O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 115
A máscara


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, pessoal! Como vocês estão? Bem? Eu espero que sim.

Pelo visto, acabei ferrando nossa agenda de uma vez. Então, até eu reorganizar os dias de postagem (e prometo fazê-lo tão breve quanto possível), segue o capítulo desta semana. Desde já, boa leitura a todos!



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Os denominados Templos Armazenadores de Máscaras do Clã Uzumaki eram locais lendários. Em todo o mundo ninja, pouquíssimo se sabia a respeito, exceto que, dentro de um deles, poderiam ser encontrados os mais formidáveis Fuuinjutsus do temível clã do País do Redemoinho. Alguns, por outro lado, diziam ser tudo uma lenda a respeito de um clã extinto; que os templos não existiriam no mundo real.

Karin lhe havia contado as histórias: para os Uzumaki, um Templo Armazenador de Máscaras era um lugar sagrado, que remontava séculos de tradição ancestral. Os Uzumaki espalhados pelo mundo os construíam não apenas para perpetuarem suas técnicas secretas, como também — dissera-lhe a prima — para proteger a memória do amado país, destruído pela guerra.

Seu amigo Sasuke, junto com Orochimaru e dois integrantes do Time Taka, também disse ter encontrado um templo dentro do País do Fogo anos atrás; mas quando voltou ao local, levando Naruto consigo, o templo havia sido saqueado e todas as máscaras, desaparecido.

— Por que tem um Templo Uzumaki aqui embaixo? — perguntou Naruto ainda admirado.

— Mira e Nagato o construíram juntos, no tempo em que ela esteve conosco — respondeu Konan. — Eu só vim aqui poucas vezes, mas não posso entrar sozinha. A entrada está protegida e só um Uzumaki pode abri-la.

Naruto virou o rosto para o símbolo de seu clã.

— Bom, eu... — falou constrangido. — Eu não faço ideia de como abri... — e enquanto o discípulo-irmão ainda falava, Konan foi pacientemente até ele e, usando uma de suas folhas de papel, sem qualquer aviso, fez um corte na mão de Naruto. — Argh! Konan! Por que fez isso?

— A abertura, abaixo da insígnia — indicou Konan indiferente. — Ponha sua mão sobre ela, Naruto.

Naruto hesitou por alguns instantes, receoso. Quando esteve nas ruínas do Templo Armazenador de Máscaras existente no País do Fogo, com Sasuke, não houve necessidade de oferecimento de sangue para que tivessem acesso ao interior do templo. Outra questão que o incomodava era que, de acordo com Konan, aquele lugar havia sido construído por Mira e Nagato, dois Uzumaki de sangue puro; ele, por outro lado, era mestiço — parte Namikaze, como o pai, Minato.

— Você não é menos Uzumaki do que eles — disse-lhe Fukasaku, presumindo a causa da incerteza de Naruto. — O sangue da sua mãe corre em suas veias, Naruto-chan.

“Tem razão. Obrigado, Vovô Sábio”, encorajado, Naruto pôs a mão sobre a abertura na pedra áspera. Por um instante, nada aconteceu.

No minuto seguinte, a rocha com o símbolo do clã Uzumaki se dividiu em duas partes e uma passagem se revelou. Naruto abriu um sorriso de orelha a orelha. Havia crescido sozinho como um Shinobi na Vila Oculta da Folha e imaginar que, atrás daquela porta, toda uma herança de seu famigerado clã estava disponível para ele, de repente, causou-lhe uma estranha sensação de pertencimento. Como se, de algum modo, sua vida sempre estivesse ligada não apenas à Vila da Folha, mas também ao remoto País do Redemoinho, no outro lado do mar.

— Caramba! São muitas, mesmo! — exclamou Naruto, ao encontrar as máscaras dentro do templo. — É uma mais feia do que a outra.

O interior do Templo Uzumaki era escuro, sendo a única fonte de luz disponível uma das tochas que Konan pegara na área externa. As máscaras oni estavam enfileiradas e enchiam as quatro paredes — cada uma contendo um Fuuinjutsu específico. Naruto logo reconheceu a máscara do Shinigami do Shiki Fuujin (Selo Consumidor do Demônio Morto), a técnica proibida com a qual o pai, Minato, havia derrotado Kurama anos atrás.

— Então... — Naruto pigarreou. — Viemos aqui atrás de algum Fuuinjutsu poderoso para eu usar contra a Mira?

Konan tomou a dianteira, seguindo diretamente para o altar na parede do fundo. Naruto a seguiu, tão curioso quanto confuso. Viu-a se abaixar e buscar uma caixinha de madeira atrás da mesa de pedra.

— Algum não — corrigiu Konan. — Este Fuuinjutsu.

Naruto e Fukasaku se entreolharam receosos.

— O que tem aí dentro, Konan-chan?

— O único jutsu nesta sala que Mira Uzumaki desconhece e pelo qual ela jamais estará esperando — respondeu Konan. — Nagato o selou nesta máscara quando passou a entender melhor o Rinnegan.

— O Rinnegan? — admirou-se Naruto. — Que tipo de Fuuinjutsu é esse?

Konan abriu a caixa e a entregou para Naruto.

— Do tipo que até Iori Kuroshini tem medo, razão pela qual ele nunca confrontou a Akatsuki — disse ela. — Essa técnica deriva do poder do próprio Rikudou Sennin.

Quando os olhos de Naruto contemplaram a máscara, um nó se formou em sua garganta.

— Mais alguém na Akatsuki sabia disso? — perguntou Naruto, tomando a máscara nas mãos. — Obito ou o Zetsu?

Konan fez que não.

— Isso é a herança Uzumaki do Nagato, não da Akatsuki; por isso nenhum outro integrante soube da existência deste templo. — explicou ela. — Quanto àquele homem, mesmo seguindo suas orientações, Nagato e eu nunca confiamos nele totalmente. Por isso, não lhe mostramos este lugar.

