O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 113
Naruto e Konan


Notas iniciais do capítulo

Ahá! Não esperavam que o capítulo de sexta saísse hoje, não é mesmo?


Considerando o feriado no dia 15/04 (Sexta-fera da Paixão),

Considerando que eu preciso terminar minha declaração do IRPF,

Considerando, ainda, que o Flamengo ganhou ontem (3 x 1, pela Libertadores),

Considerando, finalmente, o brainstorm, que me fez colocar uma distância segura entre os capítulos escritos e os que são publicados,

DECIDO adiantar a publicação do capítulo 113, cujo lançamento estava programado para o dia 15/04/2022.

Boa leitura a todos! Nos vemos nas notas finais o/



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— Então, você viria para cá de qualquer jeito? — perguntou Konan, enquanto encobria todo o corpo de Taka Kazekiri com folhas de papel.

Naruto assentiu.

— Estou atrás de informações — respondeu ele; então encheu o peito, com o rosto alegre. — Mas não espera te encontrar! Quero dizer, disseram que...

— Tudo bem. — Konan deu-lhe um sorriso compreensivo. — É uma longa história.

Com um gesto simples, Konan ergueu o casulo de papel que continha o Yuurei adormecido, fazendo-o flutuar ao seu lado. Naruto e Fukasaku trocaram olhares receosos.

— O que vai fazer com esse cara? — perguntou Naruto à Konan.

— Vou levá-lo conosco. Antes de morrer, talvez ele nos possa ser útil.

— Pode não ser uma boa ideia, Konan-chan — opinou Fukasaku. — Este homem é perigoso. Se por um acaso ele escapar, pode causar problemas ao seu país.

Konan assentiu respeitosamente para Fukasaku; ela estava ciente dos riscos de levar um Yuurei para dentro da vila, mas já estava preparada para o pior.

— Não se preocupem. Este homem não vai a lugar algum — garantiu a líder da Chuva. —  Quanto a vocês, são meus convidados; devem estar exaustos e famintos.

Rapidamente, Konan executou uma longa sequência de selos manuais; e após estender os braços para o céu, a chuva respondeu caindo em maior volume. Naruto e Fukasaku logo compreenderam que se tratava de uma técnica de detecção.

“Incrível! Ela pode monitorar o país inteiro de uma vez usando a chuva”, observou Fukasaku.

— Acompanhem-me, por favor — pediu Konan. — É perigoso ficar aqui fora. Nunca se sabe quem pode estar olhando.

 

 

                                                                            ***

 

 

Naruto não se lembrava da última vez que havia tomado um banho tão bom quanto aquele. A água quente era como um bálsamo. Naruto deixou o jato do chuveiro cair sobre as costas, enquanto relaxava sentado na banheira. A água e os sais de banho pareciam lhe lavarem não só as impurezas de seu corpo, como também as de sua alma. Quando terminou, sentia-se revigorado por dentro e por fora.

O jantar seria servido no salão da torre mais alta da Chuva, onde Konan residia como governante. Apesar de ser um encontro casual entre condiscípulos, Naruto não queria se vestir de qualquer maneira. Por sorte, Konan havia tomado a iniciativa de providenciar novas roupas para ele. De dentro do guarda-roupa em seu aposento, Naruto escolheu uma túnica preta com detalhes verdes, que usou sobre uma camisa de malha com mangas longas; calças escuras que cobriam as pernas até os tornozelos, sandálias pretas de couro; e, por fim, um cinto preto e branco, o qual amarrou por fora da túnica.

— Está parecendo um típico cidadão do País da Chuva — disse-lhe Fukasaku, ao encontrá-lo perto da porta do quarto; e olhando para o rosto do rapaz, continuou: — Vejo que está melhor, Naruto-chan.

— Sim — respondeu Naruto, com o ar calmo. — Acho que sim, Vovô Sábio.

— Parece que encontrar um rosto amigo nesta viagem fez bem a você. — O velho sapo sorriu. — Agora vamos. Não podemos deixar nossa anfitriã esperando.

O salão de jantar era bem-adornado, espaçoso e convidativo. As paredes cor de creme combinavam com os móveis de madeira, e as lâmpadas nas extremidades do salão tornavam todo o ambiente agradável aos olhos. A longa mesa de ébano fazia um belo contraste, destacando-se pelo tom escuro; e era rodeada por seis poltronas zaisu almofadadas, além de outras duas, uma em cada cabeceira da mesa.

