando quer estar sozinho.

— E como saberemos que ele está falando a verdade? — Fukasaku hesitou. — Ele pode estar tentando nos levar para uma armadilha.

Konan meneou negativamente a cabeça.

— Este homem diz a verdade, Fukasaku-sama — respondeu Konan. — É só olhar bem para ele.

Naruto instintivamente se voltou para o que havia sobrado de Taka Kazekiri; e por mais que o detestasse, não conseguia sentir qualquer satisfação com o que via. Estava consciente de que ainda precisavam extrair o máximo possível de informações; e quanto antes pudessem dar um fim àquilo, mais rápido Naruto se afastaria daquele espetáculo grotesco.

— O selamento que a Mira pôs em mim — começou Naruto. — Como me livro dele?

Taka balançou a cabeça.

— Ninguém além da Mira-sama sabe a combinação de selos para liberar o Fuuinjutsu — explicou Taka. — Nem o Líder-sama consegue sozinho; ele precisou dela para pôr o Reibi em você...

— Reibi? — estranhou Konan.

— A Besta de Zero-Caudas. — Taka confirmou. — A fonte do Meiton... e de todo o poder do Líder-sama.

“O Demônio Roxo...então esse é o nome dele”, Naruto cerrou os punhos; e perguntou, ainda, ao Yuurei sobre como Mira Uzumaki conseguira instalar o tal Reibi, usando um Fuuinjutsu a distância. Naruto tinha suas suspeitas, e Taka só as confirmou.

— A metade Yin do chakra do Oito Caudas — disse o Yuurei. — Mira-sama extraiu o Bijuu do irmão do Raikage e o usou como catalisador para colocar o Reibi em você, Naruto.

— Foi ela... quem matou o tio Bee? — Sempre achara que Juha Terumi e Kan, os Yuurei responsáveis pela captura de Killer Bee, fossem os reais assassinos; até tinha visto o corpo morto de Bee ser destruído por Juha, quando a Folha e a Nuvem tentaram resgatá-lo em uma missão conjunta. Agora sabia que Mira Uzumaki era a verdadeira culpada.

Naruto podia sentir a raiva preenchendo seu coração. “Desgraçada! Eu não vou te perdoar!”

Konan olhou discretamente para Naruto, e percebendo a mudança repentina em seu humor, adiantou-se para interrogar o inimigo.

— Você disse que Iori Kuroshini não pode liberar o selamento sem a Mira, e que precisou dela para pôr essa criatura no Naruto — contextualizou Konan. — Mas e quanto à Mira? Ela precisa do Iori também, ou pode desfazer a técnica sozinha?

Taka Kazekiri hesitou por alguns segundos.

— Responda, Yuurei! — ordenou Konan.

— Ela consegue! — Taka vociferou, culpando-se por seu ato de traição. — Mira-sama não precisa do Líder-sama para, praticamente, nada.

Fukasaku estreitou os olhos.

— Mas ela precisa dele para alguma coisa. O que é? — perguntou o sapo, pinçando aquele detalhe.

Taka praguejou baixinho; era um homem morto de qualquer forma. E, com a ponta do queixo, indicou Naruto Uzumaki.

— O Naruto-chan?! — estranhou Fukasaku. — Então, os dois líderes pretendem fazer uma emboscada no País do Redemoinho para pegar o Naruto-chan?

— Não é isso, velho. Sobre essa luta, Mira-sama deixou bem claro que não quer ninguém se intrometendo. Ela... — Taka hesitou, amargurado. — Nenhum outro Yuurei deveria te enfrentar, Naruto Uzumaki.

— Mas aqui está você. — Konan deu um sorriso cínico. — Mira nunca te mandou para cá, não é mesmo? Agora, responda: por que ela precisa do Iori? E o que isso tem a ver com o Naruto?

Taka abriu a boca para falar, mas Naruto respondeu primeiro:

— A técnica do Rikudou Sennin, o tal Banbutsu Souzou no Jutsu (Técnica da Criação de Todas as Coisas) — adivinhou Naruto. — Shikamaru já me falou que os Yuurei querem fazer isso; e que o Iori precisa usar todo o chakra Bijuu em mim combinado com o Meiton. Querem reescrever a história do mundo.

Konan franziu a testa, estupefata.

— Algo assim é impossível!

— Será? — Naruto rebateu sério.

Konan negou com a cabeça.