Sobre o comando da Akatsuki, Nagato e Konan colecionaram as Bestas de Caudas para ressuscitar a Juubi e, com isso, criar uma arma definitiva para instaurar a paz mundial por meio do medo. Obito Uchiha, que os manipulava, sob as instruções do verdadeiro Madara Uchiha, pretendia usar o Dez Caudas para lançar o Tsukuyomi Infinito e prender toda a vida na Terra em um mundo de Genjutsu; e Zetsu Negro, que estava por trás de tudo, inclusive de Madara, havia orquestrado toda a história para, no final, ressuscitar Kaguya Ootsutsuki.

Se, por um acaso, Zetsu tivesse conhecimento do Fuuinjutsu ali escondido...

Naruto segurava a máscara à altura das mãos com bastante cuidado. Diferentemente das demais, aquela não era a representação de um oni, mas de uma criatura humanoide com diademas no alto da cabeça. Em cada lado do rosto, a figura de um corpo celeste — o sol branco, no lado direito; a lua negra, no esquerdo. O rosto da máscara também tinha três olhos, sendo o terceiro, no meio da testa, o mais proeminente deles.

Naruto não sabia como ou por quê, mas uma sensação terrível caía sobre seus ombros. Seus olhos não pareciam ser capazes de se desviarem do rosto branco da máscara, que parecia hipnotizá-lo, chamá-lo.

Então, Naruto Uzumaki se viu em êxtase e já não estava mais dentro do Templo Uzumaki. Konan e Fukasaku haviam desaparecido, assim como todo ruído ao redor. Ele olhou em volta e se enxergou, de algum modo, no vácuo escuro do espaço, completamente sozinho.

— O que é isso? Onde eu...? — balbuciou ele.

Naruto avistou os astros majestosos: o brilho fulgurante do Sol, as estrelas e cometas riscando o véu negro do espaço sideral, planetas e seus satélites girando em suas respectivas órbitas; a Terra, com seu azul destacado em meio a infinitude do cosmo, e a Lua ao redor.

Então, tudo escureceu sob as sombras daquelas mãos gigantescas. Naruto se virou imediatamente para trás e a viu ali, de pé — maior do que tudo, segurando todo o Sistema Solar entre as mãos brancas; os três olhos fixos nele, os lábios abertos em um sorriso sinistro.

Diante da presença dela, Naruto Uzumaki se sentiu pequeno, insignificante.

No instante seguinte, estava de volta à câmara interior do Templo Uzumaki, com Konan e Fukasaku perguntando se ele estava bem. Quanto tempo esteve fora? Nem Naruto sabia dizer; mas, aparentemente, foi questão de poucos segundos. Sentiu o coração bater mais forte e a respiração mais desesperada. Já estivera frente a frente com seres poderosos tantas vezes, mas havia se esquecido de que aquilo era muito além do inimaginável.

“Não...”, Naruto estremeceu, “foi totalmente diferente da última vez... ela parecia muito mais forte agora do que na guerra.”

Percebeu que ainda tinha a máscara nas mãos. Em um ato de prudência e temor, Naruto a pôs imediatamente de volta à caixa e a fechou, sob os olhares desconfiados de Konan e Fukasaku.

— O que há com você, Naruto? — estranhou Konan.

— Eu não vou usar isso. — Naruto balançava a cabeça veementemente. — De jeito nenhum!

— Você está familiarizado com o Fuuinjutsu: Rikudou Chibaku Tensei (Técnica de Selamento: Estrela da Devastação dos Seis Caminhos), até chegou a usá-lo na última guerra, não foi? — Konan franziu a testa. — Por que a hesitação agora?

— Porque, com a chave desse selamento, podemos soltar uma coisa pior do que Iori Kuroshini. Muito pior — enfatizou Naruto.

Konan desviou o olhar para Fukasaku, que por sua vez olhava para o rosto tenso de Naruto. A urgência na expressão do ninja da Folha fez Konan reconsiderar. Quando Nagato Uzumaki fez aquela máscara, a partir do Rinnegan, ele a criou como um recurso contra o próprio Iori Kuroshini. Por mais habilidosa que Mira Uzumaki fosse, ela jamais escaparia de uma técnica daquela magnitude.

Por outro lado, Naruto Uzumaki era a única pessoa que Konan sabia já haver utilizado aquele selamento — durante a Quarta Grande Guerra Ninja —, portanto ele, mais do que qualquer um, tinha propriedade para falar. Qualquer que fosse a razão que Naruto tivesse para recursar a máscara, Konan imaginava que seria algo plausível.

 — Bom... — Ela recolocou a caixa de volta no lugar. — Ainda temos outras opções, mas Mira conhece todo o resto por aqui. Ainda pode funcionar, mas definitivamente não vai ser a mesma coisa.

Naruto caminhou pelo espaço do templo, observando aquelas máscaras oni horripilantes penduradas nas paredes. Eram centenas delas. Cada uma equivalia a um Fuuinjutsu extraordinário; e Mira Uzumaki, de acordo com o que lhe dissera Konan, dominava cada um deles — como uma legítima integrante do clã. Naruto se perguntou quanto tempo ela havia demorado para aprender tudo aquilo. “Possivelmente, anos; e mais tempo ainda para levá-los à perfeição”, respondeu-se mentalmente.

Naruto não poderia enganar a si mesmo; em se tratando de Fuuinjutsu, havia um abismo de conhecimento que o separava de Mira Uzumaki. Enquanto ela dispusera grande parte da vida em treinos e estudos repetitivos sobre a herança do clã, ele havia seguido pelo caminho do Ninjutsu, visando se tornar Hokage um dia.

Em se tratando de outras valências, como Ninjutsu e Taijutsu, talvez levasse alguma vantagem sobre Mira; já em Genjutsu, a tendência seria de um cancelamento mútuo entre os dois. Mas em matéria de Fuuinjutsu, Naruto e Mira não pertenciam à mesma prateleira. O grande xis da questão era: somando-se todas as possíveis formas de combate, qual dos dois Uzumaki era o ninja mais completo?

— Eu sei muito pouco sobre Fuuinjutsu — admitiu Naruto, sério.

— Se tem alguém aqui capaz de dominar Fuuinjutsu, esse alguém é você — replicou Konan. — Você é um Uzumaki como a Mira; faz parte do que vocês são.

— Só que o Naruto-chan nasceu e foi criado na Vila da Folha, Konan-chan — observou Fukasaku. — Ele pouco sabe sobre as técnicas dos Uzumaki.