Konan se levantou para recepcioná-los. Ela usava um elegante vestido branco, sem mangas e com gola de renda, todo feito de seda; e uma flor azul para decorar os cabelos presos num coque. Ao prestar mais atenção nela, o coração de Naruto se aqueceu. Para ele, Konan sempre fora uma bela mulher, porém triste; agora, no entanto, ela exalava uma beleza mais vívida e alegre. Pensar que algo de bom a havia mudado tão positivamente fez Naruto sorrir.

— Pare de olhar tão descaradamente para a moça, Naruto-chan; você é um homem comprometido — cochichou Fukasaku ao ouvido de Naruto. — Está parecendo o Jiraiya-chan, sorrindo para uma mulher desse jeito.

— Quê?! N-Não é nada disso! — exclamou Naruto, envergonhado, ignorando a presença de Konan; mas Fukasaku apenas riu do rapaz.

Para o jantar, Naruto pediu tão somente uma tigela de ramen com lombo de porco, ao passo que Konan comia peixe grelhado. Para Fukasaku, bolinhos onigiri e saquê. Durante a refeição, Naruto perguntou à Konan como ela havia sobrevivido ao ataque de Obito; e ela contou que, apesar dos ferimentos graves e de, por um período de tempo, o coração ter realmente parado, o corpo havia entrado em um estado de coma, e assim permaneceu por mais de dois anos.

— Dois anos? — surpreendeu-se Naruto. — Caramba! E como se recuperou?

— Eu tive ajuda de dois bons amigos. — Sorriu ao pensar nos irmãos Momo e Hadame Tsukiaru. — Eles cuidaram de mim e me mantiveram segura. Você conhece um deles, inclusive; Hadame disse ter enfrentado você no Exame Jounin da Folha.

Naruto precisou de alguns instantes para se lembrar.

— Sim! O cara dos guarda-chuvas! Foi minha primeira luta naquele exame — recordou-se Naruto. —  Caramba, aquilo já faz tempo! Ele foi um bom oponente.

Ela sorriu discretamente. Tal como a aparência, a empolgação de Naruto Uzumaki a fazia lembrar muito de Yahiko; era tão natural e contagiante. Infelizmente, no entanto, pensar no passado também trazia de volta algumas dores das quais Konan não queria recordar, mas que faziam parte dela no fim das contas.

Além do mais, Naruto não estava ali a passeio.

A mudança de humor da condiscípula não passou desapercebida por Naruto, que logo perguntou o que estava havendo.

— Você disse que veio atrás de informações — relembrou Konan. — Imagino que seja sobre ela, não é?

Naruto franziu a testa, e então assentiu. Lembrou-se de que Konan havia sido, exatamente, a professora da mulher que ele estava procurando. Portanto, ela, melhor do que qualquer pessoa no mundo, saberia dizer.

— Preciso que me conte tudo o que sabe sobre Mira Uzumaki.

Konan encolheu os ombros; e depois de terminar o jantar, limpou calmamente a boca com o guardanapo. Naruto e Fukasaku observavam-na em silêncio.

— Antes de eu te contar, por favor, me diga por que veio exatamente atrás de informações sobre Mira aqui? — Konan olhou-o profundamente. — Você poderia ter ido direto ao País do Redemoinho, Naruto.

Fukasaku também se virou para o rosto de Naruto. Apesar de tê-lo acompanhado desde o início da viagem, não sabia dizer todas as razões que motivaram Naruto a escolher o caminho mais longo — passando primeiro pelo País da Chuva — ao invés de viajar direto ao País do Redemoinho. Naruto havia citado a profecia do Grande Sábio Gamamaru, mas foi só. No mais, era sempre muito vago a respeito.

— O Gamamaru-sama teve uma visão a respeito de Mira e eu — explicou Naruto. — Ele disse que eu precisava retornar ao início de tudo e “entender a história por trás da tragédia” antes de encontrá-la. Eu já sei que você e o Nagato foram responsáveis por treinar a Mira e o líder dos Yuurei; parte da história da Mira se passa aqui, na Chuva. Eu não quero enfrentá-la sem primeiro entendê-la.

Aquelas palavras foram suficientes para Konan, que aprovou a atitude com um simples olhar. Definitivamente, Naruto Uzumaki não era um Shinobi comum — alguém que, em vista de enfrentar um inimigo misterioso, procura interessar-se tão somente pelas habilidades e o estilo de luta do adversário. Muito mais do que conhecer o repertório de jutsus de Mira Uzumaki, Naruto estava interessado na pessoa dela; e, para Konan, aquilo não poderia soar mais nobre.