— Tem que haver outro motivo! Mira não acreditaria em uma loucura dessas. Ela... — Konan hesitou. —  Ela... não faria isso.

Taka tossiu um fraco gargalhar.

— Mesmo sabendo que o Líder-sama não é humano, você ainda duvida — ironizou. — E a Mira-sama... talvez, você não a conheça tão bem.

Ao contrário do que aquele homem falava, Konan conhecia Mira Uzumaki melhor do que qualquer pessoa no mundo; havia-a ensinado, enquanto cresciam juntas como Kunoichi e, também, como jovens órfãs. Konan sabia exatamente como a mente quebrada de Mira funcionava, pois ela própria se vira na mesma escuridão. Se Mira era idêntica à Kushina Uzumaki em aparência, com Konan, Mira Uzumaki compartilhava o mesmo modo de pensar, a mesma personalidade estoica, a mesma frieza na alma.

E por pensarem da mesma maneira, Konan sabia muito bem que a vice-líder dos Yuurei jamais subscreveria um plano utópico daqueles se, por trás disso, não houvesse um bom motivo — uma razão bem pessoal de Mira Uzumaki, que não se confundia com o desejo de dominação mundial de Iori Kuroshini; e quando se lembrou da carta enviada pela Vila da Folha, Konan ficou ainda mais convicta. Nas palavras da Hokage, havia um interesse peculiar dos Yuurei por Naruto. De todos os Fantasmas, somente Mira Uzumaki demonstrara tamanha obsessão pelo Herói do Mundo Ninja.

— Por que a Mira quer tanto o Naruto? Isso está, de algum modo, ligado à Kushina Uzumaki? — perguntou Konan a Taka Kazekiri.

Ao ouvir o nome da mãe, Naruto imediatamente se virou para Konan, sem entender exatamente onde ela queria chegar. A líder da Chuva, no entanto, estudava minuciosamente cada linha do rosto do Yuurei; Konan sequer piscava.

Taka olhou de Konan para Naruto.

— Todos nós, Yuurei, sempre achamos que ela o queria porque vocês dois são do mesmo clã... — Taka suspirou. — Mas sua prima também é uma Uzumaki, e a Mira-sama nunca demonstrou o mesmo... desejo por ela.

Naruto estremeceu, tenso.

— O que a minha mãe tem a ver com aquela mulher?

— Mira-sama é uma pessoa muito reservada — continuou Taka. — Somente o Líder-sama sabe do passado dela. Eu... bem, minha antiga parceira, a Suki-senpai, ordenou que eu a espionasse, que eu buscasse o máximo possível de informações a respeito da Mira-sama, a fim de derrubá-la. Eu tentei chegar perto, mas não é tarefa simples enganar uma ninja sensorial do calibre da Mira-sama. Ainda assim...

— O quê? Fala logo! — ordenou Naruto, afoito.

— Eu descobri que a Mira-sama, por todos esses anos, às escondidas, visitava alguém com frequência... na Vila da Folha — revelou Taka. — Ela ficava de pé, parada diante daquela pedra; e ia lá todas as vezes, sem exceção.

Naruto quase caiu para trás. “Mira Uzumaki? Ela tinha o hábito de entrar na vila?”

— Ela ia ver o memorial de Kushina Uzumaki — observou Konan, sem surpresa. — Foram melhores amigas, então faz sentido.

Taka negou com a cabeça.

— Não era só isso. Para a Mira-sama, é muito mais... íntimo. — O Yuurei se virou para Naruto, e riu com desdém. — E é por isso, Naruto Uzumaki, que você não tem a menor chance contra ela.

— O que quer dizer com isso, Yuurei? — indagou Fukasaku.

Agora, Taka Kazekiri gargalhava.

— Ainda não entenderam? — O Yuurei tossiu uma risada sôfrega. — Ela esteve te observando durante todo esse tempo; Mira-sama estudou você, Naruto. Conhece seus hábitos, seus amigos, suas técnicas, suas tendências em batalha... e assistiu às suas lutas, algumas bem de perto.

E, com assombro, Naruto ouvia Taka Kazekiri enumerar cada um de seus combates.

— Sua graduação a Chunnin contra Sasuke Uchiha, logo depois da guerra; seu duelo contra Sema Hyuuga; suas batalhas no Exame Jounin: contra o irmão da Mudinha lá fora, contra Roku Kuzanagi, Shozu Ibuke e o filho do Quarto Mizukage... — O Yuurei as falava na ordem exata em que as lutas ocorreram.