— Sim, mas você deve saber alguma coisa, não é, Naruto? — insistiu Konan.

Mas Naruto simplesmente meneou a cabeça.

— Nada que seja uma ameaça para a Mira — disse. — O selo mais complexo que conheço é o que mantém as Bijuu em mim; não conheço nenhum Fuuinjutsu ofensivo.

— Mas e a sua prima? Ela também é Uzumaki — lembrou-se Konan. — Ela não te ensinou nada?

— Apesar de ter despertado o poder da minha mãe, Karin ainda é bastante inexperiente em Fuuinjutsu, assim como eu. Ela cresceu na Vila da Grama e a mãe dela, que sobreviveu ao massacre, morreu quando Karin ainda era uma criança, sem idade para ser ninja — contou Naruto. — No fim, nós dois nunca tivemos ninguém que nos ensinasse sobre as técnicas do nosso clã.

Konan baixou a cabeça, pensativa.

— Entendo.

— Talvez você possa ensiná-lo, Konan-chan — sugeriu Fukasaku. — Mira Uzumaki foi sua aluna.

— Eu a ensinei no Caminho do Ninjutsu, Fukasaku-sama — respondeu Konan. — O que fiz foi ajudá-la a aprimorar o domínio do chakra. Mira já estudava Fuuinjutsu no País do Redemoinho; ela aprendeu e desenvolveu outras técnicas sozinha, anos mais tarde.

— Mas você consegue fazer muito mais do que eu! — exclamou Naruto. — Consegue até mesmo afastar os Yuurei daqui.

— Porque o meu método de usar Fuuinjutsu é combinado com o meu Shikigami no Mai — esclareceu ela. — Não vai servir para você, Naruto. Desculpe-me.

Mas Naruto jamais poderia culpá-la. Konan estava fazendo o melhor que podia para ajudá-lo; era a falta de conhecimento dele o único entrave que os atrapalhava. Para começo de conversa, os selamentos impostos por Mira nunca seriam um problema se Naruto dominasse Fuuinjutsu; e ainda poderia se valer de todo aquele arsenal em um combate franco com a Yuurei.

A ideia de Konan fazia todo sentido. Usar Fuuinjutsu seria, de longe, a melhor maneira de surpreender Mira Uzumaki em batalha, que jamais esperaria algo assim vindo de Naruto; seria a forma ideal de equilibrar a balança contra a vice-líder dos Yuurei e levá-la para o lugar escuro chamado confusão.

Por outro lado, a inexperiência com as técnicas Uzumaki poderia ser desastrosa para Naruto. Não apenas por que estaria diante de uma mestra, mas também pelo fato de que jutsus de selamento eram os mais perigosos e complexos; os mais difíceis de dominar. Durante a Quarta Grande Guerra Ninja, mesmo entre os milhares nas fileiras da Aliança Shinobi, eram poucos aqueles capazes de utilizar selamento. Além do controle preciso do chakra para a realização de cada técnica, a prática de Fuuinjutsu exigia o conhecimento perfeito das fórmulas de selamento e das posições de mãos.

Mesmo entre o clã Uzumaki, tamanha era a complexidade das técnicas que as Máscaras de Selamento foram criadas como uma tentativa de facilitar o aprendizado dos jutsus. Não obstante Naruto tivesse acesso às centenas de máscaras dentro do templo, não saberia dizer exatamente com qual Fuuinjutsu estaria lidando. Se pusesse a máscara errada no rosto, seria o fim.

Ironicamente, Naruto Uzumaki conhecia o Fuuinjutsu mais poderoso presente naquele santuário; mas usar a máscara do Fuuinjutsu: Rikudou Chibaku Tensei estava, definitivamente, fora de cogitação. Ele não precisava de um problema maior que os Yuurei.

Naruto suspirou fundo, engolindo toda a decepção que nutria por si mesmo. “Não é hora para lamentar, seu idiota”, disse a si, “todo mundo conta com você. Então dê seu jeito e vença!”

Aprumando o peito, Naruto Uzumaki procurou mostrar a Konan seu sorriso mais confiante, ainda que ele mesmo não se sentisse assim de verdade.

— Obrigado pela ajuda! — disse à Konan, pondo as mãos sobre os ombros dela como que para garantir que estava tudo bem. — Mas com o pouco que eu sei agora, não vai dar para enfrentar a Mira usando Fuuinjutsu. Vou ter que pegá-la na minha própria técnica secreta.

— Aquela que esteve praticando, você diz?

Naruto fez que sim, rememorando o encontro com Konan na frente do Sapo Loja.

— Nesse caso, é melhor que essa sua técnica seja mesmo excepcional, Naruto — respondeu Konan. — Espero que funcione.

“É, eu também.”

Konan desvencilhou-se das mãos de Naruto.

— Bom, eu te trouxe até aqui na esperança de que você tivesse uma forma de pegar a Mira despreparada. — Encolheu os ombros. —  Já que ela te estudou ao longo desses anos, é quase certo que ela tenha uma resposta para cada um dos seus movimentos.

— É, você já comentou isso uma ou duas vezes — murmurou Naruto com uma careta de desgosto.

— Mas — enfatizou Konan —, não é como se este lugar seja inútil para você. Se não pode atacá-la, então, ao menos, pode diminuir o leque de opções dela em combate.

Fukasaku coçou a barba.

— No que está pensando, Konan-chan?

Mas a líder da Chuva não respondeu; tão somente se virou para a parede oposta e se pôs a vasculhar entre as máscaras. Naruto e Fukasaku foram obrigados a segui-la, considerando que era ela quem carregava a tocha acesa. Apesar de questionada pelos dois, Konan se mantinha silente e concentrada na busca.

— Ei, Konan! O que está procurando? — perguntou Naruto, ligeiramente incomodado.

A luz da chama finalmente parou diante de uma máscara específica na parede. Tratava-se de um simples rosto de madeira amarronzada, com aberturas para os olhos e para a boca, e desenhos hexagonais espalhados por toda a máscara. Konan a retirou do gancho na parede e a entregou nas mãos de Naruto Uzumaki.