Assim como quando o conheceu, há mais de dois anos, sua percepção a respeito de Naruto Uzumaki não havia mudado; ele traria a paz ao mundo ninja. Konan agradeceu, silenciosa; os sonhos de Nagato, Yahiko e os dela estavam em boas mãos.

— Eu estava certa ao confiar em você, Naruto; Nagato também. — Konan sorriu gentilmente para o discípulo-irmão. — Jiraiya-sensei ficaria orgulhoso.

Naruto corou, agradecido; e Konan, depois de um longo suspiro, continuou:

— Para que entenda melhor, vamos dividir a história — explicou Konan. — Existem três Mira Uzumaki que precisa conhecer, nesta ordem: a Mira que veio até mim, a Mira que foi minha aluna e, por último, a Mira vice-líder dos Yuurei.

Naruto escutava atentamente, mal piscava. Fukasaku também prestava atenção.

— Foi depois de alguns anos, dois talvez, desde que Jiraiya-sensei nos deixou; ainda éramos só Yahiko, Nagato e eu, quando a encontrei — disse Konan. — Mira era uma garotinha assustada, não muito mais nova do que eu, e havia cruzado a fronteira da Chuva com País do Rio; estava fugindo, por meses... fugindo do próprio país.

— O País do Redemoinho — completou Naruto, concentrado. — Onde o meu clã foi massacrado.

Konan assentiu.

— Você sabe, não é? Mesmo após as Cinco Grandes Nações oficializarem a paz e o fim da Segunda Grande Guerra Ninja, os conflitos nunca cessaram de verdade naquela região; e a Nuvem se aproveitou disso para dar fim ao clã Uzumaki, o mais importante aliado da Folha na época.

— Minha mãe disse que foram inimigos querendo vingança. Temiam os Fuuinjutsus dos Uzumaki e, por isso, atacaram. Minha prima, por outro lado, falou que foi uma retaliação da Nuvem, que nunca conseguiu conquistar o Kura... — Naruto se deteve; Konan não sabia o nome real do Nove Caudas — a Kyuubi; e todos os Jinchuuriki do Nove Caudas vieram do meu clã.

Konan meneou a cabeça, pensativa.

— Talvez tenham juntado o útil ao agradável, ou talvez o temor às técnicas Uzumaki fosse apenas um pretexto. Apesar de ser essa a versão oficial, tenho minhas ressalvas, já que o clã Uzumaki nunca teve o histórico de se envolver em conflitos militares — pontuou Konan. — Naruto, sua mãe e sua prima também sobreviveram ao massacre?

Naruto fez que não.

— A Karin ainda não era nascida, mas me disse que a mãe dela escapou e se refugiou na Grama. Já a minha mãe, bom... ela também não viu acontecer. Minha mãe foi mandada ainda criança para a Folha, anos antes do clã ser destruído, para ser a nova Jinchuuriki da Kyuubi.

Konan estreitou os olhos, analisando o relato.

— Kushina Uzumaki — deduziu ela. — Esse era o nome da sua mãe, Naruto?

— Como você...? — Naruto se conteve; o motivo de Konan saber o nome de Kushina não poderia ser outro. — Ah, entendo. Mira deve ter mencionado o nome dela.

Konan confirmou.

— Sua mãe era uma pessoa muito especial para a Mira — contou Konan. — Ela pouco me falou sobre a família, mas sobre Kushina... Mira sempre me disse que desejava muito vê-la de novo; falava que eram inseparáveis. “Um rosto para nós duas”, ela dizia.

Naruto sentiu um arrepio lhe percorrer a pele. Lembrou-se de quando sonhara com a Yuurei e com a mãe, as duas lado a lado; e gelou ao recordar de que não havia notado qualquer diferença entre elas. Saber que, além disso, sua mãe e Mira Uzumaki, a vice-líder dos Yuurei, foram amigas inseparáveis durante a infância, com direito a uma brincadeira sobre a aparência das duas, fez Naruto estremecer. “Então é isso... ela tem mesmo o rosto da minha mãe”, ele lamentou em silêncio.

— O que houve quando vocês a encontraram, Konan-chan? — perguntou Fukasaku, recapitulando.

— Eu a recebi — disse Konan. — Assim como eu, Mira era uma menina órfã fugindo da guerra; logo me identifiquei com ela. Decidi acolhê-la e ensiná-la no Caminho do Ninjutsu. Eu queria fazer o bem a ela, assim como o Jiraiya-sensei me ensinou...

Konan parou por alguns segundos, sorrindo ao se lembrar daquele dia.