— Na Terceira Fase — Taka prosseguiu. —, Mira-sama foi pessoalmente ao estádio te ver lutar contra os Jounins da Folha e, no final, contra Sasuke Uchiha; ela monitorou sua missão contra os Oukami do Iruzu Ibe e, por fim, todos os seus fracassos diante de nós, Yuurei.

Aquilo era simplesmente estarrecedor. Descobrir que sua arqui-inimiga o estudava e, pior, que visitava sua vila para vê-lo de perto, era bizarro. Mira Uzumaki era, literalmente, um fantasma em sua vida — e um que tinha a ver não só com ele, mas também com sua mãe, Kushina. De acordo com as informações daquele Yuurei, Mira não só tinha conhecimento das técnicas de luta, como também da vida de Naruto; e, sendo certo que ela sabia tanto, então Mira, mais do que qualquer Yuurei, conhecia o retrospecto dele em batalha, de vitórias e derrotas também.

Um temor repentino despertou dentro dele. Durante a Segunda Fase do Exame Jounin, Naruto acabou sendo vencido por Sasuke — que estava disfarçado de Roku Kuzanagi. Naquele combate, porque Sasuke Uchiha conseguiu selar todo seu chakra, Naruto não teve como lutar e foi vergonhosamente derrotado.

E no País do Redemoinho, a maior especialista em Fuuinjutsu do mundo o estava esperando.

Ver a apreensão no semblante de Naruto Uzumaki fez Taka Kazekiri sorrir; era um alento ao seu sofrimento.

— Você nunca a viu em combate; tudo o que fez foi perguntar a respeito da Mira-sama, e isso não é a mesma coisa — pressionou Taka. — Nem mesmo nós, os Yuurei, conhecemos o limite do poder dela.

Sasuke, lembrou-se Naruto, havia enfrentado dois Yuurei na ilha Misuto, meses atrás. Sem nenhuma limitação em seu poder, e ainda se valendo de Pílulas de Soldado especiais, Sasuke Uchiha, por muito pouco, sobrevivera à batalha contra Dairama Senju, uma luta na qual perder um braço foi o preço a ser pago. E, dentre os inimigos, Dairama era só o quinto na ordem de força

— Você daria uma boa luta para a Suki-senpai. Contra o Kioto-sama, sua velocidade e o seu Senjutsu seriam insuficientes contra aquele Taijutsu e o mais poderoso Byakugan — continuou Taka Kazekiri, sorrindo. — Mas ir contra a Mira-sama? Somente a morte te espera no País do Redemoinho, Naruto Uzumaki. Porque abaixo do Líder-sama, ela é a Yuurei mais forte.

Fukasaku coaxou irritado.

— Para alguém que tomou uma surra e foi desmembrado, você fala demais! — rebateu. — Ainda não aprendeu a lição? Não subestime o Naruto-chan!

Assim como o prisioneiro, Konan também tinha os olhos em Naruto Uzumaki naquele momento. O rosto do Herói do Mundo Ninja não era dos melhores. “Ele está cedendo”, observou Konan, preocupada. Muito antes de começarem aquele interrogatório, ela sabia que o inimigo tentaria desestabilizá-lo psicologicamente, uma vez que a pressão sobre Naruto já era enorme há muito tempo.

Felizmente, ainda havia algo que ela precisava mostrar a Naruto antes de deixá-lo partir — algo que poderia ser útil a ele contra Mira. Portanto, Konan precisava agir rapidamente e terminar, de vez, aquela sessão; Naruto já ouvira demais daquele homem.

— Quais os próximos movimentos de Iori Kuroshini? — perguntou Konan objetivamente. — O que ele planeja?

— Eu não...

Mas Konan girou a mão. Em resposta, o pescoço de Taka Kazekiri se retorcia para o mesmo lado sem, no entanto, rasgar. Por meio de seu chakra, Konan havia endurecido as propriedades físicas do papel, evitando que o Yuurei morresse antes da hora.

A dor era insuportável, e Taka Kazekiri já não aguentava mais.

— O Líder-sama vai...

Ele começou a falar, mas não pôde concluir a delação. No instante em que a ideia lhe veio à língua, o Zekka Konzetsu no Jutsu posto por Mira Uzumaki fez efeito, impedindo Taka de prosseguir. Konan já esperava por aquilo; e sabia que teria poucos segundos até o coração do Yuurei parar.