— Foi uma das primeiras técnicas que ela criou. — Um discreto sorriso de nostalgia e orgulho apareceu rapidamente nos lábios de Konan. — Fuuinjutsu: Kekkai Bekkou (Técnica de Selamento: Barreira da Carapaça de Tartaruga). Mira costumava usá-la nos treinos comigo.

Naruto examinou a máscara cuidadosamente. Ela se ajustava bem em seu rosto; a altura dos olhos e da boca eram compatíveis com os respetivos furos no rosto de madeira.

— Como funciona? — perguntou Fukasaku.

— Ela cria uma barreira de proteção ao redor do corpo, como uma armadura invisível a olho nu. É uma técnica simples, mas muito eficaz; e não é necessário nenhum selo de mão. Basta vestir a máscara e invocar o chakra — explicou Konan.

— É claro! — lembrou-se Naruto. — Sai me disse que Mira mantinha uma barreira ao redor do corpo e que somente a quantidade certa de chakra poderia atravessá-la.

Konan assentiu, porém cautelosa.

— Se descobriram o segredo, então a essa altura Mira já corrigiu a falha da técnica — disse Konan. — De qualquer forma, ainda que esta seja uma versão rudimentar, este jutsu pode te dar uma importante vantagem no combate à curta distância, Naruto.

— Por quê?

— É uma barreira de selamento, Naruto-chan — respondeu Fukasaku, sorridente; também havia entendido a ideia de Konan. — Portanto, é impossível sobrepô-la com outro Fuuinjutsu. Seu corpo estará imune, já que...

— Ela não vai poder me tocar, e não se pode selar o que já está selado! — Os olhos de Naruto brilharam. — Ela vai se ver forçada a lutar de outro jeito!

— Onde você poderá pegá-la. — Konan assentiu. — Com a maior parte do arsenal de Mira Uzumaki fora de jogo, a balança entre vocês dois penderá para o equilíbrio. Mas não se esqueça: Mira criou este jutsu, então certamente sabe como abri-lo. Por outro lado, é improvável que ela consiga atravessá-lo com ataques de longa distância. Em outras palavras...

— ... Mira-chan vai precisar lutar da média para a curta distância — complementou Fukasaku —, e entrar no raio de alcance do Naruto-chan se quiser causar um dano efetivo. E, na curta distância, a vantagem é toda do Naruto-chan a graças ao Taijutsu dos Sapos.

Konan assentiu, encarando os olhos do discípulo-irmão com seriedade.

— Naruto, em hipótese nenhuma, você deve perder a máscara. Do contrário, estará vulnerável a ela — Konan suspirou, ligeiramente tensa. — Este é o melhor que eu posso fazer. Daqui para frente é com você.

— Eu sei... e obrigado.

Uma onda de satisfação, e até mesmo uma dose de otimismo — desta vez, genuíno —, encheu o peito de Naruto Uzumaki. De repente, ele viu suas chances para a próxima luta aumentarem consideravelmente. Se antes dependia da estratégia perfeita, de uma performance impecável, do timing certo e de sua técnica secreta funcionando, agora tinha outra surpresa para a vice-líder dos Yuurei; uma que a estudiosa Mira Uzumaki jamais estaria esperando da parte dele.

“Pode se preparar, Mira Uzumaki”, Naruto socou a mão, determinado. “Eu estou chegando!”

 

 

 

                                                                            ***

 

 

Na manhã do dia seguinte, antes dos primeiros raios solares romperem o céu tempestuoso do País da Chuva, Naruto Uzumaki já estava pronto para partir.

Apesar da ansiedade, conseguira boas horas de sono. Também havia contatado Shikamaru Nara e falado sobre a morte de Taka Kazekiri, bem como sobre Mira Uzumaki ter um meio próprio de se infiltrar na Folha. Mas, a pedido de Konan, Naruto omitiu outros detalhes do que haviam conseguido no interrogatório: a localização e senhas de acesso aos covis dos Yuurei; e também a verdadeira identidade da líder da Chuva.

Dessa forma, para a Vila da Folha e o resto do mundo, Kira Toraiyama ainda estava vivo e seria ele, e não Konan, a ir ao Encontro das Nações Ninja. “Por que isso, afinal? Você voltou! Espera contar que é a verdadeira líder da Chuva quando estiver diante da Tsunade-obachan e de todo mundo? Isso é loucura!”, repreendeu-lhe Naruto, ao passo que Konan retrucou: “Ainda é cedo para contar isso a eles. Quanto aos esconderijos dos Yuurei, levarei a informação à Hokage eu mesma. Por hora, vamos manter as coisas como estão.”

Olhou uma última vez para a janela, grato pela estadia. Sentiria falta da Vila da Chuva. Felizmente, aquilo não seria um adeus; e agora tinha bons motivos para voltar ali.

— Naruto-chan... — A voz pensativa de Fukasaku o chamou pouco antes de Naruto deixar o quarto. — Anteontem, durante o jantar, você não contou à Konan-chan a outra metade da profecia do Grande Sábio.

O Herói do Mundo Ninja ficou parado, em silêncio, com a mão na maçaneta.

Como o inquebrável fio vermelho que une duas almas... — Fukasaku recitava as palavras de Gamamaru-sama. — Dois remanescentes do clã Uzumaki irão se enfrentar. Um vai selar o destino do outro...

Onde houver um, não pode haver o outro — terminou Naruto grave. — Eu não quero pensar nisso agora, Vovô Sábio. Como disse o próprio Gamamaru-sama: profecias nem sempre são o que parecem.

— Eu entendo — assentiu Fukasaku.

Apesar de suas tentativas para manter aquela ideia afastada da cabeça, Naruto deixou o quarto perguntando a si mesmo se teria realmente que matar a mulher que possuía o mesmo rosto de sua mãe.

 

 

 

— Não seria melhor ir atrás de outro inimigo primeiro, Naruto? Talvez aquela tal de Suki — sugeriu Hadame, ao se despedirem. — Você está pulando do número Nove direto para a número Dois. Tem certeza disso?

Naruto balançou a cabeça, convicto.

— Não tenho mais tempo para outros testes — respondeu Naruto. — E o que tinha para aprender, já aprendi. Eu não posso mais retardar esta luta. Além disso, eu me preparei para a Mira, então não posso desperdiçar minhas cartas contra um adversário inferior.