— Mira se apegou a mim também — prosseguiu. — E como eu ainda era bem jovem, e sendo apenas quatro anos mais velha, minha relação com a Mira foi muito mais fraternal do que de mãe e filha; e ela foi minha primeira e única aluna. Nagato gostou de eu tê-la acolhido, mas Yahiko não via aquilo com bons olhos.

— Por quê? — perguntou Naruto.

— Por causa do homem que acompanhava Mira; o outro refugiado, que Nagato recebeu como aluno. — A expressão de Konan era amarga, em notório arrependimento. — Yahiko não gostou dele.

Naruto arregalou os olhos.

— Iori Kuroshini. — Konan suspirou. — Conhecido hoje como o líder dos Yuurei.

Fukasaku coaxou, confuso.

— Espere um minuto, Konan-chan. — E virou-se para Naruto. — Apesar de já sabermos que esse homem não é um Ootsutsuki, de acordo com as informações dadas pelo Shikamaru-chan, o poder do líder dos Yuurei é tão antigo quanto a Deusa Coelho. Como ele pode ter vivido todo esse tempo sendo somente um homem; e depois de séculos ter sido treinado por vocês?

Konan encurvou a cabeça e fechou o semblante.

— Aquela coisa nunca foi um homem, mas só descobrimos tarde demais — lamentou ela. — Aquele demônio... ele sabe enganar. Desde o começo, ele queria que o encontrássemos; ele queria que Mira se tornasse mais forte, e queria ficar perto do Nagato.

— Como assim? — perguntou Fukasaku.

— Não é óbvio? — retrucou Konan, infeliz. — O Rinnegan. O Meiton consegue assimilar até mesmo as Kekkei Genkai, como uma sombra de um objeto. Por isso, Iori veio até nós: para copiar o Rinnegan do Nagato.

“Então foi para isso que ele mandou os Yuurei atrás da Shion...”, Naruto trincou os dentes, irado. “Ele queria o poder dela de prever a morte; e agora sei que o outro olho dele é um Rinnegan. Maldito desgraçado!”

Fukasaku coçava a barba, intrigado.

— Mas pelo que sabemos, não há nenhum registro histórico do estilo Escuridão anterior ao aparecimento dos Yuurei — observou o sábio. — O Meiton e o Bijuu misterioso sequer vêm da Árvore Shinjuu, e também não são Senjutsu.

— Você está certo, Fukasaku-sama — respondeu Konan. — De fato, o Meiton não havia entrado no nosso mundo até Iori Kuroshini vir a nós. Antes, o poder estava selado dentro dele.

Enquanto Naruto e Fukasaku se entreolharam, Konan suspirou, desapontada consigo mesma.

— Tudo o que Iori Kuroshini precisava era de alguém hábil o bastante para desfazer o selamento do Meiton; e quando treinei a Mira, dei isso a ele — acrescentou.

Em um gesto solidário, Naruto se achegou para mais perto de Konan e pôs a mão sobre o ombro dela.

— Não se culpe pelo que houve; não tinha como você saber. — Com a voz calma e confiante, Naruto buscou confortá-la. — Eles estavam juntos desde o começo, Mira e Iori.

Mas, para a surpresa de Naruto, a discípula-irmã fez que não.

— Mira também não sabia de nada — revelou Konan. — Por ser do clã Uzumaki, ela sempre se mostrou muito talentosa para Fuuinjutsu, mas ainda era inexperiente e não dominava padrões de selos mais complexos. Aproveitando-se da confiança e da inocência dela, Iori a fez destruir o jutsu que restringia o seu poder... foi quando o Meiton entrou no mundo.

Uma luz acendeu na memória de Naruto. Em uma de suas conversas com Shikamaru, o amigo lhe falara que Mira Uzumaki havia entrado em uma das reuniões virtuais dos Cinco Kages, usando o computador da Mizukage. Na mesma ocasião, após Tsunade indagá-la a respeito do passado dos dois principais Yuurei junto à Akatsuki, Mira dissera-lhe que, na época de seu treinamento, tinham “propósitos diferentes”.

Para Shikamaru, isso era um detalhe muito sutil de que, quando alunos de Nagato e Konan, Iori e Mira seguiam ideologias diferentes; era bem mais que uma discordância casual, algo os pusera um contra o outro; mas que, em algum momento na história, fatores foram determinantes para que Mira deixasse seu propósito a fim de seguir os ideais de Iori Kuroshini. Ainda nessa mesma linha de raciocínio, os Yuurei surgiram não muito tempo depois.