A líder da Chuva desfez a boca de Taka Kazekiri em folhas de papel, e sequenciou os selos manuais o mais depressa possível.

— Liberar — disse Konan, ao final da sequência manual; e ao reconstituir o rosto de Taka, as marcas do selo amaldiçoado haviam desaparecido da língua do prisioneiro.

O que Konan e os outros não esperavam era o segundo selo, cujas marcas se ativaram na testa do Yuurei poucos segundos após o primeiro ter sido removido. Surpreendida, Konan teve frações de segundo para criar um casulo de papel, com o qual protegeu Naruto, Fukasaku e a si mesma.

Não fossem a reação rápida e a técnica de Konan, teriam sido todos mortos pela explosão. Felizmente, ela havia reconhecido o sinal do Jigen Shiki no Jutsu (Técnica da Liberação de Tempo) — uma técnica de Fuuinjutsu, cuja liberação automática ocorreu após preenchido algum requisito prévio, no caso, o Zekka Konzetsu no Jutsu ter sido desarmado.

“Eu deveria ter imaginado que havia outro selo escondido”, concluiu Konan. “Mira programou a bomba para detonar caso o primeiro Fuuinjutsu fosse retirado.”

As paredes antibomba da sala foram projetadas por Nagato para suportar uma explosão similar ao do chakra C2 de Deidara, portanto todo aquele andar estava seguro. Quando a fumaça baixou, eram só eles três dentro da câmara. Taka Kazekiri estava morto.

Sem deixar corpos, assim agiam os Yuurei.

 

 

                                                                            ***

 

 

— Acha que eles vão atacar durante esse tal Encontro das Nações Ninja, que a Tsunade-chan quer organizar? — suspeitou Fukasaku, durante o almoço.

Konan se ajeitou na poltrona, sob os olhares de todos.

— É possível — disse a líder da Chuva, encarando Naruto Uzumaki. — Seja a Folha, seja qualquer outra vila. É improvável que os Yuurei deixem um evento desse tipo passar em branco.

Naruto se levantou bruscamente, sem haver terminado o ramen.

— Então eu preciso voltar agora mesmo! — Pesou as mãos sobre a mesa. — Não vou deixar minha vila passar por aquilo outra vez.

Hadame e Momo se entreolharam, Fukasaku suspirou cansado e Konan olhou firme para o condiscípulo.

— Se quer salvar a todos, deveria se concentrar na sua próxima luta — aconselhou Konan. — Você tem amigos inteligentes e fortes, Naruto; e a Hokage certamente considerou a possibilidade de ser alvo de um ataque inimigo quando fez um convite aberto.

Naruto e Konan trocavam olhares tensos.

— Minha vila é prioridade.

— E é por ela que você está aqui — refutou Konan. — Para atrair o inimigo até você. Mas se andar para trás agora... se encher a sua mente de distrações, você não será um desafio para a Mira; e não chegará nem perto de derrotá-la.

Naruto desviou o olhar, hesitante.

— Eu confio em você, Naruto — Konan continuou. — Peço que você também confie em mim e nos seus companheiros lá na Folha. Vença Mira Uzumaki e deixe o resto conosco.

Envergonhado, Naruto se sentou outra vez. Konan tinha toda a razão. Retardar o confronto com a vice-líder dos Yuurei só colocaria todos em perigo, como quando os inimigos haviam atacado a Vila das Fontes Termais e as Vilas Ocultas da Névoa e da Pedra — tudo para fazê-lo se revelar. E se Tsunade, certamente assistida por Shikamaru, organizava um evento que possivelmente atrairia os Yuurei, caberia a Naruto confiar no julgamento da Quinta Hokage.

— Desculpe.

Embora o tivesse confrontado, Konan se sensibilizava pelo amigo e via com pesar e empatia o dilema no qual Naruto se encontrava. Mesmo sendo o maior ninja do mundo, Naruto Uzumaki não poderia lutar em dois frontes ao mesmo tempo — não até que recuperasse os poderes das Bijuu.

E sendo certo que Naruto iria até o País do Redemoinho para combater sua ex-aluna, Konan se via na responsabilidade de dar ao discípulo-irmão todos os meios possíveis para equilibrar, o máximo possível, a balança contra Mira Uzumaki. Naruto enfrentaria a temível vice-líder dos Yuurei; seus amigos protegeriam seu flanco esquerdo.