— Isso só dificultaria as coisas para nós — acrescentou Fukasaku. — Pois daria mais informações a respeito do Naruto-chan à Mira Uzumaki e já não teríamos como surpreendê-la.

— Entendo. — Hadame encurvou a cabeça, envergonhado. — Vocês têm razão.

Ao se despedir, Naruto pôs a mão sobre o ombro de Hadame Tsukiaru. Apesar de mais jovem, Naruto era maior do que o Jounin da Vila da Chuva; e com um aperto cordial, ele o olhou firme.

— Tome conta delas. — Naruto indicou as duas mulheres atrás de Hadame. — Dê o seu melhor.

— Você também. — Hadame retribuiu o gesto. — Vença por todos nós.

Ao terminar, Hadame acenou para que a irmã se aproximasse. Acompanhada pela amiga Konan, Momo Tsukiaru se achegou devagar, sem olhar diretamente para o Herói do Mundo Ninja. A garota tinha as bochechas vermelhas e o semblante ansioso, o que logo fez Naruto simpatizar por ela.

“Eu fiz isso para você, Naruto-san...”, Momo entregou-lhe uma bolsa com caixinhas bentô. “São provisões para a viagem; tem comida, remédios, água e tônicos multivitamínicos... para te manter forte.”

Após Konan traduzir a linguagem de sinais, Naruto agradeceu a Momo pelo presente, que corou ainda mais. A líder da Vila da Chuva, que assistia a tudo em silêncio, sorriu discretamente. “Ora, ora, Momo... quem diria?”, pensou Konan consigo mesma.

— Obrigado, Momo! Eu te prometo: quando recuperar meus poderes, eu volto para te ver. — Naruto sorriu amigável para a jovem Kunoichi. Já estava ciente da barbárie feita pelos homens de Kira Toraiyama à irmã caçula de Hadame, e do que ela esperava de Naruto.

“Posso te pedir um favor?”, Momo tomou coragem para olhar Naruto Uzumaki nos olhos.

— Um favor? Claro! O que você quer?

O rosto de Momo Tsukiaru brilhou de felicidade. A garota, imediatamente, retirou o protetor ninja da testa, puxou uma caneta de tinta permanente de um dos bolsos e os entregou nas mãos do Herói do Mundo Ninja.

“Pode me dar seu autógrafo?”, pediu ela.

 

 

 

No fim das contas, além de autografar as costas do protetor ninja de Momo Tsukiaru, o ninja mais famoso do mundo também atendeu ao outro pedido da garota e bateu algumas fotos com ela e os demais — nem mesmo Konan foi poupada. Naruto não soube dizer exatamente quantas; desistiu da contagem depois de terem passado da décima primeira.

Hadame advertiu veementemente à irmã para que não publicasse nenhuma foto com Naruto Uzumaki nas redes sociais, pois seria altamente perigoso. Momo prometeu que não o faria, embora estivesse certa de que nenhum Yuurei a seguia no Instagram. Oportunamente, ela também pegou o número de Naruto, que embora não tivesse levado o celular consigo, prometeu à ninja da Chuva que trocariam figurinhas pelo WhatsApp quando tudo terminasse.

Depois do café da manhã, Naruto e Fukasaku deixaram a Vila Oculta da Chuva acompanhados tão somente por Konan, que os guiou até a fronteira leste, de onde seria possível chegar mais rápido à região costeira do País do Fogo. Uma vez que haviam conseguido as respostas que procuravam — e muito mais — no País da Chuva, poderiam tornar à rota mais curta rumo litoral. O País do Redemoinho era uma pequena ilha no mar Chigiri, o qual também banhava a costa do País do Fogo.

Pensar que, em breve, estaria de volta à terra natal despertou em Naruto o desejo de tomar o desvio que levava à Vila da Folha, a fim de rever os amigos, a prima e, principalmente, de estar com Hinata; ainda que por um instante. No entanto, ele sabia que aquilo era só um desejo egoísta de sua parte. A missão ainda precisava ser concluída e, agora, só uma coisa restava.

— Devo partir depois de amanhã, cedo — comentou Konan, enquanto caminhavam até à divisa. — O Encontro será no próximo sábado.

— Vai ser seu primeiro encontro diplomático, não é? — observou Naruto. — Tome cuidado. A Tsunade-obachan e o Gaara são legais, mas os outros podem acabar te estranhando, principalmente o Vovô Raikage.

— Estou preparada para o pior — disse Konan, apenas.

Na região limítrofe, já era possível enxergar o céu azul do País do Fogo além da divisa. Naruto esticou o braço para fora da fronteira e sentiu, com certo ar de nostalgia, o frescor do clima ensolarado. Daquém da divisa, a chuva continuaria caindo do céu por pelo menos mais uma semana, até que Konan retornasse do Encontro das Nações Ninja, quando, enfim, desativaria o jutsu de detecção.

Antes de cruzar a fronteira, Naruto olhou para trás e se despediu de Konan com um sorriso alegre. Fukasaku olhava para os dois últimos pupilos de Jiraiya ali juntos e, silenciosamente, agradeceu ao céu por Naruto e Konan terem se encontrado. Não só por ela lhes ter garantido provisões e segurança; e um meio de balancear o duelo que estava por vir, Konan também havia devolvido a Naruto aquela leveza que Fukasaku não encontrara no rapaz desde que haviam partido em missão.

O velho sapo ainda tinha na memória a expressão gélida de Naruto Uzumaki, logo após derrotar Taka Kazekiri na Batalha do Lago Neko; e sabia o que aconteceria caso Konan não tivesse aparecido. Mesmo que involuntariamente, o Anjo também havia salvado o Herói do Mundo Ninja da corrupção moral de assassinar alguém a sangue frio.

Apesar de falho, Naruto Uzumaki era mais do que um herói de guerra ou um ninja poderoso; era um símbolo de esperança para o cruel mundo dos Shinobi. Isso, certamente, o diferenciava de Sasuke Uchiha e, também, de outros grandes ninjas do passado. Naruto seria aquele a estabelecer a paz. Ao menos, era nisso que Fukasaku e Konan acreditavam.