Ao que tudo indicava, a teoria de Shikamaru batia com a história narrada por Konan; os mistérios por trás dos Yuurei, do estilo Escuridão e do Demônio Roxo começavam a clarear.

— O que aconteceu depois disso? — indagou Naruto, inquieto.

— Depois de recuperar os poderes e assimilar o Rinnegan, Iori Kuroshini nos deixou; desapareceu completamente e, por anos, não ouvimos falar dele — disse Konan. — Quanto à Mira, ela ficou conosco. Nagato e eu completamos seu treinamento e, anos mais tarde, ela se tornou uma das primeiras integrantes do grupo que Yahiko, Nagato e eu criamos.

— Ela pertenceu à Akatsuki original? — admirou-se Naruto.

A simples lembrança de ter Mira ao seu lado, junto com os amigos Yahiko e Nagato, fez um tímido sorriso despontar nos lábios de Konan. Por pertencerem ao mesmo clã, Nagato e Mira se tornaram mais próximos em dado momento, o que, de certa forma, também permitiu Yahiko e Konan estarem mais tempo um com o outro, a sós.

— Àquela altura, Mira já era uma Kunoichi completa — falou Konan. — Desde muito nova, Mira mostrou ter potencial para ser uma ninja do mais alto nível; e isso não apenas se confirmou no futuro, como também excedeu todas as minhas expectativas. Além do Fuuinjutsu, Mira se tornou uma exímia usuária de Kekkaijutsu (Técnicas de Barreira) e uma mestra na manipulação do chakra; e por ser uma Uzumaki, as reservas naturais dela são gigantescas.

— Além dos atributos físicos, da estamina e da vitalidade sobre-humanas — acrescentou Fukasaku, desviando o olhar para Naruto. — Konan-chan... o que exatamente Mira Uzumaki aprendeu com você?

— Eu a ajudei a desenvolver seu próprio estilo de luta, o qual já tinha uma predisposição ao Fuuinjutsu e à manipulação cirúrgica do chakra — Konan respondeu. — Ela também aprendeu Ninjutsu e Taijutsu, e tem uma boa defesa contra Genjutsu. Ao lado de Nagato, também trabalhamos a capacidade sensorial e as transformações de natureza.

Fukasaku assentiu pesadamente.

— Com qual transformação de natureza ela tem afinidade? — perguntou o sapo.

Os olhos de Naruto se encontraram com os de Konan; ele sentia que já sabia a resposta.

— Como um membro do clã Uzumaki, Mira tem afinidade natural para o estilo Vento — relatou Konan. — No entanto, ainda conosco, ela conseguia utilizar técnicas dos outros elementos básicos.

Fukasaku praguejou.

— Ela é como o Terceiro Hokage: um tipo raro que consegue dominar as cinco transformações básicas por meio do árduo treinamento — o velho sapo coaxou, sério. — Essa Yuurei vai dar trabalho, Naruto-chan.

Konan ainda tinha os olhos em Naruto, que, por sua vez, parecia estar com a mente distante; pensava em outra coisa.

— Por que ela deixou vocês, Konan? — perguntou Naruto, finalmente.

Outra vez, Naruto Uzumaki teve a sensação de já saber a resposta no instante exato que olhou para Konan. Aquele olhar vazio, aquela beleza triste no rosto dela; era exatamente a mesma que conhecera há mais de dois anos, quando Nagato e ela lhes contaram sua história.

— Foi logo após aquele dia... — sussurrou Konan, infeliz. — Você sabe, Naruto; iríamos nos encontrar com Hanzou, o líder da Chuva na época..., mas ele, junto com Danzou Shimura, da Folha, armou uma cilada para todo o nosso grupo. A Akatsuki foi massacrada pela ANBU e pelos lacaios de Hanzou... e Yahiko...

Konan não conseguiu terminar a frase; a voz mal saía de sua garganta. Mesmo depois de tantos anos, ainda era doloroso rememorar aquele dia. Ela se calou por alguns minutos e, após respirar devagar, recolocou os pensamentos em ordem.

— Mira foi a única pessoa do nosso grupo a sobreviver à chacina — prosseguiu Konan. — Estava gravemente ferida quando nos encontrou naquele vale; mas quando ela viu no que Nagato havia se tornado, e o corpo de Yahiko nos meus braços... eu me lembro bem: Mira caindo de joelhos sobre o chão enlameado enquanto a chuva nos encharcava, a nós três e aos corpos a nossa volta. Pouco tempo depois, ela nos deixou.