— Venha comigo, Naruto — disse-lhe Konan ao final da refeição. — Há um lugar que quero que você conheça.

 

 

 

Konan os havia levado de volta às águas do Neko, um pouco além da baía que ficava à entrada da Vila Oculta da Chuva. Os dois últimos alunos de Jiraiya caminhavam juntos sobre a superfície do grande lago, debaixo de intensa chuva. Naruto seguia logo atrás de Konan, observando-a andar silenciosa, enquanto se perguntava o que exatamente a discípula-irmã queria mostrar.

Naruto logo soube que haviam chegado perto da divisa com o País da Grama, pois enquanto chovia torrencialmente em uma metade do lago, mais adiante o sol vespertino brilhava num céu sem nuvens.

— Chegamos — anunciou Konan.

Naruto e Fukasaku viram a líder da Chuva juntar as palmas das mãos e, logo em seguida, com espanto, o lago inteiro se abrir ao meio, de ponta a ponta. As milhares de toneladas de água eram divididas por dois paredões feitos com folhas de papel, revelando uma trilha escura que descia até o fundo do Neko. Por um triz, Naruto não despencou no abismo abaixo de seus pés, e saltou para a segurança de uma das paredes d’água.

— Seu chakra... — Fukasaku gaguejou. — Você também o espalhou pelo lago, Konan-chan?

— Apenas no lado pertencente à Chuva — confirmou Konan. — É uma forma de garantir a segurança do meu país. Tomem cuidado para não acionarem nenhuma tarja explosiva acidentalmente; isso pode gerar um Efeito Dominó nas demais e, consequentemente, o lago todo vai explodir à nossa volta.

Sem pensar duas vezes, Naruto seguiu pela trilha bem atrás de Konan, tomando o estrito cuidado para não tocar em nada e pisar exatamente onde ela havia pisado.

Assim foi, até que finalmente chegaram ao fundo. Além da extensão, Naruto e Fukasaku se surpreenderam com a profundidade do Neko. O lago descia por quase dois quilômetros abaixo do nível da superfície. Era frio e mal conseguiam enxergar lá embaixo. Contudo, Konan os advertiu veementemente para que não acendessem nada nem usassem qualquer fonte de calor. Seguiam em frente, valendo-se tão somente de Konan para os guiar pelo caminho subaquático.

Depois de aproximadamente quinze minutos, ela avisou que haviam chegado ao local do destino.

Pararam diante de um portal de pedra escura. Apesar da dificuldade para enxergar, Naruto reconheceu o lugar como a entrada de uma espécie de templo. Havia uma pequena fileira de degraus, e tochas com chamas alaranjadas ardendo em cada lado. Naruto logo perguntou como o fogo queimava embaixo d’água.

— Esta passagem é uma trilha selada — explicou Konan. — A água não entra aqui.

— Selada? — estranhou Fukasaku. — O que tem atrás daquela porta, Konan-chan?

Konan olhou bem nos olhos de Naruto, que, instigado por uma estranha sensação de familiaridade, seguiu em frente e subiu os degraus. Na grande porta de pedra, havia a enorme gravura de um símbolo que ele conhecia muito bem: uma espiral, como a de um redemoinho.

— Isso é... — Naruto Uzumaki balbuciou, incrédulo.


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Notas finais do capítulo

Se você veio até aqui em busca de spoilers, volte uma casa.


***

Aquela espada que o Orochimaru entregou à Tsunade (para o Sasuke), durante a visita ao memorial do Jiraiya, não era uma arma comum; e mesmo naquele capítulo havia uma sutileza apontando para esse sentido, agora, ficou mais claro.


Eu estou gostando bastante de escrever essa interação entre os últimos alunos do Jiraiya ainda vivos (ao menos, aqui T_T). Os dois fazem uma dupla bem interessante e a Konan, na minha opinião, funciona bem como uma mentora para o Naruto.

Quanto ao Taka Kazekiri, após longas negociações, ele FINALMENTE assinou contrato e foi jogar no Vasco. Agora é oficial, galera! Podem comemorar! o/

***


Agora quero saber de vocês! O que acharam do capítulo de hoje? Faltou alguma coisa? Notaram algum erro? O que lhes chamou mais a atenção? Comentem livremente aqui embaixo!



Próximo capítulo: A máscara

Até o próximo capítulo o/