— Tenha cuidado daqui para frente — despediu-se Konan. — Vê se não morre, Naruto.

E estendeu a mão para o condiscípulo.

— Obrigado pelo que fez por mim, por toda ajuda e, principalmente, por ter voltado. — Naruto apertou a mão dela, grato. — Até mais, Konan!

Quando as costas de Naruto atravessaram a cortina de chuva ao redor da fronteira, Konan ergueu os olhos para o céu chuvoso, em uma prece solitária.

“Deixo a Mira sob seus cuidados, Naruto”, pensou a ex-Akatsuki.

 

 

                                                                            ***

 

 

Depois de andar por alguns quilômetros, Naruto parou no meio da estrada de terra e olhou para trás, em direção à fronteira com o País da Chuva. Apesar de possuir um olhar mais brando do que da última vez em que estivera em silêncio, havia preocupação no rosto do ninja da Folha; algo que Fukasaku percebeu.

— Não se preocupe. A Konan-chan e os outros ficarão bem — falou o sapo.

— Ela sabe que estive lá, Vovô Sábio. — Naruto mal prestou atenção no que dissera Fukasaku. — Mira Uzumaki... ela sabe.

Um nó se formou na garganta do velho sábio. Naruto estava certo. Considerando a hipótese de que Taka Kazekiri estivesse sendo monitorado desde o começo, então, não só era possível, como altamente provável, que Mira Uzumaki tivesse assistido à luta entre o subordinado e Naruto — e qualquer coisa até Konan chegar e seu chakra passar a tomar conta do Yuurei derrotado. De todo modo, Mira saberia que o lago Neko, entre os países da Grama e da Chuva, foi local onde Naruto Uzumaki fora visto pela última vez; e quando percebesse a barreira ao redor do País da Chuva, concluiria o óbvio.

Ademais, ainda que estivesse impedida de se transportar diretamente para dentro do País da Chuva, Mira — ou algum Yuurei mais cruel — ainda poderia tentar atravessar a fronteira do pequeno país de Konan a pé; e Naruto não estaria por perto para oferecer qualquer ajuda.

— Naruto-chan, lembre-se das palavras da Konan-chan a você: encher a mente de preocupações só irá atrapalhá-lo em sua próxima batalha — observou Fukasaku, cauteloso.

Naruto assentiu respeitosamente. Havia sabedoria naquelas palavras; o jovem Sannin estava muito bem servido de amigos que se preocupavam com ele e protegiam sua retaguarda. Por outro lado, Naruto estava fora da Vila da Folha justamente para isso — para que fosse ele a mantê-los todos seguros, atraindo os Yuurei para si.

Seu caminho era um só; não haveria mais desvios a partir dali. E Naruto sabia o que precisava ser feito.

— O que está fazendo, Naruto-chan?! — gritou Fukasaku, pasmo. — Assim vai revelar sua posição!

“Eu sei, Vovô Sábio”, convicto, Naruto juntou as mãos em um selo para invocar o chakra. “Eu sei.”

O chakra de Naruto Uzumaki emanou do centro do estômago e percorreu cada Tenketsu, fluindo-lhe pelo corpo como uma torrente furiosa. Em questão de segundos, Naruto sentiu a energia lhe preencher por completo. A cobertura do Ninpou: Chakura no Gisou (Arte Ninja: Personificação do Chakra) havia sido baixada e Naruto Uzumaki já não estava mais oculto. Imediatamente, Naruto ergueu o rosto para o céu, imaginando estar diante daquele par de olhos azul-safira tão iguais aos dele.

— Ei! Eu sei que está me ouvindo! — Naruto falou desafiadoramente, olhando para o alto. — Da última vez que fui atrás de você, havia outros dois caras me esperando na ilha Misuto; e, agora, vocês mandaram aquele lixo do Taka Kazekiri... — Naruto apertou os punhos com força, sentindo raiva só de lembrar daquele nome; continuou: — mas isso é entre nós dois! Eu não vou fugir e você sabe muito bem para onde estou indo agora. Então, não mande outro maldito subordinado me encontrar no seu lugar. Vê se aparece pessoalmente dessa vez!

Ele não havia falado por mais do que alguns segundos; usara tão somente o próprio chakra e não tentado acessar os das Bijuu. Mesmo assim, Naruto Uzumaki sabia que tinha sido o suficiente. A mensagem seria recebida com sucesso. Novamente, o Herói do Mundo Ninja refez a ocultação de chakra e seguiu seu caminho.

No mesmo instante, em um quarto escuro a milhares de quilômetros do País do Fogo, Mira Uzumaki sorriu eufórica. Ela escutara, por intermédio da bola de cristal, cada palavra que Naruto lhe havia dirigido.

“Um desafio direto”, contente, a vice-líder refletia sobre o ocorrido. Naruto Uzumaki tinha a mesma valentia de Kushina, a força de um Hokage, as técnicas do Monte Myoboku e, claro, uma genialidade criativa em batalha que lhe era própria. E lutava com paixão, sem nunca desistir. “Eu vou gostar disso.”

Mira fechou os olhos, concentrada; mas não conseguiu sentir a frequência de chakra de Naruto em lugar nenhum outra vez. Então, entendeu. Inteligentemente, ele lhe havia mandado um recado, para poder lhe atrair a atenção, enquanto se mantinha oculto para que a vice-líder dos Yuurei não pudesse monitorá-lo durante o trajeto até o País do Redemoinho.

“Naruto quer que eu saiba para onde ele vai, mas não me quer o espionando”, concluiu Mira. “Ele quer preparar algo para mim.”

Mira ainda tinha uma ligeira noção de onde Naruto estivera poucos segundos atrás, quando lhe fizera o desafio. Até poderia arriscar encontrá-lo no País do Fogo. No entanto, desistiu da ideia. Ela o conhecia bem o bastante para saber que Naruto não estava mentindo; ele iria mesmo encontrá-la.

Sendo assim, não havia razão para antecipar a luta de seus sonhos para um lugar tão inapropriado quanto o continente, onde tantos intrometidos poderiam interferir no combate — a favor dela ou de Naruto —, o que certamente lhes impediria de lutar em suas melhores performances.