— Para onde ela foi? — perguntou Fukasaku.

Konan deu uma risada triste.

— Para o mesmo homem que, assim como quando Mira era uma garotinha, estendera-lhe a mão. Parece que, outra vez, ele estava lá por ela — respondeu enojada.

— Iori Kuroshini — adivinhou Fukasaku; Konan assentiu.

— Depois de alguns meses, com Nagato já assumindo a identidade de Pain e a Akatsuki tendo sido reestruturada como uma organização criminosa, descobrimos o que Iori vinha fazendo. Ele estava se preparando, nas sombras, ficando mais e mais forte; enquanto reunia recursos e subordinados — revelou Konan. —  Quando Iori reapareceu para Mira, já tinha alguns amigos com ele.

— Os Yuurei — compreendeu Naruto. — E Mira se tornou partidária dele desde então.

Konan confirmou a hipótese.

— Acho que ela não suportou passar por tudo outra vez — lamentou ela. — Dois massacres; isso foi demais para a Mira. E quando Nagato e eu sucumbimos à escuridão, Iori Kuroshini veio e se tornou o porto seguro que Mira procurava; e um que eu nunca pude ser para ela de verdade.

Ouvir a história de Mira Uzumaki narrada por Konan fez Naruto pensar. A misteriosa vice-líder dos Yuurei era muito mais do que uma vilã; era, assim como tantos outros que ele conheceu ao longo de sua vida, uma vítima do horror da guerra; e um produto do amaldiçoado Sistema Ninja. Pelo que Naruto havia entendido, Mira não era muito diferente de Nagato ou Konan, ou mesmo de Gaara e Sasuke; e talvez esse fosse o maior problema — sob as mãos erradas, o coração mais estilhaçado poderia se tornar tão duro quanto aço, tão negro quanto a noite, tão frio quanto a morte; e implacável, sedento por vingança.

Apesar de não ter sido dominado, Naruto conhecia bem aquela sensação — pois a tinha visto várias vezes diante de si. Na infância, nos rostos das pessoas ao seu redor; na adolescência, em Sasuke Uchiha; e, quando adulto, em si mesmo, na forma de um Demônio Roxo. Não fosse seus amigos, as pessoas importantes de sua vida que estavam lá por ele, há muito Naruto Uzumaki teria sido devorado pela escuridão.

Assim como a si próprio, Naruto entendia Mira Uzumaki; e sabia bem o que lhe esperava no País do Redemoinho. Não há pior inimigo do que aquele que pratica o mal em nome do bem. A maldade pela maldade é simples de entender e fácil de ser vilanizada. Mas quem busca a paz por meio da destruição e morte é, quase sempre, irredutível nas suas ações, pois acredita estar do lado certo.

Fukasaku tinha razão: Mira daria trabalho.

 

 

                                                                            ***

 

 

Depois do jantar, Fukasaku se recolhera para dormir, alegando cansaço e dores nas costas; e Konan levou Naruto para conhecer o jardim suspenso que havia instalado no terraço da torre. Um pequeno caramanchão os abrigava da chuva e, sentados lá no alto, tinham uma visão privilegiada da vila e do céu noturno.

— É tão bonito! Eu deveria ter vindo aqui antes — Naruto comentou, com os olhos voltados para o centro da Vila da Chuva. Lá no fundo, ainda se culpava de haver descumprido a promessa que fizera à Konan.

— Não se lamente pelo passado. Terá tempo de sobra para me visitar depois que vencer os Yuurei — Konan falou com ar amigável. — Sei que quer ser Hokage um dia; posso dar umas dicas sobre como governar uma vila ninja.

Naruto riu brevemente. De fato, Konan estava mais vívida do que antes, e o ar suave dela o agradou.

— Obrigado por estar de volta. — Naruto se virou para Konan. — Desde que essa loucura com os Yuurei explodiu na minha cara, eu só vinha perdendo pessoas e vendo meus amigos sofrerem. Eu parti sozinho, a fim de atrair toda a atenção dos Yuurei. Mas não esperava ganhar alguém... e, dentre todas as pessoas, logo a minha discípula-irmã. Então, obrigado!

Konan meneou positivamente, com um leve sorriso. O fato de Naruto estar ali, ao seu lado, também significava bastante para ela. Eram os únicos pupilos de Jiraiya que restaram vivos. Como antes, junto a Nagato, Konan sentia o mesmo em relação a Naruto — a mesma vontade de protegê-lo, de apoiá-lo, de confiar nele plenamente. Eram discípulos-irmãos, e, apesar terem sido treinados em gerações diferentes, Konan conseguia entendê-lo muito bem.