Em contrapartida, o País do Redemoinho, isolado pelo mar, seria o palco perfeito para a Batalha dos Dois Uzumaki. Na visão de Mira, isso soava bem mais emblemático e poético. Ela se perguntava se Naruto, no fundo, sentia a mesma coisa.

— Te vejo em alguns dias, Naruto — disse Mira consigo mesma; então abriu um portal que a ligava até seu pequeno país e desapareceu na escuridão.

 

 

                                                                            ***

 

 

Vila Oculta da Folha.

Sasuke consultou o relógio da portaria do hospital e não gostou muito do que viu. “Ela está atrasada”, pensou. Cansado de ficar ali, esperando sentado, Sasuke se pôs de pé, andou de um lado para o outro até, finalmente, recostar-se sobre a parede do corredor. Volta e meia, ele espiava pela passagem, na expectativa de a namorada sair por qualquer um dos quatro elevadores.

Apesar de impaciente, Sasuke conseguia entender. A vida de uma ninja médica não era nada fácil. Mesmo sendo a mais competente, ao ponto de haver sido designada para coordenar todo o Corpo Médico da Folha após a invasão, o trabalho de Sakura Haruno dentro do Hospital da Folha estava longe de ser apenas administrativo; ela tinha seus próprios pacientes, além de ter acompanhado de perto casos complexos como o de Hinata Hyuuga e do implante protético de Sasuke. Não poucas vezes, Sakura havia virado dias inteiros, trabalhando sem parar. Conquanto a vila tivesse se recuperado do último ataque, as consequências da invasão ainda eram bem visíveis dentro das paredes do hospital.

E não bastasse todo o serviço desgastante, ainda houve a cerimônia fúnebre do dia anterior.

Levando tudo isso em conta, Sasuke havia decidido fazer algo especial para Sakura, de modo que ela pudesse descansar tanto física quanto psicologicamente. Ao menos por uma noite, ele queria afastá-la de tudo que envolvesse o nome dos Yuurei —estavam todos fartos do inimigo. Ademais, fazia meses que não tinham um tempo só para eles dois. Até mesmo Sasuke sentia falta disso; portanto, ele tomou cuidado para que tudo fosse perfeito.

Mas claro, Sakura precisaria sair no horário.

Vinte e sete minutos haviam se passado desde então e nada de Sakura Haruno descer. Sasuke, realmente, considerou ir buscá-la lá em cima; não seria a primeira vez que a encontraria dentro do horário de expediente. Além disso, ele soube, por intermédio de Sai — o qual, por sua vez, certamente havia descoberto por meio de Ino Yamanaka —, que um dos colegas de trabalho de Sakura vinha buscando aproximações com ela. “Um homem bonito, simpático e que passa mais tempo com sua namorada do que você, Sasuke-kun”, dissera-lhe o companheiro de time.

Passados trinta minutos do término do expediente de Sakura, Sasuke decidiu finalmente ir atrás dela. Avançou pelo corredor em direção aos elevadores quando, enfim, a porta de um deles se abriu.

Dentre o amontoado de cabeças que deixava o elevador, a atenção de Sasuke era exclusiva para a moça distraída de cabelo rosa e olhos verdes. Sakura tinha olheiras e uma expressão cansada de mais um dia cheio. Porém ao finalmente perceber o namorado ali, aguardando-a, ela abriu um sorriso radiante.

E para Sasuke Uchiha, aquela felicidade genuína estampada no rosto de Sakura Haruno era simplesmente única. Valeu toda a espera.

Depois de acompanhá-la até a casa e esperá-la tomar banho e se trocar, Sasuke levou a namorada para o cinema. Ela escolhera um filme de comédia romântica; e Sasuke deu com os ombros, anuindo. No fim das contas, vê-la feliz era o que realmente importava, mesmo que tivesse de jogar seu dinheiro e tempo fora com filmes ruins.

No entanto, mal havia passado vinte minutos desde o apagar das luzes da sala de cinema, Sasuke sentiu a namorada recostar a cabeça em seu ombro, enquanto respirava devagarinho. E assim ficou.

“Ela já pegou no sono”, Sasuke sorriu.

Carinhosamente, ele a ajeitou, trazendo-a mais para perto de si com um abraço, e a beijou na testa. Então, sem muitas opções, assistiu ao filme ruim sozinho.

 

 

 

— Não acredito! — Sakura exclamou entra uma colherada e outra na sua sobremesa preferida, anmitsu. — Era tão ruim assim?

Sasuke assentiu, enquanto terminava o bolinho onigiri.

— Eu disse que seria clichê; é o tipo de porcaria que o Kakashi assistiria.

Sakura deu um suspiro vago e Sasuke, na mesma hora, ralhou consigo mesmo por aquele comentário inoportuno. “Droga, ainda é cedo para falar disso.”

— Sakura, eu não...

— Está tudo bem, Sasuke-kun. — Ela sorriu, compreensiva. — Não sou uma garotinha frágil, então não se preocupe comigo.

Sasuke Uchiha analisou cada detalhe no rosto da mulher à sua frente. Dentre tantas características atribuíveis a Sakura Haruno, fraqueza definitivamente não era uma delas. Isso não significava dizer que a perda do antigo professor já era fato superado, mas sim que Sakura era madura o bastante para não se permitir ficar abatida, apesar de Sasuke ter visto luto nos olhos dela.

Ele fez que sim, em silêncio; e, juntos, terminaram o jantar.

Já era tarde da noite quando saíram do restaurante. Os dois andavam de mãos dadas, enquanto seguiam pelo caminho até a casa de Sakura. No meio do trajeto, Sasuke a ouvia falar sobre o trabalho no hospital e de como a rotina era desgastante. Ele aproveitou a oportunidade e perguntou a respeito do projeto que ela tinha de montar uma clínica com Ino Yamanaka. Embora Sakura dissesse ainda não ter encontrado o lugar ideal, seus olhos brilharam de vivacidade ao expor os planos para o futuro.

— Você pode montá-la no Distrito Uchiha — sugeriu Sasuke. — Não tem muita coisa lá desde que foi reconstruído.