— Você não quer fazer isso, Naruto. — Konan ergueu o olhar para o céu chuvoso. — Matar a Mira, quero dizer. Lá no fundo, você não quer machucá-la porque o rosto dela te faz lembrar da sua mãe.

Silencioso, Naruto assentiu.

— Deixe-me lutar ao seu lado, Naruto — pediu Konan. — Ainda sou a professora dela; Mira é mais minha responsabilidade do que sua e...

— Definitivamente não! — Naruto olhou firme para a condiscípula. — Sem chance que eu vou te deixar lutar com ela. Vai ser mais difícil para você.

Konan franziu a testa.

— Não se esqueça de que eu era parceira de Pain por um motivo — falou ela. — Eu sou forte.

— Eu sei que é, mas Mira é sua aluna; e professores que amam seus alunos têm mais dificuldade para enfrentá-los.

Aquilo certamente a pegou de surpresa. Enquanto Naruto falava, Konan se lembrou na hora do reencontro que ela e Nagato tiveram com Jiraiya, em que, ali mesmo, na Vila da Chuva, o velho mestre havia sido morto pelos Seis Caminhos de Pain. Imaginar que, talvez, Jiraiya lutasse com uma abordagem diferente, caso o inimigo não fosse um antigo aluno fez o coração de Konan pesar.

Semelhantemente, em relação à Mira Uzumaki, Konan se via na mesma situação trágica em que Jiraiya estivera quando diante dos antigos alunos. Embora Konan se entendesse como uma mulher sangue-frio e racional, o arrependimento e a amargura poderiam levá-la ao descuido, caso reencontrasse Mira em batalha; e poderia não tomar as melhores decisões, o que seria fatal.

— Você está certo — disse Konan, por fim.

Então, os dois se calaram; apenas observavam o horizonte do pequeno país ao som da chuva.

— Você pode vencê-los, não é? — Konan perguntou depois de certo tempo. — Não só a Mira, mas todos eles, todos os Yuurei.

— Eu posso. E vou vencer.

Konan olhava para Naruto naquele momento. Ele respondeu de pronto, sem qualquer hesitação. Não somente sua voz ou semblante, mas tudo nele aparentava autoconfiança. Naruto Uzumaki não era mais o adolescente que ela conhecera; era um homem agora, bem mais alto do que Konan, e um herói de guerra mundialmente reconhecido.

Entretanto, ele lhe havia dito durante o jantar que todos os poderes das Bijuu foram selados, e a responsável era justamente Mira Uzumaki. Conquanto Naruto tivesse aprimorado seu Modo Sennin dos Sapos — podendo acumular mais energia natural dentro de si em muito menos tempo, bem como ampliado a quantidade de clones para reposição de chakra para Senjutsu —, iria enfrentar a segunda Yuurei mais poderosa dentro do País do Redemoinho.

Konan sabia melhor do que todos: Mira Uzumaki usaria a vantagem territorial e o conhecimento geográfico a seu favor, fora o repertório de técnicas. Ela era uma Kunoichi excepcional, paciente e aplicada. Não seria surpresa alguma se, para aquela luta, Mira não tivesse estudado a fundo Naruto Uzumaki, feito diversas simulações de batalha e preparado uma resposta para cada possível investida de Naruto.

Para derrotar Mira Uzumaki, autoconfiança não seria suficiente. Naruto deveria ser estratégico e surpreender a vice-líder dos Yuurei, mostrando-lhe algo para o qual ela não estivesse preparada.

E, acima de tudo, Naruto Uzumaki deveria ser paciente. Se partisse para cima de Mira, sem tomar qualquer conhecimento, a luta entre os dois Uzumaki seria curta — e altamente desastrosa para Naruto. No entendimento de Konan, ele deveria aguardar até encontrar o tempo exato para o ataque, mas lutar comedido iria contra todos os instintos explosivos do ninja da Folha. Não era fácil conter a própria natureza.

Konan sabia muito bem: as probabilidades iam contra Naruto. O rosto meditativo da líder da Vila da Chuva se voltou para os prédios cinzentos ao norte.

— Este é o meu país — falou Konan. — Não é grande, desenvolvido ou esbelto como o seu, Naruto, mas gosto daqui. É o meu lar e o meu povo.

— Você não precisa...