— Achei que quisesse fazê-lo exatamente como era antes — observou Sakura. — Você até comentou em reorganizar a Polícia da Folha com a Tsunade-sama.

Sasuke fez que não.

— As coisas não são mais como eram antes; e talvez eu goste disso.

Sakura sorriu e se achegou ao braço do namorado.

— É, eu também.

Dobraram a esquina a passos lentos, involuntariamente retardando o momento da despedida. Em seu íntimo, Sakura estava agradecida por Sasuke lhe haver proporcionado aquela noite. Ainda que fossem poucas horas, ela pôde se desligar do frenesi da vida médica, das preocupações com Naruto e de tudo mais que envolvesse os Yuurei. Ela precisava de algo assim, mesmo que, no final, tivesse passado a maior parte do tempo dormindo sobre o ombro de Sasuke.

— Eu te amo — ela sussurrou.

Sasuke desviou o rosto para o lado e a encontrou o observando; os olhares dos dois se compenetrando, como se fossem duas metades de uma coisa só. Entendiam-se perfeitamente e não precisavam dizer nada para que soubessem o que o outro sentia. A própria Sakura já sabia que Sasuke Uchiha era um homem de poucas palavras; já se habituara com o jeito reservado dele ser.

Possivelmente por isso, ficou surpresa quando o ouviu dizer de volta, em alto e bom som: “Eu te amo, Sakura”. Ela arregalou os olhos e, sentindo o rosto enrubescer, abriu a boca apenas para gaguejar alguma coisa ininteligível.

Foi quando ele a beijou.

— Sabe... — Ela puxava o ar com dificuldade, quando as bocas se separaram. — Eu ainda não me acostumei com isso; e olha que estamos juntos há dois anos.

Sasuke abafou uma risada.

— É, talvez devêssemos fazer isso mais vezes.

A forma como ele a olhava era intensa; Sakura sentiu um calor subir pelas pernas, o coração bater mais rápido e o rosto corar.

— Bom... — Sakura olhou ligeiramente para a porta de casa. — Eu estou sem sono agora; e como amanhã eu entro mais tarde no trabalho, talvez nós possamos...

Carinhosamente, Sasuke cutucou a testa da namorada com dois dedos.

— Desculpe, Sakura. Talvez outro dia — disse ele, com um sorriso gentil.

Apesar de envergonhada, Sakura acabou sorrindo também.

— Ah, é claro.

— Antes que eu vá... — Sasuke, cuidadosamente, puxou um envelope branco do bolso da camisa. — Isso é seu. Use.

— O que é isso? — Sakura franziu a testa.

— Algo que eu já deveria ter feito há muito tempo — respondeu ele, sério. — E também não quero matar nenhum colega seu. Então, dê-me sua resposta depois.

Sakura estreitou os olhos, confusa, enquanto avaliava o pequeno envelope. Então, finalmente, compreendendo toda a situação, deu uma risada divertida.

— Aquela fofoqueira da Ino deve ter... hã? Sasuke-kun?

Quando ergueu os olhos, já estava sozinha na porta de casa. Antes de entrar, Sakura rompeu o lacre e abriu o envelope. Dentro, havia um anel com uma pedrinha vermelha no centro de uma flor de cerejeira dourada. Sakura Haruno estremeceu ao ver o pequeno objeto cair na palma de sua mão. Não sabia exatamente o que pensar naquele instante, tamanha a alegria que estava sentindo.

A partir daquele momento, aquele anel era seu bem mais precioso. Sakura levou-o junto ao peito, em um gesto protetor, enquanto ria consigo mesma. De fato, Sasuke Uchiha era um homem reservado.

— Obrigada, Sasuke-kun — disse Sakura Haruno olhando para o céu noturno. — A minha resposta é sim.


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Notas finais do capítulo

Eu sei, eu sei... antes que taquem essas pedras em mim, considerem o meu argumento: mesmo que o Naruto tenha um Templo Armazenador de Máscaras inteiro à disposição, ele não tem conhecimento nem tempo suficientes para usar Fuuinjutsu. Lembrem-se que, por melhor que seja, Naruto Uzumaki não é lá muito estudioso; e decorar aquelas fórmulas às vésperas da luta mais importante dele (sic) nesta história seria inviável.

Podem discordar de mim (aliás, quem tiver um contraponto, sinta-se à vontade; isto é uma história de fã para fã), mas sei lá... eu acharia meio bizarro o Naruto aparecer diante da Mira sacando um monte de Fuuinjutsu assim do nada. Gosto mais da ideia de o Naruto conhecer, aos poucos, a herança do próprio clã e se desenvolver como um legítimo Uzumaki.

Maaaas, foi como a Konan disse: não é que o Templo tenha sido totalmente inútil. Agora eu pergunto a vocês: dá? É possível? Pelo andar da história, não tem mais pra onde correr: todo mundo já sabe qual é a próxima luta do Naruto.


Obs.: o título deste capítulo foi ambíguo mesmo. Não se esqueçam daquela primeira máscara porque, futuramente, ela será importante.

E, para finalizar, uma cena de romance (porque nem só de porrada vive O Herói do Mundo Ninja) entre (eu acho) o segundo casal mais popular desta história [e do fandom de Naruto]; com a diferença que AQUI nosso Sasuke é um homem de atitude, que não fica de presepada, enrolando uma mulher. Brabo!

***

Próximo capítulo: Soberania, livre-arbítrio e livre agência.

***

Agora é com vocês. Digam-me o que acharam deste capítulo. Naruto Uzumaki deixou a Vila da Chuva... mas será que ele está pronto? Além da máscara, ele diz ter uma técnica secreta preparada. Tão deixando a gente sonhar? Ou melhor ir devagar na dor porque o santo é de barro?
E a profecia do Gamamaru: arriscam alguma coisa?
O Encontro das Nações Ninja se aproxima. O que esperar deste evento? Konan, finalmente, vai dar as caras. Aliás, o que acharam da participação do nosso Anjo até aqui?
E o Sasuke? Pediu a mão da Sakura para evitar ser corno? (brincadeira, eu gosto dos dois)


Qualquer erro de digitação/formatação, por favor me avisem! E obrigado por acompanharem até aqui!


Até o próximo capítulo o/