— Eu sei o que vai dizer, mas não — ela o interrompeu. — Eu sei bem o risco que significa me aliar a você. Por outro lado, se eu não fizer nada, cedo ou tarde, os Yuurei virão até mim de qualquer jeito. Não faço isso apenas por você, Naruto, por sermos discípulos-irmãos; faço por eles, por cada cidadão do País da Chuva.

Naruto se calou, pensativo.

— É por isso que preciso saber, de uma vez por todas: você está pronto para enfrentar os Yuurei, Naruto?

Ainda calado e refletindo naquelas palavras, Naruto se reclinou sobre o assento, apoiando a cabeça sobre as mãos.

— Você me disse que quer lutar contra a Mira a sós, por motivos pessoais — prosseguiu Konan, voltando-se para Naruto. — Eu respeito isso, mas saiba que não é só sobre você ou sobre a Vila da Folha. Você é o que dizem, o “Herói do Mundo Ninja”; todo o destino do mundo está nas suas mãos, e conta com a sua vitória.

A voz de Konan veio como fogo, queimando em seus tímpanos, atravessando-lhe a cabeça e descendo por seu corpo, inflamando tudo pelo caminho. Ele reconhecia o favoritismo da adversária que o esperava, mas não saíra despreparado para enfrentá-la. As dúvidas que zumbiam em sua mente eram várias, e a pressão enorme. Mas depois de haver vencido Taka Kazekiri — de forma acachapante —, Naruto conseguiu reconquistar a confiança que, em dado momento, falhara em seu próprio coração.

E não havia mostrado tudo no último combate.

Sim, Mira Uzumaki era a favorita, mas Naruto também poderia derrotá-la. E assim como fizera a Yuurei, Naruto também se preocupou em conhecer as técnicas e movimentos que Mira Uzumaki havia apresentado durante a invasão, contra Sai e o resto da ANBU. Embora não tivessem se enfrentado, considerando toda a informação já obtida, Naruto tinha certa noção de como Mira Uzumaki se comportava em uma luta.

A batalha entre os dois Uzumaki seria um confronto de estilos.

— Se eu tiver que carregar o peso do mundo, então que seja. — Naruto se pôs de pé. — Eu já disse: eu vou vencer, e não volto atrás com a minha palavra; esse é o meu Jeito Ninja.

Konan sorriu, satisfeita.

“Realmente, ele é contagiante; o Naruto é como você, Yahiko”, pensou Konan, “me faz segui-lo e acreditar nele.”

Ela se levantou, ficando de frente para Naruto.

— Sendo assim, a Folha e a Chuva retomam, hoje, os laços de aliança que construímos naquele dia, há dois anos — disse Konan, estendendo a mão para o discípulo-irmão. — Eu lutarei nesta guerra ao seu lado. Minhas asas são suas, Naruto.

Com um sorriso grato, Naruto apertou a mão da condiscípula.

— Obrigado, Konan. Por tudo.

— Vá descansar agora — falou a governante da Chuva. — Amanhã, interrogaremos aquele Yuurei; e também preciso te mostrar algo que será útil contra Mira Uzumaki.


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Notas finais do capítulo

Eu não sei vocês, mas ao revisar o capítulo, pode ter soado para alguns que rolou um clima entre o Naruto e a Konan (por mais bizarro que isso soe, o universo dos ships é assim mesmo... é cada casal mais aleatório que o povo gosta).

Saliento a minha posição: sou naruhiniano desde os tempos remotos em que Naruto Clássico passava no SBT, que à época só tinha comprado as duas primeiras temporadas -- e aí, quando o episódio seguinte iria revelar quem era o Velho Tarado (o Jiraiya) espiando o banhero feminino, no dia seguinte voltava tudo ao primeiro episódio, com a Raposa atacando a vila, o bebê Naruto com o selo, etc.

Creio que não, mas se por um acaso alguém viu NaruKona neste capítulo, sinto decepcioná-lo. Este autor ama incondicionalmente NaruHina (apesar de não parecer, porque né... de lá pra cá é só desgraça)


***

Bom, deixando as minhas impressões de lado, quero saber a opinião de vocês, meus caros leitores. O que VOCÊS acharam do capítulo de hoje?

Quem puder deixar um comentário aqui embaixo, sempre me ajuda bastante e me estimula a escrever da melhor maneira possível! E se esta história merece, considere favoritá-la e deixar uma recomendação, de modo a torná-la mais relevante dentro do site.

Desde já o meu muito obrigado a todos vocês!


***

Próximo capítulo: Redemoinho

Data [provável] da postagem: 29/04/2022



Deixo as teorias do que acontece de agora em diante a cargo de vocês. :)

Até o próximo capítulo o/



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